Vida e Obra de Bernardo Guimarães
  poeta e romancista brasileiro [1825-1884 - biografia]

 
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À Memória de Monsenhor Felicíssimo

Bem poucas lousas há que em si contenham
Cinzas mais preciosas,
Bem poucas há que merecido tenham
Pranto mais puro, bênçãos mais saudosas.

Do povo desolado.
Que viu da morte ao golpe despiedado
Tombar ao chão da campa o altivo cimo
Do tronco que lhe dava sombra e arrimo.

Mas o tronco tombado entre os viventes
Deixou frutos benditos;
Seus feitos e virtudes eminentes
Em eternos padrões acham-se escritos;
Das doutrinas do mártir do Calvário
Foi denodado intérprete fiel.
Desta vida no túrbido cenário,
Como outrora o profeta Samuel,
Foi sua escola o templo,
Em que o espírito vivaz e penetrante
Bebeu seiva abundante
De altas lições e salutar exemplo;
Dedicou todo o ardor da juventude
Da liberdade ao culto,
Sofrendo com estóica e sã virtude
Por amor dela o desacato, o insulto,
Contratempos, trabalhos, amargores,
Fadigas mil, terríveis dissabores;
Mas prosseguindo impávido e altaneiro
No começado, glorioso esteiro,
Como o arroio que desce da montanha
De cascata em cascata,
E contra as rochas a bramir se assanha
Desdobrando-se em ondas cor de prata;
E se afastando do obscuro ninho
Lá vai-se engrandecendo em seu caminho,
Depois por largos planos deslizando
Tranqüilo e majestoso.
Em longo curso vai fertilizando
As margens que percorre caudaloso,
Até que através de mil azares,
Vai-se embeber na vastidão dos mares:
Tal foi o curso da afanosa vida
Do exímio sacerdote,
Da caridade luminoso archote,
Que há pouco se apagou!
Foi seu começo luta embravecida
Contra a tormenta e desfavor da sorte,
Até que um dia achou
A seus anelos glorioso norte.
O manto desdobrou da caridade
Por sobre um povo inteiro,
E exalando o suspiro derradeiro
Passou sereno ao mar da eternidade.

Sobre o seu berço bruxuleia incerta
A sombra do mistério;
Mas sobre sua campa há pouco aberta
Verte clarão sidéreo
Lâmpada eterna, que à posteridade
Recomenda o herói da caridade.

 

Esse poema foi escrito por B.G. dias antes de sua 
morte, que ocorreu em Ouro Preto no dia 10 de março de 1884.
Foi o seu último poema. Monsenhor José Felicíssimo do Nascimento,
amigo do poeta, representou Minas Gerais na Assembléia Provincial 
no período 1857-1860 e participou do Movimento Revolucionário de 1842.

 

 

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