O ROCK EM PORTUGAL 1960-1969

At� 1963 e ao surgimento dos Sheiks, s� � correcta a utiliza��o da nomenclatura rock'n'roll, se aplicada ao cen�rio musical portugu�s no seu sentido mais lato. O surgimento fortuito dos Babies de Jos� Cid, entre 55 e 58, o seu afloramento dissimulado em �O Namorico de Rita� (60), de Pedro Os�rio e o seu Conjunto, a par da exist�ncia mais ou menos dispersa de solistas embrion�rios como V�tor Gomes, Fernando Conde, Zeca do Rock, ou Daniel Bacelar, n�o s�o conclusivos a esse respeito. Todos eles revelavam um enorme grau de amadorismo t�cnico, uma car�ncia aflitiva de bons instrumentos el�ctricos e uma tend�ncia vincada para a pr�tica do pl�gio directo.

Com a explos�o mundial da beatlemania durante todo a ano de 63, alargada igualmente ao imagin�rio dos jovens �rockers� portugueses, tudo se alterou, formando-se um tri�ngulo inspirador fundamental que se iria responsabilizar pela quase totalidade da primeira produ��o rock em Portugal: o rock'n 'roll caracter�stico do final dos anos 50, os Shadows e os Beatles. Contudo, antes de se avan�ar na cronologia nominal dos nossos grupos, convir� ter presente o contexto pol�tico e social de uma na��o n�o prop�cia para qualquer "revolu��o' que implicasse rituais de rebeldia.


O Estado contra o rock

Ao contr�rio dos sistemas democr�ticos americano e brit�nico, Portugal regia-se segundo a �gide tutelar da ditadura conduzida por Salazar e, obviamente, a nossa actividade cultural reflectiu os tra�os desse �colete de for�as� institucional, numa pr�tica pol�tica que condicionou ao m�ximo a implanta��o do rock'n'roll no seio da comunidade adolescente portuguesa.

Assim, ao inv�s das explos�es juvenis erguidas em torno de Elvis Presley, Buddy Holly, Chuck Berry, Bill Haley, Little Richard, Jerry Lee Lewis, Eddie Cochran ou Gene Vincent, a gera��o lusitana emergente do p�s-guerra viu-se remetida, pela via do ostracismo pol�tico, para um gueto de informa��o a todos os n�veis vigiado. Com a carga social acrescida pela instabilidade existente nas ent�o col�nias africanas, a censura portuguesa adoptou uma postura inflex�vel, apenas permitindo a difus�o radiof�nica e televisiva do que considerava serem "mensagens aconselh�veis" para o desenvolvimento de um promissor intelecto juvenil. A via da r�dio era mais tolerante, em especial devido ao facto da maioria dos censores n�o dominar o idioma ingl�s.

As tem�ticas abordadas versavam quase sempre motivos como o amor plat�nico, a paix�o inofensiva ou a aspira��o a uma qualquer digna carreira profissional de futuro. Se a este cen�rio adicionarmos a dificuldade de acesso ao material musical proveniente do exterior - s� os mais ricos, como Jos� Cid, a ele tinham direito -, obtemos uma panor�mica global da situa��o portuguesa face ao rock'n'roll, nos prim�rdios da d�cada de 60. A juventude portuguesa dividia-se abruptamente entre dois p�los opostos: os acad�micos e a m�o-de-obra n�o especializada, ou os iletrados, se preferirem, concentrando-se o primeiro grupo nas comunidades universit�rias de Lisboa, Porto e Coimbra.

� a partir daqui que tudo acontece, embora de forma n�o linear. Com o consolidar em 58, durante a campanha presidencial de Humberto Delgado, da contesta��o popular ao regime de Salazar, atrav�s do recurso marginal � greve e de improvisadas manifesta��es p�blicas ou sess�es de esclarecimento pol�tico, a comunidade universit�ria (em plena crise acad�mica de protesto) remete para um plano secund�rio a recrea��o com o rock'n'roll, alheia � sua possibilidade de interven��o social, deixando-o, numa primeira inst�ncia, entregue quase exclusivamente a uma s�rie de projectos entertainers tolerados pela censura.


� �sombra� dos Shadows

Nasceu assim o rock em Portugal. L� fora, os grandes grupos editoriais como a Decca, a Atlantic, a CBS, a Philips ou a EMI, j� se tinham apercebido do enorme potencial econ�mico permitido por esta linguagem de recursos musicais b�sicos, mas milimetricamente moldada � medida das aspira��es juvenis, e enquanto parte integrante da Europa Ocidental, o nosso mercado devia ser explorado. O ciclo fechou-se. Aos discos que chegavam l� de fora para ditar regras, sucediam-se os grupos portugueses que os iriam tomar como modelos.

Numa primeira fase, in�cio dos anos 60, podemos tomar como mote principal de inspira��o, os Shadows, o quarteto instrumental brit�nico (Newcastle) que, em parceria directa ou indirecta com Cliff Richard, se notabilizou pela efic�cia de uma f�rmula assente na cria��o de melodias instrumentais perfeitas, com arranjos l�mpidos e cristalinos (por exemplo, Apache, F.B.I., Guitar Tango ou Wonderful Land) e no recurso a uma est�tica "certinha" e uniformizada (fato completo igual para todos os membros da banda) que, para al�m de projectar a sensa��o de amizade e coes�o em conjunto, os ilibava de qualquer conota��o marginal.

A n�vel musical, a �shadowsmania� e, em particular, o culto a Cliff Richard, justifica-se pela sedu��o das suas harmonias vocais, as quais, se bem imitadas, encobriam astutamente as enormes dificuldades t�cnicas e car�ncias instrumentais dos nossos jovens m�sicos. Posteriormente e com a chegada massiva at� n�s dos Beatles e Beach Boys, secundados pelos Seachers e Animals, grupos da chamada merseybeat (vertente pop brit�nica com insinua��es a sonoridades americanas) que maximizavam o recurso mel�dico a jogos de vocaliza��o, forma-se um primeiro pelot�o de pioneiros que podemos dividir em dois segmentos: o formato tradicional em conjunto e a via dos solistas, acompanhados por bandas de suporte.

Na vertente colectiva e entre 60 a 65, destaque-se o surgimento de grupos como os Jets (onde militava Jo�o Alves da Costa, hoje jornalista de �A Bola�), os Espaciais, os Ekos (a que pertencia M�rio Guia, futuro propriet�rio do Rock Rendez Vous), os FBI, os Conchas (em duo), os Claves, o Conjunto Jo�o Paulo (cujo l�der, S�rgio Borges, alcan�ou uma enorme notoriedade a solo), os Deltons, os Dem�nios Negros, os Morgans, os Kriptons, os Diamantes, os Plut�nicos, o Conjunto Mist�rio, os T�rtaros, os �lamos, os Dakotas e,  claro, os Sheiks, embora estes requeiram uma an�lise individualizada do contexto global, quer pela sua, criatividade, quer pela sua import�ncia hist�rica �mpar.

A solo, a fatia coube a nomes como os de V�tor Gomes e os Gatos Negros, Fernando Conde e os seus Electr�nicos (mais tarde com os Las Vegas), Zeca do Rock, Manuel Viegas e Daniel Bacelar and His Gentlemen, tendo tamb�m sido acompanhado pelos Siderais e os Fliers. � sobre este segmento que vamos encontrar um impacte mais vincado da escola standard do rock'n'roll, representada quer pelo n�cleo americano de Chuck Berry e Buddy Rolly, quer pelos brit�nicos Rolling Stones e Kinks. Refira-se, por exemplo, a rocambolesca adapta��o �Amar, Viver; Sonhar� de Fernando Conde para �Sweet Little Sixleen�, de Chuck Berry.


Um movimento chamado "Y�-Y�"

O favoritismo foi depositado quase exclusivamente nos Beatles, Shadows, Searchers e Beach Boys, mas nunca � demais referir a debilidade qualitativa da maioria dos artefactos musicais produzidos nessa �poca. Entre vers�es sucessivas de hits exteriores, leituras duvidosas de velhos tradicionais portugueses - por, exemplo, �� Rosa, Arredonda a Saia�, pelos T�rtaros, �Amores de Estudante� pelos Morgans ou �O Bailinho da Madeira� pelos Dem�nios Negros e as primeiras tentativas de estruturas rock cantadas em portugu�s, fecha-se assim o primeiro cap�tulo deste movimento no nosso mercado, denominado "Y�-Y�", numa adapta��o directa do fonema ingl�s 'Yeah", uma das principais caracter�sticas vocais do rock'n'roll. O "Y�-Y�" constituiu, portanto, o princ�pio de tudo. A partir da prolifera��o da sua sigla, construiu-se a nossa primeira identidade rock. As editoras, fundamentalmente a R�dio Triunfo, a Marfer e a Valentim de Carvalho, arriscavam o lan�amento de alguns singles e EPs   - �Porque Ser�?� de Daniel Bacelar , �A Luz� de Fernando Conde ou �Sol e Paz� dos Ekos, foram alguns desses cl�ssicos - e o Teatro Monumental, por iniciativa de Vasco Morgado, organizava, concursos de promo��o aos novos valores do "Y�-Y�", cujo pr�mio consistia por vezes na oportunidade de uma primeira grava��o em disco.

Vitor Gomes, um dos mentores principais do rock'n'roll em Portugal e uma figura c�lebre pelos saltos no palco "� Tarzan", ao lado dos seus Gatos Negros, foi um dos nomes a� revelados. Tamb�m no Teatro Monumental e em 65, os Searchers assinaram a primeira actua��o de um grupo brit�nico num palco portugu�s.


A era dos Sheiks

Os Sheiks sigla que visava conot�-Ios � r�tmica "shake", muito em voga na �poca foram, de facto, um caso � parte no cen�rio rock em Portugal. Pode-se, inclusive, dividir os anos 60 nas eras pr� e p�s-Sheiks.  Formado em 63 por Carlos Mendes (voz e viola-baixo), Fernando Chaby (guitarra), Jorge Barreto (guitarra) e Paulo de Carvalho (voz e bateria), o grupo muito cedo revolucionou o cen�rio nacional. Ao contr�rio da maioria servilista ao modelo Shadows, que entretanto iniciava a sua fase de fal�ncia criativa, eles optaram por uma pol�tica diferente de defini��o de som: aderiram desde o in�cio ao furac�o Beatles e, � semelhan�a destes, procuraram constituir uma imagem de marca que os diferenciasse da maioria dispersa entre todos os estilos dominantes na �poca, despoletando em tomo do grupo as primeiras reac��es de culto ao rock produzido em Portugal.

No entanto, � ao n�vel musical que os Sheiks se demarcaram, denotando sempre uma preocupa��o extrema em manter actualizadas as suas matrizes sonoras, facto a que n�o ser� estranha a op��o de cantar sempre em ingl�s. A experi�ncia ef�mera de Carlos Mendes, Fernando Chaby e Jorge Barreto nos Windsors, limitada aos bares da noite lisboeta, abriu-lhes o gosto pela escola merseybeat e se a estes juntarmos a paix�o de Paulo de Carvalho pelo modelo vocal desenvolvido por Steve Winwood nos Spencer Davis Group, fundindo o rock com a soul, obtemos o somat�rio das grandes influ�ncias do grupo, alargadas depois ao universo da can��o pop americana.

A adapta��o de �Summertime�, de George Gershwin e as vers�es que assinaram para �Michelle� dos Beatles e para o cl�ssico �These Boots Are Made For Walking�, da dupla Lee Hazelwood/Nancy Sinatra, exemplificam essa fixa��o inspiradora. Para al�m de razo�veis instrumentistas, em especial Fernando Chaby e Edmundo Silva, os Sheiks contavam com a boa fon�tica em ingl�s de Carlos Mendes e Paulo de Carvalho e, em conjunto, revelavam um �ptimo sentido de bom gosto nos arranjos.

Cronologicamente, h� que dividir o percurso do grupo em tr�s fases, correspondentes �s muta��es sofridas a n�vel interno: em 65, Jorge Barreto sai para dar o lugar a Edmundo Silva e at� 67, altura em que Carlos Mendes abandona em favor de Fernando Tordo, esta � considerada a forma��o cl�ssica dos Sheiks, em parte devido ao apogeu p�blico verificado nesse per�odo, durante o qual se colocou a hip�tese falhada de lan�amento do grupo no mercado exterior. Entre 8 e 11 de Dezembro de 67, chegam mesmo a actuar no Bill Bouquet de Paris, mas o eco da internacionaliza��o ficou-se por a�. Tinham chegado tarde.

Carlos Mendes insiste na conclus�o do seu curso de Arquitectura e coincidente com a entrada de Fernando Tordo, assiste-se ao decl�nio criativo dos Sheiks, anunciando o final que a sa�da em 68 de Paulo de Carvalho iria confirmar. Mais tarde, em finais de 78, recuperam o grupo e chegam at� a editar o �lbum �Pintados de Fresco�, aplicando novas lavagens �s velhas can��es, mas j� nada os une a esse passado distante, onde deixaram uma discografia a todos os n�veis singular, dividida entre nove EPs e singles assinados para a Valentim de Carvalho, contendo algumas das mais belas can��es do rock praticado em Portugal: os cl�ssicos �Missing You�, �Tell Me Bird�, �My Mother's Advice� (onde aflora a folk de Bob Dylan), �Bad Girl� ou �Lord, Let It Rain�.

A m�sica portuguesa tinha conhecido o seu primeiro supergrupo que, para al�m do trabalho estritamente musical, confirmou �s restantes camadas rockers a possibilidade sempre apetecida da auto-sufici�ncia econ�mica. O seu sucesso permitiu-lhes sair de casa e gerir as suas pr�prias vidas, constituindo este um recado important�ssimo para toda uma gera��o que os tinha como modelo de trajecto.


A import�ncia de uma log�stica rock

Um dos factores respons�veis pela dificuldade de progress�o do nosso mercado rock at� aos Sheiks, deveu-se � inexist�ncia de uma log�stica forte de apoio lateral � pr�pria actividade musical. No entanto, a partir da segunda metade da d�cada, o circuito portugu�s apresentava j� sinais claros de capacidade de invers�o desta tend�ncia.

Contra o deserto dos primeiros tempos, existia agora um itiner�rio de locais, atitudes e princ�pios que confirmava o panorama: o programa "Em �rbita" do antigo R�dio Clube Portugu�s, perfilava-se como "missa" incondicional dos nossos "rockers", respons�vel pela divulga��o em Portugal da maioria das directrizes anglo-sax�nicas dominantes; a cantina do Instituto Superior T�cnico, com as emiss�es rebelde da sua Sonora, assumia-se n�o s� como ref�gio auditivo para todos os universit�rios afectos ao rock, mas tamb�m para todos os "outros" que atrav�s de cart�es falsos, l� tentavam chegar.

A loja Porf�rios acompanhava a modas provenientes de Carnaby Street, em Londres, e com a sua aposta numa pol�tica de pre�os baixos, vestia a camada jovem mais rebelde; o programa televisivo "Zip Zip", da autoria de Carlos Cruz, Fialho Gouveia e Raul Solnado, actua como o "Ed Sullivan Show" portugu�s revelando ao nosso rock grupos como o Objectivo e a Filarm�nica Fraude; a imprensa, com "A Mem�ria do Elefante", "Mundo da Can��o" e "Mosca", um suplemento do Di�rio de Lisboa, encarregou-se de arquivar por escrito os relatos da nossa evolu��o; finalmente, espa�os f�sicos como a Avenida de Roma e, principalmente os caf�s V�v� e Luanda transformaram-se no ponto de encontro predilecto da juventude afecta ao rock, dos m�sicos aos jornalistas dos promotores ao p�blico em geral.


Despertar para o psicadelismo

A formula��o de uma din�mica pr�pria com o aproximar do final da d�cada, gerou ent�o estruturas capazes de suportar projectos que tinham, na sua base, prop�sitos musicais mais arrojados, influenciados fundamentalmente pela vaga hippy que se verificava em Inglaterra e nos Estados Unidos. Estava-se em 67 e, num modelo � escala reduzida Portugal reagiu igualmente ao novo advento do "flower power", revisto em grupos como os Pink Floyd, Jefferson Airplane, Moody Blues Procol Harum, Jimi Hendrix Experience ou Cream. Um novo movimento surge ent�o, inflectindo os rumos do passado e injectando mais maturidade ao nosso rock. O Quarteto 1111 distinguiu-se na sucess�o ao culto que anteriormente pertencia aos Sheiks, mas outros nomes o acompanharam.

A Filarm�nica Fraude, de Lu�s Linhares e Ant�nio Pinho, projecto percursor da Banda do Casaco, cruza o rock com a m�sica popular portuguesa; os Pop Five Music Incorporated, de David Ferreira e T�z� Brito, insinuam-se a um estilo que os aproxime da m�sica cl�ssica; pela forma��o t�cnica dos seus elementos e pelo posterior refor�o de Miguel Gra�a Moura e os Chinchilas, de Filipe Mendes, o nosso virtuoso guitarrista da �poca, tentam o standard power-trio dos seus �dolos, Jimi Hendrix e Eric Clapton.

Entretanto, grupos como o Objectivo e o Quinteto Acad�mico, iniciam o ciclo de colabora��o entre m�sicos portugueses e estrangeiros, tendo este �ltimo sido convertido mais tarde na f�rmula Quinteto Acad�mico + 2. O Objectivo lan�ou-se deliberadamente numa dimens�o de contornos psicad�licos, criando surpreendentes encena��es c�nicas devido � enorme disponibilidade financeira de Kevin Hoidale, o teclista do grupo; e o Quinteto Acad�mico + 2, a par dos Psico de Toni Moura, sucessor dos Espaciais, arriscam a fus�o do rock com o jazz. Para o futuro da m�sica portuguesa, estavam lan�ados os dados de uma nova gera��o de valores, onde podemos incluir igualmente os Nomos, os Tubar�es, os Telstars, o Grupo 5 ou a Turma 6. Contudo, � no in�cio da d�cada de 70 que iremos encontrar os reflexos mais marcantes do seu trabalho.


Jos� Cid, o pioneiro: dos Babies ao Quarteto 1111

Tal como foi referido no in�cio, nem todos os nossos m�sicos pactuavam com a censura. Dois nomes destacaram-se nesse exemplo de coragem: Jos� Cid e Zeca Afonso. Mas, se o segundo, durante a d�cada de 60, sempre preferiu uma exist�ncia musical confinada aos limites do fado coimbr�o (onde se distinguiu como um dos seus mais c�lebres cantores e compositores, a par de Lu�s Goes e Adriano Correia de Oliveira) e da can��o popular, Jos� Cid nunca escondeu a sua predilec��o pela m�trica do rock'n'roll e, em termos cronol�gicos, pode ser considerado o seu grande pioneiro em Portugal.

A sua experi�ncia-piloto com os Babies em 55, confere-lhe esse estatuto, apesar de nunca ter chegado a gravar nenhum disco. Inclusive, n�o dispunham sequer de instrumentos el�ctricos e, tr�s anos mais tarde, o grupo dissolveu-se, tendo Jos� Cid ingressado ent�o no Conjunto Orfe�o de Coimbra, numa colabora��o hist�rica (devido exclusivamente aos nomes envolvidos) mas ef�mera com Jos� Niza, Proen�a de Carvalho e Rui Ressurei��o. Desiludido com o cen�rio de Coimbra, mudou-se para Lisboa e o Conjunto Mist�rio constituiu o pr�ximo passo, quando em 66 este j� se encontrava em plena fase de estagna��o.

Jos� Cid come�a por trocar a tipifica��o Shadows por uma aproxima��o aos Beatles e nasce assim o Quarteto 1111, numa altura em que o nome Conjunto Mist�rio tinha sido j� abandonado. Num epis�dio telef�nico, ao discarem quatro digitos "um" seguidos, Michel (bateria), Ant�nio Pereira (guitarra), M�rio Rui Terra (viola-baixo) e Jos� Cid (voz e teclas), descobrem a designa��o que pretendiam. Os cl�ssicos �A Lenda de EI-Rei D. Sebasti�o� e �Os Faunos�, completaram a ascens�o mete�rica do segundo supergrupo portugu�s.

Na pr�tica, a import�ncia formal do Quarteto 1111 concretiza-se em dois factores: a originalidade dos seus arranjos face ao nosso mercado, nitidamente situados no contexto psicad�lico caracter�stico do movimento hippy e a acutil�ncia das suas letras, onde Cid n�o hesitava em tecer cr�ticas � situa��o de guerra nas col�nias e a recuperar velhos fantasmas da hist�ria portuguesa, expl�citos em �A Lenda de EI-Rei D. Sebasti�o� e �Balada para D. In�s�, tema com que iniciaram em 70 uma s�rie de evit�veis presen�as no Festival da Can��o promovido pela RTP. A censura n�o o poupou e chegou at� a proibi-lo de entrar em territ�rio angolano, quando o grupo lan�ou �A Lenda de Nambuangongo�, inclu�da no �lbum hom�nimo de 70, o primeiro disco de rock a ser censurado em Portugal: "Ao norte de Angola/rajadas de vento/tingiram o c�u/de sangue cinzento".

Com este acto exemplar de coragem pol�tica e social, fechou-se o primeiro ciclo da exist�ncia desigual do Quarteto 1111. O ex-Pop Five Music Incorporated, T�z� Brito, substitui M�rio Rui Terra na viola-baixo, mas apesar da sua elevada habilidade t�cnica ter incutido uma maior vivacidade � sec��o r�tmica do grupo, este limita-se a caminhar para um crescente p�tio de tra�os ligeiros. A presen�a no Festival da Can��o. de 74, representa o fim do seu per�odo criativo. A pureza perdida dos anos 60 cedia assim lugar a toda uma s�rie de pressupostos que iriam necessariamente conduzir o projecto para �reas distantes do simples fasc�nio pelo rock'n'roll, � semelhan�a, ali�s, do que veio a suceder com quase todos os grupos da� emergentes.


Cr�dito: Enciclop�dia do Rock citado por ANM - A Nossa M�sica
Leia tamb�m: O rock em Portugal 1970-1979

P�gina Principal
1
Hosted by www.Geocities.ws