O gado bovino influencia profundamente a vida individual, familiar e social
do Cuanhama. Pode dizer-se que o maior orgulho de um homem é ter uma grande
manada de bois, que lhe permitirá arranjar um grande número de mulheres e
muitos filhos.
À volta dos bois - base da economia do mercado - e da mulher - elemento
fundamental da economia de subsistência - giram 90% dos litígios apresentados
às autoridades administrativas. Andam meses por fora à procura de um boi
perdido ou por causa de um boi em litígio. Raro é o homem casado que não
possua gado, havendo dezenas de proprietários com mais de um milhar de
cabeças.
No
seu vocabulário existem muitas palavras para designarem a cor dos bois,
a forma dos chifres, etc. Descrevem com muita exactidão, e identificam
com toda a naturalidade, qualquer boi, no meio de centenas de outros,
mesmo que o não vejam a muito tempo. Têm uma nomenclatura técnica
completa e conhecimentos empíricos ordenados: conhecem algumas doenças
e seus remédios, sabem castrar os bois na época seca, escolhem os
melhores pastos, etc. Têm cânticos pastoris, cânticos em louvor ao
gado, e atribuem a certas cabeças - poucas - dons sobrenaturais,
poderes mágicos. Os ritos e os grandes acontecimentos sociais não
dispensam o boi. Nas cerimónias ostentam a sua riqueza matando os mais
velhos e corpulentos.
A utilização de gado bovino no trabalho é praticamente nula. As
técnicas agrícolas operam quase como se o mesmo não existisse. Os
pobres pastores sobrepuseram-se aos agricultores, que conceberam o
sistema sem a ajuda de animais, que, aliás, mal nutridos, não poderiam
fornecer o esforço que dão noutras regiões e veriam diminuída a sua
capacidade de resistência às doenças.
A sua utilização na alimentação é também escassa.
Ao lado do gado bovino criam-se outras ordens de mamíferos, como: cabras,
porcos, ovelhas, burros e cavalos. Mas o seu interesse económico não se
compara ao daquele.