A prevalência da hepatite B nos Estados Unidos tem permanecido estável em cerca de 5% da população geral com o passar das últimas duas décadas [1]. O vírus da hepatite B (VHB) é transmitido através do contato com sangue ou outros fluídos corporais de uma pessoa infectada, ou através de contatos domiciliares. Portadores são capazes de transmiti-lo para outros mesmo quando não parecem estar doentes. Pelo menos 200.000 infecções novas ocorrem anualmente, com 5-10% das pessoas infectados desenvolvendo infecção crônica com alto risco subseqüente de cirrose, câncer hepático e morte [2]. Os 6.000-8.000 recém-nascidos a cada ano que adquirem o VHB de suas mães enfrentam um risco muito maior de infecção crônica (90%) e morte (23%) do que os adultos [3,4]. Somente imunização universal pode reduzir o número de novas infecções [5]. Leis exigindo vacinação como requisito para se entrar em escolas e creches formam uma parte crucial da rede de segurança da saúde pública e proporciona a capacidade não apenas de controlar doenças mas também de erradicá-las.
A eficácia e segurança da vacina da hepatite B têm sido rigorosamente documentada: 95% das crianças e 90% dos adultos que receberam a série completa de 3 doses desenvolveram anti-corpos protetores [6]. Entre os 20 milhões de americanos que receberam vacina da hepatite B até agora, os efeitos colaterais mais comumente relatados são dor no local da injeção e uma febre de leve a moderada. Anafilaxia foi relatada, com uma incidência estimada de 1 por 600.000 doses e nenhuma fatalidade [7-9]. Proteção imunológica contra a infecção crônica da hepatite B persiste por no mínimo 12 anos após a vacinação e pode persistir mesmo após o anti-corpo não ser mais detectável [10-13]. Até agora, nenhum dado apóia uma necessidade de doses de reforço, mas pesquisas sobre este ponto ainda estão sendo feitas.
Apesar desses fatos, oponentes da imunização têm levantado preocupações públicas quanto a segurança e a necessidade da imunização contra hepatite B. Em janeiro de 1999, um segmento de notícias da ABC destacou pessoas que alegavam ter sofrido doenças crônicas como uma conseqüência de terem sido vacinados contra a hepatite B. Mais recentemente, o boletim do Centro Nacional de Informações sobre Vacinas ("The Vaccine Reaction") acusou que:
Preocupações quanto a uma ligação entre a vacina da hepatite B e a esclerose múltipla (EM) surgiram pela primeira vez devido a relatos anedóticos da França. A vacinação obrigatória de adolescentes foi então suspensa por causa de pressão política, não devido a evidência científica. Vacinação universal de crianças na França foi subseqüentemente restaurada [18]. A causa precisa da EM, uma suposta doença auto-imune, é desconhecida. O Comitê de Aconselhamento Médico da National Multiple Sclerosis Society concluiu que não há nenhuma evidência de uma ligação entre a vacina de hepatite B e a EM [19]. O uso mundial de mais de um bilhão de doses da vacina de hepatite B não tem resultado no aumento da incidência da EM e outras doenças desmielinizantes, como seria de se esperar se houvesse uma conexão causal [20]. Outra evidência contra uma conexão vacina de hepatite B-EM inclui:
Informações obtidas do Sistema de Relatos de Eventos Adversos de Vacinas (VAERS) têm sido citadas como "evidência" para doenças crônicas e efeitos adversos sérios causados pela vacina da hepatite B. O VAERS é um sistema de vigilância de efeitos adversos à saúde que ocorrem após a imunização; os relatos não deveriam ser traduzidos como evidência de "reações à vacina". [22] As vacinações são freqüentes em adultos e crianças, e a maioria dos problemas médicos que ocorrem logo depois representam uma associação coincidente. Muitos dos casos relatados pelos lobistas anti-vacinas sofrem de falta de lógica médica, como exemplificado pelo caso de um bebê de 13 dias que se diz ter morrido pela síndrome da morte infantil súbita (SIDS) causada pela vacina da hepatite B. A SIDS -- por definição -- não tem nenhuma causa conhecida e não é diagnosticável em uma criança abaixo de um mês de idade.
Contrárias às asserções estridentes de grupos anti-vacinação, as leis estaduais de imunização obrigatória não existem para forçar uma submissão perante a vacina mas ao invés para salvaguardar a saúde de crianças e suas comunidades. Isenções médicas de vacinação existem em todos os estados, e isenções religiosas estão disponíveis em alguns estados norte-americanos. Muitos estados não permitem isenções filosóficas ou "religiosas seletivas" de vacinas isoladas como a hepatite B. Nos EUA somente cerca de 1% das crianças não são vacinadas por razões religiosas ou filosóficas. Estas crianças correm um risco maior de doenças evitáveis por vacina (por exemplo um risco de mais de 60 vezes para o sarampo) e exigiria isolamento protetor se tais doenças fossem detectadas em suas comunidades, escolas, ou creches.
Grupos religiosos que rejeitam imunização têm experimentado surtos de pólio, sarampo, coqueluche, e síndrome da rubéola congênita. Enfraquecimento das exigências de vacinação em escolas e creches resultaria em níveis menores de cobertura, maior incidência de doença e mais mortes, como ilustrado pelo surto de sarampo nos EUA em 1988-91. Estados que impuseram leis de imunização obrigatória têm documentado diminuição no número de casos de sarampo e outras doenças evitáveis por vacina. Em uma recente epidemia na Holanda, aproximadamente 3.000 casos de sarampo foram relatados, com três mortes e 68 casos de hospitalização [24].
Imunização universal infantil e em adolescentes contra a hepatite B permanece a pedra fundamental da prevenção dessa causa prevalente de morbidade e mortalidade. Embora a vacinação rotineira contra a hepatite B de recém-nascidos e adolescentes tenha começado muito recentemente para se detectar uma redução significativa na incidência da doença, o benefício eventualmente irá se tornar óbvio.
Este artigo foi escrito por John Iskander, MD, MPH, um pediatra que trabalha para o Departamento de Saúde em Columbia, Carolina do Sul, Estados Unidos.
Este artigo foi revisto em 18 de abril de 2000.