MÉTODOS DE GERAÇÃO DE FRACTAIS
Existem
muitos métodos de geração de estruturas fractais através de
modelos matemáticos simples. Vamos aqui dar destaque a dois
deles, pela sua importância e caráter bastante genérico: a
geração de fractais por agregação e o método IFS (Iterated
Function System). Outro importante método de geração algorítmica
de fractais provém dos autômatos celulares; não o consideraremos
aqui, já que outro artigo deste livro é especialmente dedicado
a eles.
Geração
de fractais por agregação
Vários
procedimentos, sugeridos pelos processos de agregação de materiais
que são observados na natureza, têm sido imaginados dentro
desta perspectiva de construção de fractais. Entre os processos
naturais em que podem ocorrer fenômenos de agregação mencionam-se:
a eletrodeposição, a junção de partículas de fumaça ou poeira,
os aglomerados de galáxias e até a formação de colônias de
bactérias. A idealização desses processos leva a modelos matemáticos
simplificados, que são construídos computacionalmente, através
de um algoritmo; apesar de sua simplicidade, eles podem conter
elementos essenciais do processo natural que se pretende descrever
e produzir estruturas bastante complexas. Vamos nos limitar
a dois deles.
Modelo
DLA (Diffusion-Limited Aggregation)
Neste
modelo, introduzido por Witten e Sander em 1981[11],
uma partícula, que dará início ao agregado, e é por isso chamada
de semente, é colocada inicialmente no centro de uma
rede (no computador, no centro da tela). A cada vez é introduzida
na borda do domínio considerado (na borda da tela) uma nova
partícula que se move em movimento aleatório. Quando a partícula
encontra um sítio vizinho ocupado por outra partícula, fica
grudada nele. Então, outra partícula é liberada nas bordas,
numa posição inicial aleatória. Figuras complexas e similares
a estruturas naturais provenientes de deposição de materiais,
como a da Figura 29, emergem nesse processo.
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FIGURA
29 - Figura construída pelo método DLA (Diffusion-Limited
Aggregation) |
Na
sua forma básica, esse modelo leva à produção de estruturas
fractais com dimensão 1,71 no plano e 2,5 no espaço, aproximadamente.
Entre suas aplicações podemos citar: a eletrodeposição (formação
de depósito no catodo pela passagem de corrente elétrica),
que leva a uma dimensão fractal aproximada de 2,43; o problema
da ruptura dos dielétricos, quando submetidos a diferenças
grandes de potencial, cuja dimensão fractal característica
fica em torno de 1,7. A agregação de colóides e o crescimento
de cristais são outros domínios onde o modelo tem sido aplicado.
Como todo modelo, este também apresenta limitações no seu
domínio de aplicabilidade: em vários casos reais de formação
de agregados, não existe a semente fixa e os agregados individuais
também se movem simultaneamente. Um exemplo disso ocorre no
caso da deposição de poeira, cuja dimensão fractal (espacial)
fica em tomo de 1,7. Várias generalizações desse modelo são
também possíveis; assim, pode-se, por exemplo, atribuir probabilidades
diversas para a partícula grudar ou não em uma partícula vizinha.
Modelo
de junção de agregados
Neste
modelo, criado por P. Meakin, M. Kolb, R. Botet e R. Julien,
em 1983[12],
as partículas são inicialmente distribuídas ao acaso em uma
rede de pontos e passam a se deslocar aleatoriamente sobre
ela. Quando se encontram, elas se fundem formando agregados
cada vez maiores (Figura 30). O processo termina quando se
tem um único agregado final. A dimensão fractal das estruturas
produzidas por esse processo é 1,45 (no plano) e 1,75 (no
espaço).
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FIGURA
30 - Figura construída pelo método de junção de agregados |
A
dimensão fractal dos agregados tem importância em muitos fenômenos
físicos; por exemplo, nos fenômenos de absorção e dispersão
da luz pelas partículas suspensas na atmosfera. Michael Berry,
em 1989, calculou que a queda dessas partículas, quando dotadas
de dimensões fractais não-inteiras, é mais lenta do que a
queda de partículas sólidas[13].
Por exemplo, um agregado com mil grãozinhos esféricos, com
dimensão fractal d = 1,8, cai dez vezes mais lentamente do
que se eles estivessem compactados em uma esfera com d = 3.
Isso pode levar a um inverno nuclear muito mais prolongado
do que o estimado anteriormente, em situações em que ocorram
lançamentos de grande número de partículas na atmosfera.
IFS
(Iterated Function Systems)
Este
é um procedimento de geração de estruturas fractais baseado
em operações da geometria clássica: translação, rotação, contração,
etc. Vamos iniciar com o exemplo de um joguinho simples e
ilustrativo: comece escolhendo um triângulo eqüilátero em
um plano. Marque os vértices A, B e C do triângulo e um ponto
P qualquer no seu interior. Agora escolha aleatoriamente um
dos vértices A, B ou C. Se o vértice B for o escolhido, mova
o ponto P para o ponto médio entre sua posição inicial e o
vértice B. Repita o processo, escolhendo aleatoriamente um
novo vértice a cada vez. Uma seqüência de pontos, que pode
ser facilmente calculada por um microcomputador e representada
no monitor, será obtida por esse processo dinâmico. Quando
esse joguinho é implementado, uma surpresa: a figura final
que aparece (se desprezados alguns pontos iniciais da fase
transiente do processo) é um fractal bem conhecido: o Triângulo
de Sierpinsky (Figura 31). Esse fractal pode ser obtido também
por vários outros processos e sua dimensão fractal, como você
poderá verificar, vale dcap = log(3)/log(2).
Uma pergunta que se pode formular é: quais as operações matemáticas
que estão subjacentes a esse jogo ou a procedimentos similares?
O que se está fazendo é efetuar, em seqüência, um conjunto
de transformações {Wi} no plano (transformações
lineares e que preservam as linhas retas), com a forma:
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(3) |
onde a,
b, c, d, e, f são números reais fixos.
A transformação será uma contração se a2 + c2
< 1, b2 + d2 < 1 e a2
+ b2+ c2 + d2 < 1 + (ad
- cb)2. Um conjunto Wl, W2,
W3,... de transformações contrativas desse tipo
constitui um sistema de funções iteradas (IFS). Atribui-se
a cada uma dessas transformações uma determinada probabilidade.
Se o resultado médio final dessas operações for contrativo,
a figura inicial tenderá para uma figura final, de área menor
que a inicial, o atrator. As transformações {Wi}
dão a geometria, e as probabilidades {Pi} fornecem
a medida (distribuição dos pontos no atrator).
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FIGURA
31 - Triângulo de Sierpinsky |
Os
modelos IFS têm produzido muitas modelagens interessantes
de formas naturais: nuvens, plantas, paisagens, etc., dependendo
da escolha das regras e das probabilidades associadas. Um
exemplo é exibido na Figura 32, onde uma folha é construída
no computador por esse processo. Esses modelos têm encontrado
aplicações nas modelagens de objetos e de paisagens em computação
gráfica, sendo utilizados em filmes, especialmente de ficção
científica (um exemplo é o filme Star Wars). Outra
aplicação interessante e útil ocorre no domínio da compressão
de imagens, onde vários procedimentos daí decorrentes ajudam
a compactar imagens com maior eficiência.
Resultados particularmente significativos sobre os IFS foram
demonstrados por Barnsley e outros, em 1985[3].
Um dos teoremas afirma que cada IFS está associado com um
único fractal. Outro, denominado teorema da colagem,
permite que se analise o procedimento inverso de se construir
uma imagem dada qualquer (que chamaremos de figura alvo) a
partir de um processo de IFS. O teorema resulta no seguinte:
ao se cobrir a figura alvo A, da melhor maneira possível,
com cópias transformadas dela mesma, o atrator de um IFS que
usa essas mesmas transformações será 'visualmente' próximo
da figura-alvo A.
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FIGURA
32 - Estrutura de uma folha gerada por um processo
IFS
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