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Dirigente recluso, que raras vezes vem a público defender ou esclarecer posições gerenciais, a atuação de Mustafá Contursi à frente do Palmeiras é quase sempre relacionada à apatia e omissão. Teimoso, às vezes turrão, o presidente do clube já viveu dias de glórias e terremotos no Parque Antártica. Foi enterrado algumas dúzias de vezes pela torcida nos momentos de crise. O coro "Fora Mustafá", de pano de fundo, virou jargão na boca dos torcedores após a queda do time à segunda divisão do Campeonato Brasileiro. Passada a trágica experiência, Contursi fala com propriedade sobre o atual momento do Verdão.

Frustrado por ver a equipe mais uma vez fora de uma decisão de Campeonato Paulista, Contursi mostra-se, ao mesmo tempo, esperançoso com o futuro. Tenho confiança neste time, diz o dirigente. Em rápida conversa durante o lançamento da revista oficial da Federação Paulista de Futebol, na sede da entidade, o presidente do Palmeiras analisa, quase dois anos depois, os motivos que levaram o clube à Série B do Campeonato Brasileiro. "Em 2002, tínhamos um time caro e ruim", sentencia.

Nesta entrevista, o dirigente alviverde fala sobre passado e presente. Comenta a polêmica saída de Wanderley Luxemburgo do Parque Antártica, pouco antes do fiasco no Brasileiro de 2002, mas não deixa de dar um recado aos atuais jogadores e técnico da equipe. "Não sou feitor, não tomo conta de marmanjo", diz, sobre a discussão envolvendo jogadores palmeirenses em festas e noitadas às vésperas das semifinais do Paulistão.

Adepto do livre mercado, Contursi abre o jogo e desabafa sobre a questão da realidade econômica brasileira, que impede que o empreendimento esportivo no país se torne páreo com os clubes da Europa.


"Mustafá Contursi" - O mandachuva palmeirense

GE.Net: Após um bom inicio de temporada, o Palmeiras mais uma vez ficou de fora da decisão de Campeonato Paulista. Isso é preocupante?
Mustafá Contursi: Não diria preocupante, mas (nosso desempenho) poderia para ter sido melhor. Confesso que fiquei um pouco frustrado ao ver o time fora da decisão.

GE.Net: A eliminação do time no Paulistão veio num momento conturbado, em que nomes de jogadores foram envolvidos em denúncias de festas, noitadas. Isso afetou o desempenho da equipe?
M.C: Não, o que aconteceu foi uma coincidência. Não tínhamos nosso principal atacante no primeiro jogo. Mesmo assim o time jogou muito bem. E ainda acho que o Palmeiras poderia ter se saído melhor. Isso não aconteceu devido às circunstâncias de jogo.

GE.Net: Sobre o desfalque do Vagner. Não pesou nesta questão o fato de o Palmeiras não ter um elenco forte, com jogadores que substituíssem à altura os titulares?
M.C: Não. São coisas do futebol. Tínhamos um reserva imediato, o (Adriano) Chuva. Ninguém teve culpa de ele também ter se machucado nesta fase final do campeonato. Temos peças de reposição. Foi como em 2003. O time era bom, o elenco forte. Mas no jogo decisivo contra o Corinthians (nas semifinais do Paulistão), perdemos quatro zagueiros. Aí as coisas ficam complicadas. Entramos sem zagueiro em campo e, numa tarde inspirada do Gil, sofremos quatro gols em 20 minutos.

GE.Net: De uma forma ou outra, esta eliminação forçou algumas mudanças no time. Alguns jogadores, como o Diego Souza, foram sacados. Não ficou nem no banco contra o São Gabriel. O Adãozinho também se ‘queimou’ em meio às denuncias de noitadas. Quer dizer, o Palmeiras está tomando medidas para evitar que assuntos como o da semana passada voltem a acontecer. Isso foi uma ordem que veio da diretoria?
M.C: Na verdade, quem deve cuidar do time é o (Jair) Picerni. Imagine se o presidente se meter em toda conversa de condução do time. Cabe ao treinador o dever de ter a equipe nas mãos, este é o trabalho dele. Polêmicas sempre vão surgir. Você me fala do Diego Souza. Ele não gostou de ir para o banco. Vou fazer o quê. Não estou aqui para tomar conta de marmanjo. Não sou feitor. Ele, como qualquer outro jogador, deve saber o que faz, o que fala. Tem que jogar bola. Se não jogar, não corresponder em campo, vai sair do time, oras. Eles têm é que tomar conta de seus futuros, e não a diretoria.

GE.Net: O Jair Picerni tem este time nas mãos?
M.C: Tem. Os jogadores têm que jogar para ele, e não para mim. É o que fazem.

GE.Net: E o senhor tem plena confiança neste time?
M.C: Claro. Nosso time é muito bom. Temos jogadores como o Marcos, que recebeu propostas de clubes da Europa, mas optou por ficar. Isso mostra que eles estão felizes no clube, tem uma identificação. É como o Ademir da Guia, que jogou por tanto tempo como titular e, mesmo com chance de defender outros clubes, ficou no Palmeiras até o final. Foi assim também com o Pelé no Santos, o Dirceu Lopes no Cruzeiro. O Palmeiras conta, hoje, com muitos jogadores que defendem com orgulho esta camisa. Isto nos dá uma retaguarda. É o caso também do Magrão e de tantos outros. É até difícil falar nomes, porque posso esquecer de alguém e cometer alguma injustiça.

GE.Net: Este perfil dos jogadores é uma vantagem do Palmeiras em relação a outros times? Porque, relativamente, diante da debandada de atletas para o exterior nos últimos anos, o Palmeiras soube manter no elenco suas principais peças.
M.C: Com certeza. À exceção do Edmílson (foi contratado no início deste ano pelo Nagoya, do Japão), mantemos a base da equipe que disputou a Série B do Campeonato Brasileiro.

GE.Net: Mas isso porque o clube soube mantê-los ou porque faltaram propostas interessantes?
M.C: Também, claro, porque faltaram propostas. O Palmeiras não está imune à pressão do mercado externo. Nenhuma equipe está. E isso não somente no futebol. Muitos me criticam por defender a liberdade profissional do atleta. Mas ele tem que saber o que é melhor para ele e onde deve trabalhar. Daí que diante da pressão do capital financeiro internacional, numa economia medíocre como a nossa, com um valor inexpressivo de moeda, qualquer oferta em dólar atrai o atleta e não temos como segurá-lo. Até porque a política lá fora é diferente. Na Europa é possível encher um estádio, colocar 90 mil pessoas nas arquibancadas. Aqui você sua para colocar 20, 30 mil. Além disso a renda deles é em dólar. O lucro é infinitamente maior.

GE.Net: Como fica o dirigente esportivo nesta situação?
M.C: Resta a ele somente dar todo amparo ao atleta, manter um bom padrão de salário, manter a estrutura. Senão o atleta, o treinador, não fica mesmo.

GE.Net: Como o Wanderley Luxemburgo?
M.C: As pessoas gostam de voltar nesta história. Já disse que não tenho nada contra o Wanderley. Muita gente fala que o Palmeiras tem hoje as portas fechadas para ele, que ele é culpado pelo rebaixamento em 2002. Não é bem por aí...

GE.Net: É uma questão de livre arbítrio?
M.C: Isso. Livre arbítrio. É como eu disse, sou muito criticado por defender a nova lei do passe, que dá ao profissional a liberdade de escolher onde trabalhar. Claro que a lei tem falhas, armadilhas, mas a liberdade do cidadão é direito inalienável. Eu acredito nisso. Tanto que o Palmeiras nunca precisou fazer contratos com multa alta para prender jogadores e técnico. Não. Não acho que as coisas devam ser conduzidas desta maneira. O Wanderley optou por um outro projeto, um outro rumo, fez a escolha dele e foi embora. Vamos fazer o quê? Bola para frente.

GE.Net: Mas diante desta livre-iniciativa, isso é passível a críticas. O que se diz é que o Palmeiras teria pagado um preço por adotar a chamada política do ‘bom e barato’. Aí um clube como o Cruzeiro entra na história e a oferta torna-se irrecusável...
M.C: Não necessariamente. O Palmeiras tem o mesmo padrão salarial do Cruzeiro. A estrutura é parecida. Se você analisar nosso desempenho nos últimos anos, raras vezes trocamos a comissão técnica. Tentamos sempre manter os atletas. Isso é bom, dá seqüência a um trabalho e estabilidade a jogadores e comissão.

GE.Net: Então o senhor diria que essa história do ‘bom e barato’ é bobagem?
M.C: Claro. Nosso equipe é cara. O nível salarial é alto. Ao mesmo tempo é um time bom. Isso não é causa e conseqüência. Já tivemos de tudo. Time bom e barato, caro e bom, bom e ruim, caro e ruim.

GE.Net: Como o do Brasileiro de 2002?
M.C: Como o do Brasileiro de 2002. No papel, um elenco poderoso. Arce, Itamar, Leonardo Moura, Dodô, Zinho... E olha onde eles nos levaram.

GE.Net: Diante disso, o palmeirense pode esperar grandes contratações para o Campeonato Brasileiro?
M.C: Não é a nossa intenção. Como disse, tenho confiança e sobretudo esperança neste time. Se os reforços vierem, se tivermos esta oportunidade, ótimo, o Palmeiras está de portas abertas. Senão, vamos a campo com o que temos em mãos.

Fonte: Gazeta Esportiva
Entrevista - 14/04/04

RAIO X:

Nome: Mustafá Contursi Goffar Mazjoub
Mandato: desde 1993, mandato válido até janeiro de 2005
Títulos: 15

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