projecto museu do vidro

 

A Exposição

marca

Exposição inicial

marca

Exposições temporárias

 

 

Com a definição dos espaços disponíveis para utilizar e os estudos preliminares prontos, tratava-se de estabelecer uma organização, tão lógica e razoável quanto possível, do museu no que respeita às várias funções a pôr em marcha.

Assim, considerámos não dever basear excessivamente o museu em exposições, mas antes numa estrutura coerente que integrasse outras funções essenciais. Também o programa inicial de exposições inicial não se deveria basear em excesso na colecção existente, dadas as suas reconhecidas fraquezas. Melhor seria cometê-la a uma zona bem definida, restringindo a sua extensão, mas dando-lhe um lugar de destaque. Esta exposição deveria ter um carácter de longa duração e sujeitar-se regularmente a remodelações. Por outro lado, a colecção deveria aparecer na sua diversidade, realçando os vidros, mas dando lugar a outros objectos e conteúdos temáticos. Atribuímos-lhe os níveis 1 (piso “nobre”) e 2 (sótão) do palácio.

O programa dá assim um relevo acentuado às exposições temporárias, tentando mostrar outras facetas e abordagens do vidro excluídas a partir da colecção do museu. São-lhes assim destinadas 3 salas do piso 0 e (de início) a sala multiusos (ex-loja Stephens).

Outra função que cremos ser importante implantar desde o início é o Centro Documental, aproveitando o espólio legado, enriquecido entretanto com algumas doações e aquisições, que já está em instalação numa sala do piso 0.

Finalmente, ao nível do acolhimento e conforto do público, complementar do circuito expositivo, considerámos fundamental a criação de uma ampla e aprazível sala de entrada, com guarda-vento automático e bengaleiro, e uma cafetaria contígua nas instalações da antiga cozinha, para além de uma pequena sala de descanso e audio-visual no piso 2 e pontos de descanso no piso 1.

 

 

Exposição inicial 

 

Seguidamente, apresentamos uma sinopse da nossa proposta de exposição, baseada na colecção existente, nas doações efectuadas entre 1997-98 e em vários empréstimos.

A estrutura assenta na constituição e organização de núcleos expositivos. Esses núcleos são organizados a partir de 4 elementos: objectos ou documentos; o espaço de exposição; a vitrine ou outro suporte expositivo; o lettering, apresentando texto e/ou imagens. E variam na seguinte escala de grandeza: piso, sala, grupo de vitrines, vitrine grande, média ou pequena, prateleira de vitrine. A função do lettering é a de diálogo com os objectos expostos a cujo núcleo está associado, e não de competição (o tamanho, o grafismo, o suporte, a iluminação, a iconografia e o tamanho da letra afectam essa relação) de modo a que o visitante usufrua de um suporte informativo, caso o deseje, estabelecendo, porém, uma relação livre com os objectos expostos. Complementarmente, desenvolvemos também uma folha de sala com referência aos núcleos principais, para livre serviço.

Os núcleos de exposição organizaram-se no entrosamento de critérios hierarquizados, em que os maiores compreendem núcleos menores, havendo sempre um critério dominante de compromisso para cada núcleo. Um critério dominante em toda a exposição foi tentar abarcar o maior número de fábricas possíveis entre as peças e documentos de que dispunhamos, embora tenha havido lugar de honra para vitrines exclusivamente com peças da antiga Real Fábrica de Vidros. Para a exposição inaugural do Museu, utilizámos os seguintes critérios:

1.      os contextos culturais de uso: a mesa, a taberna, o vidro no quotidiano... [ex: salão nobre e salas adjacentes subordinadas ao  “vidro de mesa”]

2.      aplicações funcionais: iluminação, farmácia e laboratório... [ex: uma pequena sala com uma vitrine modelo maior para o núcleo “vidro de farmácia e laboratório”]

3.      cronologia: vidro antigo e contemporâneo [em conjugação com outros critérios, vitrines só com peças do séc. XVIII ou finais do XIX; uma sala só com peças dos anos 60]

4.      técnicas de fabrico: soprado manual, moldado, moldado prensado... [ex: uma sala só com vidros prensados]

5.      tipologia: vidro sódico, vidro plúmbeo... [ex: em conjugação com outros critérios, uma sala só com peças em cristal]

6.      técnicas de decoração: a cor, a lapidação e gravação, a gravação a ácido, a esmaltagem e a pintura... [ex: vitrines só com peças gravadas ou lapidadas]

7.      raridade, representatividade ou valor singular acumulado do objecto [ex: numa vitrine central no salão nobre – numa prateleira, um galheteiro do séc. XVIII, noutra, uma caneca portuguesa, igualmente do séc. XVIII, ambas pertencentes à colecção do Museu Nacional de Arte Antiga]

8.      mestria da criação ou produção [ex: destaque numa vitrine para um cálice em cristal doublé  lapidado em diamante e com uma gravação de imagens pequeníssimas e minuciosas de anjos numa cercadura superior. Este copo foi realizado pelo mestre José Libano e permaneceu no cofre da fábrica até ao seu encerramento]

9.      vidreiros e criadores [ex: núcleos constituídos com peças de eleição de mestres vidreiros, como José Libano ou Justino Magalhães, ou antigos criadores na área do design do vidro, como Carmo Valente ou Maria Helena Matos]

10. morfologia: variações e evoluções [ex: mostrar a evolução de formas tradicionais de certos utensílios, através dos objectos e dos letterings]

11. interesse no contexto expositivo [ex: colocação de um antigo estirador de desenho numa sala, pertencente ao antigo professor da escola industrial Nery Capucho, onde se expõem peças desenhadas]

12. interesse pedagógico: poder estético; poder ilustrativo ou demonstrativo [ex: preferiram-se peças que contribuam para uma educação do gosto – mesmo sendo este relativo -, destacaram-se peças pela sua aparência ou interesse estético; preferiram-se igualmente peças que, em associação com outros critérios, melhor ilustrassem o pretendido; no sótão fez-se uma vitrine para maior deleite das crianças, a partir de uma colecção de maçariqueiro].

 

Preconiza-se que esta exposição tenha um carácter evolutivo e que regularmente seja sujeita a remodelações parciais, no sentido de a enriquecer e aperfeiçoar. A atribuição deste carácter evolutivo determina que se trate de uma exposição de longa duração (1 ano ou mais), mas não permanente. É de facto, preferível aguardar pelo enriquecimento da colecção, através de incorporações de objectos e documentos, bem como pela execução de todo o projecto do museu, principalmente, como referi, das reservas e de um espaço amplo para tratamento museológico de conjuntos tecnológicos e evidenciação de processos.

Um princípio norteador, foi o evitar por uma lado, o monolitismo interpretativo, ou seja, uma fixação demasiado rígida num dos critérios; por outro, o efeito de densificação provocado quer por um número excessivo de peças expostas, quer pela excessiva informação de enquadramento, susceptível de retirar lugar à apreciação das peças. Procurou-se também criar núcleos homogéneos, e ao mesmo tempo evitar acentuar o efeito de dispersão causado quer por uma excessiva quantidade de peças singulares ou redundantes, quer pela tentativa de abarcar toda a informação ou muitas abordagens possíveis do vidro. Fugiu-se igualmente às tentações de didactismo e à cenografia, de que se fez um doseamento diverso nos dois níveis de exposição não temporária.

 

O nível 1 é o mais amplo e o mais “nobre”. A exposição é aqui composta maioritariamente por vidros de “cristalaria”, mas também por vidros de iluminação, farmácia, design e trabalhos únicos, expostos em vitrines. São feitos apontamentos à vidraça e à garrafaria, mas estes sectores são melhor desenvolvidos no piso superior.

A exposição abarca as dimensões referidas, integrando os núcleos numa sequência. Esta não é linear, pois houve necessidade de adaptar a exposição ao circuito permitido pelo palácio.

No nível 2, optou-se por outras abordagens. De facto, as características espaciais do sótão do palácio possibilitam e favorecem outras apresentações. Tentou-se no entanto, manter um compromisso com a exposição do piso 1, quer do ponto de vista sequencial quer do ponto de vista das soluções de apresentação e leitura. Privilegiámos assim os seguintes tópicos:

-         as fábricas da MG

-         a fábrica de vidro – sequência do processo produtivo

-         sectores produtivos (vidraça de manga, garrafaria e frascaria); indústrias complementares (olaria)

-         o maçarico

-         os instrumentos e utensílios

-         os operários; as mulheres e as crianças

-         a gestualidade técnica

Com base nestes tópicos e a partir dos objectos e documentos disponíveis, criámos os seguintes núcleos expositivos:

a)     A obragem: o grupo de trabalho, o forno, os instrumentos. Dedicámos uma sala a este núcleo, onde, tal como no caso da oficina do maçariqueiro, tentámos um discurso expositivo de carácter “ecológico”, isto é, com uma componente reconstitutiva do espaço de trabalho. Recorreu-se ligeiramente a elementos cénicos, como a exposição de um pote, datado de 1836, com iluminação vermelha – aqui pretendeu-se fazer apelo, pela percepção, ao ambiente quente do espaço junto ao forno. Junto à cadeira do vidreiro, colocámos os instrumentos principais e um traje tradicional do vidreiro. Mantivemos o compromisso com as vitrines, colocando um conjunto de canas (instrumento com grande carga simbólica) em posição vertical, suspensas, dentro de uma vitrine pequena. A exposição do pote induziu-nos a constituir um pequeno núcleo, na mesma sala, sobre olaria e potaria, dada a extrema importância que este sector adquire na produção de vidro, bem como a mestria que os potes exigem na sua fabricação. Ligado à obragem, incluiu-se um apontamento sobre os vidreiros, embora fosse nosso desejo dedicar-lhe uma sala – a falta de objectos, documentos e espaço, impossibilitaram a exploração da temática.

b)    A cadeia operatória de fabrico: aproveitou-se os espaços de transição para apresentar, através de letterings e imagens, a sequência de produção dentro da fábrica.

c)    Os moldes: surgem na sequência acima referida, mas a exposição requer maior desenvolvimento. Expusemos vários tipos de molde (madeira, ferro, alumínio, bronze, de pedal, etc.) e ilustrámos o uso de alguns com a exposição de peças de vidro.

d)    A vidraça: uma “manga” de 1917 e um lettering . Este núcleo expositivo é na prática aqui um apontamento e terá de evoluir e ser aprofundado no núcleo de arqueologia industrial do museu, a criar.

e)    A garrafaria-frascaria: uma sala (pequena, como quase todas) , com uma vitrine dando conta da diversidade de produções neste sector, explorando a antiguidade de algumas peças (garrafões, embalagens e frascos) que marcaram épocas passadas, algumas reconhecíveis pelos mais velhos. Na mesma sala, sequência da fabricação de uma garrafa no séc. XVIII, através de estampas originais da Grande Enciclopédia de Diderot e D'Alambert.[i]

f)     As fábricas marinhenses: duas salas – de um lado, a história da fábrica dos Stephens (a casa-mãe); de outro, as principais fábricas da MG. A componente documental e iconográfica ganhou aqui maior importância – apresenta-se, por exemplo, em vitrine de mesa, o livro de caixa da Real Fábrica de Vidros, entre 1788 e 1801, e um opúsculo escrito e assinado por Guilherme Stephens (fundador) intitulado “Memórias da Luzerna”. Num outro painel, mostra-se uma fotografia P/B da fábrica Manuel Pereira Roldão, dos anos 40, onde se podem ver dezenas de crianças a trabalhar com os operários.

g)    A oficina doméstica - o maçarico. A possibilidade de constituir este núcleo surgiu inesperadamente alguns meses antes da abertura do museu, pois foram-nos oferecidos dois espólios, um deles muito rico e completo, ligados a este ofício. Com a ajuda de um maçariqueiro (sr. António Francisco Nascimento) foi possível recriar a bancada de trabalho, onde se pode ver os sistemas de produção da chama e de moldagem do vidro ao calor; uma vitrine expõe o essencial do instrumental usado e uma outra apresenta os vários tipos de objectos criados. Este núcleo surgiu em alternativa ao que estava previsto: uma exposição de maquetes, à escala, da fábrica Ricardo Gallo, que comemora em 1999 o seu centenário, de um forno e estenderia de vidraça, entre outras, criadas pelo mestre vidraceiro Rafael Moiteiro, o qual, entretanto, não se mostrou disponível para as ceder ao museu.

Ainda no Piso 2 foi afectada, como já referi, uma pequena sala apenas para descanso dos visitantes e visualização de documentários sobre o vidro (televisão e vídeo), aproveitando-se uma das paredes para o "álbum de família" da fábrica Stephens (ficou em projecto).

 

 

Exposições temporárias

 

Para além da exposição central, serão apresentadas as seguintes exposições:

 

Mestres do Fogo

Um exposição que se pretende tornar numa iniciativa anual, que apresente a vida e obra de vidreiros contemporâneos. Abriremos com três núcleos, ocupando as duas salas de entrada no circuito de visita: mestre Júlio Liberato dos Santos (sala maior); selecções do “prémio oficial vidreiro” da AIC 1997 e 1998, e M. Taylor – vidreiro americano participante numa demonstração realizada na MG este ano.

 

In Vitro' 98

Uma selecção das peças participantes no work-shop organizado em parceria com o Museu, a fábrica-estúdio Jasmim e o artesão Fernando Esperança, da responsabilidade da designer Eliane Marques. Pretende mostar o potencial criativo e artístico do vidro no design actual.

 

O vidro na filatelia

Exposição resultante da oferta recente ao museu, pelo Engº Manuel Brandão, de uma interessante colecção de selos sobre o vidro, do mundo inteiro. Para além deste núcleo, sobre a história do vidro em selos, esta exposição filatélica incluiu ainda um outro sobre o Marquês de Pombal (a propósito do bicentenário da sua morte e pela relação com o vidro na Marinha Grande) e outro sobre carimbos relacionados com o vidro (das várias fábricas em várias épocas). Pareceu-nos uma forma diferente e inesperada de abordar o tema do vidro, remetendo para outros suportes documentais, podendo assim cativar um público mais variado.


 


[i] Gentilmente cedidas, a título de empréstimo, pelo Prof. Doutor Pedro Barosa, administrador da Santos Barosa SA, que emprestou além disso outros objectos e livros do séc. XVIII e XIX. Recorde-se que o Prof. Barosa tomou a iniciativa de abrir um importante núcleo museológico na fábrica cujo interessante e valioso espólio se devia articular com ou mesmo ser integrado na colecção do Museu do Vidro, segundo ideia do próprio professor.

 

 

Home Nota de Abertura Que Museu? Projectos anteriores A Colecção  

Espaço e Arquitectura Plantas 

Estrutura interpretativa Exposição Letterings

 

 

Hosted by www.Geocities.ws

1