Livre
é aquele que não nasceu.
É aquele que não ama, nem é amado; que não tem pais, filhos ou alguém a quem chame de amor.
Pois, como tudo que é importante na vida, também à liberdade procurais onde não está. Como fazeis ao Pai, à felicidade e ao amor.
Acaso não sabeis que sois partes do Criador?
E, assim sendo, quem poderá acorrentar-vos, a menos que vós mesmos vos coloqueis os grilhões?
E o que fazeis, senão criar as correntes que vos prendem?
Dizei-me o que são as vossas leis, as vossas convenções e as vossas vontades, quando a elas vos sentis obrigados a obedecer.
Não são as vossas palavras os grilhões a que acorrentais os vossos pensamentos? E os sentimentos não vos prendem a quem os desperta?
Em verdade, não nascestes para serdes livres.
Pois o próprio corpo é a vossa primeira prisão, e a força da gravidade nos prende sobre a Terra. E, entretanto, sem o corpo não teríeis a vida como a conheceis; e, sem a gravidade, asfixiados morreríeis no espaço.
Vede: desde que sois concebidos, o cordão umbilical vos liga a vossas mães. E é através dele que recebeis o alimento de que necessitais.
Decerto, aqui não viestes para serdes livres. Se livres pudésseis ser, vossa casa seria o Infinito e ilimitados seriam os vossos vôos.
Entretanto, a liberdade está em vós. Não onde a buscais, mas em vosso verdadeiro Eu. Porque é ele que transcende o tempo e o espaço, e vos pode levar aonde quiserdes ir.
Assim, não estareis presos senão quando presos vos sentirdes. E as correntes terão o peso que a elas atribuirdes.
Pois, assim como não percebeis a prisão do corpo e da gravidade, a nada vos sentireis obrigados, se tudo fizerdes por vossa própria vontade e com amor.
Se, ao contrário, o fizerdes com revolta, pesadas serão as vossas correntes; e o seu peso findará por esmagar-vos.
Livre não é aquele que não tem obrigações, mas o que as cumpre com alegria. Como não é aquele que pode estar em todos os lugares, mas o que de lugar algum necessita.
Livre não é aquele que pode pegar o que quiser, mas o que pode dizer com sinceridade: “-Sou feliz com o que tenho”. E não é aquele que satisfaz todas as suas vontades, mas o que não se escraviza aos seus próprios desejos.
Eu vos digo que, se um homem ama a sua prisão, ele será livre em sua cela. Pois o que nele existe de mais verdadeiro não estará encerrado entre paredes, mas envolto no amor. E viajará com o vento, cantando as mais lindas canções e sentindo os mais doces perfumes.
E vos digo que aquele que não ama jamais será livre, ainda que todo o mundo lhe pertença. Porque estará encerrado na prisão do seu egoísmo, encarcerado na solidão de sua alma. E o seu Eu não ouvirá as canções, nem sentirá os perfumes.
Tudo isto, eu vos digo. Todavia, não posso esperar que me entendais.
Pois estais demasiadamente presos aos vossos conceitos, e assim não sois livres para encontrar as verdades.
Vivei, como o sabeis. Pois é dos vossos erros e acertos, das vossas dores e alegrias, que virá o que sereis; porque ninguém é senão o resultado do que já viveu.
E a ninguém podemos transformar. Como não pode o pai ensinar ao filho tudo aquilo que já sabe.
Continuai a invocar a liberdade. E a construir as vossas prisões.
Sabei, entretanto, que chegará o amanhã.
E eu vos asseguro que não precisais procurar a Liberdade. Ela virá a vós, quando estiverdes prontos. E vos falará na voz do mar, e vos sorrirá no brilho das estrelas.
Então, a conhecereis.