Situação actual: quadro diagnóstico

 

 

 Instalações e afectações funcionais

 

A maior parte da casa está afectada à colónia balnear, que compreende uma camarata, um refeitório, sanitários/duches, quarto da empregada e arrumos. A parte de exposição sobre o poeta reduz-se à varanda e à sala da casa principal, sendo a única parte visitável, além da capela.

De um modo geral, a casa encontra-se em mau estado de conservação, embora a Câmara tenha efectuado obras em algumas zonas da colónia balnear. A zona da exposição é a que se encontra em piores condições, requerendo uma intervenção urgente de recuperação, sobretudo, ao nível da cobertura. A proximidade do mar, do qual se separa apenas por uma enorme parede, é o principal factor de degradação.

A gravidade da situação levou recentemente a Câmara Municipal a proceder a um levantamento e a avançar para um projecto de recuperação do imóvel, em moldes a que não tivemos acesso. Cremos que, como noutras intervenções de recuperação (nomeadamente locais), esse projecto actualmente não compreende a componente restaurativa, sobretudo, dos azulejos e cantarias.

 

Recursos humanos e financeiros

 

Desde que tomou posse do legado, a Câmara Municipal tem-se limitado a manter uma empregada, a quem chamam "guardiã", que durante o Verão dorme nas instalações. Logisticamente, a casa pertence à Divisão de Acção Socio-Cultural (Pelouro da Cultura), a qual não possui técnicos na área museológica e patrimonial.

O financiamento da casa está a cargo da CMMG, que anualmente fixa uma dotação orçamental. Esta verba destina-se apenas à colónia balnear. Não houve até à actualidade qualquer decisão financeira relativa à parte de casa-museu.

 

Espólio, incorporações e inventário

 

O espólio de ALV está concentrado sobretudo na varanda, na sala e na capela da casa. Grosso modo, podemos dividi-lo em espólio bibliográfico – livros, jornais, revistas, documentos impressos e não impressos (correspondência, um pergaminho), cartazes – e espólio museológico. Este inclui peças de mobiliário, quadros, peças de escultura, búzios, armas, candeeiros, tecidos, objectos litúrgicos, etc., num conjunto de algumas centenas de objectos.

Não existe qualquer política de incorporação. A colecção é constituída pelo espólio legado em 1951.

Tendo em vista a eventual recuperação da casa-museu e a ampliação da colecção disponível, por iniciativa da autarquia foram já feitos contactos com familiares de ALV, solicitando, nomeadamente, depósitos ou doações de objectos de ALV que estão na sua posse.

O único inventário existente até 1998 foi realizado em 1951, aquando da transferência por escritura da propriedade para a Câmara Municipal. Em 1998, a Câmara tomou a iniciativa de fazer uma verificação das existências e a sua confrontação com esse inventário, seguindo-se-lhe a construção de um ficheiro e a introdução em base de dados. Desse confronto, concluiu-se que, no essencial, o espólio permanece. No entanto, houve peças que desapareceram, sobretudo espécimes bibliográficos, embora curiosamente hajam outras que não constam do inventário.

 

Conservação do acervo

 

De forma generalizada o espólio encontra-se em mau estado de conservação, o que se deve, sobretudo, à humidade e ao salitre da casa. Nas paredes e no chão, principalmente da capela e da varanda, há aglomerados de salitre e fungos. Os objectos que têm ferro na sua constituição apresentam muita ferrugem; os tecidos estão amarelados, com buracos e manchas; muitos quadros têm as molduras a descolarem-se; há peças de loiça e cadeiras partidas; o relógio de sol está desmontado e fragmentado; a maior parte dos livros tem humidade, vestígios de ataques de insectos (sobretudo, de lepisma), capas descoladas, outros incompletos.

Os objectos que se apresentam em melhor forma são os búzios, as conchas, os gessos, a imagem de N. Sra. De Fátima e as mobílias, principalmente as de cerne.

Para que a varanda fique mais protegida durante o Inverno, anualmente, ao encerrar a época balnear, são colocados taipais de madeira nas suas janelas.

 

Exposição

 

A exposição nunca terá, em princípio, sofrido alterações voluntárias. A disposição de móveis e objectos respeita o desejo do poeta de que permanecessem no mesmo local onde em vida os tinha e utilizava. No entanto, como a exposição só é montada no início de cada Verão, e desmontada no seu final, é natural que alterações involuntárias se tenham produzido com o passar dos anos.

A recolocação dos móveis e objectos no mesmo local de sempre, sobretudo os da varanda, só pode ser feita por quem conheça a disposição de origem. Esse conhecimento esteve durante dezenas de anos na posse exclusiva da primeira "guardiã" da casa, que, ao abandonar o posto, o transmitiu à sua sucessora. Este mecanismo de tradição oral tem sido seguido até à actualidade.

As nossas dúvidas sobre a eventual existência de um álbum fotográfico da casa, onde se pudesse reconhecer os locais dos objectos, foram confirmadas: não existem fotografias. A exposição está assim completamente dependente do conhecimento da "guardiã".

Por proposta do conservador do Museu do Vidro (na altura ainda existente), esta exposição deixou de se efectuar em 1998, justificado pelo facto da casa não apresentar segurança ou condições de visita, para além do espólio se encontrar também em más condições de conservação e exposição. Essa proposta incluía a realização de uma reportagem fotográfica completa.

A exposição actual pretende tão só evocar o ambiente doméstico do poeta: o canapé na varanda onde se estendia a fumar e a ler; a secretária com a pena onde trabalhava; o órgão de búzios à entrada; a sala de jantar... O princípio organizador, neste caso, como na maioria das casas-museu, não privilegia a evocação da personalidade homenageada (o poeta, o escritor), mas antes as memórias da vivência na casa, a partir da apresentação do ambiente doméstico:

«Na casa museu as colecções são um dos suportes materiais de evocação da memória pessoal. Entendemos, por isso, os objectos da colecção como os signos cuja presença permite o acesso à memória pela recordação. São, por isso, os intermediários dessa memória, no sentido em que estabelecem a comunicação entre o presente e o ausente. O presente, está confinado aos limites físicos desses objectos e respectiva inserção no quadro físico da casa, entendidos como pedaços da memória cuja recordação se realiza pela apreensão que deles fazemos. O ausente, diz respeito à recordação da memória da figura homenageada, a partir dos meios evocativos - os objectos ou testemunhos»[1]

Para além deste princípio, a exposição não integra qualquer outro elemento, nem qualquer explicação. A visita pode no entanto ser acompanhada de alguma explicação oral por parte da funcionária local.

 

Visitantes

 

A esmagadora maioria dos visitantes são turistas em férias de praia na época do Verão. Mais raramente, membros das famílias que mantêm ligação a S. Pedro de Moel, mas onde só se deslocam durante a estação quente. A casa recebe anualmente apenas algumas centenas de visitantes.



[1] Martins, Margarida Lopes. Casas Museu em Portugal: modelos de organização e conceito. Tese de dissertação de Mestrado em Museologia e Património. UNL-FCSH, Lisboa, 1997.

 

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