... naquele dia, Hassan retornou ao povo de sua terra.
E chegou de repente, sem qualquer aviso, em um dia como todos os outros. Porque todos os dias são iguais, até que aconteça algo que nos faça julgar um dia especial.
E aquele, para o seu povo, foi um dia especial. Porque, ao deixá-los, Hassan lhes deixara a saudade; assim, continuava nos seus corações. E o homem se alegra, ao ver ao seu lado alguém que está em seu coração; pois, se a ausência de quem se ama é uma ilusão da saudade, a sua presença é uma festa dos sentidos.
Para o rio, Hassan encaminhou o seu corpo. E, ao banhar-se nas águas límpidas, teve a sensação de retorno. Bem sabe o viajante que, por mais forte que seja a atração do mundo, nada existe de mais doce que a volta ao lar.
Depois, voltou a assentar-se entre eles. E disse, respondendo às muitas perguntas não formuladas:
“- Eis que retorno, como vos prometi. E não em outras vestes, não com outras palavras, nem mesmo no sopro do vento.
E não foi a saudade que me trouxe a vós, embora sempre presente em minha alma. A saudade, sendo gerada do amor, tem na sua tristeza a alegria e no castigo a própria recompensa; triste, ter-me-ia sido não sentir a vossa falta.
Sempre estivestes comigo, e jamais a vossa lembrança me foi pesada. Pois a bagagem que um homem leva em sua alma é, ao mesmo tempo, a mais leve das cargas e a mais forte das correntes.
Mas não é pela saudade que retorno e sim porque, mais uma vez, preciso de vós.
Deixei-vos, para ouvir novas vozes e conversar com o meu silêncio. Porque é no silêncio que o homem melhor encontra as suas perguntas e as suas próprias respostas; e é nas perguntas dos seus irmãos, que reconhece as suas próprias dúvidas.
Entretanto, Aquele que me deu a voz ainda não a quis retirar, e as perguntas ainda se agitam em minha alma. Mentiria eu, se dissesse que muitas dúvidas se transformaram em certezas; antes, necessito admitir que mais certezas se transformaram em dúvidas, e devo continuar o meu aprendizado.
E, se isto ocorre, é preciso continuar a missão. Pois um homem não pode parar de ensinar, enquanto algo ainda lhe restar a aprender. E o pouco que consegui amealhar se perderia, se não o confiasse à vossa guarda.
Por isto, retorno. E sei que, na vossa bondade, me permitireis continuar a aprender, enquanto finjo ensinar-vos. Pois mesmo o mais sábio dos homens necessitaria da crença de seus irmãos, para acreditar em suas próprias palavras.
Mais uma vez, caminharei entre vós. E vos falarei do que eu próprio quero ouvir; porque, em essência, são os mesmos os desejos de todos os homens. E não poderia ser de outra forma, uma vez que todos viemos da mesma Fonte e caminhamos para o mesmo Destino.”
Calou-se. E, enquanto os homens partiam a espalhar a notícia de sua volta, o medo visitou seu coração. E disse, para consigo mesmo:
“- Terei eu feito bem, em retornar?
Acaso arde ainda, em minha alma, a chama que poderá acender a lâmpada da sabedoria, em seus pensamentos?
E, novamente, as minhas palavras conseguirão tocar os seus corações?
Assusta-me o pensar que talvez me tenham transformado em uma imagem, como os homens gostam de fazer àqueles a quem amam. Pois, se assim for, por certo os decepcionarei; nenhuma realidade se pode comparar à perfeição de um sonho.
E, ao decepcioná-los, talvez enfraqueça os nossos laços. Como o amor, quando nutrido da saudade, às vezes desfalece após o reencontro.
Entretanto, ninguém foge ao seu destino. E, quando pensamos caminhar, é a mão do Infinito que guia os nossos passos. Assim, se aqui me encontro, é que era necessária a minha volta.
Pois, como não é precioso o metal que não resiste ao teste, também não se pode chamar de amor o sentimento que não resiste à realidade. E o amor não pode temer a si mesmo.
Decerto, a missão não está cumprida. E aquele que se detém a meio do caminho que escolheu, jamais conhecerá a alegria da chegada. Devo, pois, erguer mais uma vez a minha voz e ensinar aos meus irmãos aquilo que eu mesmo preciso aprender.
E não me cabe temer, ou duvidar do que a seguir lhes direi. Pois Aquele que aqui me trouxe decerto falará por mim, como o vento que canta nas folhas das palmeiras; e nenhuma palmeira, por mais insignificante que seja, deixa de cantar e ouvir a canção do vento, desde que a ele ofereça as suas folhas.
Que seja eu, portanto, como a lira que oferece as suas cordas.
E, por mim, a mão do Infinito possa tocar as mais lindas melodias”.
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