Quarteto 1111

�ndice
Os cavaleiros da bruma
Jos� Cid
O Quarteto 1111 no "Em �rbita"
M�sicas
Entrevista com Jos� Cid
"O Jos� Cid � o maior!"

Leia tamb�m:
Festival do Estoril (Salesianos)



Os cavaleiros da bruma

Cr�dito: M�rio Lopes (Blitz)

D�cada de inova��es e experimentalismos, os anos sessenta foram em Portugal, no campo musical, um per�odo com poucas condi��es para evolu��es est�ticas profundas e com limita��es que come�avam no material rudimentar e terminavam no l�pis azul da Censura. A maioria das bandas tentava copiar o que era difundido pela r�dio e ouvido em ocasionais discos trazidos do estrangeiro. Os Beatles ou os Shadows eram a inspira��o - a sonoridade dos quatro de Liverpool ou as guitarras dos autores de "Apache" eram identificados em quase toda a produ��o musical de ent�o.

De um dos muitos grupos inspirados nos Shadows, o Conjunto Mist�rio, nasce o Quarteto 1111, que se torna rapidamente um caso � parte no panorama musical portugu�s, n�o s� por utilizar a l�ngua portuguesa quando n�o era usual faz�-lo, mas tamb�m porque musicalmente se afastava muito da m�dia da �poca. A forma��o inicial era composta pelo vocalista e tecladista Jos� Cid, pelo guitarrista Ant�nio Moniz Pereira, pelo baterista Michel Pereira e pelo baixista Jorge Moniz Pereira, que "decidiram trabalhar para fazer qualquer coisa diferente", acrescentando ter sido "exactamente isso que fizemos: estivemos um ano e meio fechados numa garagem", afirmou o cantor em conversa com o BLITZ.

O resultado causou a surpresa geral, sendo o tema t�tulo do primeiro EP da banda "A Lenda de El-Rei D. Sebasti�o", editado em 1967, a primeira can��o portuguesa a tocar no 'Em �rbita', programa hist�rico de divulga��o musical do R�dio Clube Portugu�s. Na apresenta��o da m�sica, destacaram o seu car�ter "eterno, de cria��o nacional e de validade perene e universal".

O sucesso surpreendeu os pr�prios elementos da banda, que viam em "Os Faunos", do mesmo EP, o ponto alto do disco, um rock com toques de psicodelia, ao qual Jos� Cid se refere como "uma m�sica com sons impens�veis".

Coincid�ncia ou n�o, os trabalhos seguintes do Quarteto 1111 seguem o caminho iniciado com a "A Lenda de El-Rei D. Sebasti�o", mergulhando mais fundo no imagin�rio popular da hist�ria portuguesa, em contos trazidos das "brumas do passado" para a modernidade da pop actual.

Em 1968 concorrem no Festival da Can��o da RTP com "Balada Para D. In�s", tema baseado na ambi�ncia �pica de uma sec��o de cordas. "Partindo-se", composto a partir do poema de Jo�o Ruiz de Castelo Branco, inserido no Cancioneiro Geral, � o �ltimo registro desta primeira fase. Ainda em 68, lan�am o EP "Dona Vit�ria", onde deixam claro o seu posicionamento em rela��o ao regime. O que se encontrava escondido em met�foras, surge ent�o marcadamente vis�vel. Doses certas de idealismo e um realismo cruel na forma como eram abordadas as problem�ticas de um pa�s aprisionado pelo regime fascista passam a ser presen�a constante.

O ano de 1969 � paradigm�tico, com a edi��o de tr�s singles ("Nas Terras do Fim do Mundo", "Meu Irm�o" e "G�nese/Monstros Sagrados"), em que o sonho de um mundo e de um pa�s diferente se fundem em deriva��es pop, marcadas pela psicodelia das colagens de org�o, pela acidez das guitarras ou pelos efeitos de voz. "G�nese" e "Monstros Sagrados" s�o mesmo caso �nico, em termos l�ricos, na obra da banda, reflexos de m�sicas escritas "num estado qu�mico completamente diferente do normal", refere.

"Todo o Mundo e Ningu�m", lan�ado em 1970, marca o regresso aos textos de autores portugueses, desta vez Gil Vicente. Nesse mesmo ano sai o baixista Jorge Moniz Pereira, substitu�do por M�rio Rui Terra, e � com essa forma��o que preparam o registro seguinte, onde toda a criatividade disseminada nos singles editados re�ne-se no primeiro �lbum da banda. Escondida na simplicidade do t�tulo estava uma obra biconceitual, dedicada � emigra��o e � Guerra Colonial, um disco que surgiu de uma ideia pr�-determinada: "eu e o Ant�nio Moniz Pereira tinhamos a ideia que ter�amos que fazer um �lbum conceitual. Se os temas n�o fossem suficientes far�amos um biconceitual. E foi o que aconteceu, obstinadamente, obcecadamente, mesmo", relembra o cantor.

Incomodada pelo intervencionismo dos temas, a Censura retira o �lbum do mercado poucos dias ap�s a edi��o, impedindo o contato com o que ser� um dos melhores �lbuns da m�sica portuguesa, capaz de competir, em arrojo, qualidade e inova��o, com o que se criava no estrangeiro, na �poca. Desde a folk de "Jo�o Nada" ou da vers�o das "Trovas do Vento que Passa", de Adriano Correia de Oliveira, passando pela soul de "Pigmenta��o", pelo desvario funk de "Fuga dos Grilos", pela pop de "Estrada Para a Minha Aldeia" ou pelo psicadelismo de "Maria Negra", o �lbum representava uma fuga � tacanhez de um pa�s que n�o estava interessado em mudan�as, mantendo-se, ao mesmo tempo, umbilicalmente ligado a ele ou ao que dele se poderia fazer.

Poucos se ter�o se apercebido da sua exist�ncia, o que � confirmado por Jos� Cid: "particularmente a partir de 73, 74, imperou um sil�ncio sobre a obra do Quarteto. Quando veio a possibilidade de revelar aquilo que tinha sido proibido antes do 25 de Abril, eu j� n�o fazia parte das pessoas interessantes para divulga��o, n�o fazia parte dos lobbies culturais".

Ap�s a edi��o do �lbum, e com uma nova forma��o, entrando Toz� Brito para o lugar de M�rio Rui Terra, a banda aventura-se no ingl�s, editando os singles "Back to the Country" e "Ode to the Beatles", o que, de acordo com o principal compositor do grupo, surgiu sem qualquer pretens�o, "tinhamos apenas escrito aquelas m�sicas e gost�vamos delas; como o Toz� falava muito bem ingl�s, achamos que dev�amos grav�-las".


"Green Windows" - 20 Anos
  (clique para ampliar)

Antes de uma frustrada tentativa de internacionaliza��o, quando a banda se passa a denominar "Green Windows", participam, em 1971, do Festival de Vilar de Mouros, onde, apesar da liberdade que se respirava, s�o obrigados a cantar principalmente em ingl�s, por terem muitos dos seus temas proibidos pelo regime. No ano seguinte � editado "Sabor a Povo/Uma Nova Maneira de Encarar o Mundo", um pren�ncio da transforma��o que se operaria em seguida: a banda passa a apresentar-se com quatro vozes femininas e dedica-se � composi��o de m�sica pop ao gosto do gosto m�dio do p�blico. Segundo Jos� Cid, "a partir do momento em que deixamos praticamente de ter mercado e tivemos que come�ar a contar os tost�es para fumar um ma�o de cigarro, come�amos seriamente a pensar que tinhamos que tomar outra posi��o. Todas as portas estavam fechadas por causa do regime, a pr�pria editora n�o nos apoiava".

No final de um show no Teatro S�o Lu�s, em Lisboa, inserida no Festival Dois Mundos, s�o convidados por um respons�vel da Decca inglesa a deslocarem-se �s ilhas brit�nicas para a grava��o de alguns temas, a primeira vez que tal fato aconteceu com uma banda portuguesa. Apesar das promessas de promo��o e de algumas m�sicas gravadas em ingl�s, espanhol e franc�s, acabam por ser bem sucedidos apenas em Portugal (o primeiro single, "20 Anos", ultrapassa as 100 mil unidades vendidas).


"Green Windows" - 20 Anos
(clique para ampliar)

"Green Windows" e Quarteto 1111 chegam mesmo a co-existir paralelamente, pois, enquanto o primeiro fazia a sua primeira participa��o no Festival da Can��o, em 75, o segundo, grava "Onde, Quando e Porque Cantamos Pessoas Vivas", influenciado pelo rock progressivo que grupos como Genesis, por exemplo, come�avam a popularizar na Inglaterra - era �lbum conceptual, que acabou por passar despercebido ao p�blico, sendo hoje objeto de culto por parte dos colecionadores.

Uma reuni�o para o espect�culo de entrega do Pr�mio Gazeta, em 1987, acaba por dar origem ao lan�amento de mais um single, "Os Rios Nasceram Nossos/Memo", que n�o tem continuidade, pondo o ponto final em uma hist�ria rica e esquecida. Jos� Cid diz ter sentido durante muito tempo o "Quarteto muito silenciado e muito injusti�ado. Ainda hoje ou�o o nosso primeiro �lbum e penso como � que fizemos isto?".

"Mas uma coisa � certa, era um grupo muito criativo e, apesar de ter existido por si, ter fechado o seu ciclo e n�o ter deixado frutos, houve quem o percebesse. A sua import�ncia nunca foi negada", finaliza.


A hist�ria do Quarteto 1111 come�a no Estoril, em 1967, quando Michel Pereira (cujo n�mero de telefone termina em 1111) se junta a Jos� Cid , Ant�nio Moniz Pereira e Jorge Moniz Pereira. Estreiam-se com um single "A Lenda de El-Rei D. Sebasti�o", que consegue ser o primeiro disco portugu�s a tocar no programa de r�dio "Em �rbita", at� a� s� acess�vel � m�sica anglo-sax�nica.

Em 1968 concorrem ao festival RTP da Can��o interpretando "Balada para D. In�s", que se classifica em 3.� lugar. Algumas das can��es do grupo tinham uma forte carga pol�tica, o que lhe valeu bastantes problemas com a censura.

Em 1970, M�rio Rui Terra substitui Jorge Moniz e gravam o primeiro LP , simplesmente intitulado "Quarteto 1111". Este �lbum foi mandado retirar do mercado, pela censura, por conter temas como "Domingo em Bidonville" e " Pigmenta��o". Toz� Brito (vindo dos Pop Five Music Incorporated; outro dos nomes grandes do pop/Rock nacional) entra para a banda substituindo M�rio Rui.

Come�am a cantar em ingl�s e tentam a internacionaliza��o com temas como "Back to The Country" e "Ode to The Beatles". Em Agosto de 1971, o grupo actua no Festival de Vilar de Mouros, com um Jos� Cid de barba e chap�u. Jos� Cid (que era o teclista do grupo) fica encantado com os sons que ouve no "Moog" de Manfred Mann (tamb�m presente em Vilar de Mouros) e n�o descansa enquanto n�o arranja um. Em 1973 , Jos� Cid toca "Moog" no disco " A Bruma Azul do Desejado", gravado com Frei Hermano da C�mara e o Quarteto 1111. Este foi o �ltimo disco que Cid gravou com o Quarteto, antes de abandonar. Mas, em 1974, o grupo j� estava de novo reunido para gravar "Onde, Quando e Porqu�, Cantamos Pessoas Vivas". Agora, para al�m de Cid, eram membros da banda o baterista Guilherme In�s, Mike Seargent, Toz� Brito e Ant�nio Moniz Pereira.

A banda dura pouco tempo com esta forma��o e aparecer� uma forma��o totalmente nova (sem nenhum dos elementos originais) que usar� o nome de Quarteto 1111. O grupo original ainda se reagrupar� em 1987, para gravar o single "Os Rios Nasceram Nossos", mas n�o tem continuidade. H� reedi��es em CD do Quarteto 1111, para quem quiser ouvir o som produzido por esta banda pioneira do Rock portugu�s.

(Aristides Duarte)


Jos� Cid

A primeira fase da carreira de Jos� Cid � pioneira na busca de solu��es musicais, em ruptura com as correntes est�ticas dominantes. Enquanto l�der e inspirador musical do Quarteto 1111, Jos� Cid prima pela originalidade dos seus arranjos, pr�ximos do psicadelismo do movimento hippye, e pela ousadia social das letras das can��es. "A Lenda de El-Rei D. Sebasti�o" e "Os Faunos" s�o alguns dos temas que geram pol�mica a par de um �xito indiscut�vel.

Quando o grupo lan�ou "A Lenda de Nambuangongo", a censura n�o lhe perdoou e Cid chegou a ser proibido de entrar em territ�rio angolano:

Ao Norte de Angola
rajadas de vento
tingiram o c�u
de sangue cinzento
eram algumas das palavras proibidas. O Quarteto 1111, permanecer� em actividade at� 1973, com o n�mero recorde de 28 can��es censuradas pelo regime.

Jos� Cid iniciara uma carreira a solo em 1969, com "Lisboa Camarada", igualmente censurado, e, em 1971, com "Jos� Cid", onde, qual homem dos sete instrumentos, toca �rg�o, baixo, guitarras, piano e faz diferentes vozes. Utiliza pela primeira vez sons electroac�sticos.

Em 1974 sai o �ltimo album do Quarteto 1111, "Cantamos Pessoas Vivas", onde Jos� Cid d� sinais de iniciar a sua aventura no rock progressivo. Em 1977 lan�a, a solo, o EP "Vida (Sons do Quotidiano)", cheio de sons de instrumentos como o mellotron, o Mini Moog e sintetizadores de cordas. Em 1978 lan�a o LP "10.000 Anos Depois Entre V�nus e Marte", que � hoje considerado uma obra-prima do rock-progressivo. Neste disco participaram:

  • Jos�Cid: melotron, moog, piano, vozes, sintetizadores;
  • Z� Nabo - guitarras, baixo, viola acustica de 12 cordas ;
  • Ramon Galarza- percuss�o;
  • Mike Sargeant - guitarra, viola acustica de 12 cordas.
  •    
    Ramon Galarza
      Jos� Cid
      Mike Sargeant

    A carreira de Jos� Cid, ainda hoje muito presente, revela uma fant�stica capacidade de adapta��o �s novas tend�ncias musicais, algo que Jos� Cid abertamente reconhece - ainda recentemente o ouvi anunciar que estava a desenvolver uma nova variante musical, o "etno-rock". Talvez este ecletismo tenha prejudicado a sua imagem de marca, pois � medida que ia evoluindo para novas paisagens musicais, ia alienando os admiradores da fase anterior.

    As �reas do rock e da m�sica de interven��o, onde realizou trabalhos de grande qualidade, n�o ter�o reagido bem � sua posterior fase pop. Tamb�m a Revolu��o de Abril de 1974, com o radicalismo esquerdista que se seguiu, o prejudicou neste aspecto: a sua interven��o anterior em Festivais da Can��o (um deles em v�speras da pr�pria Revolu��o) determinou uma reac��o negativa da intelligentzia cultural portuguesa, que preferiu idolatrar os supostos "cantores revolucion�rios" onde, a par de alguns ineg�veis talentos (Jos� Afonso, Adriano, S�rgio Godinho e Fausto) se encontrava muita mediania e at� mediocridade.


    O Quarteto 1111 no "Em �rbita"

    Texto lido por C�ndido Mota como introdu��o � emiss�o, no programa radiof�nico Em �rbita da "Lenda d'El Rei D. Sebasti�o". A solenidade do texto justificava-se pelo facto de ter sido esta a primeira (e �nica ?) vez que o Em �rbita emitiu m�sica cantada emportugu�s.

    "Em �rbita vai proceder hoje � transmiss�o de um trecho de m�sica popular portuguesa. Porque se trata de uma medida sem precedentes neste programa, e por termos o maior respeito pela nossa pr�pria coer�ncia e por todos quantos nos acompanham com a sua ades�o consciente e construtiva, tem pleno cabimento algumas palavras introdut�rias ao trecho que vamos apresentar. Desde sempre que alguns dos mais conhecidos int�rpretes e conjuntos portugueses de m�sica ligeira que nos t�m procurado, seguindo modalidades v�rias de aproxima��o no sentido de Em �rbita divulgar as suas respectivas realiza��es, em amostra, em disco ou em registo magn�tico. Em face dessas sucessivas tentativas, sempre nos recus�mos em aludir, por considerarmos que a totalidade dessas realiza��es n�o justificava o nosso interesse em abrir excep��es, quer por entendermos que a sua transmiss�o iria ocupar tempo que poderia ser preenchido com larga vantagem pela nossa m�sica habitual, quer por considerarmos que nenhuma delas reunia as condi��es m�nimas para poder representar qualquer coisa de semelhante a uma tentativa honesta e in�dita do lan�amento das bases da m�sica popular portuguesa que todos n�s em boa consci�ncia queremos renovada por inteiro de alto a baixo.

    Por varias vezes e sob diversos pretextos temos aqui exprimido alto e bom som que somente transmitir�amos qualquer modalidade de m�sica popular portuguesa que tivesse um m�nimo daqueles requisitos que poderemos condensar assim:

    1 � - Autenticidade aferida em fun��o do ambiente e da sociedade portuguesa e da tradi��o folcl�rica do nosso pa�s. 2� - Afastamento radical da utiliza��o puramente oportunista de padr�es internacionais e pseudo internacionais, imposs�veis de transpor com verdadeira honestidade para o nosso meio.

    3� - Rompimento frontal com as formas de m�sica popular comercial mais divulgadas em Portugal e que se caracterizam pela teimosa insist�ncia em seguir os figurinos caducos e provincianos de Aranda do Douro, San Remo ou B�nidorm.

    4� -Demonstra��o de um poder criador e interpretativo que ultrapassasse de forma a n�o deixar d�vidas, apelando a uma imita��o grotesca que se faz no estrangeiro, quer na forma de copia pura e simples, quer na de adapta��es apressadas, quer na utiliza��o de uma l�ngua, de um estilo ou de um som de importa��o, tudo defeituosamente assimilado.

    Estes portanto os requisitos m�nimos que sempre exigimos a n�s pr�prios e aos que nos procuraram com pedidos de transmiss�o. Nunca nos limit�mos por�m a uma recusa seca � perempt�ria. Os nossos pontos de vista sempre os exprimimos desenvolvidamente em particular e em p�blico.

    Os que nos ouvem com regularidade, devem recordar-se do que aqui foi dito sobre este mesmo tema no ano passado. As nossas sugest�es sobre os caminhos a seguir na nossa opini�o ficaram ent�o bem claras. Recordemos algumas delas:

    Recurso ao folclore portugu�s nas suas m�ltiplas variedades e manifesta��es.

    A liga��o intima � realidade portuguesa nos seus mil e um aspectos e facetas.

    Recurso � poesia portuguesa popular ou erudita, medieval, cl�ssica ou contempor�nea.

    O aproveitamento das formas mel�dicas e r�tmicas da musica popular portuguesa, ainda n�o adulterada.

    A revis�o total dos temas e respectiva forma de express�o com base na constru��o l�rica dos poetas da literatura portuguesa, do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende aos poetas da actual gera��o de Coimbra. Sem preocupa��es de s�ntese, estas s�o algumas das formas poss�veis no nosso entender de encarreirar a m�sica popular portuguesa para alguma coisa de novo, de verdadeiro e de autentico. H� anos que vimos proclamando. Nunca ningu�m demonstrou ou procurou demonstrar que no plano dos princ�pios e em concreto, est�vamos errados.

    Posto isto temos, para n�s, que o trecho que vamos hoje apresentar, preenche os requisitos m�nimos para a sua divulga��o por este programa com todas as implica��es que a sua transmiss�o atrav�s de Em �rbita acarretam.

    Tendo por t�tulo A Lenda del Rey D. Sebasti�o, � escrito por um portugu�s � tocado e cantado por portugueses. N�o vamos fazer uma aprecia��o exaustiva desta grava��o, das suas qualidades que s�o muitas, e dos seus defeitos que ter� alguns.

    Vamos apenas apontar o que nela se nos afigura existir de importante e de novo. Assim � desde logo um apontamento especial sobre os aspectos puramente interpretativos, instrumentais e vocais, e num per�odo em que neste programa se d� cada vez mais import�ncia aos criadores e cada vez menos aos int�rpretes, a grava��o que vamos apresentar tem qualidade interpretativa mais do que suficiente, e uma nota que sobressai com rara evidencia

    O que neste trecho impressiona mais, o que nele se inclui de mais nitidamente in�dito, � que em cima de uma melodia de encantadora simplicidade, h� uma hist�ria singela, popular, portuguesa, dita em versos directos, certeiros, desenfeitados. Conta-se uma hist�ria, uma lenda. Como lenda que � trazida at� hoje pela heran�a popular, pertence ao folclore, ao patrim�nio mais �ntimo da comunidade e dos costumes do nosso pa�s.

    Depois, � um tema eterno, de cria��o nacional e de validade perene e universal. � um Sebastianismo colectivo que na lenda se retrata � a ideologia negativista dos que t�m uma cren�a irracional em coisas, em valores e em poderes que n�o existem, dos que se deixam enganar pelos falsos Messias do oportunismo e da mistifica��o. A lenda del Rey D. Sebasti�o, escreveu Jos� Cid, � o Quarteto 1111."


    Reproduzido do Forum da p�gina dos Diamantes Negros


    Veja tamb�m:
    Nota acerca do festival pop/rock que Jos� Cid tentou organizar no Estoril (Salesianos) em 1969]


    Marcos principais da carreira de Jos� Cid:

    • 1956 - Funda "Os Babies", um grupo especializado em cantar vers�es de rock'n'roll.
    • 1960 - Com Jos� Niza, Proen�a de Carvalho e Rui Ressurei��o funda o "Conjunto do Orfe�o".
    • 1967 - Nasce o "Quarteto 1111" e, com ele, um tema para a hist�ria: "A Lenda de El-Rei D. Sebasti�o".
    • 1968 - "Balada para D. In�s" classifica-se em terceiro lugar no Festival RTP da Can��o.
    • 1969 - O primeiro disco a solo, "Lisboa Camarada", � proib�do pela Censura.
    • 1973 - Grava "20 Anos", com os "Green Windows", a sua nova forma��o.
    • 1974 - Leva ao Festival RTP "A Rosa que Eu te Dei" e "No Dia em Que o Rei Fez Anos", duas can��es que se v�o tornar, de imediato, enormes �xitos.
    • 1978 - Edi��o de "A Minha M�sica".
    • 1980 - Triunfa no Festival RTP com o tema "Um Grande, Grande, Amor". Classifica-se em 7� lugar no Eurofestival, a melhor classifica��o portuguesa at� � data.
    • 1981 - A can��o "Morrer de Amor por Ti" classifica-se em 2� lugar no Festival RTP.
    • 1983 - Conhece, de novo, o �xito, com as can��es "Como o Macaco Gosta de Banana" e "O Rock dos Bons Velhos Tempos".
    • 1994 - Edita "Vendedor de Sonhos".

    Oi�a nesta p�gina do Quarteto 1111 as m�sicas do Alb�m hom�nimo:

    Jo�o Nada
    Domingo em Bidonville
    Uma estrada para a minha aldeia
    A fuga dos grilos
    Trova do vento que passa
    Pigmenta��o
    Maria Negra
    Lenda de Nanbuangongo      [letra]
    Escravatura

    A can��o �A Lenda de El-Rei D.Sebasti�o� foi inclu�da na colect�nea �Os Reis do Ritmo�, publicada em 2003 pela editora Valentim de Carvalho

    Entrevista com Jos� Cid

    Por S�rgio Lemos, "Correio da Manh�", 18.Jan.2004

    Em 1976 cantou o tema �Ontem, Hoje e Amanh�, em vers�o inglesa, no Festival da Can��o de T�quio. Estava a competir com Gilbert O�Sullivan, a brasileira Simone e Elton John. Eram 48 os participantes e Jos� Cid passou � fase final com outros 12. Teve uma audi�ncia estimada em 900 milh�es, naquele que era considerado o Festival da Eurovis�o do Oriente. No fim ouviu o apresentador dizer: "and for a outstanding composition: Portugal" (e por uma espantosa composi��o: Portugal) � tinha derrotado Elton.
    Elton John � hoje mundialmente conhecido. Nunca lhe passou pela cabe�a que, se tivesse nascido no Reino Unido e cantado em ingl�s, a sua carreira musical teria sido diferente?

    Ponho as coisas ao contr�rio. Se o Elton John tivesse nascido na Chamusca, ia-lhe ser muito complicado fazer a carreira que eu fiz em Portugal. Eu sento-me ao piano e fa�o can��es sem ter qualquer necessidade de poeta ou produtor. Sou protagonista da minha obra.

    Portanto, se o Elton John tivesse nascido na Chamusca

    Teria sido muito complicado. Ou se os Rolling Stones tivessem nascido em Almada n�o teriam feito a carreira em Portugal dos Xutos e Pontap�s ou dos UHF. Depois, era incapaz de cal�ar sapatinhos a condizer com a carteira. Ainda que em T�quio tivesse barba, �culos redondos azuis, um grande chap�u de cabedal preto, um len�o indiano cheio de colares, um cinto largo de cabedal e umas cal�as e botas pretas de cabedal at� acima. E, por cima de tudo, um capote alentejano. O Elton olhava para mim como se eu fosse um extraterrestre. E eu n�o estava vestido como a rainha de Inglaterra.

    Vamos regressar � Chamusca. O Jos� Cid nasceu l�

    Os meus pais eram propriet�rios agr�colas do Ribatejo e fizeram uma f�brica de concentrados de tomate e outros derivados. Lembro-me muito dos meus amigos e dos oleiros. Quando vinha da escola prim�ria, passava por um oleiro e ficava hipnotizado. Um dia levei um grande castigo porque cheguei a casa com duas horas de atraso.

    Tem duas irm�s mais velhas. Foi mimado?

    Os meus pais sempre quiseram ter um filho. Posso dizer que fui mimado pela minha irm� mais velha, at� mais do que pela minha m�e. O meu pai era uma pessoa muito distante. A Maria S�o Jo�o, que compreendeu sempre a minha carreira, hoje � en�loga na regi�o da Bairrada; a minha outra irm�, Margarida, vive entre Lisboa e a Chamusca e era casada com um neto do poeta Eug�nio de Castro.

    Chama-se Jos� Cid Tavares. O Cid � da Chamusca?

    Sim. E a Ferreira Tavares � de Mongofores, na Anadia. H� um ramo familiar proveniente de Ciudad Rodrigo e alguns dos nossos parentes, dizem que somos descendentes do El Cid. Mas isso � mentira; ele teve duas filhas e foram freiras. A n�o ser que tenha havido uma invas�o do convento. Para bem delas.

    Cresceu na Chamusca at� que idade?

    At� aos 10 anos. Depois fomos para Mongofores, uma aldeia perto da Curia. Andei em col�gios onde encontrei sempre gente que cantava e tocava � como por exemplo no col�gio dos Jesu�tas, em Santo Tirso, onde ganhei um primeiro pr�mio de canto coral. Em Coimbra, noutro col�gio onde estive, tive a felicidade de me cruzar com jovens como o Ant�nio Portela e o Rui Ressurrei��o, que s�o a base da minha aprendizagem musical.

    Suponho que os seus pais n�o achariam gra�a � sua queda para a m�sica.

    Nenhuma. Em 1954 era vocalista de uma banda de rock em Coimbra, os Babies, a primeira do pop rock portugu�s. S� pude cantar porque menti aos meus pais, dizendo-lhes que todo o dinheiro que ganh�vamos era para dar apoio aos desvalidos.

    E afinal n�o era nada disso

    Era para jantaradas na baixa de Coimbra e para ir visitar as raparigas no Terreiro da Erva.

    � nessa altura que toca com o Daniel Proen�a de Carvalho?

    Foi mais tarde, quando sai dos Babies e integrei o grupo de jazz do Orfe�o, tamb�m em Coimbra; o Proen�a de Carvalho era o contrabaixista.

    Como � que era esse grupo?

    Era mais novo que eles e vocalista; cant�vamos cenas �jazzisticas� americanas e, tamb�m, bossa nova.

    Em Coimbra a tocar jazz, eram popular�ssimos

    �ramos. Os melhores l� da terra. E vinham grupos � queima das fitas e ficavam boquiabertos. Toc�vamos um tema do Modern Jazz Quartet que surpreendia os estrangeiros.

    E davam aut�grafos?

    N�o, isso n�o. Nessa altura, as meninas ainda n�o pediam isso. Apenas batiam muitas palmas e gostavam muito de n�s. Essa moda s� aparece na altura do Quarteto 1111, influenciados pelos americanos e ingleses.

    Quando � que se apercebeu que advocacia n�o era a sua voca��o?

    Na �rea jur�dica o sil�ncio � uma vit�ria. Ora, eu n�o sou muito silencioso.

    Como a fam�lia encarou a falta de voca��o?

    Depois de chumbar quatro vezes no primeiro ano, vim para Lisboa fazer aquilo de que gostava; ser professor de gin�stica. S� n�o terminei o curso porque o Quarteto 1111 j� tinha arrancado e depois meteu-se o servi�o militar.

    Onde � que fez o servi�o militar?

    Na OTA, fui professor de gin�stica entre 1968 e 1972. Dava aulas de manh� e � tarde ia ensaiar para a garagem. Aos fins-de-semana, actuava com os 1111.

    Quando � que surge o salto para a notoriedade?

    Foi no �Em �rbita�, onde o C�ndido Mota, que fazia a locu��o, passou �A Lenda de El Rei D. Sebasti�o�. E foi um �boom�. A Emi-Valentim de Carvalho quis grav�-lo. Come��mos depois a trabalhar na �Balada para Dona In�s� e em �O Meu Irm�o�. No final dos anos 60 grav�mos o primeiro �lbum, que era conceptual, abordando os problemas da emigra��o e do colonialismo.

    E foi a� que teve problemas com a censura.

    O �lbum saiu em Janeiro de 1970. Uma semana depois foi engavetado. Nesse �lbum est� a primeira vers�o das �Trovas do Vento que Passa�. Tinha estado com o Adriano Correia de Oliveira na recruta em Mafra e em Santar�m e, nessa altura, j� o Adriano as cantava. Pedi-lhe para fazer uma vers�o com o Quarteto 1111 e o Adriano acedeu, embora depois tenha havido problemas porque o poema � do Dr. Manuel Alegre e a m�sica, o Adriano dizia que era dele e n�o era, era do Ant�nio Portugal. Houve pol�mica. Depois disso, comecei a gravar a solo.

    Al�m do disco, tiveram outros problemas com a censura?

    Quem teve grandes problemas, por exemplo o Zeca Afonso ou o Adriano, foram os homens de esquerda, de oposi��o ao regime. N�s n�o �ramos sequer republicanos. T�nhamos um sentir diferente da oposi��o. Est�vamos como um peixe fora de �gua porque t�nhamos ideais mon�rquicos. Salazar sabia que o grande perigo para o regime era o comunismo. N�o s� n�o est�vamos de acordo com o colonialismo, nem com a forma como este pa�s era gerido; mas isso ainda n�o estou.

    E ainda n�o est� de acordo com a exist�ncia da pr�pria Rep�blica

    N�o estou de acordo com a forma como o pa�s est� a ser orientado. Quando falo em Monarquia, n�o falo de duques e baronatos mas duma Monarquia do povo. Todas essas centenas de anos de hist�ria que deit�mos para tr�s num regic�dio incr�vel de um rei fant�stico, que se chamava D. Carlos. Depois, todo o sistema n�o presta. O Salazar arrancou bem durante dez anos e depois foi ainda pior que os outros. Foi um homem sem coragem. Nenhum dos partidos do p�s-25 de Abril � nacionalista, defendem s� interesses partid�rios. Da forma como est�o a governar, n�o podem fazer o pa�s feliz. E depois temos aqui ao lado a vizinha Espanha, nacionalistas que gostam mesmo daquilo que t�m de mau, enquanto n�s n�o gostamos nem do que temos de melhor. Os sonhos da minha gera��o n�o foram cumpridos.

    Continua a ser mon�rquico?

    N�o sou anti-republicano. N�o s� anti-nada; a n�o ser anti-fascista e anti-comunista estalinista, um regime sect�rio e assassino. Tanto censuro o Estaline que matou milh�es na Sib�ria como o Hitler. Nunca vi foi nenhum filme feito na Sib�ria N�o sou anti-nada, a n�o ser ao atr�s referido. Tamb�m n�o sou anti-republicano. Agora, neste momento, n�o h� ditaduras mon�rquicas e h� republicanas.

    O que � que pensa do dr. Jorge Sampaio?

    � um homem de cultura, interessante. Mas tem pouco poder e, por isso, n�o faz nada. Nem sequer pode dizer: o rei vai nu. Ou neste caso, a Rep�blica vai nua. Conhe�o, pessoalmente, D. Duarte. � um homem muito interessante, culto e instru�do, s� que tem muito pouca coragem pol�tica. J� lhe disse que era t�o f�cil, ele ser neste momento a alternativa pol�tica.

    H� uma hist�ria sobre a sua can��o �O Dia em que o Rei Fez Anos� e a do Paulo de Carvalho �E Depois do Adeus�, que foi a senha da revolu��o de Abril.

    �O Dia em que o Rei Faz Anos� � a hist�ria do Dia 25 de Abril. Era uma profecia relativa porque era inevit�vel que o regime de Marcelo Caetano ca�sse. � muito mais a descri��o do que se passou do que �E Depois do Adeus�.

    Numa entrevista disse que n�o percebia porque n�o tinham escolhido a sua m�sica em vez da do Paulo de Carvalho.

    Na altura n�o percebia, hoje percebo. Eu n�o estava propriamente envolvido no 25 de Abril, embora desejasse uma mudan�a. O autor do �E Depois do Adeus� estava.

    Estava ent�o com os "Green Windows".

    Eram o Quarteto 1111 mas mais comercial e com algumas das namoradas e das mulheres, numa altura em que j� n�o �ramos jovens. T�nhamos casado, t�nhamos crian�as, precis�vamos de pagar a renda da casa.

    Nessa altura j� era pai.

    Era.

    Como foi ser pai?

    Tinha 22 anos.

    Muito cedo.

    Pois foi. Por isso, a minha filha j� tem hoje quase 40. Mas foi muito interessante. Era uma crian�a muito engra�ada. Precoce e inteligente.

    Qual era a sua rela��o com ela?

    Ela escrevia poemas. Tinha muita facilidade em escrever e ainda tem, provavelmente. E, de repente, revelou a sua veia art�stica cantando tamb�m em vozes com a banda Tribo e escrevendo algumas coisas. Mas depois houve uma paragem. Ela foi para Estados Unidos. Houve um afastamento bastante grande entre n�s, que ainda permanece.

    Permanece porqu�?

    H� um grande choque de gera��es.

    Mas ela � parecida consigo?

    Digamos que eu sou mais saud�vel, mais desportivo. E mais n�o digo.

    � a �nica filha que tem?

    �.

    E nunca mais quis ter filhos?

    N�o aconteceu. Acho que se pode transferir a afectividade e depois tem de haver um para�so e as pessoas podem encontrar-se l�.

    Viveu sempre rodeado de mulheres?

    Sim e n�o. Eu gosto muito de estar sozinho e muito de estar acompanhado mas quando quero. Tenho um excelente relacionamento com a minha mulher actual que vive no Porto. Eu vivo na Anadia, a 80 quil�metros; vemo-nos aos fins-de-semana ou durante a semana. N�o nos enganamos, n�o � nada disso, eu quero � estar sozinho. N�o estar dependente de hor�rios de uma casa. E a solid�o n�o existe.

    Gosta de solid�o, por�m tem fama de namoradeiro.

    Quando calhava. Agora n�o. Eu casei tr�s vezes mas nos intervalos, � verdade, era muito namoradeiro.

    Portanto, gostava de casar

    N�o sei se era propriamente de casar

    A sua casa na Anadia � antiga e enorme.

    E � uma casa que me caiu em cima. Estou a fazer uma casa pequenina, funcional e barata. De 16x10m com vista sobre o Ribatejo. Uma casa onde n�o me perca.

    E perde-se na sua casa da Anadia?

    � enorme, tem uma capela interior, v�rios sal�es, muitos quartos e � grande demais para mim.

    Afinal, sempre tem problemas de solid�o.

    Nenhum. A casa est� cheia de fantasmas com quem eu posso falar.

    A casa � assombrada?!...

    Um bocadinho, por pessoas que pertenceram ao passado, que recordo e com quem gosto de falar. A minha av�, por exemplo.

    Quem era a sua av�?

    A minha av� Piedade, m�e do meu pai, uma pessoa muito culta. O pai dela foi o primeiro Governador Civil de Aveiro que esteve nas lutas Republicanas ao lado do av� do dr. Manuel Alegre. Chamava-se Albano Coutinho e marcou muito a filha que me marcou tamb�m muito. A minha av� chegou a conhecer a Nat�lia Correia e tinha com ela grandes conversas, sobre tudo.

    O que � que ela lhe legou.

    Bater-me por causas, ser solid�rio, saud�vel e curtir a minha loucura. Ainda fa�o competi��o desportiva, neste fim-de-semana consegui um terceiro lugar em 50 cavaleiros; para a minha idade A minha av� ensinou-se a nunca cortar as asas. Ela estava muito � frente da minha m�e.

    Falou de loucura. Manteve a loucura dos 20 anos?

    O grande problema � que as pessoas hoje levam muito mais a mal a loucura. Mas n�o fa�o de prop�sito, sou assim.

    J� escreveu quantas m�sicas?

    Eu sei l�. Uma m�dia de 12 m�sicas por �lbum, sendo que a minha carreira discogr�fica come�ou em 1967. Gravo todos os anos, um �lbum.

    Donde � que vem essa criatividade toda?

    Em termos de criatividade, agora estou muito parado.

    Porqu�?

    N�o tenho escrito nada. Escrevi bastante bem at� h� um ano e meio e agora parei. Mas n�o h� problema nenhum. Tenho arquivos po�ticos; de repente, se sentir que preciso de fazer um �lbum, posso utiliz�-los. Tenho a Nat�lia Correia, o Manuel Alegre, a Rosa Lobato Faria e muita outra poesia que me deram. Outros poetas geniais que descobri s�o o Teixeira de Pascoaes e o Miguel Torga.

    Isso � mesmo uma esp�cie de precau��o, n�o v� a poesia falhar

    N�o v� n�o, j� est� a falhar! Se a minha falha, tenho a poesia dos outros.

    Tem medo disso?

    N�o. Estou seco de criatividade mas n�o me vou preocupar. � como um homem que chega aos 60 anos e diz: n�o tenho mais erec��es normais. N�o vale a pena tomar Viagra.

    Mas espera que daqui a um m�s, um ano, a criatividade retorne?

    Espero que volte j� amanh�.

    A sua carreira � um bocado camale�nica. D� a impress�o que sempre fez aquilo que lhe deu na cabe�a.

    Exactamente.

    Mas isso paga-se...

    com o sil�ncio. Estou a gravar fados mas n�o sair�o com grande mediatismo. E j� tenho metade de um �lbum antigo de originais. S� para ter. Como tenho o meu est�dio, vou gravando porque de repente perco a voz Assim, posso editar durante a primeira d�cada de 2000. Mesmo que n�o tenha voz, os �lbuns poder�o continuar a sair.

    A possibilidade de perder a voz atormenta-o?

    � normal, tenho 62 anos. Posso perder a voz. Mas se tiver as can��es gravadas, duro mais.


    "O Jos� Cid � o Maior! (J� Tinha Dito?)"

    Coment�rio do Blog A Forma do Jazz

    "Consegui finalmente arranjar o m�tico "10.000 Anos Depois Entre V�nus e Marte". � o grande �lbum progressivo de Jos� Cid, datado de 1978. Trata-se de um objecto de coleccionador e o vinyl da edi��o original atinge valores exorbitantes (j� ouvi falar em 500�...). N�o � caso para menos. Este � realmente um grande disco, da melhor colheita da d�cada de 1970 e n�o foi � toa que foi eleito um dos 100 melhores de sempre do "prog-rock". Musicalmente, este objecto obedece a todas as regras do estilo - m�sicas longas, estranhas, �picas. � um objecto conceptual e nele conta-se a hist�ria de um homem perdido no tempo e no espa�o, atrav�s de devaneios moog e guitarra. Para os fans do progressivo, o �nico sen�o � mesmo ser cantado em portugu�s... N�o ser� um marco de inova��o, mas � uma cria��o art�stica ao n�vel do melhor dos Yes (e, v�o-se lixar, mas eles s�o muito bons!). Para arrumar na prateleira acima de "Ascens�o e Queda" dos Petrus Castrus, ao lado de "Fragile" dos Yes."

    "Depois do marco que foi o Quarteto 1111, este disco � s� a confirma��o do Cid como o mais importante m�sico rock portugu�s dos 1970's. A carreira pop que se seguiu, entre a can��o pop perfeita (e s�o tantas!) e a m�sica de gosto duvidoso (tamb�m h� algumas, � verdade, ningu�m � perfeito...), mostrou apenas a sua versatilidade."


    P�gina de T� Z� Brito

    P�gina inicial
    Hosted by www.Geocities.ws

    1