......Felizmente meu avô curou do pé. Tão logo pôde calçar as botas
pediu à Manoel Cangalha para trazer o cavalo para ir à Canabrava.
Ele tinha pressa. Paralelamente a atividade rural mantinha um trapiche
em Catú em Sociedade com a firma Jenback & Co., não tenho certeza,
exportadora de fumo para a Alemanha. Com certeza. A safra deveria
começar no mês seguinte e os compradores já estavam no campo negociando
o pré-contrato de compra e venda do fumo em folhas que seria selecionado,
feitas novas manocas e enfardado sob pressão em um tecido de aninhagem.
No dia seguinte acordei cedo para assistir a partida do meu avô.
Capa colonial, botas sob as calças caqui, chapelão de feltro, revólver
Smith&Wesson 38 cano longo cabo de madrepérola à cintura, meu herói
montou TONI , um cavalo castanho, passo curto, macio e eu fiquei
na calçada até ele desaparecer na neblina que todas as manhãs se
formavam sobre Catú. A cena fixou-se na minha mente e a processei
sob muitas fantasias. As figuras de Tom Mix, Zorro, O Sombra, se
alternavam em comparação com a lembrança de meu avô sumindo nas
brumas que cobriam o cenário. Não encontrava similaridade, o cavalo
de Tom Mix era branco, o do Zorro era pampa, O Sombra era muito
sinistro para parecer com o velho Alfredo. Resolvi procurar outras
imagens. Em um velho Tico-Tico que não lia mais, encontrei finalmente
a caricatura de um cavaleiro montado em um pangaré, lança em riste
contra um moinho de pás semi-rotas. D. Quixote! Levei o resto do
dia muito triste. Finalmente, ao fim da tarde meu avô chegou lépido,
feliz, tomou banho, trocou de roupa, sentou-se a porta da casa e
me chamou. As coisas na fazenda não estavam tão ruins quanto imaginara.
O gado estava bem e a roça de fumo que estava sendo colhida prometia
ser das melhores. Ele agora ia acompanhar a manutenção das prensas
enfardadoras, enormes prensas de madeira de lei com parafusos de
pau de fuso, duros como aço. Limpar os estandes, os gabaritos das
manocas, as balanças, enfim, colocar o trapiche em condições de
funcionamento. Em se tratando de um trabalho temporário era necessário
contatar os trabalhadores para evitar que os concorrentes se antecipassem
na contratação prévia da mão de obra. De repente o D. Quixote que
ainda me preocupava, desapareceu. Agora sim era o Alfredo ativo,
resoluto, disposto que eu sempre conhecera. Era o Alfredo destemido
que usava um revólver para não ser surpreendido por um bandido qualquer
como fora o pai de minha avó Adelaide, seu tio e futuro sogro, em
uma tarde de sábado, no dia 15 de outubro de 1894, quando retornava
da feira de Catú conduzindo a sua charrete em companhia de minha
bisavó Josephina e da minha própria avó Adelaide ainda mocinha,
em uma tocaia feita por um cigano para roubar o bonito relógio de
algibeira que meu bisavô Manoel Pereira da Silva exibia com grande
satisfação. Acho que vocês não estão agüentando mais esta cantilena.
Como eu não tive tempo de contá-la aos meus filhos a publiquei no
site para educar os meus netos. Primeiro à ter orgulho de ser PEREIRA,
segundo para buscar no site outras informações sobre a família.
Daqui
a pouco outros primos começarão a contar suas lembranças e eles
terão à disposição a saga dos PEREIRA.