The Opinion Maker
O ano de 2004 foi um dos mais prósperos no tocante a novidades na área da Defesa Nacional. A Armada Portuguesa foi um dos ramos mais beneficiados com esta série de aquisições, podendo-se destacar: a assinatura do contracto para o fornecimento de dois submarinos U-209PN, os progressos feitos no reequipamento do Corpo dos Fuzileiros, na construção dos navios Navios de Patrulha Oceânica (NPO 2000) da classe “Viana do Castelo” e nas negociações para o fornecimento de duas fragatas OH Perry - a USS George Philip e a USS Sides - da US Navy a Portugal, estando-se a estabelecer contactos com vista a assegurar uma terceira.
Deve-se, a meu ver, destacar e explicar a opção pelas fragatas OH Perry. Uma opção económica, eficiente e que representa um inegável acréscimo qualitativo na frota da Armada em relação às fragatas da classe “João Belo”, que se pretende substituir com estes navios. Com efeito, a classe “João Belo” apesar de ter beneficiado dum programa de modernização na década de 90 mostra-se, presentemente, obsoleta e dispendiosa na sua manutenção. Uma modernização que permitiu, sobretudo, capacitar os navios da classe para o cumprimento de missões de manutenção de paz e em cenários de baixa ameaça. A opção pela aquisição de navios novos para substituir esta classe iria, necessariamente, apresentar dois problemas que a opção por navios usados (e, ainda assim, com capacidade de combate) não apresenta:
Primeiro, as fragatas novas iriam ter um custo de aquisição elevado. Para se ter uma noção, as fragatas Meko 200 - destinadas a luta anti-submarina - custaram, nos finais da década de 80, 750 milhões €. No entanto, apenas 1/3 do custo total da aquisição coube a Portugal, tendo cabido o restante à NATO. A aquisição de dois submarinos U-209PN (em 2004) representou um custo de 770 milhões de euros - a Lei de Programação Militar (LPM) tinha destinados 840 milhões - e foi, no entanto, envolta em grande polémica. Ou seja, a aquisição de fragatas novas destinadas a defesa aérea representaria, hoje, um investimento de quase 500 milhões de euros por navio, um custo que dificilmente seria aceite pela opinião pública, especialmente, face à anterior aquisição.
Segundo, ao adquirirem-se navios novos ir-se-ia introduzir um problema que persistiu na última década: a generalidade dos navios da frota apresentam uma idade similar e têm, pois, a sua desactivação prevista para datas próximas. Assim, ao optar por navios usados, Portugal irá introduzir navios com idades diferentes dos adquiridos novos, permitindo uma certa heterogeneidade na idade da sua frota. Mais: irá permitir que a idade do abate das Meko 200 coincida com a da nova classe, permitindo-se, assim, a encomenda de uma classe única (ainda que com versões diferentes) que substitua as duas, o que traz vantagens inegáveis na logística, no custo de aquisição e na negociação de contrapartidas associadas.
Deve-se, também, referir que a opção por navios usados só se mostra errada quando a sua relação custo-benefício é reduzida. Tratando-se, pois, de uma doação dos Estados Unidos de duas plataformas (relativamente) modernas a questão não se parece colocar. Não são, claro, navios com tecnologia state of art, porém, representam um avanço ao existente hoje e uma mais que razoável solução de recurso em relação à aquisição de tais meios. Podemos, pois, criticar esta opção? Talvez, mas a crítica sempre apontaria para a necessidade de navios novos, uma impossibilidade financeira, refira-se.
Pedro Manuel P. Monteiro
Leia:
The Opinion Maker - Janeiro de 2004
The Opinion Maker - Fevereiro 2004
The Opinion Maker - Março 2004
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