INTRODUÇÃO AO PENSAMENTO

 

 

1.             O QUE É FILOSOFIA ?

Na história do pensamento ocidental, a filosofia nasce na Grécia por volta do século VI (ou VII) a.C. Por meio de longo processo histórico, surge promovendo a passagem do saber mítico ao pensamento racional, sem, entretanto, romper bruscamente como todos os conhecimentos do passado. Durante muito tempo, os primeiros filósofos gregos compartilhavam de diversas crenças míticas, enquanto desenvolviam o conhecimento racional que caracterizaria a filosofia.

Se considerarmos filosofia a atividade racional voltada à discussão e à explicação intelectualizada das coisas que nos circundam, tem-se o século VI como a data mais provável da origem da filosofia. Nessa época temos a instituição da moeda, do calendário e da escrita alfabética, a florescente navegação, que favoreceu o intenso contato com outras culturas, esses acontecimentos propiciaram o processo de desdobramento do pensamento poético em filosófico.

De acordo com a tradição histórica, a fase inaugural da filosofia grega é conhecida como período pré-socrático. Esse período abrange o conjunto das reflexões filosóficas desenvolvidas desde Tales de Mileto (623-546 a.C.) até Sócrates (468-399 a.C.).

Já datamos o início da filosofia, mas o que é filosofia?

A filosofia é um modo de pensar, é uma postura diante do mundo. A filosofia não é um conjunto de conhecimentos prontos, um sistema acabado, fechado em si mesmo. Ela é, antes de mais nada, uma prática de vida que procura pensar os acontecimentos além de sua pura aparência. Assim ,ela pode se voltar para qualquer objeto. Pode pensar a ciência, seus valores, seus métodos, seus mitos; pode pensar a religião; pode pensar a arte; pode pensar o próprio homem em sua vida cotidiana. Até mesmo uma história em quadrinhos ou uma canção popular podem ser objeto da reflexão filosófica.

A filosofia parte do que existe, critica, coloca em dúvida, faz perguntas importunas, abre a porta das possibilidades, faz-nos entrever outros mundos e outros modos de compreender a vida.

A filosofia incomoda porque questiona o modo de ser das pessoas, das culturas, do mundo. Questiona as práticas política, científica, técnica, ética, econômica, cultural e artística. Não há área onde ela não se meta, não indague. E, nesse sentido, a filosofia é "perigosa", "subversiva", pois vira a ordem estabelecida de cabeça para baixo.

Talvez a divulgação da imagem do filósofo como sendo uma pessoa "desligada" do mundo seja exatamente a defesa da sociedade contra o "perigo" que ela representa.

O trabalho do filósofo é refletir sobre a realidade, qualquer que seja ela, re-descobrindo seus significados mais profundos.

Filósofos diferentes têm posturas diversas com relação a imagem institucional de sabedoria e compreensão.Embora com motivações diferentes, deram a sua importante contribuição para o alargamento das fronteiras.

A filosofia quer encontrar o significado mais profundo dos fenômenos. Não basta saber como funcionam, mas o que significam na ordem geral do mundo humano. A filosofia emite juízos de valor ao julgar cada fato, cada ação em relação ao todo. Assim, filosofar é uma prática que parte da teoria e resulta em outras teorias.

Desse modo, embora os sistemas filosóficos possam chegar a conclusões diversas, dependendo das premissas de partida e da situação histórica dos próprios pensadores, o processo do filosofar será sempre marcado pela reflexão rigorosa, radical e de conjunto.

O conceito de filosofia foi muito bem definido por Gerd A. Bornheim no livro "Os filósofos Pré-socráticos": "...Se compreendermos a Filosofia em um sentido amplo - como concepção da vida e do mundo - , poderemos dizer que sempre houve filosofia. De fato, ela responde a uma exigência da própria natureza humana; o homem, imerso no mistério do real, vive a necessidade de encontrar uma razão de ser para o mundo que o cerca e para os enigmas de sua existência..."

   2.             FILOSOFIA ORIENTAL

Desde épocas muito remotas, quase toda a filosofia na ìndia assumiu a forma de comentário sobre textos já existentes, de modo que ser filósofo significava interpretar um texto. Os textos mesmo se encaixavam em certas tradiçoes reconhecidas, e estas definiam as escolas às quais os filósofos eram considerados pertencer. No período clássico, a principal divisão era feita entre hindus e budistas. 

 O budismo, diferentemente do hinduísmo, deriva em grade parte dos ensinamentos de um único indivíduo histórico, um príncipe indiano que viveu no século VI a.C. e morreu com quase 80 anos de idade. Seu nome original era Sidarta Gautama, mas aindana juventude ele experimentou uma revelação acerca da verdadeira natureza das coisas, e depois disso ficou conhecido como"o Desperto" ou "o Iluminado", que é, o significado de Buda. Passou o resto de sua longa vida tentando compartilhar essa iluminação por meio de ensinamento. Mas, como Sócrates e Jesus depois dele, nunca escreveu nada. Suas doutrinas foram transmitidas oralmente por seus discípulos.  Buda resumiu suas doutrinas naquilo que chamou de quatro nobres verdades. São elas: 1ª)a vida é inerentemente insatisfatória, é um fardo, uma experiência de sofrimento inevitável; 2ª) no fundo, esse sofrimento é causado por nosso infinito apego às coisas, por cobiçar, querer, ansiar; 3ª) pode se encontrar uma cessação para esse sofrimento pela interrupção do querer e do ansiar; e 4ª)essa cessação do querer e so ansiar pode ser alcançada pelo que Buda enuniou como a Senda Óctupla.

 Hindus e Budistas acreditam que vivemos uma série de vidas, e não uma só vida. Por causa disso, todas as suas doutrinas filosóficas têm de ser entendidas como aplicando-se, ou como realizando-se, ao longo de uma série de vidas, e não como caracterizando necessariamente a experiência de indivíduos isolados. Aos olhos do Ocidente, esta é uma diferença de caráter marcadamente religioso, pois a creça numa sucessão de vidas é uma crença sobre como a realidade é, embora seja inteiramente não-sustentada pela evidência empírica.

 

O desejo de conhecer a natureza das coisas é inato e se manifesta desde os primeiros momentos da vida humana.

A história da Filosofia se entrelaça com a evolução da cultura e o seu desenvolvimento não é o resultado da força criadora de um homem ou de uma época, e sim da contribuição intelectual de toda a humanidade.

No antigo oriente, a filosofia confundiu-se com a Religião; através da Religião, os povos orientais possuíram apenas "verdades filosóficas" e não uma "filosofia" propriamente dita.

Na Grécia, a filosofia distinguiu-se da religião, mas confundiu-se com a Ciência, constituindo, no início, uma sabedoria universal.

Com Sócrates, Platão e Aristóteles, a filosofia se caracterizou com mais nitidez, mas não perdeu seu caráter de síntese universal, sendo definida, sucessivamente, como ciência da alma, ciência da "idéia" e ciência dos "princípios e das causas".

Na  idade Média a filosofia passou a ser profundamente influenciada pelo Cristianismo; daí surgiu a tendência da filosofia medieval em procurar harmonizar a Razão e a Fé, a filosofia com a teologia.

Thomaz de Aquino corrigiu e aperfeiçoou o sistema Aristotélico, estabeleceu o verdadeiro objetivo da filosofia e distingui-a da teologia e da ciência particular. Para ele, a filosofia é o "conhecimento científico que, pela luz natural da razão, considera as causas primeiras ou as razões mais elevadas de todas as causas".

Após Thomaz de Aquino, poucos filósofos abordaram a filosofia, definindo-a como um conjunto, a maioria, em função dos aspectos particulares da ciência a que se dedicaram, a definiram unilateralmente.

O conhecimento filosófico se distingue do conhecimento empírico ou vulgar, do conhecimento científico particular e do conhecimento teológico ou revelado.

A filosofia se caracteriza pela natureza sintética e "casual" dos seus conhecimentos, pelo processo crítico e reflexivo de suas investigações e pela sua função normativa e valorizadora.

Considerada em seu conjunto, a filosofia é um sistema de conhecimentos naturais, metodicamente adquiridos e ordenados, que tendem a explicar as causas, por suas razões.

O MÉTODO FILOSÓFICO

Método é um conjunto de processos para a pesquisa e demonstração da verdade. Somente a prática e vivência do método filosófico nos poderá fornecer, do mesmo, uma noção nítida, viva e perfeita.

A primeira condição de pesquisa filosófica é uma certa disposição para sentir os problemas e mistérios do universo.

A segunda é o espírito de exatidão e o hábito de rigor no pensamento.

Na solução dos problemas filosóficos, Sócrates empregou o diálogo, que podia assumir a forma de ironia maiêutica- série de questões tendentes a encaminhar a solução de quesitos propostos, mas mais adequada aos discípulos do que ao próprio pesquisador.

Platão aperfeiçoou o método Socrático, convertendo-o no que denominou de "dialética".

Aristóteles desenvolveu o método dialético, acrescentando-lhe as leis do silogismo.

Thomaz de Aquino combinou e entrosou melhor os métodos Platônico e Aristotélico.

O método preconizado por Descartes foi o da intuição, isto é, a obtenção de uma evidência clara e distinta pela intuição direta da verdade.

Schelling e Hegel empregaram a intuição intelectual.

Bergson utilizou o método intuitivo, em caráter efetivo ou emocional, assim ocorrendo com outros filósofos que submeteram o método cartesiano a diferentes modificações.

Sintetizando, existem três métodos fundamentais:

a-) o Platônico - a dialética - que consiste em partir de uma hipótese inicial, para, em seguida, fazer a crítica dessa hipótese, bem como das afirmações dela divergentes.

b-) o Aristotélico - o silogismo - ou seja a demonstração através da lógica racional.

c-) o Cartesiano - a intuição - ou a comprovação das asserções através da análise e estudo dos diversos aspectos secundários que a caso apresentem, até que se tenha formado o panorama de seu conjunto.

Os demais métodos filosóficos apresentados e empregados por diversos filósofos, em última análise, não tem passado de combinações dos métodos fundamentais ou da introdução de pequenas variantes nas linhas gerais.

Os diversos métodos de pesquisa filosóficas não se opõem entre si, mas se auxiliam mutuamente.

A inteligência entretanto, é o instrumento por excelência da investigação filosófica.

DIVISÃO FILOSÓFICA

A filosofia compreende a Filosofia Especulativa, que procura conhecer por conhecer, e a Filosofia Prática que procura conhecer para agir e produzir.

A Filosofia Especulativa compreende a Metafísica e a Filosofia da Natureza.

A Filosofia Prática abrange a Filosofia Moral ou ética e a Filosofia da Arte ou Estética.

A Lógica é uma introdução ao estudo da filosofia, porque fornece a esta os meios necessários à aquisição do saber.

A Metafísica é a ciência das causas primeiras e primeiros princípios: divide-se em Teodicéia, Ontologia e Crítica do Conhecimento.

A Filosofia da Natureza é o estudo do ser concreto e particularizado nos diversos gêneros e espécies do plano fenomenal; divide-se em: Cosmologia Racional, Antropologia Racional e Psicologia Racional.

A Filosofia Moral ou Ética é o estudo do Agir Humano, enquanto livre e pessoal.

A Filosofia da Arte ou Estética é o estudo do Fazer Humano, sob o ponto de vista dos princípios universais que o devem orientar.

A LÓGICA

A lógica é a ciência das leis ideais do pensamento e a arte de aplicá-las à pesquisa e a demonstração da verdade. Divide-se em:

Lógica Formal, que estabelece a forma correta das operações intelectuais, e os princípios que estabelece e as regras que formulam, são absolutas, universais e aplicáveis a qualquer matéria, porque derivam da própria natureza do entendimento; como a atividade intelectual reveste três formas - conceber, julgar e raciocinar, a lógica formal estuda o conceito, o juízo e o raciocínio.

Lógica Material, que determina as leis especiais para aplicar em ciências determinadas, chamada também Metodologia.

Lógica Crítica, que estuda a verdade, seus caracteres e seu critério, assim como o erro, suas causas e seus remédios.

A Lógica foi criada por Aristóteles, que aperfeiçoou a dialética de Platão e tem sido aceita pela grande maioria dos filósofos que o sucederam, embora alguns tenham feito restrições ao seu emprego, ou mesmo a tenham recusado formalmente.

Embora possamos pensar e chegar ao conhecimento da verdade com recursos naturais de nossa inteligência, o conhecimento e a aplicação das regras da lógica dão ao pensamento maior segurança e penetração:

LÓGICA FORMAL

A Idéia

A Idéia é a simples representação intelectual de um objeto.

A Idéia é imaterial, abstrata e geral; sua representação material, ou melhor, sua expressão se chama Termo.

Numa Idéia podem ser considerados dois aspectos: a Compreensão e a Extensão; a compreensão é o conjunto de elementos e a extensão o conjunto de indivíduos a que se aplica a idéia. Quanto maior for a compreensão, tanto menor será a extensão da idéia e vice-versa, porque a maior compreensão implica em maior particularização ou maior generalização.

Quanto a sua perfeição, as idéias podem ser: adequadas, quando representam todos os elementos do objeto, ou inadequadas. Podem ser claras, quando caracterizam nitidamente o objeto, ou obscuras. Distintas, quando tornam conhecidos todos os elementos de seu objeto ou confusas.

Quanto a sua compreensão podem ser: simples, quando constituídas por um só elemento - idéia do ser - ou compostas, quando constituídas por mais de um elemento: ex.: a idéia do homem sábio.

Quanto à extensão podem ser: singulares ou individuais, quando representam um só indivíduo; particulares, quando representam uma parte indeterminada de uma classe ou gênero: ex.: vários animais. Universais, quando representam a totalidade dos indivíduos de um gênero ou de uma espécie determinada.

Para se tornarem claras, as idéias devem ser analisadas, isto é, definidas, sob o ponto de vista de compreensão e divididas, sob o ponto de vista de extensão; a definição é a delimitação exata da compreensão da idéia, mediante a divisão da enumeração de todos os elementos constitutivos da idéia; a definição deve convir a todos os indivíduos componentes da classe definida e ser mais claras do que o mesmo.

O JUÍZO

Juízo é o ato pelo qual o espírito afirma ou nega uma coisa de outra.

Sob o ponto de vista da Lógica, o juízo é um objeto ideal, uma forma de pensamento, isto é, produto de idéias. O Juízo se compõe de três elementos: sujeito, de que se afirma ou nega alguma coisa; atributo ou predicado, o que se afirma ou se nega do sujeito e uma afirmação ou negação.

Os juízos podem ser afirmativos ou negativos, quanto à forma: analíticos ou sintéticos, quanto a matéria - são analíticos quando a idéia do predicado já está contida no sujeito (todo homem é racional) e sintético quando a idéia do predicado não está contida na do sujeito.

Proposição é a expressão de um juízo; como o juízo se compõe de duas idéias, ligadas por um verbo (afirmação ou negação) a proposição compor-se-á de dois termos: sujeito e predicado, e de um verbo, liame ou cópula. Podem ser classificadas quanto à qualidade: gerais, quando o sujeito é tomado em toda sua extensão; particulares, quando o sujeito não é tomado em toda sua extensão.

Podem ainda ser classificadas quanto à qualidade afirmativas ou negativas.

Combinando a qualidade e a quantidade, distinguimos: quatro espécies de proposições:

1.- geral afirmativa - todo o homem é mortal

2.- geral negativa - nenhum homem é imortal

3.- particular afirmativa - alguns homens são virtuosos

4.- particular negativa - alguns homens não são virtuosos

Oposições - Atentando para as proposições, não pelo que exprimem, mas em suas relações mútuas, elas se opõem, entre si, de diversas maneiras:

Contraditórias - quando diferem na qualidade e na quantidade;

Contrárias - quando sendo gerais, diferem pela quantidade;

Subcontrárias - quando particulares, diferem pela qualidade;

Subalternas - são as proposições que só diferem pela quantidade.

Lei da Oposição

Leis das Contraditórias - Duas proposições contraditórias não podem ser verdadeiras e falsa ao mesmo tempo.

Lei das Subcontrárias - Podem ser verdadeiras ao mesmo tempo, mas não podem ser falsas ao mesmo tempo.

Lei das Subalternas - Podem ser verdadeiras ou falsas ao mesmo tempo, bem como uma pode ser verdadeira e a outra falsa.
 

Chama-se conversão de uma proposição a troca do sujeito pelo predicado e está sujeito a que não haja alteração de qualidade, isto é, que ambos os termos da proposição sejam afirmativos ou negativos.
 

O RACIOCÍNIO

Raciocínio é a operação pelo qual o espírito, de uma ou várias relações conhecidas, conclui uma outra relação.

O raciocínio pode ser indutivo, quando vai do particular ao geral, ou dedutivo, quando vai do geral ao particular.

Há duas formas de dedução: a mediata, conforme resulte de mais de uma proposição ou de uma única.

A dedução imediata pode ser feita por intermédio da oposição ou da conversão das proposições, quando feitas de acordo com as leis acima enunciadas.

A dedução mediata se faz pelo silogismo que é um raciocínio composto de três proposições, disposta de tal maneira que a terceira chamada conclusão devida logicamente, das duas primeiras chamadas premissas. Ex. Toda virtude é louvável. A caridade é virtude, logo, a caridade é louvável.

O silogismo é constituído dos seguintes elementos: A matéria, representada pelos três termos e pelas três proposições;

Os termos são: um maior, também chamado extremo maior, o qual é o predicado na conclusão, um menor, também chamado extremo maior, o qual é o predicado na conclusão, um menor, também chamado extremo menor, o qual é o sujeito, na conclusão; um médio, com o qual se compara cada um dos dois extremos, e que aparece somente nas premissas. As preposições formadas pelos referidos termos são também chamadas premissas e são: maior a que contém o termo maior a médio; menor a que contém o termo menor e médio; Conclusão é a denominação dada à proposição formada dos termos maior e menor.

A forma do silogismo exprime a relação lógica entre as premissas e a conclusão.

As partes do silogismo são: o antecedente, constituído das premissas e o conseqüente, e a conclusão.

Regras do Silogismo - Relativas aos termos:

a-) o silogismo se compõe de três termos obrigatórios: o menor, o maior e o médio.

b-) a conclusão não deve ser mais extensa do que as premissas.

c-) a conclusão jamais deve conter o termo médio.

d-) o termo médio deve ser tomado, pelo menos uma vez, de modo geral.
 

Relativo às Preposições:

a-) Duas preposições afirmativas não podem dar uma conclusão negativa.

b-) Nada se pode concluir de duas premissas negativas.

c-) A conclusão segue sempre a parte mais fraca.

d-) Nada se pode concluir de duas premissas particulares.
 

Existem várias formas do silogismo irregular, ou não perfeitamente construídos, embora não destituídos de valor lógico e que assumem o papel de verdadeiras figuras da lógica Formal; existe também silogismo composto; os quais, entretanto, se podem reduzir a sua expressão mais simples e ordinárias, sendo facilmente reconhecíveis.

O silogismo constitui a mais segura das demonstrações e o processo mais eficaz para descobrir e refutar o erro. Consoante preceitua o filósofo moderno, todo o raciocínio que não pode ser feito sob essa forma, é raciocínio do qual é preciso desconfiar.

É mister, entretanto, levar em conta que o silogismo é arma de dois gumes, pois que se as premissas não forem rigorosamente exatas, podem conduzir a conclusões falsas.

Como salienta Leibnitz, o silogismo é uma arte de infalibilidade, contanto que se saiba e se possa dela servir com justiça, o que nem sempre se consegue.

O silogismo foi e contínua sendo usado com abuso pela filosofia escolástica o que motiva vários movimentos no sentido de aleijá-lo da pesquisa filosófica.

LÓGICA MATERIAL

A Lógica material é a que considera a matéria do conhecimento e determina as vias a seguir para chegar segura e rapidamente à verdade.

Objetivamente, a ciência é um conjunto de verdades certas e logicamente encadeadas entre si, de maneira a formar um sistema, coerente. Sob este aspecto a filosofia é uma ciência, respondendo melhor à idéia de ciência, porque usa princípios universais e se esforça por descobrir a razão universal de todo o real.

Subjetivamente, a ciência é o conhecimento certo das coisas por suas causas ou suas leis. A pesquisa das causas propriamente ditas - o porque das coisas - convém principalmente à filosofia.

As ciências da natureza se limitam a pesquisar as leis que governam a coexistência ou a sucessão dos fenômenos (ou pesquisa do como); em outras palavras, a pesquisa das causas segundas ou próximas é o apanágio da ciência, enquanto a pesquisa das causas primeiras ou últimas é o móvel da filosofia.

Embora conhecimento e ciência sejam sinônimos, nem todo o conhecimento é ciência. O conhecimento científico se distingue do vulgar pelos seguintes caracteres:

a-) O conhecimento vulgar, embora certo, é incapaz de justificar sua certeza, enquanto o conhecimento científico está em condições de justificá-la;

b-) O conhecimento vulgar é uma apreensão fortuita e superficial de causas individuais, o conhecimento científico, tendo por objetivo descobrir as causas e as leis, é conhecimento de forma mais geral:

c-) O conhecimento vulgar é ocasional e assistemático, enquanto o científico é metódico e sistemático.

A ciência propriamente dita surgiu pela primeira vez na Grécia Antiga e se chamou, originalmente de Filosofia.

O desenvolvimento e o progresso das diversas ciências que integravam a filosofia, provocaram o paulatino desmembramento do antigo tronco; primeiramente foi a matemática, depois a física, a lingüística, a filosofia, a química, etc. Em nossos dias a psicologia até agora integrando a filosofia tende a separação definitiva, o que já se verificou com a psicologia experimental ou do comportamento.

Com o aperfeiçoamento das ciências, no século XX, e com as extraordinárias teorias de Einsten, de Planck, etc. as ciências mais evoluídas como a física e a mecânica celeste já começaram a se aproximar da filosofia, a quem tem vindo os maiores gênios da ciências pedir emprestados os conceitos e métodos de pesquisas para aplicá-los às ciências particulares em que se especializaram e as quais se dedicam.

O estudo da ciência nos permite compreender e explicar as causas, prever os fenômenos e agir sobre a natureza; essas aplicações da ciência, entretanto, sabem que mais comuns, são assessorias, já que a verdadeira finalidade do conhecimento científico deve ser a de satisfazer o desejo de conhecer, é assegurar a posse da verdade.

Como uma ciência universal e absoluta, síntese de todas as ciências, abrangendo o campo interno da realidade é inacessível a inteligência de um só homem, faz-se mister promover a divisão do conhecimento científico em um certo tipo de ciência particular, que abranja os diversos aspectos da realidade.

Diversos filósofos, no curso dos séculos, têm tentado fazer uma classificação das diversas ciências.

Partindo de pontos de vistas diversos, muitas têm sido as classificações propostas, todas elas tendentes a determinar as relações que as unem, de maneira a mostrar sua posição natural no conjunto do conhecimento humano.

 

O MÉTODO

O Método é o caminho a seguir, para chegar a verdade nas ciências.

Sob o ponto de vista da lógica, o Método representa o conjunto de processos que o espírito humano deve empregar para a investigação e a demonstração da verdade.

O Método tem como fim disciplinar o espírito, excluir de suas investigações o capricho e o acaso, adaptar o esforço a empregar segundo as exigências do objeto e determinar o meio de investigação e a ordem da pesquisa.

A escolha do Método a seguir não pode ser arbitrária e deve atender a natureza do objeto que vai ser aplicado e ao fim que se tem mira.

Existem três tipos principais de métodos: os inventivos, os sistemáticos e os didáticos; os dois primeiros pertencem a lógica e o terceiro a pedagogia:
 

MÉTODOS INVENTIVOS

Assim se chamam os destinados à investigação e descoberta das verdades; conforme os pontos de partida classificam-se em:

a-) Método de autoridade - quando o investigador se baseia em afirmações alheias, originais de pessoas julgadas por ele e indiscutíveis valores intelectuais ou morais; embora tenha havido uma série de restrições a este método, seu uso é indispensável, pois não podemos dispensar os conhecimentos adquiridos pelos outros.

b-) Método da razão - quando fundamentamos nossas pesquisas naquilo que a nossa inteligência, como seus próprios meios de recursos, considerou como verdade.

Conforme se oriente a pesquisa do sentido geral para o particular, ou vice-versa, os métodos empregados serão dedutivos, sintéticos, indutivos ou analíticos.
 

MÉTODOS SISTEMÁTICOS

Se aos métodos inventivos cabe a descoberta das verdades, sua comprovação e verificação cabe aos métodos sistemáticos a sistematização consta de dois momentos, ou seja, a definição e a classificação.
 

MÉTODOS DIDÁTICOS

Chama-se método didático àquele empregado com o fim de transmitir à outros as verdades e os conhecimentos adquiridos, ou seja, os métodos aplicados à metodologia das diversas ciências.

NOTA: deixaremos de lado os métodos preconizados pela filosofia para o estudo e pesquisa das diversas ciências, como sejam a matemática, as ciências físico-químicas, as biológicas, etc.
 

LÓGICA CRÍTICA

A verdade e o erro

A verdade

Para Aristóteles a verdade é dizer que o que é, é, e o que não é, não é.

Distinguem-se duas espécies de verdades:

A Verdade Ontológica - é a conformidade das causas com o pensamento que as produziu; as coisas que fazemos ou construímos só são verdadeiras quando correspondem as nossas idéias. Conhecer essas idéias é conhecer as coisas tais quais são: tal é a tarefa da inteligência.
 

A Verdade Lógica - é a que exprime a conformidade do espírito às causas; nossas idéias e afirmações só são verdadeiras quando correspondem à realidade.
 

Estados de espírito frente à verdade

O espírito pode apresentar diversos estados frente à verdade; esta pode ser-lhe desconhecida, como se não existisse: estado de ignorância; pode ser-lhe possível: estado de dúvida; ser-lhe provável: estado da opinião ou pode ser-lhe evidente: estado de certeza.

Ignorância - é um estado puramente negativo, que representa a ausência de todo o conhecimento relativo a qualquer objeto.

Pode ser vencível ou invencível - segundo seja possível fazer a Ignorância desaparecer ou não.

Culpável ou desculpável - segundo a Ignorância esteja ao alcance do sujeito fazê-la desaparecer ou não.

Absoluta ou relativa - segundo a Ignorância seja total ou parcial;
 

Dúvida - é um estado de equilíbrio entre a afirmação e a negação. Pode ser - espontânea quando consiste na abstenção do espírito por falta de exame do pró e do contra;

Refletida - quando a Dúvida resulta dos exames das razões do pró e do contra.

Metódica - quando consiste na suspensão fictícia ou real, mas sempre provisória, do assentimento a uma asserção a fim de controlar o seu valor.

Universal - consiste em considerar toda asserção como certa, é a dúvida dos cépticos.

Opinião é o estado de espírito que afirma com temor de se enganar. Ao contrário da dúvida que é a suspensão do juízo.

O valor da opinião depende da maior ou menor probabilidade das razões que fundamentam a afirmação.

Certeza - é o estado de espírito que consiste na adesão firme a uma verdade conhecida, sem temer enganar-se; a certeza se funda na evidência, a qual se pode definir como "a clareza" plena pela qual o verdadeiro se impõe sobre o falso.

A certeza pode ser metafísica quando se funda sobre a essência mesma das causas, de tal maneira que a ascensão contraditória seja necessariamente absurda e inconcebível, ex.: o cobre é condutor da eletricidade.

Moral - quando se fundamenta numa lei psicológica de tal sorte que a certeza seja, aliás, que a ascensão seja verdadeira em certos casos - ex.: o homem que repudia a mentira.

Imediata ou Mediata - conforme tenha sido adquirida num primeiro exame próprio ou por intermédio de demonstração.

Intrínseca e extrínseca - segundo resulta da visão do próprio objeto ou, ao contrário, oriunda de autoridade de terceiro.
 

O ERRO

O erro é a não conformidade do conhecimento com a causa conhecida; o erro difere fundamentalmente da ignorância, porque, enquanto esta consiste em nada afirmar por nada saber, o erro consiste em não saber afirmar, acreditando que esteja de posse do saber. O erro pode ser definido como a verdade que ignora, isto é, não consiste em ser ignorante.

Causas Lógicas do Erro - são provenientes da fraqueza natural da inteligência ou do espírito: defeito de aprofundamento, de memória, de atenção, etc.

Essa imperfeição nativa do espírito, contudo, não é jamais a causa do erro, porque não estando a inteligência determinada ao assentimento, a não ser pela evidência do verdadeiro, não se enganaria jamais, o que quer dizer que ela não daria jamais sua adesão fora da evidência, se ela não sofresse uma influência estranha. Essa influência é a vontade submetida às paixões.

Causas morais - são as vaidades pelas quais ficamos demasiadamente nas nossas luzes pessoais; interesse pelo qual preferimos as asserções que nos são favoráveis; a preguiça pela qual recusamos diante da informação e do trabalho necessário, aceitando, sem controle os juízos preconcebidos habituais, a autoridade de falsos sábios, as aparências, os equívocos da linguagem, etc.

Os remédios contra o erro - serão morais ou lógicos - isto é, uma sorte de pureza intelectual, tendendo a desenvolver a retidão do espírito pela aplicação metódica das regras lógicas, pelo controle da imaginação e o desenvolvimento da memória.

Morais - que são os mais importantes, se resumem no amor à verdade que nos inclina a desconfiar de nós mesmos, a julgar com perfeita imparcialidade, a proceder com paciência e perseverança na procura da verdade.
 

OS SOFISMAS

Sofisma é um raciocínio errado, que se apresenta com as aparências de verdade.

O erro no sofisma, pode provir das palavras, bem como das idéias, chamando-se sofismas de palavras ou sofismas de idéias.

Os sofismas de palavras se fundamentam na identidade aparente de certas palavras e são:

Equívocos - que consiste em tomar uma mesma palavra em vários sentidos diferentes, no mesmo raciocínio.

Confusão do sentido composto e do sentido dividido, quando se toma separadamente aquilo que só pode ser considerado no todo ou quando se toma no todo o que só é verdadeiro tomado em partes.

Metáforas - consiste em tomar a figura pela realidade; esse erro é freqüente quando raciocinamos sobre coisas espirituais, pois, como necessitamos servir-nos de imagens sensíveis para exprimir as verdades espirituais, facilmente essas imagens substituem à causa, tornando-se forte em erros.

Os sofismas de idéias - são os provenientes, não das expressões mas da idéia expressa ou das coisas figuradas pela palavra; dividem-se em sofismas de indução e sofismas de dedução.

Sofismas de indução:
 

Sofismas do acidente - que consiste em tomar por essencial o que é acidental, ou vice-versa;

Sofismas de ignorância da causa - consiste em tomar como causa um simples antecedente ou alguma circunstância acidental - ex.: Uma lesão cerebral produz perturbações intelectuais, logo, o pensamento é um produto do cérebro.

Sofismas do arrolamento imperfeito que consiste em tirar conclusões gerais de um exame ou enumeração completo ou imperfeito, ex.: O juiz A é venal; o juiz B é venal, logo todos os juizes são venais.

Sofisma da falsa analogia consiste em tirar conclusões baseado apenas em analogias parciais ou simples semelhanças, ex.: A terra e Marte são planetas; a Terra é habitada, logo, Marte também é habitado.

Falsa conversão ou oposição ilegítima consiste em tirar conclusões de definições inexatas, de divisões incompletas ou de falsos axiomas.

Ignorância do assunto consiste em provar uma questão independente da discutida, pretendendo assim, considerar essa por provada, Ex.: provar a inocência do réu com a prova de que ele é bom filho.

Petição de princípios consiste em pretender tomar como ponto de apoio o princípio que, estando em discussão, deve ser demonstrado e aprovado.

Círculo vicioso consiste em provar duas proposições em demonstração, uma pela outra, ex.: demonstrar que o homem é mortal por não ser divino e que não é divino por ser mortal.

A refutação dos sofismas de palavras se faz pela crítica implacável da linguagem, a fim de determinar exatamente o sentido das palavras que se empregam.

A refutação dos sofismas de idéias se faz mediante o exame do duplo ponto de vista da matéria e da forma; Se as premissas forem falsas, é mister negá-las se forem ambíguas, distinguí-las, determinando precisamente o sentido em que são aceitáveis; se o argumento pecar pela forma, forçoso é negar as conseqüências.

O Critério da Verdade

Critério é o sinal graças ao qual reconhecemos uma coisa e a distinguimos de todas as outras coisas.

Distinguem-se duas espécies de critérios: os particulares, próprios de cada ordem de verdade: assim, o critério histórico, o critério moral, etc. é um critério supremo universal. O critério supremo é universal da verdade e da evidência. O motivo último de toda certeza.

Sendo a evidência o critério universal e supremo da verdade tudo que é evidente é verdadeiro e tudo o que é verdadeiro, e só isto, é de direito, evidente.

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