...........O
ferimento no pé de meu avô já estava cicatrizado, então se iniciou
o processo de fisioterapia e prontamente eu me candidatei a ministrar
o procedimento. Tratava-se de massagear a região atrofiada com sebo
quente de carneiro capado. Carneiro trazido da Faz. Canabrava para
ser sacrificado no quintal da nossa casa (nossa porque eu a considerava
minha também) com uma paulada na cabeça, sangrado, retirado o couro
e submetido aos cortes de carnes apropriadas para mesa. Os miúdos
seriam usados para preparar um suculento "mininico" à ser servido
na madrugada do dia seguinte com a presença de tio Oscar Pereira
e regado a um bom vinho português. E o sebo? Já ia me esquecendo.
Também pudera, empanturrado de mininico fazia mal ocupar a cabeça
com outras preocupações! O sebo foi retirado, limpo de carnes e
sangue, lavado e guardado em um recipiente de barro vitrificado.
Em torno das 19 horas minha avó trazia para o quarto um pequeno
fogareiro para manter a temperatura do sebo que já fora esquentado
em banho-maria previamente na cozinha. O resto ficava sob minha
responsabilidade. Com a mão direita enrolada em uma flanela, retirava
pequenas parcelas para fazer a massagem. Aí começava o papo: Por
que seu pai usava esta roupa? E esta espada? Apontava para o baú
ou arca como ele a chamava! Ele foi para a guerra? O pai dele era
guerreiro? E o senhor também foi para a guerra? Pacientemente ele
respondeu: - meu pai, seu bisavô, serviu ao exército imperial. Nem
eu nem o meu avô Manuel fomos soldados. Criança, submetido a uma
educação que não permitia muitas perguntas aos mais velhos, dei-me
por satisfeito. Adulto, procuro as respostas que seriam atendidas,
por meus avós, minha mãe e meus tios se estivessem vivos! Agora
é tarde. Só me restam vagas lembranças e cumpre-me interpreta-las.
MANUEL PEREIRA DE SOUZA não era Catuense. Seria um cristão novo
a serviço da Casa da Torre ou um português que se abrigara em Catú
após a Guerra da Independência. Segundo Zote, filho de tia Santa
(irmã de meu avô Alfredo, para quem está chegando agora), MANUEL
era português. Com certeza ele se estabeleceu em Catú, se casou
com ANNA FRANCISCA DO ESPÍRITO SANTO, e montou um engenho de açúcar
as margens do riacho Cabeça de Negro na região hoje conhecida como
Riachão dos Pereira, ou simplesmente, Riachão. Se fosse soldado
da Casa da Torre teria fundado um curral. São filhos de MANUEL e
ANNA FRANCISCA : JOAQUIM PEREIRA DE SOUZA ARMUNDES (pai do nosso
avô Alfredo) e JOSEPHINA PEREIRA DA SILVA (Pereira de Souza de batismo,
casada com Manoel Pereira da Silva, proprietário da Faz. Maleitas
em região que separa os atuais distritos de Pau Lavrado e Sítio
Novo. Sobre JOAQUIM vamos dedicar todo um capítulo. JOSEPHINA vem
ser a nossa bisavó SINHÁ, mãe de nossa avó ADELAIDE. Vai ter tempo
para lhes contar esta história............