"Deve-se tentar atingir o impossível. O fácil ai está, já o sei fazer, tenho-o incorporado a meu corpo." (Julio Bocca)

 

 

História da fotografia

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A Expansão

Do vidro à película

Os avanços na fotografia foram rápidos, correspondendo ao enorme interesse despertado na época pela atividade. A procura por novos materiais para suporte, por novos processos químicos que encurtassem a exposição, acelerassem a revelação e aperfeiçoassem a fixação das imagens foi incessante. Paralelamente, a busca de meios que facilitassem a disseminação da fotografia também foi espantosa: no espaço de poucos anos surgiram novos formatos e modalidades de câmeras, algumas delas servindo de parâmetro para o futuro e outras destinadas à curiosidade histórica.

Um visionário - O astrônomo inglês John Herschel começou a inscrever seu nome na história fotográfica já em 1839, quando conseguiu a primeira fotografia em vidro, um suporte que imediatamente foi incorporado pelos daguerreotipistas. Também é dele a primeira cópia azul, o cianotipo. Mas Herschel foi, sobretudo, um homem que sabia usar as palavras: foi ele que cunhou, em seus diários, os termos fotografia e fotográfico, ainda em 1839. No ano seguinte, pronunciando-se na Royal Society, criou os termos negativo e positivo. Anos mais tarde, em 1860, idealizou outras palavras que fariam carreira, disparo e instantâneo. Também foi um visionário: previu arquivos públicos em que a documentação seria microfilmada e lida em ampliadores (fato que só começou a se tornar realidade em 1938).

Albumina - Abel Niépce, primo do celebrado precursor, começou a utilizar com sucesso a clara de ovo (albumina) como emulsão para a chapa de vidro, reduzindo o tempo de exposição para cerca de 5 a 15 minutos. Isso levou aos chamados halótipos, aperfeiçoado pelos Laggenheimem 1848, na Filadélfia. Graças à transparência perfeita, esse processo se mostrou excelente para diapositivos de projeção - lanternas mágicas e imagens estereoscópicas. Em 1850, E. Blanquart-Evrard começou a fabricar papéis albuminizados para cópias por contato, e este foi o meio de comercialização de fotos preferido pelos fotógrafos profissionais até o final do século XIX. O fotógrafo sensibilizava o papel antes de usá-lo, e a cópia era virada com cloreto de ouro, o que melhorava a cor e a durabilidade.

Colódio úmido - Frederick Scott Archer era um escultor inglês que visava melhorar o registro em papel dos calótipos, que usava para seu estudo de modelos. Pensou que o recém-descoberto colódio poderia substituir o papel. Em 1851, com colódio contendo iodeto de potássio, recobriu uniformemente uma placa de vidro, sensibilizada com nitrato de prata. Archer descobria um método que iria suplantar todos os existentes até então: a sensibilização foi aumentada e a exposição caiu para 10 a 90 segundos para paisagens e de 2 a 20 segundos para retratos pequenos (os ambrotipos). A revelação se dava com sulfato de ferro, a fixação com hipossulfito de sódio ou cianeto de potássio. Era o processo mais rápido até então, e livre da guerra de patentes entre Inglaterra e França. Mas havia desvantagens: a exposição deveria se dar com a chapa ainda úmida - a sensibilidade era perdida à medida que o colódio secava. A manipulação era complicada e obrigatoriamente rápida, e o fotógrafo de exteriores tinha de carregar consigo um "quarto escuro" ambulante.

Gelatina seca - As primeiras tentativas de substituir-se o colódio úmido por placas de gelatina seca foram feitas na Inglaterra por Richard Maddox, um médico microscopista que criou uma gelatina de bromureto de prata. No entanto, o processo era 180 vezes mais lento que o do colódio. Richard Kennet e Charles Bennet aperfeiçoaram a gelatina e aceleraram o processo e, em 1878 quatro fábricas inglesas começaram a vender placas de gelatina seca: além de conservarem-se por mais tempo, elas permitiam a fotografia instantânea, realizada em frações de segundo. Em 1879 fábricas da França e dos EUA já as produziam em quantidades industriais.

Película - O inconveniente continuava sendo o peso do vidro e sua fragilidade. Em 1861 Alexander Parkes inventara o celulóide. John Carbutt, inglês que emigrou para a América, convenceu em 1888 a um fabricante de celulóide produzir folhas extremamente finas, que podiam ser recobertas com gelatina. Estas folhas podiam ser utilizadas como películas: bastava cortá-las no formato desejado. No ano seguinte, a Estman Co., que fabricava a Kodak, começou a produzir películas em rolos, feitas de niitrocelulose, ainda mais delgadas. Os herdeiros do rev. Hannibal Goodwin, que já havia patenteado a película em 1887, receberam 5 milhões de dólares como indenização da Eastman Co. O esforço não foi em vão: em 1902 ela fabricava de 80 a 90% da produção mundial de películas.

Uma idéia na cabeça, mil câmeras na mão

Pequenos retratos - Joseph Petzval, matemático vienense, um aficcionado de primeira hora da fotografia, foi o primeiro a dar uma solução para o retrato, grande ambição dos fotógrafos. Em 1841, antes mesmo da aceleração química da revelação das chapas de daguerreótipos, criou uma câmera de bronze que tirava fotos circulares, de 9 centímetros de diâmetro. Ela funcionava com uma objetiva combinada (dupla), que dava excelente definição, oferecia opções variáveis de abertura (máxima de f 3,5) e a exposição durava de 90 segundos a dois minutos.

Bagagem pesada - As câmeras para calótipos e daguerreótipos eram semelhantes, mas as primeiras possuíam um porta-placas interno para armazenar até dez folhas de papel, e cada folha caía num reservado inferior após ser exposta. O primeiro modelo especial para viajantes foi criado para Roger Fenton cobrir a Guerra da Criméia, em 1850.

As câmeras chegam ao público - Os primeiros equipamentos, na verdade, consistiam de câmeras escuras artesanais, em sua maior parte de madeira, feitas pelos próprios interessados e, geralmente, por artistas plásticos. Em Londres, Francis West começou a produzir câmeras para o chamado "desenho fotogênico". Para os daguerreótipos, Alphonse Giroux começou a vender várias unidades de sua câmera clássica parisiense, com duas caixas de madeira. A caixa posterior continha o vidro lustrado para focalizar, e deslizava para a caixa anterior, que continha a objetiva.

Maiores e menores - Logo nasciam as primeiras competições e concursos, e elas sempre davam ensejo a novidades inusitadas. Câmeras imensas que portavam chapas de 110 por 90 centímetros (feitas por John Kirble em Glasgow, 1860): cada placa de vidro pesava 20 kg. Paralelamente, desde a década de 50, se introduzia a estereoscopia, e a tendência de construir-se câmeras diminutas foi mais fértil, estendendo-se até o século XX. Em 1850, um inglês chamado Skaife criou uma pistola fotográfica, primeira versão de uma espécie de câmeras discretas (escondidas em guarda-chuvas, bengalas, chaveiros) que se tornariam uma febre no final do século, apesar da baixa qualidade dos resultados. Essas câmeras-detetive foram bem vendidas até o início do século XX. Mesmo na década de 1840, foram muito populares as câmeras de bolso que tiravam daguerreótipos de 8 x 11 milímetros, que tinham de ser observados com lente de aumento. Sinal de que os grandes formatos só tinham o caminho da ampliação para vingarem: na verdade, boa parte do público parecia ter grande interesse em experimentar o prazer de fotografar.

Os estereoscópios - A popularização da fotografia e o incremento das atividades comerciais deve-se muito aos estereoscópios. O estereoscópio binocular possibilitou exposições de frações de segundo, permitindo fotografar cenas em movimento. Eram feitas duas exposições seqüenciais que encantavam o público com uma incrível ilusão de profundidade. A própria Rainha Vitória aprovou entusiasticamente o invento em 1851, e no ano seguinte ele ingressou nos Estados Unidos, onde foi vendido de porta-em-porta e dizia-se que "não havia um lar sem um estereoscópio".

Ampliadores - A mais conhecida das câmeras pequenas foi a criada por Adolphe Bertsch em 1860, a chamada "câmera automática": um caixotinho de 10x10 centímetros com foco fixo, que produzia negativos 6x6 para serem ampliados em até dez vezes. A ampliação até aquele momento requeria horas de sol sobre um papel de enegrecimento direto, por isso era pouco praticada. Bertsch reduziu esse tempo com um condensador duplo.

Fim de século - Com a introdução da gelatina seca, as variedades de câmeras foram lentamente se reduzindo e se adaptando ao novo suporte. Entre 1880 e 90, três tipos de câmera eram majoritárias:

Filme em rolo - Em 1888, George Eastman lançou a primeira Kodak com filme de rolo. Uma caixa de madeira com 16x9x9cm, com objetiva retilínea de foco fixo que dava definição nítida de qualquer objeto situado a mais de 3 metros, diafragma e velocidade fixos - e o maior atrativo, que impossibilitou a concorrência, a inovação expressa no slogan da Kodak: "Aperte o botão e nós faremos o resto". Levava-se a câmera à fábrica e ela revelava o filme.

Século XX - Dois caminhos para as câmeras esboçaram-se no início do século. Com a produção de filmes de 35mm para a indústria cinematográfica, surgiu uma grande variedade de câmeras que se utilizavam desse formato, uma solução econômica para os usuários. E a supremacia da Eastman sobre a película de nitrocelulose em rolo fez com que surgisse câmeras para chapas (películas cortadas). Na Alemanha, onde a produção cinematográfica era intensa, surgiram modelos que marcariam a história das pequenas câmeras, e que aproveitaram a tradição de precisão óptica dos fabricantes do país, respeitada há séculos. A hegemonia alemã na indústria óptica começou no início da Idade Moderna, com a construção de lunetas, telescópios e microscópios, por vezes fornecendo lentes para toda a Europa. No campo fotográfico, essa fama estabeleceu-se com a objetiva Tessar, de 1902, e consolidou-se com as lentes usadas na Leica e na Rolleiflex.

35mm - A Minnograph, criada por Levy-Roth em 1914, tirava 50 fotos de 18x24mm, e tinha as dimensões externas de 5x6x13cm, muito semelhantes às da futura Leica. A primeira Leica surgiria no mesmo ano de 14, desenhada pelo construtor de microscópios Oskar Barnack para a casa Leitz, de Wetzlar. Mas a Leica demoraria dez anos para se aperfeiçoar devido ao início da I Guerra Mundial e a inflação que a ela se seguiu na Alemanha, prejudicando a indústria de modo geral.

A Leica se afirma - Em 1924 ela iniciava sua trajetória: era a primeira câmera miniatura a vir com telêmetro acoplado à sua objetiva Elmar, de excelente definição, com abertura máxima de f3,5. O poder de resolução era incomparável: como ressaltam Helmut e Alison Gernsheim, elevou as câmeras miniaturas a "verdadeiros instrumentos de precisão". Isso foi percebido a partir de 1931, quando os reveladores de grão fino reduziram a granulosidade dos filmes rápidos, assegurando boas ampliações.

Rolleiflex - Em 1929, a Frank & Heidecke, de Braunschweig, lançou a Rolleiflex, a precursora de inúmeras reflex de duas objetivas e filme de rolo, que logo sofreu uma inovação que a tornou muito popular, a possibilidade de troca das lentes para mudança de distâncias focais.

Grandes formatos - Em 1924, antes da difusão da Leica, foi uma câmera de chapas que facilitou a vida dos fotógrafos que queriam uma câmera rápida. A Ermanox, lançada pela casa Ernemann de Dresden, traziam objetivas potentes (f1.8 e f.2.0) que levavam chapas pancromáticas de 4,5x6cm e, com um pouco de luz, permitia fotografar interiores, e foi utilizada pelos primeiros repórteres fotográficos, como Erich Salomon e Felix H. Man. Outra câmera reflex muito conhecida, anterior à II Guerra, também era alemã: a Reflex Korrelle. Depois da guerra, todas perderiam fama e espaço para a sueca Hasselblad, de Gotemburgo, que acomodava chapas de 6x6cm em compartimento intercambiável.

Profissionais e amadores - A fotografia, desde o final do século XIX, consolidou-se como o meio tecnológico de expressão mais popular e acessível da história. Ao lado das câmeras profissionais, foram desenvolvidos modelos práticos, as chamadas câmeras automáticas, que progressivamente foram eliminando "requintes" como a abertura do diafragma e o tempo de exposição, permitindo que a atividade fotográfica fosse dissociada do conhecimento da luz e do processo fotográfico. No entreguerras, a mais difundida dessas câmeras foi a Optima, fabricada pela Agfa. Em 1947 surgiu a primeira Polaroid, criada por Edward H. Land nos EUA, permitiu que um positivo fosse obtido em 60 segundos após a exposição, revelando o papel dentro da própria câmera e aproximando a fotografia de uma brincadeira de criança, lúdica e divertida.

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