O homem e a felicidade

 

 

  

Um dia, um homem resolveu buscar a felicidade.

         

E ingressou no seu caminho. E foram leves os primeiros passos, embalados pela certeza do final da busca: o céu era azul, os pássaros cantavam e a cada minuto brotava uma flor.

 

Entretanto, havia algumas pedras no caminho. E rios a serem ultrapassados, e montes a serem vencidos. Porque apenas as crianças e os loucos podem acreditar que seja plano o caminho para a felicidade.

 

Assim, houve um momento em que o homem sentiu uma pedra a magoar-lhe os pés; o medo tornou os seus passos, antes leves e rápidos, pesados e lentos. E, por assim ser, era maior a dor a cada pedra em que pisava.

 

E houve um dia em que, ao vadear um rio, aborreceu-se pelo obstáculo em seu caminho. Assim, não sentiu a carícia da água nem viu o colorido dos peixes; a revolta ocupava todo o seu ser. E, daí por diante, mais difícil se tornava cada nova travessia.

 

Em outro dia, irritou-se ao subir um monte; na sua ira, não foi capaz de ouvir o canto dos pássaros ou admirar as flores brotando ao longo do caminho. E era exausto que chegava ao topo de cada monte, desde aquele dia.

 

Retardou a sua caminhada. E as pedras, os rios e os montes eram tudo que conseguia ver; embora os pássaros continuassem a cantar e os botões a abrir-se em flores, ao seu redor.

 

Como a busca se tornasse infindável, começou a observar os caminhos dos outros homens; todos lhe pareciam ter menos pedras, menos rios e montes que o seu próprio caminho. E, apesar disto, todos os outros caminhavam carrancudos como ele mesmo.

 

Sem aviso, a Morte o colheu. E levou-o consigo, para outros caminhos; que, por sua vez, o levariam a novos caminhos. Pois está escrito que o homem precisará caminhar sempre, enquanto não aprender a desfrutar dos seus passos.

 

E, enquanto se afastava do caminho que percorrera, viu o homem que a Felicidade se assentava sobre a relva. Revoltado, bradou-lhe:

 

- Agora, mentirosa, surges em meu caminho? Eis que desperdicei toda a minha vida, consagrando-a à tua procura!

 

Sorrindo, respondeu a felicidade:

         

- De que me acusas, insensato? A mim, que por todo o tempo caminhei a teu lado! Acaso não sabes que foi o meu perfume, quando o podias sentir, que te sustentou durante a caminhada?

 

Tanto esperei que me descobrisses:

nas flores que enfeitavam a tua estrada,

nos pássaros que cantavam para os teus ouvidos,

na água que refrescava o teu corpo,

na esperança que te animava para o novo dia.

 

Dizes que me buscaste. E, entretanto, te negaste a me ver, absorvido pelas pedras, rios e montes que existiam em tua estrada. Fechaste os teus olhos para mim, deslumbrado pela ilusão de ver-me como me imaginavas.

 

Acreditaste que eu traria o que julgavas que te faltasse. E, todavia, eu estava no que possuías; pois a felicidade não está na ambição, mas no amor ao que se tem.

 

Não te culpes, porém: és apenas um homem. E não sabeis apreciar o que tendes, mas apenas desejar o que vos falta. Como acreditais que exista um caminho para mim, sem saber que acompanho os vossos caminhos. Não me deveis buscar; antes, aprendei a apreciar os vossos caminhos.

 

 Assim, eu vos encontrarei!  

          

                                                               

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