CURSO
DE LATIM |
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LIÇÃO 2 2.1. O sistema do perfeito do indicativo ativo de todas as conjugações Lembremos quais são os seis tempos do indicativo ativo: presente, imperfeito e futuro; perfeito, mais-que-perfeito e futuro perfeito. Os três primeiros você aprendeu a construir para a primeira e a segunda conjugação. Trataremos agora dos três últimos. Para a construção do perfeito, do mais-que-perfeito e do futuro perfeito, você necessitará de um outro tempo primitivo. Por exemplo, do verbo "amar", enunciado em latim pelos seus tempos primitivos, amo, amavi, amatum, amare, devemos tomar o segundo deles, amavi, e retirarmos o -i, ficando, portanto, com amav-. Daí formamos: 2.1.1. O perfeito Ao radical acrescentamos as seguintes terminações: -i amàvi eu amei -isti amàvisti tu amaste amav- + -it obtendo amàvit ele amou -imus amàvimus nós amamos -istis amàvistis vós amastes -èrunt amavèrunt eles amaram 2.1.2. O mais-que-perfeito Ao radical adicionamos -era- mais as seguintes terminações: -m amàveram eu amara, tinha amado -s amàveras tu amaras, tinhas amado amav + era + -t obtendo amàverat ele amara, tinha amado -mus amaveràmus nós amáramos, tínhamos amado -tis amaveràtis vós amáreis, tínheis amado -nt amàverant eles amaram, tinham amado 2.1.3. O futuro perfeito Ao radical adicionamos -eri- mais as seguintes terminações: -o amàvero eu terei amado -s amàveris tu terás amado amav + eri + -t obtendo amàverit ele terá amado -mus amavèrimus nós teremos amado -tis amavèritis vós tereis amado -nt amàverint eles terão amado Note que na primeira pessoa do singular do futuro perfeito, quando adicionamos -o, temos amàvero, e não amaverio, como seria de se esperar, ou seja, o mesmo fenômeno que encontramos com amabo, que não se torna amabio. Repare que o perfeito ele tem terminações próprias, que devem ser aprendidas isoladamente. O mais-que-perfeito e o futuro perfeito usam as mesmas terminações dos três primeiros tempos do indicativo. Como lá, a primeira pessoa do singular termina ora em -m, ora em -o. Este sistema se aplica a todas as quatro conjugações do latim. Não existem irregularidades no sistema do perfeito, mesmo para os verbos irregulares (verbo "ser", e outros)! Do que dissemos acima, podemos concluir que as quatro conjugações latinas só existem para os tempos do sistema do presente. Ou seja, as quatro conjugações só existem para uma parte do sistema verbal! Para os tempos do sistema do perfeito, existe apenas uma conjugação. Em cada nova conjugação que estudarmos, preocupe-se apenas com o sistema do presente! É muito importante agora que você conjugue, como exercício, o verbo opto, -avi, -atus, -are, "desejar, optar, escolher", nos seis tempos estudados. Observe bem as regularidades e as irregularidades que encontrar. O mais difícil em latim é saber declinar e conjugar. Para isso existe até um célebre provérbio: "Conjuga e declina, e saberás a língua latina". *** Exercícios 1. Traduza as formas dadas: 1. celavi 6. clamavi 11. habui 2. celaverat 7. clamavèrunt 12. habuimus 3. celaverimus 8. clamavero 13. habuerat 4. celavisti 9. clamaveris 14. habueritis 5. celaveratis 10. clamaveram 15. habuerint celo, celavi, celatus, celare - esconder, guardar habeo, habui, hàbitus, habère - ter; conhecer; tomar por clamo, clamavi, clamatus, clamare - gritar, gritar por 2. Traduza as frases seguintes: 1. Feminam puella viderat. 6. Regina nautas damnavit. 2. Femina puellam viderit. 7. De gloria et fama cogitaverit. 3. Incolisne nautis donos dederant? 8. Noxas a puellis pepulerant. 4. Reginam de nautarum insidiis monuit. 9. Sub luna laboravistis. 5. Et feminas et puellas incolae de nautarum insidiis monuerint. damno, -avi, -atus, -are - condenar, sentenciar luna, -ae - lua gloria, -ae - glória, renome noxa, -ae - prejuízo, dano; castigo incola, -ae - habitante pelo, pepuli, pulsus, -ere - impelir, afastar insidiae, arum (só no plural) - armadilha, cilada puella, -ae - menina laboro, -avi, -atus, -are - trabalhar sub + abl. - debaixo de; + ac. - para debaixo de moneo, monui, monitus, -ere - advertir, exortar, repreender *** 2.2. O Subjuntivo O modo indicativo é usado para exprimir fatos reais, positivos, verdadeiros, além de servir para fazer perguntas diretas. É o modo das orações coordenadas e das orações principais. O modo subjuntivo, por outro lado, é usado para exprimir fatos irreais, prováveis, duvidosos. É o modo das orações subordinadas e das orações optativas, estas que exprimem um desejo do locutor. E é ainda usado de outras formas, o que veremos mais à frente. Um outro nome para o subjuntivo é conjuntivo. A construção dos quatro tempos do subjuntivo é mais fácil que a dos tempos do indicativo. No entanto, na tradução, nem sempre podemos atribuir uma correspondência simples com os mesmos tempos do português. Em grande parte dos casos, nas orações subordinadas, a tradução de um tempo do subjuntivo vai depender do tempo da oração principal, em uma correlação precisa chamada de seqüência dos tempos (consecutio temporum). Diferente do português, o subjuntivo não tem o tempo futuro. Em seu lugar deve ser usado o futuro do indicativo. Os quatro tempos que estudaremos agora serão: presente e imperfeito; perfeito e mais-que-perfeito. Esses tempos não têm uma ligação direta com os tempos correspondentes do indicativo. 2.3. Formação do subjuntivo Na conjugação dos quatro tempos do subjuntivo você só deve se preocupar com o presente. Para esse tempo existem quatro conjugações. Para todos os outros três tempos, o imperfeito, o perfeito e o mais-que-perfeito, só existe uma conjugação, completamente regular, até mesmo para os verbos irregulares! Também no subjuntivo, como no indicativo, as conjugações só valem para uma parte dos tempos. Vejamos os tempos: 2.3.1. O presente do subjuntivo Na primeira conjugação é muito semelhante ao presente do indicativo. Como lá, tome o infinitivo presente do verbo "amar", amare, retire a terminação -re e encontre o radical ama-. Isto você já aprendeu a fazer. Mude no radical encontrado o -a final por -e, e fique com ame-. Daí em diante, basta você acrescentar as mesmas terminações do presente do indicativo para obter a conjugação completa: -m amem (eu ame) -s ames (tu ames) ama > ame-+ -t obtendo amet (ele ame) -mus amemus (nós amemos) -tis ametis (vós ameis) -nt ament (eles amem) Colocamos entre parênteses o significado "cru" do verbo, quando usado em orações independentes, o que corresponde ao presente do subjuntivo português. Logo na lição seguinte você verá que esse significado pode variar. Não devemos pensar que sempre, na presença de um presente do subjuntivo, ele deve ter essa tradução. Tome cuidado. Como exercício, conjugue neste tempo e dê o significado "cru" dos verbos dubito, -avi, -atus, -are (duvidar; hesitar), e muto, -avi, -atus, -are (mudar; transformar). 2.3.2. O imperfeito do subjuntivo Obedece a regras de formação idênticas para as quatro conjugações. É o mais simples de ser formado: basta tomar o presente do infinitivo, sem fazer qualquer alteração, e adicionar as mesmas terminações do presente: -m amarem (eu amasse/amaria) -s amares (tu amasses/amarias) amare + -t obtendo amaret (ele amasse/amaria) -mus amarèmus (nós amássemos/amaríamos) -tis amarètis (vós amásseis/amaríeis) -nt amarent (eles amassem/amariam) Entre parênteses, como acima, dois significados "crus" do verbo: o primeiro corresponde ao imperfeito do subjuntivo português, e o segundo, ao futuro do pretérito. Conjugue, como exercício, o imperfeito do subjuntivo de teneo, tenui, tentus, tenère (segurar, conter; possuir), e de capio, cepi, captus, càpere (pegar, capturar). Diga seus significados. 2.3.3. O perfeito do subjuntivo Também se forma regularmente nas quatro conjugações: tome o radical do perfeito, ou seja, a segunda parte principal sem -i, amav-, acrescente -eri- e de novo as mesmas terminações de antes: -m amàverim (eu tenha amado) -s amàveris (tu tenhas amado) amav + eri + -t obtendo amàverit (ele tenha amado) -mus amavèrimus (nós tenhamos amado) -tis amavèritis (vós tenhais amado) -nt amàverint (eles tenham amado) O significado "cru" é pretérito perfeito composto do português. Conjugue como exercício o perfeito do subjuntivo de incìpio, incèpi, incèptum, incìpere (começar), e de venio, veni, ventus, -ire (vir; avançar, atacar). Dê seus significados "crus". 2.3.4. O mais-que-perfeito É formado nas quatro conjugações tomando-se o radical do perfeito, amav-, acrescentado-se -isse- mais as mesmas terminações: -m amàvissem (eu tivesse/teria amado) -s amàvisses (tu tivesses/terias amado) amav + isse + -t obtendo amàvisset (ele tivesse/teria amado) -mus amavissèmus (nós tivéssemos/teríamos amado) -tis amavissètis (vós tivésseis/teríeis amado) -nt amàvissent (eles tivessem/teriam amado) Os significados "crus" são ora o pretérito mais-que-perfeito do subjuntivo português, ora o futuro de pretérito composto do indicativo. Como exercício, conjugue nesse tempo o verbo sentio, sensi, sensum, sentire (sentir, perceber, pensar), e expello, expuli, expulsus, -ere (expelir, expulsar, repelir). Dê seus significados. 2.4. O presente do subjuntivo do verbo sum Com radical irregular, mas com as mesmas terminações número-pessoais, o verbo sum tem a seguinte conjugação no presente do subjuntivo: sim (eu seja) sis (tu sejas) sit (ele seja) simus (nós sejamos) sitis (vós sejais) sint (eles sejam) O imperfeito, o perfeito e o mais-que-perfeito do subjuntivo de sum são formados de acordo com as regras dadas em 2.3 acima. Devemos lembrar que as partes principais desse verbo são sum, fui, futurus, esse. *** Exercício: Dada a grande importância que o verbo sum assume no discurso, conjugue-o por inteiro nos outros tempos do subjuntivo, com cada pessoa acompanhada de sua respectiva tradução "crua". Não se esqueça que o radical do perfeito desse verbo, ou seja, sua segunda parte principal sem o -i final, é fu-. *** 2.5. Orações condicionais Começamos aqui o estudo dos vários tipos de oração subordinada existentes em latim. Uma oração subordinada depende de uma principal para fazer sentido. O tipo que estudaremos agora pode bem explicar essa dependência. Quando dizemos "Se ele trabalha, ele é feliz", proferimos duas sentenças, uma dependente da outra. De fato, podemos dizer simplesmente "ele é feliz" que nosso interlocutor terá com isso uma idéia completa do que queremos dizer. Mas se dissermos apenas "se ele trabalha", notaremos que algo mais pode ser exigido, e cabe então uma pergunta do tipo "se ele trabalha, acontece o quê?". Pedimos com isso mais esclarecimentos: a oração não subsiste por si só. Ela se subordina a outra oração. O que chamamos de período hipotético é um conjunto de orações formado por uma oração principal (também chamada de apódose), e de outra, a subordinada condicional (também chamada de prótase). Em latim as duas principais conjunções que introduzem orações subordinadas são si, "se", e nisi, "senão, exceto se, a não ser que". São usadas com três tipos de hipótese: 2.5.1. hipótese real Quando há uma hipótese real, ou tida como real por quem fala, o verbo da condicional fica no indicativo, e geralmente o da principal também: Si laborat, pecuniam optat. Se ele trabalha, ele deseja dinheiro. Si laborabat, pecuniam optabat. Se ele trabalhava, ele desejava dinheiro. Si laboravit, pecuniam optavit. Se ele trabalhou, ele desejou dinheiro. Esse tipo de condição é bem claro. Pode empregar também o imperativo na principal. Mas, de qualquer forma, sua tradução é simples e imediata. *** Exercício Traduza: 1.
Si neque laboras neque optas, pecuniam non habes. cella,
-ae - despensa, adega; pequeno quarto
semper - sempre *** 2.5.2. hipótese possível O nosso sentido de condição, em geral, não é aguçado o suficiente para que distingamos com clareza um tipo de oração condicional da outra. Basta-nos saber que existe aqui ou ali uma dada condição. Quando a hipótese era real, tínhamos quase que um fato se realizando. Aqui, desejamos expressar um desejo, uma conjetura sobre algo que pode se realizar, possível: Si laboret, pecuniam optet. Se ele trabalhasse, ele desejaria dinheiro. Esse tipo de condicional é bastante comum, e em latim usa o presente do subjuntivo tanto na oração condicional quanto na principal. A tradução é como indicamos acima: na condicional em português usamos o imperfeito do subjuntivo, e na principal o futuro do pretérito. Para não se complicar com a nomenclatura, use a frase acima como exemplo para as orações futuras. Ocasionalmente o perfeito do subjuntivo é usado em ambas as orações, mas o seu uso é raro, e não trataremos dele aqui. O futuro do indicativo pode ser usado também se o desejo ou a conjetura do falante se projetar no futuro: Si laborabit, pecuniam optabit. Se ele trabalhar, ele desejará dinheiro. Aqui vemos o uso do futuro do indicativo em latim quando usamos o futuro do subjuntivo em português. A tradução não oferece problemas. *** Exercício Traduza: 1.
Si in insula sis, navigare optes. cogito, -avi, -atus, -are
- pensar, ponderar, considerar, cogitar navigo, -avi, -atus,
-are - navegar *** 2.5.3. hipótese irreal Aqui o falante enuncia algo que sente ser contrário aos fatos presentes ou passados. A) No presente: Si laboraret, pecuniam optaret. Se ele trabalhasse (mas não pode), ele desejaria dinheiro. Note que em latim os dois verbos estão no imperfeito do subjuntivo. A tradução em português é a mesma de quando a hipótese era possível. Mas aqui o falante olha para as condições atuais e vê que a pessoa de quem está falando não pode trabalhar, porque está doente, porque faleceu, porque a pessoa é um personagem que não existe, etc. B) No passado: Si laboravisset, pecuniam optavisse. Se ele tivesse trabalhado (mas não trabalhou), ele teria desejado dinheiro. Note que ambos os verbos estão, em latim, no mais-que-perfeito do subjuntivo. O falante olha para o passado e faz uma conjetura que é contrária aos fatos que aconteceram: neste caso, a pessoa de quem fala, no passado, não realizou nenhum trabalho. Em português usamos o pretérito mais-que-perfeito do subjuntivo na condicional e o futuro de pretérito composto do indicativo na principal. Para não se confundir com a nomenclatura, use o exemplo acima como referência para orações futuras. Existem ainda outras combinações possíveis de tempos para o período hipotético, mas são apenas combinações das orações acima. Você pode ter mais esclarecimentos consultando uma gramática de latim. *** Exercício Traduza: 1.
Si ambularet, naturam videret. ad (prep. + acus.) - para, em direção
de, até
provincia, -ae - província *** 2.6. Genitivo de culpa e de penalidade O genitivo também pode ser usado com verbos que indicam culpa, ou condenação: Femina puellam invidiae culpat A mulher culpa a menina de inveja (pela inveja dela) Nautam pecuniae damnavit. Ele condenou o marinheiro de dinheiro (condenou-o a pagar uma pena em dinheiro). Sempre que a tradução parecer inusual, lembre-se de se certificar em um dicionário quanto ao tipo de construção que o verbo exige. Em latim muitos verbos têm construções diferentes das dos verbos portugueses. Começamos aqui a alertá-lo para alguns deles. *** Use a seguinte tabela para você se lembrar dos verbos em latim: PRESENTE (1) PRESENTE (1s) IMPERFEITO (2) IMPERFEITO (2s) FUTURO (3) PERFEITO (4) PERFEITO (3s) MAIS-QUE-PERFEITO (5) MAIS-QUE-PERFEITO (4s) FUTURO PERFEITO (6) Na esquerda fica o indicativo; na direita, o subjuntivo. O bloco de cima é o sistema do presente; o de baixo, o do perfeito. Enumeramos os tempos para que possamos tratar deles mais comodamente no futuro. *** |