Sintetizador Moog

Por Guto Paschoal

Em 1962 o engenheiro Robert Moog apresentou ao mundo a primeira vers�o do sintetizador que foi baptizado com o seu nome. A tecnologia para a constru��o dos sintetizadores j� existia desde o in�cio dos anos 50 e a inova��o de Moog foi transformar aquelas m�quinas gigantes em instrumentos acess�veis aos m�sicos. O "pai do sintetizador" criou a vers�o comercial deste instrumento que se tornou bastante popular nos anos 60 e 70, fazendo parte da trilha sonora da gera��o flower power. No in�cio desse ano, Robert Moog recebeu o pr�mio Grammy.

Os primeiros sintetizadores foram desenvolvidos pela empresa americana RCA entre 1952 e 1955, quando recebeu o pr�mio Nobel pela inven��o. A primeira vers�o chamava-se RCA Mk-2, tinha dois metros de altura e cinco de comprimento. O Mk-2 s� funcionava com a habilidade de engenheiros e t�cnicos, que gastavam muito tempo para produzir os sons. Os m�sicos que se aventuravam em conhecer a m�quina, tinham que marcar hora no est�dio da Universidade de Columbia em Princeton, Nova York.

Robert Moog era engenheiro e f�sico, mas tamb�m tocava piano. A sua grande ideia para fazer do sintetizador um instrumento musical que pudesse ser controlado por m�sicos e n�o somente por t�cnicos, foi colocar um teclado de piano junto com os bot�es controladores da s�ntese do som. Com o Moog, era poss�vel criar sons antes inimagin�veis, interferindo nos osciladores sonoros eletr�nicos e variando a modula��o do som. Robert Moog trabalhava com o engenheiro Donald Buchia, tendo como base as pesquisas te�ricas e experi�ncias pr�ticas do alem�o Harald Bode.

Mas nem tudo era maravilhoso. A maior defici�ncia destas primeiras m�quinas � que apenas era poss�vel tocar uma nota de cada vez. Era um aparelho monof�nico sendo imposs�vel a execu��o de duetos ou de acordes. Quando se premia mais de uma tecla, acontecia uma mistura dos sons, com a transforma��o em ru�dos inaud�veis e sem identifica��o.

Com a sua inven��o, Robert Moog criou a empresa "Moog Music In.", que desenvolveu novos modelos de instrumentos, como Moog Prodigy, o Minimoog, que foi o mais vendido, o Moog Taurus, para ser tocado com os p�s nas notas baixas e os modulares Moog 111p e Moog Sistems, mais caros e dif�ceis de operar. Com o tempo criou-se uma linhagem de aparelhos Moog, como o Moog Liberation, que tinha um formato para ser tocado como uma guitarra, o Polymoog, um sintetizador polif�nico que j� permita ao m�sico tocar v�rias notas ao mesmo tempo e o Memorymoog, que tamb�m era polif�nico e tinha bancos de mem�ria para gravar os sons programados. A empresa tamb�m criou o Moog Vocoder, um aparelho que ligado ao microfone transforma a voz atrav�s de v�rios efeitos.

Hoje com 67 anos, Roberto Moog j� n�o trabalha na empresa que criou, tendo vendido os direitos de comercializa��o da marca Moog. Actualmente � diretor de uma outra empresa que fundou, a "Big Briar", onde produz pe�as e dispositivos eletr�nicos para os seus antigos instrumentos. No in�cio de 2002, Robert Moog foi o principal homenageado na entrega do 44� Grammy em Los Angeles. Recebeu a estatueta, ao lado de estrelas da m�sica pop, pelos servi�os prestados em toda a sua carreira à ind�stria de discos dos Estados Unidos.


Bach e Rock

O primeiro aparelho Moog foi vendido ao core�grafo Alwin Nikolais e o segundo ao compositor de jingles Eric Siday. Mas a grande divulgadora e incentivadora para o aperfei�oamento do Moog foi a tecladista Wendy Carlos. Wendy era engenheira de som do est�dio Gotham Recording em Nova York. Em 1965, Wendy Carlos comprou um exemplar do Moog e construiu na sua casa um est�dio de grava��o com oito pistas. Em 1966 in�ciou a gravar o disco "Switched-on Bach", com obras de Johann Sebastian Bach. Como o Moog ainda era monof�nico, a grava��o foi feita nota por nota, com cada timbre gravado numa pista da mesa de grava��o.

O resultado foi um �lbum cl�ssico, lan�ado em 1968, que foi o primeiro a receber o pr�mio "disco de platina". Al�m disso, este longo trabalho de paci�ncia, que durou cerca de dois anos, foi fiel às origens barrocas da obra de Bach e ajudou a criar a popularidade do Moog como um instrumento musical. Com o disco, tamb�m se criou uma nova imagem para os sintetizadores, deixando de ser vistos como simples produtores de sons e ru�dos, mas antes capazes de interpretar obras complexas.

A grava��o do disco at� ajudou a aperfei�oar o instrumento, com Robert Moog e Wendy Carlos trocando arpejos para melhorar a performance do sintetizador. Depois a teclista gravou o disco "Well-Temperad Synthesizer" ("Sintetizador Bem Temperado") e comp�s as bandas sonoras dos filmes "Laranja Mec�nica" e "O Iluminado", de Stanley Kubrik. Wendy foi uma das pioneiras no cria��o do estilo new age, lan�ando o disco "Sonic Seasonings", com o Moog a sintetizar sons da natureza, de chuva, ventos, p�ssaros e etc.

A quem o sintetizador assentou como um luva fois �s bandas de rock progressivo do in�cio dos anos 70. O principal motivo para o Moog ter sido adoptado por estas bandas, al�m do som �cido e viajante que podia produzir, foi o lan�amento do Minimoog. Esta vers�o port�til podia ser levada para os palcos para as espect�culos ao vivo nos grandes concertos da �poca. A banda Emerson Lake & Palmer foi a grande divulgadora do som do Minimoog, nas m�os do teclista Keith Emerson, que foi o primeiro m�sico a usar o sintetizador no palco num show ao vivo.

Emerson � considerado um dos pioneiros do rock progressivo, uma esp�cie de Jimi Hendrix dos teclados, com performances que inclu�a efeitos pirot�cnicos e destrui��o dos instrumentos. Mas foi atrav�s de sua musicalidade que ele se destacou, levando a m�sica cl�ssica aos shows de rock. Keith Emerson interessou-se pelo Moog em 1968, quando comprou o disco de Wendy Carlos com as grava��es de Bach.

Nesta �poca ele tocava com a banda The Nice e s� havia dois sintetizadores Moog na Inglaterra, e o teclista conseguiu um deles emprestado para uma apresenta��o ao vivo. Ent�o Emerson decidiu comprar um Moog Modular, mas teve dificuldades para o montar, porque n�o havia manual e o sintetizador desafinava sempre ao ser transportado nas desloca��es da banda.

Para tentar solucionar estes problemas, Emerson foi at� Nova York conversar com Robert Moog, que lhe disse que o Moog tinha sido feito para ser usado em est�dios e desaconselhou o seu uso em shows ao vivo. Mas o teclista convenceu Moog a procurar novas possibilidades para o instrumento e mais tarde surgiu o Minimoog, que foi sucesso de vendas e revolucionou os arranjos da m�sica pop.

No Brasil os sintetizadores come�aram a ser usados no in�cio dos anos 70, principalmente pelas bandas de rock, como Casa das M�quinas e os Mutantes de Arnaldo Batista, S�rgio Batista e Rita Lee. Em 1973, no �lbum de lan�amento dos Secos e Molhados, o m�sico e compositor Z� Rodrix participou em algumas das faixas tocando sintetizador. A roqueira Rita Lee tamb�m foi umas das pioneiras no uso destas m�quinas electr�nicas e ainda guarda o seu exemplar do Moog.

Como Funciona

A possibilidade de gera��o de som atrav�s da eletr�nica teve in�cio com a inven��o da v�lvula de v�cuo, nos prim�rdios da hist�ria da electr�nica. Em 1906 o tr�odo foi inventado por De Forest e permitiu amplificar a corrente que circula pelo tubo de v�cuo atrav�s de uma pe�a met�lica. Com configura��es mais complexas produziam-se diferentes efeitos, como o filtro de frequ�ncia e a amplifica��o de banda larga.

No in�cio, estes tipos de efeitos eram usados em sistemas de r�dio e depois foram adaptados para fazer gera��o sonora, aproveitando a possibilidade de construir osciladores (produtores de ondas sonoras) que poderiam ser controlados pela tens�o, usando os tubos de v�cuo para a amplifica��o. Mas com a inven��o do transistor no final dos anos 50 aconteceu uma revolu��o no desenvolvimento da m�sica electr�nica. Em 1961 o alem�o Harald Bode criou o Melochord e publicou um artigo sobre as possibilidades e as vantagens do transistor na miniaturiza��o dos instrumentos electr�nicos de s�ntese sonora, que inspirou Moog a fazer o seu sintetizador em Nova York.

Este princ�pio b�sico de controle de voltagem para a produ��o dos timbres foi usado na cria��o dos primeiros sintetizadores. O sistema � conhecido como VCO (Voltage Controlled Oscillator), baseado na ideia de que existe uma varia��o de frequ�ncia de acordo com a varia��o de voltagem, Um aumento na voltagem implica no aumento da frequ�ncia das ondas sonoras. Ou seja, quanto maior a voltagem, mais agudas ficam as as notas; com menor tens�o, as notas ficam mais graves, com ondas de frequ�ncias mais baixas.

Com a possibilidade de gera��o de som electr�nico, a tecnologia passou a desenvolver-se para a cria��o de instrumentos electr�nicos que tivessem timbres semelhantes aos instrumentos ac�sticos: s�o os chamados sintetizadores anal�gicos, que produziam o som por analogia, transformando a onda sonora at� ela ficar semelhante ao som do instrumento ac�stico original. Para isso foram desenvolvidas v�rias t�cnicas e artif�cios, como o corte e a compress�o das frequ�ncias e do volume. Os principais sistemas criados foram o VCF (Voltage Controlled Filter) que controla o tipo do timbre e o VCA (Voltage Controlled Amplifier), que controla a intensidade do som.

Antes do primeiro sintetizador ser constru�do pela RCA na Universidade de Columbia na d�cada de 50, j� existiam algumas inven��es de m�quinas para produzir m�sica electronicamente. A primeira inven��o foi o Telharmonium, ainda no final do s�culo 19. Era um instrumento musical que usava linhas telef�nicas para transmitir as m�sicas para as casas, restaurantes e hot�is. Pesava cerca de 200 toneladas e era controlado por duas pessoas que tocavam os teclados. Depois do seu lan�amento em 1906, caiu no esquecimento e a sua tecnologia foi ultrapassada pelo gira-discos.

Nos anos 20 o franc�s Maurice Martenot inventou o instrumento conhecido como Ondas Martenot. Era basicamente um teclado adaptado a um gerador de ondas. O som podia ter as frequ�ncia modificadas e era amplificado por v�lvulas. Este instrumento chegou a ser integrado nas orquestras sinf�nicas para a execu��o de obras de Messiaen e Honneger.

Depois do Martenot, apareceu o Theremin, criado pelo russo Lev Termen na d�cada de 30. Era um instrumento eletromagn�tico, que produzia ondas em redor do aparelho. Este instrumento era tocado com as m�os no ar, interferindo no campo magn�tico e modificando o padr�o sonoro. O tipo de som era ideal para efeitos sonoros em filmes de terror e tamb�m foi usado pela banda de surf music Beach Boys, nos anos 60.

O Hammond foi outro teclado que marcou �poca. Ele tinha uma mistura de sistemas mec�nicos e electr�nicos para a cria��o de um som semelhante ao do �rg�o. Foi o primeiro passo para a cria��o e a populariza��o de um instrumento eletr�nico. Surgiu em 1933 quando o inventor Laurens Hammond comprou um piano usado e o transformou num �rg�o electr�nico. Em 1936, depois de aperfei�oar a inven��o, foi lan�ado o lend�rio Hammond B-3, com dois alto-falantes rotativos. Este instrumento fez bastante sucesso entre os m�sicos de blues e jazz e abriu o mercado de massa para os instrumentos electr�nicos.

O Melotron foi um instrumento de teclado que usava fitas magn�ticas com grava��es de outros instrumentos. O timbre podia ser escolhido e tocado atrav�s do teclado. Era pouco funcional mas chegou a ser usado por bandas de rock progressivo nos anos 70. O Melotron foi o precursor dos modernos samplers, que copiam qualquer tipo de som.

Na d�cada de 80 aconteceu uma nova revolu��o nos instrumentos electr�nicos. Foi quando a Roland lan�ou os modelos TB-303 e TB-808. O TB-808 era uma bateria electr�nica e o TB-303 um baixo, com sons digitais que imitavam o timbre destes instrumentos. Acontece que os sons eram bem diferentes dos originais e os m�sicos detestaram a inven��o, que n�o teve sucesso nas vendas.

Mas no final dos anos 80 uma nova gera��o descobriu novas possibilidades para esses aparelhos, que podiam ser na transforma��o dos sons, com controles que interferiam nos osciladores e podiam modificar a resson�ncia, os timbres, a velocidade e etc. Aqueles instrumentos foram comprados em lojas de "segunda m�o" por jovens da classe m�dia e baixa de Detroit e Chigaco, criando a m�sica tecnho e a house music (recriando electronicamente o ritmo da disco music dos anos 70). Nos anos 90, este tipo de som foi para a Europa e fez sucesso internacional. Na Inglaterra surgiram in�meros estilos misturando ritmos de v�rias parte do mundo.

Anal�gicos e Digitais

Depois do Moog, apareceram novas empresas que tamb�m come�aram a fabricar sintetizadores anal�gicos. Cada marca apresentava uma novidade e os sintetizadores foram evoluindo. Mas a m�stica da marca Moog e o estilo de seus sintetizadores permance, apesar do desenvolvimento tecnol�gico das outras empresas. As principais marcas que disputaram o mercado com a "Moog Music In". foram a Oberhein, Korg, ARP, Synclavier e a EMS.

A marca inglesa EMS criou o sintetizador com um formato de uma maleta, de olho na procura iniciada por Keith Emerson para os espect�culos em palco. Este modelo tinha algumas novidades em rela��o ao antigo Moog, como um teclado "quase virtual", ou seja um adesivo imitando as teclas com sensores el�ctricos sens�veis ao toque. Outra inova��o deste modelo foi no sistema de conex�o dos circuitos, feito com plugs coloridos que variam de cor de acordo com a sua resist�ncia, que interfere e modifica a produ��o do som.

O EMS modelo VCS-3, de 1969, tinha tr�s osciladores controlados por tens�o, um gerador de ru�do, dois amplificadores de entrada, um modulador, um filtro de ondas baixas controlado por tens�o, um gerador de onda, uma unidade de reverbera��o e dois amplificadores de sa�da, entre outros dispositivos. A activa��o destas fun��es era feita no pequeno painel de conectores.

O lan�amento do modelo DX-7 da Yamaha, na d�cada de 80, marcou outra revolu��o no mundo dos instrumentos electr�nicos, misturando a s�ntese do som anal�gico com o processo digital. A seguir a Roland lan�ou o D-50 j� com a tecnologia digital. Os novos aparelhos passaram a incluir o sistema MIDI (Music Instrument Digital Interface), que permite a conex�o com outros instrumentos digitais, como m�dulos de efeitos e computadores.

Com a evolu��o das esp�cies de sintetizadores, j� na d�cada de 90, apareceram os teclados com sons "sampleados", ou seja, os timbres n�o eram mais feitos atrav�s da s�ntese anal�gica nem digital, mas sim com uma amostra gravada dos instrumentos ac�sticos. Hoje os antigos e originais Moog s�o raridades e s�o "ca�ados" por colecionadores e aficcionados.

Hoje j� existem v�rios programas de computador que simulam digitalmente os timbres dos sintetizadores anal�gicos. Os sons s�o bastante semelhantes e apenas os especialistas d�o pela diferen�a. Se levarmos em conta as dificuldade de se conseguir um sintetizador anal�gico, o pre�o da raridade e as dificuldades de transporte e manuten��o, � f�cil optar pelos softwares.

Os principais sofwares dispon�veis no mercado s�o: o Pro-52 (www.native-instruments.com), que simula o som do sintetizador Prophet-5, similar ao Moog, o Retro AS-12.0 (www.bitheadz.com), com timbres que imitam o Moog. J� com o Absynth (www.absynth.com) � poss�vel criar diferentes timbres com seis osciladores, tr�s moduladores, quatro filtros e v�rios efeitos. Para recriar os timbres do antigo Hammond, o ideal � o programa B4 (www.native-instruments.com).


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