CURSO
DE LATIM |
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LIÇÃO 6 6.1. Substantivos da terceira declinação À terceira declinação pertencem tanto substantivos quanto adjetivos. Ela é, de longe, a declinação de maior número de vocábulos da língua latina. Estudaremos agora os substantivos, que podem ser masculinos, femininos ou neutros. Esta declinação se caracteriza pelo genitivo em is para todas suas palavras. Chamamos já a sua atenção para uma possível confusão desse genitivo singular com o dativo e com o ablativo plurais da primeira e da segunda declinação. Além disso, é preciso saber também que o nominativo de algumas palavras desta declinação também termina em is, o que pode ser confundido com o genitivo da mesma palavra. Essas e outras dificuldades serão bem notadas neste curso. Vamos à declinação de alguns substantivos; logo após faremos algumas observações. Vá reparando e anotando nas margens da folha quais são as terminações para cada um dos casos: Substantivo masculino: rumor, rumoris rumor, fofoca singular plural Nom.
rumor
rumores Substantivo feminino: nox, noctis noite singular plural Nom.
nox
noctes Substantivo neutro: sidus, sideris estrela, constelação singular plural Nom.
sidus
sidera Observações: 1) Note que, além do genitivo em is, existe, para os gêneros masculino e feminino, uma forma alternativa também terminada em is para o acusativo plural! 2) Uma boa parte dos substantivos nunca revela, já no nominativo, o seu radical, como em nox, que tem o radical noct-, e em sidus, de radical sider-. Existem regras precisas para a determinação do radical sendo dado o nominativo, ou o nominativo sendo dado o radical. A prática da língua, porém, e a consulta a um dicionário quase sempre dispensa essas complicações, e por isso não as comentaremos neste curso. 3) Relembramos aqui uma regra válida para todas as declinações: os substantivos neutros têm formas idênticas no nominativo e no acusativo. 4) O que de mais importante podemos dizer desta declinação é que algumas palavras interpõem um -i- entre o radical e a terminação -um do genitivo plural. Note que isso ocorreu em noctium (e não *noctum). Esse fenômeno pode ocorrer com palavras de qualquer gênero, como em mare, maris (N) mar, que tem o genitivo plural marium, e não *marum; e como em mons, montis montanha, que faz montium, e não *montum. Esse -i- também pode ocorrer no nominativo e no acusativo plurais. Também existem regras para a determinação das palavras com essa característica. Todavia, basta por enquanto saber que o genitivo plural acaba em um, terminação esta que pode ou não ser antecedida de -i-. Você será alertado assim que surgir uma palavra com essa característica. 5) Alguns substantivos neutros com nominativo terminado em ar, -e, -al têm um i no lugar de e no ablativo singular, como animal, animalis animal, que faz animali no ablativo singular, e não *animale. Cuidado para não confundir com o dativo!*** Exercícios I. Concorde com a forma do adjetivo bonus, -a, -um, os substantivos dados (algumas formas apresentam mais de uma possibilidade. Liste todas): 1. Com miles, militis
soldado:
3. Com corpus, corporis - corpo II. Decline junto e traduza: 1. No singular: 2. No plural: *** 6.2. Infinitivos O latim possui seis infinitivos, com apenas um em comum com o português: o infinitivo presente ativo. Todos os infinitivos são usados de formas outras não equivalentes ao uso do infinitivo português. Além disso, e como na seqüência dos tempos, sua tradução vai depender fortemente do tempo do verbo da oração principal, o que explicaremos na seção seguinte. Apresentaremos cinco dos seis infinitivos latinos, os que de fato são de uso amplo e freqüente na literatura. 6.2.1. Infinitivo presente O infinitivo presente se divide em dois: o ativo e o passivo. Já temos contato com o ativo, e o passivo não oferece maiores dificuldades. Vejamos cada um deles:a) Ativo:
amare
desejar b) Passivo:
amari
ser amado 6.2.2. Infinitivo perfeito O infinitivo perfeito também se divide em ativo e passivo. O ativo é de uso mais freqüente que o passivo. Aliás, o latim usa amplamente todos os infinitivos ativos, e faz uso moderado dos passivos, exceto com os verbos chamados depoentes verbos que se conjugam na voz passiva mas que têm significação ativa que estudaremos em outra lição. Neste primeiro contato, dê uma atenção especial aos infinitivos ativos: a) Ativo: formado pela adição de isse ao radical do perfeito de cada verbo, ou seja, sua segunda parte principal:
amavisse ter
amado b) Passivo: formado com a terceira parte principal do verbo mais esse, que é o infinitivo do verbo sum:
amatus (-a, -um) esse
ter sido amado 6.2.3. Infinitivo futuro Trataremos aqui do infinitivo futuro ativo apenas, uma vez que o passivo é uma forma muito complicada e rara na literatura. Mesmo o ativo não é muito encontrado. Vale, porém, conferir sua forma, uma vez que na seção seguinte explicaremos o sistema de uso de todos os infinitivos.a) Ativo: formado com o particípio futuro ativo, mais esse:
amaturus (-a, -um) esse
irá amar 6.3. Discurso indireto; orações com sujeito acusativo e infinitivo O tipo de construção cujo sujeito passa para o acusativo e tem o verbo em uma das formas do infinitivo é uma das que mais freqüentemente encontramos na literatura latina. Diríamos até que esta seção faz parte do núcleo das principais seções deste curso. Quando dizemos Pedro passeia, estamos fazendo uma afirmação em discurso direto. Mas quando dizemos Ele diz que Pedro passeia, estamos fazendo uma afirmação em discurso indireto: para afirmar algo de Pedro usamos um intermediário, no caso o pronome ele. Quando relatamos algo que uma pessoa diz de outra, estamos usando o discurso indireto. Não só quando relatamos, mas quando usamos verbos que exprimem ações que ocorrem na cabeça, como dizer, pensar, ver, perceber, saber, e outros, podemos usar o discurso indireto. Em português usamos a conjunção que para introduzir o discurso indireto: Ele diz que Pedro passeia. Em latim isso não ocorre. Como dissemos, nesse tipo de construção usamos os infinitivos, e esses infinitivos se relacionam com o tempo do verbo da oração principal da mesma forma que os particípios: o infinitivo presente indicando uma ação simultânea à do verbo da oração principal; o perfeito uma ação anterior, e o futuro uma ação posterior à ação do verbo principal. Não é necessário que você decore por enquanto essas correlações. Use-as como referência quando for fazer exercícios, e aproveite para meditar sobre a semelhança entre o uso dos infinitivos com o uso dos particípios, para que lhe fique clara esse tipo de estrutura. Vejamos os exemplo, que podem ser tomados como modelos para futuras traduções. Com o tempo você ganhará mais liberdade, e poderá variar um pouco a tradução, usando, se preciso, alguns advérbios. 6.3.1. Infinitivo presente Dicit Petrum ambulare
Ele diz que Pedro passeia. Antes de passar para o estudo do infinitivo perfeito, observemos algumas características fundamentais dessa construção: 1) Em todas as frases o verbo principal é dìcere dizer, no presente, no perfeito ou no futuro. É dele que dependerá a tradução da oração infinitiva. 2) Pedro, o sujeito da oração infinitiva, não está no nominativo, Petrus, como seria de se esperar, mas no acusativo, Petrum. 3) Em todas as frases a oração infinitiva é a mesma. Mas note que a tradução variou bastante. Quando o verbo estava no presente, dicit, a oração infinitiva teve que expressar uma ação que ocorre juntamente com a ação de dizer: enquanto ele (o interlocutor) diz, Pedro passeia. Quando no perfeito, dixit, a oração infinitiva teve que, novamente, expressar que no mesmo momento em que ele disse, Pedro estava passeando. E no futuro, quando ele disser, Pedro estará passeando. Todas as alternativas de tradução têm sempre que passar a idéia de simultaneidade, de duas ações que ocorrem ao mesmo tempo. 4) O infinitivo não corresponde à terceira pessoa do singular! Se a oração fosse Dicit Petrum Paulumque ambulare, teríamos a tradução Ele diz que Pedro e Paulo passeiam. E se fosse Dicit te ambulare, teríamos Ele diz que tu passeias. É você que deve suprir no texto a forma correta!6.3.2. Infinitivo perfeito Dicit Petrum ambulavisse
Ele diz que Pedro passeou. 6.3.3. Infinitivo futuro Dicit Petrum ambulaturus
esse Ele diz que
Pedro passeará. Em todas, devemos tentar dar a idéia que o passeio de Pedro ocorrerá depois da fala do interlocutor. Na maioria dos casos, um simples futuro resolve o problema. Quando estivermos estudando textos originais, dentro de poucas lições, notaremos que o infinitivo, na maior parte dos casos, estará no fim da frase. Veremos também que, para nos prevenirmos de erros, devemos, na análise das orações, observar sua última palavra. Se for um infinitivo, é bem provável que o acusativo que encontramos no início da oração seja, na verdade, um sujeito, e não um objeto direto. Isso por enquanto pode parecer complicado, mas voltaremos a comentar sobre isso mais à frente. *** Exercícios I. Reescreva as orações seguintes em discurso indireto, usando putat ele pensa que, e depois traduza. (Lembre-se que, nas frases em que aparece o verbo em uma das formas da passiva, você deve usar os infinitivos passivos!)1.
Puella incolas de periculo monet -> Putat puellam incolas de periculo
monere. II. Reescreva novamente as frases acima usando putavit ele pensou que, e traduza. III. Omita o verbo no início de cada oração abaixo e as reescreva como discurso direto. Faça o mesmo mudando o infinitivo original por cada um dos infinitivos entre parênteses. 1. Vidimus famam regis esse (fuisse, futuram esse) parvam. (parvus,
a, um pequeno) *** 6.4. Vis O substantivo vis força, poder é irregular, e tem características interessantes, presentes também em outros substantivos da terceira declinação: o acusativo singular em im, e não em em; o ablativo singular em i, e não em e; e o genitivo plural com um -i- entre o radical e um. Por isso daremos aqui sua declinação completa que, além do mais, é defectiva: faltam alguns casos.singular plural Nom. vi
vires 6.5. Ablativo de separação O ablativo, primitivamente, era o caso em que se expressava o afastamento, uma separação, uma privação, enfim, algo que se afastava de outro, fisicamente, como um movimento, ou algo que perdíamos, ou sentimos como perdido. Em todos os casos, a idéia de ablação está sempre presente. Muitos verbos em latim se constroem com o ablativo, principalmente os que indicam esse afastamento de algo do sujeito. Em outros casos, o ablativo é usado com verbos que em português são transitivos diretos, ou seja, que exigem um objeto direto, um acusativo. Aliás, é importante que você sempre esteja atento para a regência dos verbos, que nem sempre coincide com a regência do mesmo verbo em português. Isso quer dizer que alguns verbos em latim exigirão dativo, por exemplo, onde o português exige acusativo, e vice-versa, e ainda em todas as outras combinações possíveis. O ablativo de separação é às vezes usado com as preposições a (ab), e (ex) e de, significando mais ou menos de, a partir de. Mas na maioria dos casos usa-se o simple ablativo: Homines incolas insulae
servitute liberaverunt Oedipus, quod liber (e)
cura non erat, se oculis privavit. Afins com essa construção estão 6.5.1. Ablativo de origem Esse ablativo, com ou sem preposição, expressa a origem ou a ascendência de uma pessoa: Aeneas (a) dea natus est. Enéias nasceu de uma deusa. 6.5.2. Ablativo de lugar de onde Usado com as preposições a (ab), e (ex), ou de, o ablativo é usado para expressar lugar de onde. Mas com nomes de cidades e ilhas pequenas, e as palavras domus, casa, e rus, campo, nenhuma preposição é usada:
Ab Itália venit
Ele vem da Itália. 6.6. Acusativo de lugar para onde O acusativo também é usado para indicar lugar para onde, e faz uso da preposição ad para. Mas com nomes de cidades e ilhas pequenas, e as palavras domus - casa, e rus - campo, essa preposição não é usada:
Ad Italiam venit
Ele vem à Itália.
Romam venit
Ele vem a Roma. 6.7. O caso locativo Os nomes de cidades e pequenas ilhas, e as palavras domus e rus requerem um caso especial para expressar lugar onde, ou lugar no qual, caso que com outros substantivos é expresso pelo ablativo com a preposição in em. Esse caso é chamado de locativo. Para substantivos da primeira e da segunda declinação o locativo singular é idêntico ao genitivo singular. No plural dessas duas declinações é idêntico em forma ao ablativo plural. Para substantivos da terceira declinação o locativo termina em e ou em i singular, ou em ibus no plural:
Romae
em Roma (Roma, -ae) *** Exercícios I. Traduza cada uma das orações abaixo: 1. Multos familia
honesta natos ab oppido ad insulam misimus. (oppidum, i cidadela) *** |