projecto Museu do Vidro

 

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     Entre as várias propostas anteriormente apresentadas para a criação deste Museu, salientamos a do escultor Joaquim Correia, cujo contributo ficou assinalado, em 1967, com a classificação do Palácio Stephens (como imóvel de interesse público)[1]. À data da classificação, numa altura em que a fábrica se preparava para comemorar o seu segundo centenário e o histórico administrador Calazans Duarte era afastado (período 1924-1967), o Palácio surgia (como hoje) como sede natural para a instalação do Museu. O escultor efectuou diligências e procurou enriquecer a colecção, segundo ele já na altura bastante fraca para justificar um museu. Mais tarde, já com o IPPC, nos anos 80, o escultor voltou a envolver-se com o projecto, entretanto, mais uma vez, abandonado. As suas propostas, todavia, nunca se traduziram numa formulação concreta, ligando-se mais à sua direcção do museu  (cargo em que esteve empossado), apoiada pelo seu currículo e conhecimentos da área, bem como pela sua forte ligação à terra, de onde é natural.

A única formulação concreta, apoiada e  enquadrada por conhecimentos e estudos científicos foi a de Jorge Custódio, surgida em finais dos anos 80 e desenvolvida por cerca de dois anos[2].

Esta proposta definia o perfil museológico do museu, a sua organização e logística, e ainda um figurino jurídico para o seu financiamento (“museu comparticipado”). A sua inviabilização deveu-se a vários factores, a realçar o facto de, à época, ainda existir e funcionar a FEIS, empresa a que pertencia o palácio e grande parte do espólio destinado a constituir o acervo do museu. Esta situação, segundo alguns, reduzia  à própria fábrica, em concorrência com outras, o interesse e alcance do desejado museu. Jorge Custódio lutou contra estas contrariedades, desenvolvendo esforços para que outras empresas tivessem um papel activo na criação do museu e conseguindo canalizar para o espólio um razoável número de peças de vidro, achados arqueológicos e maquinaria, doados ou recolhidos junto de fábricas existentes ou já extintas.

Apresentado então como “Museu da Indústria Vidreira”, o museu adquiria a vocação de museu industrial, tendo como suporte científico a arqueologia industrial (destaque-se o papel da Associação Portuguesa de Arqueologia Industrial (APAI) neste processo: as fichas ainda hoje existentes foram elaboradas pela associação).

Por outro lado, também J. Custódio pré-definiu para o museu um perfil nacional, talvez pela importância que a Marinha Grande manteve no sector industrial do vidro até à actualidade, bem como pela relevância do património sobrevivente (designadamente o palacete e as instalações industriais da fábrica velha).

A nossa experiência recente com o projecto deste museu, permite-me afirmar que a vocação e o modelo avançados por J. Custódio não deixaram ecos de satisfação na Câmara Municipal da Marinha Grande, o que se pode justificar, ao menos em parte, pela falta de sensibilidade, ainda dominante em Portugal, para o património industrial. Pude verificar essa falta de sensibilidade entre os dirigentes autárquicos, com os quais eu próprio enfrentei dificuldades quando propus medidas relacionadas com a salvaguarda de instalações, máquinas ou instrumentos de trabalho da indústria vidreira[3] (apesar disso, conseguimos ainda restaurar algumas máquinas e moldes - destacamos a prensa datada de princípios do século XX que colocámos no átrio de entrada do museu e que se presta, como uma escultura, à contemplação dos visitantes).

Conquistou maior adesão a ideia de um museu que promova o produto acabado, as peças de vidro, mais do que os contextos, processos e meios de fabrico. O grande problema da perspectiva do museu-montra ou galeria de promoção, cartaz da arte vidreira, a que já fizemos alusão, é a sua vacuidade, considerando o contexto industrial e histórico em que o museu é fundado. Aceitando que assente em alguma legitimidade, o seu interesse só poderia advir dentro de um compromisso mais fundado com as perspectivas arqueológica e etnológica, que partilhamos, naturalmente. Dominante nos círculos tutelares, e corporizada no vago projecto pré-existente à nossa chegada (com a designação de Museu do Vidro e do Cristal), encomendado ao arquitecto José Fava, essa perspectiva tem permanecido activa e chocado frequentemente com o nosso projecto.


 


[1] Sede histórica da fábrica fundada por Guilherme Stephens em 1769, no mesmo local onde John Beare implantara em 1748 (ou 1747) uma fábrica de vidros que viria a fechar alguns anos depois.

[2] vide Bibliografia.

[3] Refira-se de novo a questão da fábrica Lusitana, conhecida por Angolana, em processo de ruína e cujo interesse em recuperar tem sido por demais acentuada.

 

 

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