O indianismo de BG
Armelim
Guimarães
Não só o sertanismo, mas o naturalismo (ou
realismo) deve ao boêmio das Alterosas a sua introdução nas nossas letras,
embora em doses homeopáticas. E naturalismo sem episódios de lubricidade. Pouco
realismo, mas com “papel saliente na evolução do romance nacional”, conforme
a afirmação de Artur Mota “(Revista do Brasil”, janeiro de 1920).
Se por naturalismo só se concebe a expansão da
fisiologia do sexo, nada há, em torno desse aspecto, o que se possa admirar em
Bernardo Guimarães. Mas se as operações mentais e as atividades psíquicas, que
se extravasam da animalidade, também fazem parte do naturalismo humano e do
realismo, então não se pode negar a contribuição do escritor a essa faceta das
letras.
Basílio de Magalhães opina que em “Rosaura” e
em “O Seminarista” “é que deve o escritor o título de precursor da escola
realista no Brasil”.
E por que não também em “A Escrava Isaura”?
Sílvio Romero, na sua clássica “História da
Literatura Brasileira” (2º volume, 1903), faz excelente estudo do naturalismo
em Bernardo Guimarães, observando que o escritor, “como um sertanejo, um homem
habituado à vida singela e pitoresca do interior, não era um desses espíritos
curtos e maldizentes, que praguejam contra todo o progresso, um desses obcecados
que desejariam ficasse o Brasil perpetuamente entregue aos caboclos na sua
inveterada estupidez. Muito ao contrário, Bernardo foi sempre avesso ao
caboclismos exagerados. Era um espírito liberal e progressivo”.
E fala Romero, com argumentos aceitáveis, da
intuição renovadora do romancista, mostrando como ele “teve um pressentimento
poético da intuição contemporânea”. Emparelha-o, o grande crítico, a
Franklin Távora, assegurando: “Este romancista e Bernardo Guimarães são,
pois, dois predecessores do naturalismo à contemporânea e merecem honroso lugar
na pátria literária.”
Duas opiniões de Basílio de Magalhães:
Se José Veríssimo tem plena razão, quando
assegura que ‘Bernardo Guimarães, como romancista, é um espontâneo, sem
alguma prevenção literária, propósito estético ou filiação consciente de
nenhuma escola, não menos acerta Ronald de Carvalho, ao afirmar em “Pequena
Histórica da Literatura Brasileira” que o escritor mineiro não conseguiu ‘fixar
um só tipo, realmente perfeito’, pois ‘todos eles são mais ou menos
postiços, convencionais, muito embora houvesse da parte de Bernardo uma decidida
vontade de pintar ao natural as criaturas que lhe passaram sob os olhos’. Não
foi um criador, pois para tanto lhe faltou a imprescindível genialidade; foi,
sim, um observador, simples e arguto.”
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