É de Antônio de Pádua Bertelli este belo perfil do pantaneiro: "No Pantanal fundem-se a água, a terra, o gado, a fauna e a flora. Ali o homem branco é o intruso. A largueza dos horizontes, a beleza das noites, a fartura, a imensidão da água, transformaram o pantaneiro em um contemplativo. São poucas e felizes, as pessoas que aprendem com eles a viver naquele mundo hostil e selvagem. A região, pelo seu dinamismo e pelas suas características, não moldou um tipo característico como o gaúcho ou o sertanejo. Isto não lhe diminui a grandeza, mas obriga o observador a procurar as suas origens. Na extensa planície do Pantanal do Mato Grosso, o homem não teve como fugir à influência de seus dois elementos principais: a água e a terra. Tornou-se hábil, engenhoso para muitas coisas e desajeitado em outras. Acanhado, o pantaneiro adquire uma personalidade exclusiva. A instabilidade do meio não permitiu a fixação do temperamento. As mudanças de orientação dos ciclos de desenvolvimento, os conflitos políticos e militares, nao agregaram fatores de tradição. Enfim, o pantaneiro é vaqueiro, caçador, pescador, canoeiro. É servil sem rastejar, mas, não podendo se impor ao meio, prefere ser comandado a comandar. Como grupo étnico, aproxima-se mais do caboclo paulista que do mineiro. Tem nas veias o sangue do bandeirante português, do sertanista paulista, e do brasilíndio. E hábil tanto na terra como na água, ágil, não é dado aos rompantes das façanhas gaúchas. Seus horizontes são diferentes, no Pantanal não há façanhas; o determinante é a façanha de sobreviver, ele próprio e seu gado". O Homem Pantaneiro, recebeu dos primitivos habitantes, indígenas Guaranis, Paiaguás, Guatós a agilidade física e o respeito à natureza, a qual encontra-se praticamente inalterada com mais de 200 anos de ocupação e exploração econômica. A colonização da região remonta ao século XVIII. Através dos rios Tietê, Paraná e Paraguai, chegaram os primeiros bandeirantes provenientes de São Paulo à Chapada Cuiabana onde encontraram ouro. Após a Guerra do Paraguai e com o declínio do ouro, o povoamento se dá no sentido Norte-Sul, surgindo no Pantanal grandes fazendas de pecuária extensiva que, associadas aos fatores ambientais, consolidaram uma estrutura fundiária de grandes propriedades . No início deste século, o acesso aos grandes centros urbanos do País fazia-se por Assunção, Buenos Aires e Montevidéo, resultando daí a absorção de inúmeras manifestações culturais e folclóricas - música, vestimenta, linguagem e alimentação. A chegada da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil , em 1914, incorporou novos hábitos e costumes. As distâncias e o difícil acesso às fazendas fizeram o homem pantaneiro acostumar-se ao isolamento e à solidão, porém manifesta o sentimento de cooperação quando trabalha seu gado (manejo tradicional) ou nas festividades típicas entre as fazendas. Vivendo a realidade de uma região inóspita, enchentes, ataque de animais silvestres, problemas de transporte e, sem política diferenciada para a região, o homem pantaneiro pecuarista, vaqueiro ou pescador, mantém amor, respeito e apego à sua terra. Na região, um tipo humano muito curioso é o antigo caçador de onças, conhecido pelo nome de "zagaieiro", que mata o valente felino com uma arma primitiva, a zagaia, tipo de lança de ferro, fixada a comprido cabo de madeira de lei. É pessoa respeitada por todos, sejam autoridades locais, sejam fazendeiros e peões, pela coragem que possui. A caça com zagaia é sempre realizada com auxílio de cães de caça. Quando ferido ou acuado, o jaguar lança-se contra o caçador que o espera com a zagaia escorada no solo.
Carlos Ravazzani Email: [email protected]
O pantaneiro é antes de tudo um forte. Vivendo na imensa área do Pantanal, repleta de adversidades, ele é integrado a tudo que o rodeia. Conhece bem os perigos que enfrenta, as ações da natureza e sabe, antes de tudo, que a seca e as enchentes são as responsáveis pela vida na região. A distância e o difícil acesso às demais regiões fizeram do pantaneiro um povo acostumado à solidão e ao isolamento. Sentimento, no entanto, deixado de lado no momento de manejar o gado ou da participação nas tradicionais festas nas fazendas do Pantanal. O meio de transporte - também dado às dificuldades de acesso da região - é o cavalo pantaneiro, que resiste ao trabalho dentro dàgua e as embarcações de tamanhos e tipos diferentes. Por viver distante dos recursos das cidades, o pantaneiro teve de aprender a retirar do ambiente em que vive as substâncias para utilização medicinal. Esta capacidade foi herdada dos índios - que habitaram por centenas de anos a região - e também dos povos vizinhos: os paraguaios e os bolivianos. Sua alimentação, do mesmo modo, é baseada na farinha, carne, feijão, arroz e mandioca e em outros frutos silvestres, raízes e plantas leguminosas que abundam na região. Os peixes também integram a culinária deste povo e vêm em pratos que incluem os ensopados, fritos ou assados. Isso porém, não significa que a região não disponha de uma culinária saborosa, embora simples. Acompanhado de arroz tropeiro, mandioca frita, e feijão grosso, além de salada, os peixes do Pantanal ganham sabor maravilhoso. Na região há ainda a paçoca, uma farofa de carne-seca frita e moída no pilão com farinha. O rurrundu, um doce típico de mamão verde e rapadura complementa a culinária.
O HOMEM PANTANEIRO,
recebeu dos indígenas Guaranis, Paiaguás, Guatós, a agilidade física e o respeito à
natureza, a qual encontra-se praticamente inalterada com mais de 200 anos de ocupação e
exploração econômica. A colonização da região remonta ao século XVIII. Através dos
rios Tietê, Paraná e Paraguai, chegaram os primeiros bandeirantes provenientes de São
Paulo à Chapada Cuiabana onde encontraram ouro. Após a Guerra do Paraguai e com o
declínio do ouro, o povoamento se dá no sentido Norte-Sul, surgindo no Pantanal grandes
fazendas de pecuária extensiva que, associadas aos fatores ambientais, consolidaram uma
estrutura fundiária de grandes propriedades (56% da área, com mais de 10.000 ha). No
início deste século, o acesso aos grandes centros urbanos do País fazia-se por
Assunção, Buenos Aires e Montevidéo, resultando daí a absorção de inúmeras
manifestações culturais e folclóricas - música, vestimenta, linguagem e alimentação.
A chegada da Estrada de Ferro (Noroeste do Brasil - 1914) incorporou novos hábitos e
costumes. As distâncias e o difícil acesso às fazendas fizeram o homem pantaneiro
acostumar-se ao isolamento e à solidão, porém manifesta o sentimento de cooperação
quando trabalha seu gado (manejo tradicional) ou nas festividades típicas entre as
fazendas. Vivendo a realidade de uma região inóspita, enchentes, ataque de animais
silvestres, problemas de transporte e, sem política diferenciada para a região, o homem
pantaneiro pecuarista, vaqueiro ou pescador mantém amor, respeito e apego À SUA TERRA.
Os povos indígenas que tradicionalmente habitam o Pantanal são: Paiaguás,
Guaikuru, Guatós, Terenas,
Kaiowás, Bororos, Umotinas,
Parecis, Kinikinaos Povo indígena hoje extinto, habitavam o pantanal quando da chegada dos Portugueses e travaram, juntamente com os Guaikuru, intensas batalhas, das quais muitos portugueses não sobreviviam. Perseguidos e acuados, foram progressivamente sendo exterminados não restando qualquer registro da presença de seus descendentes atualmente. Aliados dos Paiaguás contra um inimigo comum, os exímios cavaleiros guaikurus ofereceram grande resistência à povoação do Pantanal matogrossense. Um tratado de paz em 1791 os declara súditos da Coroa Portuguesa. Povo de lingua do tronco Macro-Jê. Foi considerado extinto por 40 anos, até que, em 1977, foi reconhecido um grupo Guató na ilha Bela Vista do Norte. Vive no Pantanal Mato-Grossense e disperso ao longo dos rios do médio e alto Paraguai, São Lourenço e Capivara, no município de Corumbá (MS). Segundo a Funai, em 1989 eram 382 índios. Ou Tereno. Povo de língua da família Aruák. Parte dele (cerca de 12.000 indivíduos) vive no oeste de Mato Grosso do Sul, em oito áreas indígenas; outra parte (350 índios) ocupa terras nas áreas indígenas de Icatu, Araribá e Venuíre, no interior do Estado de São Paulo, juntamente com os Kaingang. Povo falante de língua do tronco macro-jê. Os Bororo atuais são os Bororo Orientais, também chamados Coroados ou Porrudos e autodenominados Boe. Os Bororo Ocidentais, extintos no fim do século passado, viviam na margem leste do rio Paraguai, onde, no início do séc. XVII, os jesuítas espanhois fundaram várias aldeias de missões. Muito amigáveis, serviam de guia aos brancos, trabalhavam nas fazendas da região e eram aliados dos bandeirantes. Desapareceram como povo tanto pelas moléstias contraídas quanto pelos casmentos com não-índios. Os Bororo Orientais habitavam tradicionalmente vasto território que ia da Bolívia, a oeste, ao rio Araguaia, a leste e do rio das Mortes, ao norte, ao rio Taquari, ao sul. Ao contrário dos Bororo Ocidentais, eram citados nos relatórios dos presidentes da província de Cuiabá como nômades bravios e indomáveis, que dificultavam a colonização. Foram organizadas várias expedições de extermínio. Uma delas, a de Pascoal Moreira Cabral, em 1718 ou 1719, após ser derrotada pelos indígenas, descobriu ouro às margens do rio Coxipó. Estimados na época em 10 mil índios, os Bororo sofreram várias guerras e epidemias até sua pacificação, no fim do século XIX, quando foram reunidos nas colônias militares de Teresa Cristina e Isabel e estimados pelas autoridades em 5 mil pessoas. Nas colônias, a convivência com os soldados, a promiscuidade, o consumo de álcool e as doenças reduziram ainda mais a população. Entregues aos salesianos para catequese, em 1910, os Bororo somavam 2 mil índios. Em 1990, com uma população de aproximadamente 930 pessoas, vivem em cinco pequenas áreas indígenas (Merure, Teresa Cristina, Tadarimana, Perigara e Jarudore) que somam 133 mil hectares, nos municípios de Barra do Garça, Barão do Melgaço, General Carneiro, Poxoréu e Rondonópolis no Estado do Mato Grosso. Há também um grupo em Sangradouro, no mesmo estado. Este povo, que era caçador e coletor, vive hoje da agricultura e da venda de artesanato. Sua cultura, muito complexa, foi objeto de muitos estudos. As pessoas são separadas em várias categorias sociais, com papéis de oposição; durante o ritual funerário, que pode durar até dois meses, juntam-se em papéis complementares e fazem novas alianças, reforçando a coesão grupal. Subgrupo Bororo de língua da família Otukê, do tronco Macro-Jê. Eram conhecidos como barbados, porque usavam barba, às vezes postiça - feita de pêlos de macaco bugio ou de cabelos das mulheres da tribo. Vivem na Área Indígena Umutina, no município de Barra dos Bugres no Mato grosso, juntamente com os Paresí, Kayabí e Ñambikwára. Ou Paresí. Denominação dada a vários povos indígenas que falavam dialetos da língua Paresí, da família Aruák. Viviam no planalto do Mato Grosso e eram uma das fontes de escravos preferidas dos bandeirantes; dóceis e pacíficos, trabalhavam na agricultura e fiavam algodão para a confecção de redes e tecidos. No início do século XX foram encontrados pela comissão do Marechal Rondon, ainda traumatizados pela violência dos contatos anteriores. Rondon os conduziu para terras protegidas por suas tropas e os Paresí se tornaram seus principais guias na região. Um desses povos, autodenominado Halíti, vive na região dos rios Juruena, Papagaio, Sacre, Verde, Formoso e Buriti, no oeste de Mato Grosso, em várias áreas indígenas, nos municípios de Tangará da Serra, Vila Bela da Santíssima Trindade e Diamantino. Em 1990, segundo a Funai, eram 900 índios.
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