"Deve-se tentar atingir o impossível. O fácil ai está, já o sei fazer, tenho-o incorporado a meu corpo." (Julio Bocca)

 

 

História da fotografia

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O Renascimento

O olhar medieval

Para se ter uma idéia do que era a representação nas artes visuais no início dos Trecento, basta lembrarmos alguns postulados da arte medieval: o hieratismo (tamanho e disposição das figuras no espaço obedecendo a uma ordem decrescente, do mais para o menos sagrado), figuras estáticas, frontalidade (rostos retratados de frente), isocefalia (o mesmo tamanho de todas as cabeças presentes na cena) e isodactilia (dedos da mão sempre com o mesmo tamanho), o fundo chapado e quase sempre dourado, as expressões invariáveis, volumes e dimensões uniformes... Para o nosso olhar contemporâneo, sentimos uma espécie de falta de consideração com a realidade visível...

No entanto, até o século XIV, não consta que algum contemporâneo dos mosaicos bizantinos, das iluminuras medievais ou das pinturas chinesas tenha levantado a voz para afirmar que não compreendia a representação que se desenhava ante os seus olhos. Tomemos como exemplo as regras de pintura medieval acima descritas - a vida daquele tempo também era dominada pelos mesmos simbolismos, pelo mesmo hieratismo, e essa vida estava presente na comunicação visual, na arte daquele tempo. Isso é um código cultural: essa era a maneira de se comunicar visualmente com sucesso. Se viajássemos no tempo e mostrássemos ao homem daquela época uma fotografia de sua própria família, ele certamente não “leria” aquela imagem com clareza, sendo ele um camponês analfabeto ou um cardeal ilustrado. Principalmente, não reconheceria qualquer mérito estético. Não havia a necessidade de uma imagem tão naturalista - não fazia parte de seu código cultural, não era assim que aquele homem via o mundo e, o que é importante: ele não consideraria aquela imagem como uma representação realista da sua família.

A perspectiva

A maneira de ver e compreender o mundo era, até então, simbólica e hierática. A veracidade alcançada pela arte também era simbólica. Foi essa postura que começou a ser profundamente alterada pelo homem do Renascimento. A natureza, a figura humana e toda a realidade sensível começou a ser vista de um novo modo - a partir de uma certa fidelidade ao olho humano, conseguida através de um artifício: a racionalização do espaço de acordo com as leis matemáticas. 

Não basta pensar que havia o desejo de se capturar a realidade tal como ela se mostra. Na verdade, as artes visuais sempre fizeram isso. Tratava-se de compreender essa realidade de outra maneira, à qual resolveu se dar o estatuto de veracidade e o nome de naturalismo, realismo ou objetividade, pois acreditava-se, desta forma, estar se removendo toda a magia do olhar, desnudando a natureza através do entendimento de suas leis. O mundo deixava aos poucos de ser observado com olhos reverentes, impregnados de crenças, religião, superstições e explicações mágicas. 

Na arte ocidental, regras de proporção e perspectiva para a representação do homem e do espaço eram elaboradas e reelaboradas desde os gregos. Foi utilizando as regras geométricas de Euclides que os homens da Renascença refinaram a sugestão de profundidade em suas pinturas, criando as regras da perspectiva e um novo código cultural para interpretar o mundo, apreendendo o espaço tridimensional numa tela bidimensional. A solução era matemática: o cenário e as figuras retratadas eram reduzidos proporcionalmente, de acordo com suas medidas reais. O ponto de vista do pintor gerou um olhar fixo, que comandava a feitura do quadro e o olhar do espectador - escolhia-se o motivo principal, sua posição no quadro e reorganizava-se os outros objetos com dimensões proporcionais à sua distância em relação à figura principal, dando a ilusão de profundidade numa tela plana. Por isso a palavra perspectiva: “ver através”.

Esse foi o ponto de partida. Ainda faltava conquistar (além do espaço) a forma, o movimento, a cor, a expressão dos sentimentos humanos... Mais do que nunca, a objetividade da representação passou a ser o grande desejo da arte visual.

A câmera escura

A busca dessa objetividade incentivou o uso da câmera escura, artefato baseado num fenômeno conhecido desde os gregos. Aristóteles descreveu seu mecanismo intuitivamente, ao observar um eclipse solar refletido no solo através de um minúsculo furo de uma folha. Esse mecanismo foi seguidamente utilizado e readaptado até a Idade Moderna, quando o grande interesse pelas leis ópticas iria gerar um sem número de câmeras escuras, de diversas formas e tamanhos. As descrições mais antigas mostram o seguinte método: num quarto escuro, a luz atravessa um pequeno orifício na parede frontal e projeta uma imagem invertida da vista exterior numa parede ou numa tela ao fundo do quarto. A antiga técnica utilizada para observar os eclipses solares passou a ser utilizada, com constância cada vez maior, como um auxílio ao desenho e à pintura. Giovanni della Porta, artista e cientista napolitano, foi o primeiro a recomendar seu uso para o desenho, lançando em 1558 um livro que descrevia a montagem e o funcionamento da câmera escura. Numa segunda edição do livro, mais tarde, o artista recomendava seu uso inclusive para os retratos, posicionando os modelos em frente ao orifício da parede frontal.

Aos poucos, melhoramentos foram feitos para tornar a imagem mais nítida, com lentes ou diafragmas. Apenas dez anos após o lançamento do livro de Giovanni della Porta, o veneziano Bárbaro instalou um espelho côncavo, “endireitando” a imagem invertida, facilitando o trabalho dos artistas. No século seguinte, vários incrementos tornaram a câmera escura menor, móvel e portátil. Todo nobre, clérigo ou burguês culto mantinha a sua própria câmera, um instrumento básico de sua educação: através dela ele podia se dedicar à observação da natureza e ao desenho, tendo como finalidade a pesquisa científica ou as belas-artes. No século XVIII, seu uso foi extremamente difundido, e havia até mesmo artefatos de bolso que auxiliavam o desenho.

 

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