Uma Nova Partida 

 

 

Mais uma vez, necessito ausentar-me de vós.

 

Pois o chamado persiste, na voz do vento. E me traz saudades das vozes que ainda não ouvi, das estradas onde não passei e das faces que ainda não iluminaram os meus olhos.

 

Aqui estou; e me sinto feliz entre vós.

 

Mas é o egoísmo que me convida a permanecer. E o egoísta, por demais concentrado em si mesmo, não é capaz de encontrar a Felicidade.

 

Devo, pois, fugir à tentação. E, mais uma vez, trilhar os caminhos do Pai, procurando ouvir em mim a Sua voz, para que possa trazê-la aos meus irmãos.

 

Lembrai-vos, sempre, que eu vos amo. E vos amarei onde estiver.

 

 

 

Pois o Amor, assim como o pensamento, não conhece distâncias. As dimensões, que limitam os nossos corpos, não o fazem ao nosso verdadeiro Eu.

 

Em pensamento, podemos vaguear pelo passado e estar em todos os lugares. Guardai-me em vossos pensamentos e em vossos corações, e sempre me vereis entre vós.

 

Porém, ainda que não o façais, sabei que mesmo assim estarei convosco. Porque ninguém se ausenta verdadeiramente daqueles a quem ama.

 

Deixai, entretanto, que antes de partir eu mais uma vez vos peça guarida para as minhas palavras.

 

E que esta guarida não se limite aos vossos ouvidos, mas seja em vossos corações. Porque vos tenho dito, e repito, que as palavras não têm luz própria, e não brilham senão quando falam aos nossos sentimentos.

 

Guardai, portanto, de tudo o que vos disse, apenas aquilo que tenha sido importante para vós. E sabei que me sentirei recompensado, se algo houver plantado em apenas um de vós.

 

Porque, por maior que se torne o pomar, em seu início uma única semente foi jogada sob a terra. E é o cantar do primeiro pássaro, que anuncia a chegada do dia.

 

Um dia, voltarei a vós.

 

Pois, ainda que não o saiba, o viajante busca sempre o ponto de partida. E, como a planta, o homem está em suas raízes; ainda que sejam as flores e os frutos que vos chamem a atenção.

 

Provastes dos meus frutos, e admirastes as minhas flores.

 

Sabei, agora, que são as mesmas as nossas raízes. E nada existe em mim que não exista em vós, ou não vos deteríeis a me ouvir. Ou acreditais que alguém ouça o que não pode entender ?

 

Por tudo isto, não me deveis lembrar como um sonho; pois os sonhos não resistem, sequer, a um único alvorecer.

 

Lembrai-me, antes, como alguém que vos trouxe uma mensagem; e esta vos tocou, ainda que não a pudésseis entender completamente. Pois, se não pode o músico entender a colocação da nota, sem que antes tenha ouvido a canção, a harmonia de cada nota lhe fala à sensibilidade.

 

Eis que tudo o que vos falo, e tudo o que ocorre em cada um dos vossos dias, não são senão as notas que compõem a canção da Vida. E, embora não tenhais composto a Sinfonia do Universo, cada um de vós é responsável pela execução do seu próprio instrumento. De como o tocardes, dependerá a vossa integração à Sinfonia.

 

De cada uma das sementes que hoje plantardes, dependerá o que ireis colher ao fim da safra. De cada uma das palavras que escreverdes, depende o poema que lereis ao final.

 

Sim; deixai que eu vos repita que cada homem é o construtor de seu próprio destino. Que de cada hoje depende cada amanhã e, assim, o que hoje vos aflige é o que ontem plantastes.

 

Alguém vos disse que cada homem é o que é; e seria tolice negar uma verdade tão evidente. Mas eu vos digo, também, que cada um de vós poderá ser o que quiser; pois é da larva que surge a borboleta, e da pequenina semente que brota o carvalho. O afluente se transforma em rio, e se incorpora às águas do mar.

 

Hoje, sois o que sois; e, em verdade, o que sois é o que ontem construístes. O que sereis amanhã depende do que hoje fizerdes.

 

Buscai a verdadeira companhia, e amanhã não vos queixareis da solidão;  abraçai a verdade, e amanhã não precisareis temer que sejam descobertas as vossas mentiras.

 

Descerrai as portas do vosso coração, e amanhã conhecereis o amor; abandonai o medo, e conhecereis a coragem em sua plenitude. Renunciai aos vossos preconceitos, e um novo mundo se abrirá para vós.

 

Livrai-vos da inquietude e possuireis a tranqüilidade; abandonai a agressividade e a paz estará em vós. Deveis possuir a chave do vosso verdadeiro Eu, para que nele resida apenas o que vos possa trazer felicidade.

 

Acreditai em mim, quando vos digo que aquele que ama a Vida não temerá a morte. Porque ninguém acredita na negação do que ama, e no coração daquele que ouve a canção do Ser não existe espaço para o silêncio do Nada.

 

Aquele que ama o sol, não teme as trevas da noite. E por que haveria de temê-las, se sabe em seu coração que em poucas horas voltará a luz?

 

   Eis que tenho buscado mostrar-vos o Caminho; e isto não significa que eu mesmo o tenha encontrado. Porque, se ando entre vós, é porque somos iguais e assim me cabe caminhar convosco; é ao buscar afastar as pedras do vosso caminho, que descubro como melhorar o meu próprio caminho.

 

Somos imperfeitos, eis a verdade. E, como a árvore não completa o seu crescimento em uma única estação, nem a crisálida se transforma em borboleta antes de completar o seu ciclo, precisamos evoluir a cada dia.

 

Mas, assim como a árvore se desenvolve mais rapidamente em terreno fértil, e a crisálida abrevia a sua evolução quando no local adequado, do que buscarmos para nós dependerá o tempo necessário ao nosso crescimento.

 

  Acreditai, quando vos digo que, se cada homem tem o seu caminho, os caminhos de todos os homens se encontram em um ponto do Infinito.

 

E, nesse encontro, é necessário que todos falem a mesma língua. E esta não poderá ser a língua do ódio, ou não haverá a felicidade; nem a língua da agressão, ou dela brotará a guerra.

 

E tampouco poderá ser a língua da incompreensão, ou não haverá o entendimento; ou a língua do egoísmo, ou não existirá a união.

 

Neste dia, cada homem deverá falar a língua do Amor. E é para o seu aprendizado que, dia após dia, vez após vez, caminhamos sobre a Terra; e aqui continuaremos a trilhar, enquanto não a tivermos aprendido.

 

Assim, cabe ao homem sensato aprender a língua do Amor. E é em si mesmo que encontrará as suas palavras, nos sentimentos que aprenderá a formar as suas frases. Porque a língua do Amor não nos fala aos ouvidos, mas ao coração; e por isto os seus ecos não se perdem, mas persistem em nosso verdadeiro Eu.

 

Sim; na verdade, eu vos digo que todas as agruras vos são necessárias. Porque é preciso que o homem sofra, para entender o sofrimento do seu irmão; e que se alegre, para que possa compartilhar a alegria de outrem.

 

No futuro, havereis de bendizer cada um dos vossos sofrimentos, por vos ter levado mais próximo ao coração do Universo. E também exaltareis cada uma das vossas alegrias, por vos ter feito acreditar na felicidade.  

 

Pois, se a alegria vos houver feito descobrir o sabor do riso, também a amargura vos terá ensinado o valor das lágrimas. E são os risos e as lágrimas que formam o vosso caminho, como no mar se combinam o frescor das águas e o ardor do sal.

 

Eis que choro, ao aprontar-me para vos deixar.

 

E, acaso, estas lágrimas não serão o fruto dos sorrisos que trocamos, quanto retornei a vós? E não se transformarão em novos sorrisos, quando vier o dia do nosso reencontro?

 

Observai a Natureza, e vereis que tudo que nela existe obedece a um ciclo próprio e traçado por uma Sabedoria maior. Assim se sucedem as marés e as estações, o dia e a noite, a infância e a maturidade.

 

E também vos será dado ver que o fim de cada ciclo é apenas o início de outro; e assim se perpetua a Vida. Pois, quando a nuvem parece deixar de existir, a chuva que cai sobre a terra se evapora, e nuvem volta a ser.

 

Onde está a causa, e onde a conseqüência? Quem poderá apontar o princípio e o fim? Em verdade, cada amanhecer não significa para o homem um novo começo de vida? E, se assim for, a noite não representa o seu término? Entretanto, para vós se sucedem os dias e as noites.

 

Se assim é, e algo existe em vós que sobrevive ao tempo e ao corpo, eis que, para o verdadeiro Eu, cada novo nascimento é como o alvorecer de um novo dia; e o fim de cada trajeto é como a noite, após a qual um novo dia nascerá.

 

Entretanto, permaneceis escravos do vosso corpo e suas limitações. E é por isto que, se podeis entender o dia e a noite, não vos é dado entender que assim não é o tempo, para o vosso verdadeiro Eu. Mas eu vos asseguro que, assim como uma gota nada representa em frente ao mar, um século nada significa para aquele que tem à sua frente a eternidade.

 

Como o mar se mostra sereno após cessada a tempestade, as paixões que hoje vos agitam amanhã nada representarão para vós. Quando muito serão lembranças, como os destroços que bóiam sobre o mar antes enfurecido.

 

Porém, se vossa é a eternidade, é vossa a obrigação de abreviar a caminhada. Ou seria, acaso, sensato, aquele que desperdiçasse o tempo a chorar, quando poderia empregá-lo a sorrir?

 

Cuidai, pois, do vosso verdadeiro Eu. Buscai o Amor, a compreensão, a plenitude, a paz interior. Controlai os vossos desejos, ou por eles sereis controlados; dominai as vossas paixões, pois se estas vos tomarem o leme decerto arremessarão o vosso barco sobre os recifes da amargura.

 

E, se vos digo que necessitais do sofrimento como da alegria, isto não significa que deveis procurar os vossos sofrimentos. Buscai, apenas, as alegrias; através delas, os sofrimentos encontrarão o caminho até vós. E da compreensão desta união surgirá a felicidade.

 

Por isto, agora quando vos deixo, o meu pedido é que sejais felizes; ou, ao menos, que o tenteis ser. Pois a felicidade de cada filho é uma nota de alegria na canção do pai. E é esta canção que ressoa pelo Universo.

 

E vos digo que, se fordes felizes, sereis generosos; pois a felicidade não suporta a companhia do sofrimento. E amareis e sereis amados, pois ninguém chega à felicidade senão através do amor.

 

E o Pai estará convosco, e com Ele estareis; porque a felicidade não pode existir senão nos Seus braços. E a distribuireis com os vossos irmãos; porque a felicidade viajará nas asas do vosso sorriso, e transbordará das vossas palavras.

 

Sede felizes, é tudo que vos peço. E o eco da vossa felicidade me alcançará aonde eu estiver, e servirá de alimento ao meu verdadeiro Eu. Na felicidade se dissiparão as saudades, e estaremos juntos através das distâncias.

 

Sede felizes, e a voz do vento vos trará as minhas palavras; e a sua carícia vos trará a minha companhia. Sede felizes, e todo o mundo se tornará belo para vós; sede felizes, e não mais necessitareis da minha presença.

 

Porque a sentireis entre vós.   

 

 

            

 

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