"Deve-se tentar atingir o impossível. O fácil ai está, já o sei fazer, tenho-o incorporado a meu corpo." (Julio Bocca)

 

 

História da fotografia

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As Cores

As cores do mundo

O sonho de reproduzir a natureza com o máximo de veracidade não se realizara totalmente em 1839. A ausência das cores era sentida por todos, especialmente por retratistas e retratados. Logo os daguerreótipos foram coloridos com pigmentos secos, e os calótipos com aquarelas. Os pintores de miniatura tiveram trabalho garantido por mais de quatro décadas. Ao mesmo tempo, um bom número de cientistas tentava resolver o problema das cores na fotografia, procurando determinar a sensibilidade dos sais de prata às cores do espectro.

A óptica moderna havia sido muito reformulada após as pesquisas do fisiologista inglês Thomas Young, em 1801. Ele estudou o funcionamento e as funções do olho humano, incluindo os dados fisiológicos da sensação da cor. O ponto de partida da nova óptica foi a sua teoria tricromática, que tomava por base as reações fisiológicas às três cores-luz primárias: o vermelho, o verde e o azul-violetado, assimiladas por três diferentes conjuntos de fibrilas nervosas em que Young dividiu a retina. O fisiologista alemão Herman von Helmholtz, já em meados do século XIX, traçou as curvas representativas da ação dessas três cores sobre essas três categorias de fibrilas.

A teoria tricromática ficou então sendo chamada de Young-Helmholtz. Em 1861, James Clark Maxwell, autor da teoria eletromagnética da luz, reproduziu pela primeira vez uma imagem em cores por síntese aditiva, inaugurando a aplicação prática dessa teoria. O processo partia do princípio de decomposição (seleção) da luz branca nas três cores-luz primárias através de três filtros coloridos, cada um deles possibilitando a obtenção de uma película monocromática contendo todas as variações de uma das cores primárias existentes no objeto fotografado.

O pianista francês Louis du Hauron, em seu livro "As cores na fotografia, solução do problema" (1869), avançou na questão: ele expôs três negativos revestidos com filtros verde, laranja e violeta. Os positivos foram realizados sobre folhas bicromatadas que incorporavam pigmentos de carvão de cores vermelha, azul e amarela - as cores complementares aos filtros (e aos negativos obtidos). Para chegar à fotografia colorida (ou heliocromia, como a chamou, lembrando Niépce), Hauron superpunha as três cópias transparentes sobre papel ou vidro. A maior dificuldade de Hauron, além do longo processo que exigia câmeras especiais, era a de conseguir bons filtros ortocromáticos para cores que não fossem o azul ou violeta.

Herman Vogel, professor de fotoquímica em Berlim, deu mais um passo em 1873 rumo à solução do problema da hipersensibilidade ao azul e baixa sensibilidade ao vermelho. Ele descobriu que a chapa de colódio, banhada em alguns corantes de anilina, aumentava o seu grau de sensibilidade ao verde. Partindo dessas experiências, outros pesquisadores foram alcançando uma maior sensibilização das chapas ao amarelo e ao laranja.

Os irmãos Lumière simplificaram muito o processo de seleção de cores por filtros, dando o primeiro vislumbre de possibilidades comerciais para a fotografia colorida com suas chapas Autochrome, fabricadas em Lyon a partir de 1907. As chapas de vidro eram recobertas por grãos microscópicos de amido tingidos de verde, vermelho e azul e, sobre eles, sobrevinha uma fina emulsão pancromática. A exposição era feita sobre o lado da chapa que era só vidro: assim a luz, para alcançar a emulsão, tinha de passar pelos pigmentos, que funcionavam como filtros. Depois de revelada, a chapa era exposta e revelada novamente, num processo de inversão, resultando numa transparência (diapositivo) que se assemelhava às pinturas pontilhistas. A grande desvantagem do processo era que o tempo de exposição era 40 vezes mais longo que o da fotografia P&B. Esse e outros processos tiveram vida relativamente curta no mercado devido à baixa sensibilidade. Precisavam de uma fonte de luz muito intensa e um largo tempo de exposição.

Os métodos modernos da fotografia colorida foram introduzidos quase ao mesmo tempo pela Kodak e pela Agfa. A película Kodachrome baseava-se em três finas capas de emulsão sobrepostas numa película: a capa superior era sensível somente ao azul, a intermediária ao verde e a inferior ao vermelho. Depois de revelado o filme, os resíduos de bromureto de prata de cada capa eram novamente expostos e revelados em separado (três reveladores).

No ano seguinte foi lançada a película Agfacolor, que chegaria aos EUA em 1941 com o nome de Anscocolor. Sua principal diferença era que a emulsão, após exposta, produzia um negativo que recebia um banho de branqueamento para imaginar os resíduos de prata, e era invertido por um único revelador. Igual ao Kodachrome, produzia transparências (diapositivos). Mas o desejo dos fotógrafos e consumidores era o de possuir cópias coloridas. Em 42 a Kodak lançou o Kodacolor negativo/positivo. O processo era idêntico ao da Agfa, mas ao invés de converter o negativo numa transparência positiva, produzia-se uma imagem negativa em cores complementares, que em seguida era copiada sobre papel recoberto com a mesma emulsão do primeiro negativo, obtendo-se uma cópia positiva.

O fotógrafo, a indústria: alguns passos iniciais

Como vimos até aqui, paralelamente ao desenvolvimento técnico da fotografia, o esforço para disseminar a atividade fotográfica sempre foi constante. Com o advento do colódio úmido a atividade comercial cresceu, mas o fotógrafo itinerante ou de paisagens ainda tinha que se deslocar com um equipamento volumoso - o equipamento completo (caixa de placas, "caixa iodizante", caixa reveladora de mercúrio, lamparina de álcool, frascos com soluções químicas e outros acessórios) custava 400 francos e pesava 50 kg. O encaixe das caixas logo foi substituído pelo fole e, em seguida, surgiram o tripé e as tendas portáteis (o "quarto escuro") para manipulação.

Mas havia ainda os fotógrafos de estúdio em todas as grandes cidades da Europa e dos Estados Unidos. Começavam a nascer os modelos e os cenários, verdadeiras produções que diferenciavam cada casa e cada profissional. As poses e a iluminação eram esculturais, tentando reproduzir as expressões dos quadros e esculturas clássicas.

Em resposta ao enorme interesse despertado pela fotografia, a indústria foi nascendo. Nos anos 1850, o papel positivo albuminizado já era comercializado em grande escala, e continuou sendo muito vendido até o fim do século XIX. A alemã Dresden Albuminpapier Fabrik era a maior produtora de papel albuminizado da Europa. Fato curioso é que a produção industrial de frango e ovos, que só se espalhou no Ocidente após a Segunda Guerra, teve seus princípios com a fotografia: em 1871, a fábrica de Dresden consumia 60 mil ovos diários, 18 milhões de ovos por ano para os seus papéis fotográficos que eram exportados para toda a Europa e para os Estados Unidos.

Era natural o interesse pelo registro de eventos, mas o volume do material a ser transportado ainda era um empecilho. Os fotógrafos com mais posses deslocavam-se em carruagens especialmente preparadas para isso - a van de Roger Fenton, que partiu para registrar cenas da Guerra da Criméia, era ao mesmo tempo um meio de transporte, quarto escuro e vivenda. Era uma atividade que exigia uma dedicação enorme, transformando toda a vida do profissional e ligando cada momento de sua vida à fotografia.

Em 1854 as carte-de-visite, sistema patenteado por Disdéri, começou a difundir-se pela economia e praticidade: uma chapa era dividida em oito fotos, criando um produto semelhante ao que muitas crianças de hoje ainda têm em sua casa (e algumas morrem de vergonha). Mas criou mais do que um produto durável: gerou também um novo produto comercial. Celebridades, artistas, vedetes, famílias ilustres, membros da realeza, entre outros, permitiam que cartes-de-visite com suas imagens fossem comercializados legalmente. E logo surgiram cartes-de-visite piratas, cópias roubadas ou falsificadas, que também eram vendidas "por debaixo dos panos".

Já na década de 60 os retratistas começaram a se libertar da rigidez imitativa das artes plásticas, e a trabalhar as expressões dos retratados com mais naturalidade, trabalhando as luzes e imprimindo sua marca pessoal em cada foto, como nos casos de Nadar, Robert Adamson ou Julia Cameron.

Apenas 25 anos após a primeira imagem de Niépce, a fotografia já dividia seis aficcionados em gêneros temáticos. Duas áreas eram privilegiadas, o retratismo e o paisagismo (cenários urbanos ou naturais). Os fotógrafos profissionais começavam a criar suas associações; e iniciava-se uma linha divisória entre amadores e profissionais, arte e comércio, registro documental e de cenários idílicos, arranjos vulgares e expressões pessoais.

O registro de paisagens e monumentos foi outro desejo que, aos poucos, foi saciado. Os europeus tendiam a ir para centros da Antigüidade Clássica ou Oriental: monumentos gregos e romanos, pirâmides egípcias, marcos sacros de Jerusalém passavam a habitar o imaginário popular de uma maneira muito mais palpável. Já os americanos iam para o Oeste, retratando uma paisagem e uma expansão que eram motivos de orgulho e identidade nacionais.

Os usos científicos e técnicos proporcionados pela fotografia não passaram desapercebidos, e a arquitetura foi a primeira a se aproveitar da novidade, criando especialistas nesse tipo de registro. A medicina também não tardou a se utilizar dos registros fotográficos, documentando casos em que a descrição externa do paciente poderia ser acompanhada e ilustrada.

Os registros de eventos tiveram a guerra e a industrialização como motes principais. Depois de Fenton cobrir a Guerra da Criméia - ele basicamente registrou os locais das batalhas e combatentes agrupados formalmente - a Guerra Civil americana e os episódios da Comuna de Paris também foram documentadas, desta vez com fotos impressionantes, que começavam a tornar a guerra algo menos natural para o ser humano, criando pela primeira vez a sensação crescente de "horror à distância".

O orgulho da tecnologia também não passou em branco. Os avanços do homem sobre o espaço natural eram meticulosamente registrados e celebrados - pontes, torres, edifícios, a urbe em permanente transformação tornavam o progresso a musa ideal de uma época. A partir da década de 20, até mesmo em virtude de movimentos como o futurismo, máquinas, estruturas e aço e engrenagens passaram ser namoradas pelas lentes dos fotógrafos.

A partir de 1880, o grande número de amantes da fotografia tornou possível a produção industrial de máquinas, materiais e acessórios fotográficos, com retorno e reinvestimentos em pesquisa, plantas industriais e rede de distribuição. Os americanos incluíram também o investimento em publicidade e na expansão de usuários, levado à perfeição pela Kodak, que inaugurou uma nova relação entre os usuários e a indústria: a bobina de filme exposto era novamente levada à fábrica para a revelação e tiragem de cópias. Pode-se avaliar o impacto dessa novidade para a família média americana, ávida por registrar cada momento de sua existência.

"Nossa câmera proporciona uma coleção dessas fotografias, e pode proporcionar uma história pictórica da vida tal como ela é vivida por você, e cada dia que passa terá mais valor."
(propaganda da Eastman, anunciando suas câmeras em 1890)

A publicidade alcançava a definição das possibilidades que o usuário médio enxergou na fotografia desde os seus primórdios, e resumia o desejo desses usuários, que se mantém até os dias de hoje. No começo do século XX, de cada dez ingleses, um possuía uma câmera (4 milhões de fotógrafos), e nos EUA a proporção era no mínimo idêntica, e a produção de câmeras e equipamentos continuaram a crescer e expandir suas fronteiras nacionais.

 

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