Os Cuanhamas não ignoram que o acto sexual é necessário à concepção. A
mulher, depois de grávida, não pode ter relações sexuais a não ser com o
marido. Crêem que a infracção deste preceito prejudicaria o parto. No
entanto, além do "tratamento preventivo" pouco antes do parto, a
chamada de um adivinho-curandeiro (ondudu),a quem confessa o nome do amante, ou
amantes, pode sanar a questão. Mesmo neste caso o pai é sempre o marido.
Se é primípara, vai, por vezes, ter o filho a casa da mãe, que a ampara,
aconselhando-a e tratando-a. Mas, normalmente, tem o filho em casa, assistida
por entendidas, geralmente parentes próximas. A posição da parturiente é de
joelhos, com as nádegas apoiadas nos calcanhares. Uma das ajudantes, à frente,
agarra-lhe as pernas para as conservar abertas, enquanto outra, atrás a ampara,
segurando-a por baixo dos braços. depois de cortado o cordão umbilical
besuntam o recém-nascido com lukula (usado pelas mulheres é feito misturando
pó de cerne do chora-sangue, manteiga e verdete)que lhe dá uma cor
avermelhada. Não é utilizada água para quaisquer abluções.
O nascimento de gémeos não é tido como normal. Quando isto sucede, são
necessárias cerimónias de purificação (epasa), que abrangem não só as
crianças como os parentes e até o gado. "Para membros da família real,
não havia purificação que lhes valesse: eram impecavelmente mortos, logo
depois de nascer." Até a purificação, os filhos mesmo que mortos,
permanecem numa construção rudimentar erguida para o efeito (osimeino) e a
mãe não deve sair de casa. Antes da cerimónia, que pode demorar meses a
preparar, não cortam o cabelo a mãe nem aos filhos. E, se os gémeos morrerem,
a mãe não deve manifestar tristeza, mas cantar de alegria.
Cerimónia semelhante (ohele) se observa quando o filho de um parto prematuro
não tem cabelo.
Também é considerado mau prenúncio o nascimento de crianças concebidas
antes da primeira menstruação e de crianças cujas cabeças não saem primeiro
O nascimento é motivo de grande alegria e orgulho para os pais: uma das
grandes ambições dos Cuanhamas é ter muitos filhos.
No entanto, os recém-nascidos não são particularmente felizes. Os seus
primeiros contactos com o mundo devem ser mesmo difíceis, apesar do carinho
desvelado das mães, que fazem o que podem e sabem.
Só com muita robustez e sorte ultrapassam uma primeira fase da vida. A
mortalidade infantil é, de facto, muito grande. Várias doenças devidas à
falta de higiene e, especialmente, as disenterias (" doenças de
barriga", como lá são conhecidas) arrebatam muitas vidas em começo.
Os nomes exprimem, geralmente, circunstâncias de lugar e tempo e os
incidentes ligados ao nascimento. Pela vida fora mudam, porém, com extrema
facilidade, ligando-se a qualquer circunstância fortuita que os haja
impressionado.