INTRODUÇÃO À METAFÍSICA

 

Martin Heidegger filósofo e poeta, questionador do tempo e do homem, do ser e da morte, da terra e dos deuses. Homem que intriga tanto pelo pensamento como pela própria vida. Foi um dos maiores pensadores do século XX, que acelerou a problematização do ser e da história, revelando em si, uma das mais belas filosofias.

A obra filosófica de Heidegger nos lança num emaranhado de conceitos que nos obriga a recontar a história da filosofia. Heidegger usa muito os termos: linguagem, técnica, poetar, pensar, coisa, verdade e por fim existência e essência, isto se explica na sua insatisfação com todo o conteúdo até então existente dentro da filosofia, e propõe reforma-la, seguindo os passos trilhados por Nietzsche, Hölderlin e deixa continuadores, onde percebemos sua nítida influência em Gadamer e o Circulo Hermenêutico. O ser encontra-se  com a verdade,e a verdade é o sentido único de procurar a nítida existência. A verdade pela verdade é o caminho a ser percorrido, Heidegger vê o caminho, mas antes de ver simplesmente este caminho, já idealiza o que quer com o “é” da questão e o que se pretende com este “caminhar”, “trilhar”, é este o ponto onde podemos encontrar uma maior veracidade em seus textos, enxergar o caminho é só percorre-lo quando se tiver um determinado objetivo já fixado.

Quando nos propomos a investigar a verdade, ou a possibilidade de realizar uma transmistificação do ideário da verdade já revelada para a verdade pré-criada, estamos estabelecendo uma incógnita dentro do pensamento de verdade, isto é, uma sucessão de oposições da realidade, esta que já automaticamente evidencia  um outro dimensionamento. O Real é uma possibilidade positiva de verdade, e esta verdade é desvelamento, é o realmente “é”, a posição do “é” diferente do “poder-ser”.

O itinerário heideggeriano é estar em busca da verdade, a verdade do Ser. Em sua obra Was Heisst Denken ? [1] Heidegger, mostra como o esquecimento do ser da metafísica, é a maior provocação para a questão do pensamento. A superação da metafísica é, no fundo, uma recuperação originária do esquecimento do ser, o pensamento originário que nos trás as figuras de Heráclito e Parmênides, que consubstancialmente nos revelam o inicio pela procura seristica.

A possibilidade de encontrar o real na verdade é justificável pela intrínseca formalização do ser dos entes. “Apreender o ser dos entes e explicar o próprio ser é tarefa da ontologia” (SeT .7 pg. 56). O real é a veracidade do ser que se torna presente no “é”, o mesmo é que Parmênides apontou no fragmento 16 e Heráclito no fragmento 50. O Ser tornou-se real no “ai” do ser dos entes. O real é o desvelar-se da verdade.

A finalidade deste estudo é a apreciação do real, mais do real como essência da verdade, e quando falamos em essência de verdade, pretendemos o sonho ontológico de Heidegger, isto é, a superação não só da metafísica mais também do nada, que toma existência na própria forma do ser, onde enxergamos  a concordância (homoíosis) no desocultamento (alétheia) para a supra existência (Ek-sistir).

Do decorrer da história da filosofia, foi um momento original aquele em que Aristóteles equacionou o problema da verdade, definindo-a como a conformidade da mente com o objeto. A partir daquele instante, a verdade passa a ser verdade lógica e o seu fundamento é a verdade ontológica, a verdade da coisa. Nesse caso, a verdade é bilateral: a verdade da mente e a verdade da coisa.

Heidegger nos revela uma seqüência de intervenções, o claro é que a finalidade primeira do que é proposto é retirar o nada do que é real, mais a problemática heideggeriana não nos permite faze-lo sem antes provar a existência do nada, então o caminho torna-se o inverso para chegar a normalidade, isto é, primeiro provar que o nada existe e em seguida, tendo a existência do nada, retira-lo do que é real, um caminho de ida e volta. A centralização do problema se dá agora em duas vias diretas para a superação da verdade como alhqeia (alétheia) e leva-la a encontrar-se com o nada.

A primeira via é a existência do nada, a busca originária de uma realidade de libertação de lugar. O termo “nada” é comumente entendido como um vazio, isto é, uma falta, Heidegger quer desmistificar este pensamento: “Certamente, no entanto, o vazio é parente do que o lugar tem de próprio e por isso não é uma falta, mas um transparecer. Mais uma vez a linguagem pode nos dar um sinal. No verbo – esvaziar – fala o colher no sentido originário de reunir que vide no lugar”[2].

Heidegger investiga o “vazio” e a “falta” e percebendo que lingüisticamente o ser, como morada do real positivo, toma conotações diferentes das quais pretendemos com o termo “nada”, que nos leva em direção ao “esvaziar”, sendo que procuramos uma autêntica forma dissimulada de enquadrarmos o nada, chagando a conclusão que não é esta designação que teremos de seguir. Assim Heidegger continua com um exemplo: “Esvaziar o copo diz: recolhe-lo para a libertação de seu modo de ser. Esvaziar as frutas colhidas num cesto, diz: preparar-lhes nesse lugar. O Vazio não é um nada, não é também uma falta. Na In-corporação da escultura, o vazio joga como modo de instaurar lugares em buscas e criações”[3].

O nada para Heidegger não é um vazio ou uma falta e sim uma ausência , que nos permite dizer que já esteve lá... ou que ainda chegara, apenas no momento do “é” ainda é ou foi ausente , ausente não diz que é vazio e muito menos falta, aqui chegamos a um tipo de existencialidade nádica.

Quando nos aproximamos da idéia heideggeriana do nada, é inevitável não percorremos sua obra “Que é metafísica ?”, onde na elaboração desta questão, interoga-se : “Que é o nada ?”. Heidegger ainda acrescenta : “Pois o nada é a negação da totalidade do ente, o absolutamente não-ente” [4], assim o esvaziar é um tipo de ausência, o esvaziamento de algo diz que: em algum momento lá esteve, e que talvez volte a se preencher, assim é a ausência, estava e deixou de estar, com a possibilidade de retorno, e será neste retorno que o desenvolvimento nádico se transforma em clareza de realidade, isto é, existência. A tarefa não é fácil, encontra-se dissimulações, e é Heidegger que nos aponta : “Mas será que é tão seguro aquilo que aqui propomos ?... Existe o nada apenas porque existe o não, isto é, a negação ? Ou não aconteceu o contrário ? Existe a negação e o não apenas porque existe o nada ?... Nós afirmamos : O nada é mais originário que o não e a negação”[5].

A resposta a estas suposta perguntas se dá ao final de “Que é Metafísica ?” e inicio de “Introdução a Metafísica” : “Porque há simplesmente o ente e não antes o Nada”[6]. O intuito da questão é procurar a verdade em si, alétheia como desvelamento para o real.

A segunda via é a de “constatação”, e a verdadeira finalidade da superação a metafísica heideggeriana, retirar o Nada, uma vez já existente, do que é real.

A verdade é o caminho para o real,  mais a “verdade” e não a verdade, isto é, a verdade suposta de forma verdadeiramente e essencialmente verdade. Dessa forma existe um supra-existir que formula tudo isso, e como no caso do nada foi a ausência, aqui será a liberdade, daí a idéia de conjunto dos seres e entes, Liberdade positiva ( caminho positivo para a realidade do verdadeiramente verdade); Liberdade negativa ( caminho negativo para a realidade do verdadeiramente verdade), a liberdade é o abandono ao desvelamento do ente como tal, dessa forma é o ser-ai (dasein) ek-sistente como “deixar-ser” que leva a liberdade que por ora possui o homem : “Dasein ist in der Wahrheit” – O Dasein está na verdade (SeT.44 pg. 289), onde há espaço para Un-wesen, Un-wahrheit e Verschlossenheit[7]

O verdadeiro é a representação “mais clara” do real, a sistemática é como realiza-la, o devir da verdade é a sua clarificação como desocultamento. O Dasein está na verdade e é este ser que leva ao caminho do verdadeiro, isto é, do real, é no real que se aloja o verdadeiro. Da mesma forma é na língua, e na forma de fala que apreciamos a verdade como real e dessa forma retirar dela o nada. “Em verdade falar sobre a linguagem é pior talvez do que escrever sobre o silêncio”[8]. Falar do real é pior do que admitir sua possibilidade como “ausente” do nada, da mesma forma que tudo que é técnico difere do que é essência de técnica; e ainda, como afirma Heidegger em “Ciência e Meditação”, A ciência é a teoria do real.

O real é aquilo que tem existência perpetua, insere-se no total verdadeiro, já as existências, que tem seu fim na morte, não tem e nem procede uma existência perpetua mais momentânea, que ora está aqui ora já se acabou, designando o homem um Ser-para-a-morte (Sein-zum-Tode).

A possibilidade do real como essência da verdade, claramente sugere uma “possibilidade” de querer, terminar o sonho ontológico de Heidegger, incluir nessa formulação de idéia heideggeiano o ser em problematização com o real e ainda chegar ao ponto de aproxima-lo com o nada, que já sendo existente nos permite uma conotação de ser e não ser diferente das propostas pelos metafísicos, com isso a superação metafísica do real e de suas possibilidade estará mais próxima se não elucidadas, mais cabe aqui uma outra alternativa, de que todos os seres dos entes são em sua totalidade o que são, o “é” da questão continua a ser uma incógnita, Heidegger sabedor disso já nos colocava em “Da Experiência do Pensar” – “Nós chegamos muito tarde para os deuses e muito cedo para o ser”, hoje com nossa mentalidade não podemos chegar a uma conclusão clara sobre o ser, por isso Heidegger acredita que o caminho de solução dessas problemáticas são as possibilidade, talvez os deuses saibam a resposta e nos não podemos, em hipótese nenhuma perguntar e interroga-los, nos basta a compreensão do real.

Heidegger leva o termo “morte” como algo bem presente dessa totalidade: “Próprio desses mortais é o estar em grau de conhecer o morrer como caminho para a morte. Na morte se recolhe o máximo ocultamento do Ser. A morte está além de todo morrer”[9]



[1] Que significa pensar ?

[2] A Arte e o Espaço Pg. 104. Tradução brasileira em anexo da dissertação de Márcia de Sá Cavalcante Schuback. RJ. 1987.

[3] Idem. Ibidem.

[4] Que é Metafísica ? Pg. 37. Tradução brasileira da Col. Os Pensadores, Vol. Heidegger

[5] Idem. Ibidem.

[6] Idem pg. 44 ou Introdução a Metafísica . Ed, Tempo Brasileiro. RJ. 1967. pg. 33

[7] Não-essência, Não-verdade e encobrimento.

[8] No Caminho da Linguagem pg. 1. (Tradução brasileira do Capitulo I – A Linguagem pela Profº. Dante Augusto Galeffi da UcSal- BA

[9] Heidegger, M. No Caminho da Linguagem. Pg. 08 . Idem.

 

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