Acerca dessa situação,
o judeu marroquino e professor honorário da Universidade
de Paris, Haim Zafrani, escreveu: "Durante o assédio,
os judeus se recolheram às suas casas esperando impacientemente
o desenlace. Contrariamente ao que sentem pelos godos e seu clero,
não temem de forma alguma a chegada dos muçulmanos,
nos quais puseram todas as suas esperanças, pois não
esqueceram que os reis visigodos os têm oprimido sem piedade.
Servindo-se de estratagemas, os judeus - segundo narram os historiadores
muçulmanos e cristãos - contribuíram com
a entrada do exército islâmico na cidade, também
celebrando a sua vitória. Mughit os tomou a seu serviço,
confiando-lhes a guarda da cidade. O mesmo ocorreu em Toledo,
e em Sevilha, onde Musa Ibn Nusair deixou uma guarnição
judia para manter a ordem". (Haim Zafrani: Los Judíos
del Occidente Musulmán. Al-Ándalus y el Magreb,
Editorial Mapfre, Madrid, 1994, pág. 21). Traduzido
do espanhol.
A empreitada contou também com a ajuda dos cristãos
arianos, que também se encontravam perseguidos pelos católicos
visigodos. O transporte do grupo islâmico, por exemplo,
na travessia do Estreito de Gibraltar foi feito pela frota de
um conde ariano, Dom Julián, senhor de Tanger e Ceuta.
No primeiro momento,
judeus, cristãos e muçulmanos conviveram em harmonia.
Os muçulmanos encontraram nos israelitas auxílio
para a administração e para o comércio, e
assim as comunidades judaicas foram fortalecidas. O ambiente de
tolerância que se instaurou possibilitou um florescimento
cultural, científico e econômico. O hebraico ressurgiu
como língua literária e academias rabínicas
foram fundadas nas cidades de Córdoba e Lucena.
Vista
externa do Palácio de Alhambra, em Granada, Espanha
Com a decaída
e com o desmembramento do califado de Córdoba (1031 d.C.)
nas "taifas", ao contrário do que se esperaria,
a cultura e importância das comunidades judaicas alcançaram
maior esplendor ainda, se destacando as comunidades de Granada
e Saragoça, onde israelitas ocupavam os mais importantes
cargos da corte e praticavam o mecenato, incentivando as artes
e o saber.
Do séc. XI ao
séc. XV, três dinastias mouras governaram a Espanha
muçulmana (Al-Andaluz), a dinastia dos almorávidas
(1090-1147), a dinastia dos almóadas (1147-1232) e a dinastia
dos nazarís (1232-1492). Os almóadas vieram do norte
da África para ajudar seus irmãos de fé em
sua luta contra os reis cristãos. Eram fanáticos
religiosos e exigiram dos cristãos e judeus a conversão
ao Islã. A grande maioria dos israelitas, então,
buscou exílio em Aragão, Castela, Catalunha e em
Toledo, enquanto outros foram para Provença, na Itália,
e para outros países muçulmanos de maior tolerância.
Os muçulmanos
bereber haviam conquistado toda a Península, com a exceção
de uma região das serras asturianas, onde foi se refugiar
Pelágio, um príncipe godo, e de lá ele iniciou
as lutas pela reconquista. Seus sucessores deram procedimento
a essas lutas, e assim no séc. XI estavam formados os reinos
de Astúrias, Oviedo, Leão, Navarra, Aragão
e Castela e os condados de Portugal (Portucalle) e Barcelona.
Em 1085 Toledo foi tomada; D. Afonso Henriques em 1128 declarou
a independência de Portugal e se tornou rei, após
os mouros (muçulmanos) serem completamente expulsos do
condado; em 16 de julho de 1212, com a ajuda dos cruzados europeus,
os cristãos derrotaram o exército do califa Muhammad
an-Nasir na batalha de las Navas de Tolosa; em 1236 conquistaram
Córdoba; em 1238 Valência; em 1242 Minorca e em 1248
Sevilha. Em meados do séc. XIII somente o reino de Granada
restava aos mouros. A reconquista teve um recesso, em que foi
fundado um império aragonês no Mediterrâneo
e em que crises políticas atingiram os reinos cristãos.
Em 1469 Isabel e Fernando, os reis católicos, se casaram,
e em 1479 se deu a unificação de Castela e Aragão.
Em 1492, sob o preceito de "um só reino, uma só
religião", conquistaram Granada, expulsando definitivamente
os muçulmanos da Península.