FORMAÇÃO DO ESTADO DE GOIÁS

   A primeira bandeira, considerada oficial, que teve o objetivo de procurar ouro onde hoje é o Estado de Goiás, iniciou a sua busca em 1722, e foi formada por três paulistas de Santana de Parnaíba. Eram eles Bartolomeu Bueno da Silva (Anhanguera - filho), João Leite da Silva Ortiz e Domingos Rodrigues do Prado. Essa primeira expedição durou três anos, quando então retornaram a São Paulo. Dela pode-se dizer que foi um sucesso, já que em 1726 Bartolomeu voltava a Goiás, levando com ele uma comitiva ainda maior que a primeira. Foi a partir dessa segunda bandeira que iniciou-se o processo de povoamento do estado, estabelecendo-se a comitiva nas terras banhadas pelo Rio Vermelho, iniciando a prospecção de ouro nos seus córregos e afluentes. Não demorou muito tempo para que chegassem vários mineradores e escravos, as plantações começam a aparecer, assim como os centros de garimpo e depois os arraiais. Já em 1727, às margens do Rio Vermelho, é fundado o Arraial de Sant'Anna, que mais tarde seria a capital (hoje esse arraial é a cidade de Goiás). Nessa época a região passa a ser conhecida como "Minas dos Goyazes". Outros arraiais foram surgindo ao longo dos locais de prospecção, como o de Santa Rita, Batatal.

Em 1731, Manuel Rodrigues Tomar, funda o Arraial de Meia-Ponte, localizado próximo à Serra dos Pirineus, do qual a atual Jaraguá já fez parte.
A partir de 1730, os bandeirantes espalham-se pelo norte do estado, e várias minas são encontradas (Água Quente, Traíras, Cavalcante,São Félix), muitas delas localizadas onde hoje é o Estado do Tocantins).

À oeste, é fundada em 1734,o Arraial de Crixás, por Domingos Rodrigues do Prado, genro de Bartolomeu Bueno. Após 1740 surgem as minas do Carmo, Santa Luzia e Cocal, que são consideradas as últimas grandes minas descobertas no século XVIII. A última grande mina de ouro descoberta em Goiás ocorreu já em 1809, onde hoje é a cidade de Anicuns.

RESUMO HISTÓRICO DE JARAGUÁ

   A ocupação da área onde se situa o município de Jaraguá remonta às primeiras décadas do século XVIII, sendo provavelmente posterior à fundação do Arraial de Meia-Ponte (1727) e de Santa Rita da Anta (1729).

   As notícias da existência de ouro atraíram aventureiros de arranchamentos próximos e distantes, levando à formação de um pequeno povoado chamado Córrego do Jaraguá, que foi assim denominado por localizar-se ao sopé de uma montanha semelhante ao Pico do Jaraguá em São Paulo e por ter o mesmo tipo de ouro, chamado ouro de grupiara. Este pequeno povoado foi edificado junto a um córrego com água abundante, o qual foi posteriormente chamado Rio Pari, nome esse dado por causa de um pari de peixes ali construído.

   Este primitivo povoado tinha a Igreja de São José, feita de taipa de pilão, o cemitério e as casas, e crescia estrategicamente no caminho entre Vila Boa e Meia-Ponte. Apesar dessa posição estratégica, o local apresentava-se insalubre, já que nas enchentes o Rio Pari deixava as várzeas às suas margens encharcadas e propícias à infestação de insetos e outros animais. Por essa razão planejou-se mudar o arraial para um lugar mais seco e alto, do outro lado da Serra, a uma légua de distância, onde construíram a Igreja de Nossa Senhora da Penha em um largo, com ruas retas, sendo que a primeira rua chamou-se Rua Direita, uma tradição religiosa da colonização portuguesa.

   No ano de 1748 a nova igreja já estava pronta, com cinco altares, todos ornamentados com ouro e prata. A terceira igreja foi a de Nossa Senhora do Rosário, erguida em 1776 e tinha três altares. A quarta capela foi construída a partir de 1828, em homenagem a Nossa Senhora da Conceição.
Em 1803 chega ao Córrego do Jaraguá o padre Silvestre Álvares da Silva. Em outubro de 1833 a Igreja Nossa Senhora da Penha é elevada à condição de Matriz. Em primeiro de julho de 1833, pelo Decreto número 8, o arraial Córrego do Jaraguá foi transformado em Vila, recebendo a denominação de Nossa Senhora da Penha de Jaraguá.

   Em 29 de junho de 1882, pela Lei Provincial nº 666, a Vila foi elevada à categoria de Município com a denominação de Jaraguá, desmembrando-se de Pirenópolis.

   No decorrer do século XX, mais precisamente a partir dos anos 50, com a política nacional de integração, o Estado de Goiás, e por conseqüência Jaraguá, foi contemplado com um pacote rodoviário, mais precisamente com a construção de um eixo viário fundamental, a BR-153- mais conhecida como Belém-Brasília- que cortou o município de Jaraguá e tornou possível sua integração inequívoca ao contexto econômico e social do Estado e do Brasil.


O OURO, JARAGUÁ E SUA FUNDAÇÃO

   Já começamos aqui com uma polêmica: Quem seria o descobridor das minas de ouro de Jaraguá ? Alguns citam Manuel Rodrigues Tomar como sendo essa pessoa, o mesmo que fundou o Arraial de Meia-Ponte e que fazia parte da bandeira do Anhanguera. Outros citam algumas fontes, como "A Notícia Geral da Capitania de Goiás", uma coleção de documentos sobre Goiás, que diz que negros faiscadores fundaram Jaraguá. Colocamos abaixo a opinião da historiadora Lyz Elisabeth Amorim em relação ao assunto :

"Quanto à atribuição do descobrimento de Jaraguá a Manuel Rodrigues Tomar, considero que o fato tem significação por ter sido guardado pela memória popular. A favor desse argumento há o fato de que muitos bandeirantes integravam a comitiva de Bueno e vários outros se seguiram a essa memória popular. Também, devido à proximidade da Meia-Ponte (comprovadamente descoberta por Tomar), podemos considerar que quem descobriu uma mina (Meia-Ponte) também descobriu a outra (Jaraguá).

   Ademais, um dos rios que corta Meia-Ponte (Rio das Almas) chega até as proximidades de Jaraguá... Podemos considerar que Tomar tenha chegado ao Meia-Ponte e, seguindo o Rio das Almas, tenha avistado a Serra de Jaraguá e iniciado ali o povoado".

   Por outro lado, a mesma historiadora demonstra um outro raciocínio perfeitamente possível: "... Pesquisas arqueológicas mostram que Jaraguá teria nascido no sopé da Serra, mais para oeste, nas proximidades do Rio Pari. Posteriormente, teria sido o pequeno Arraial transferido para o lado leste da Serra, este sim mais próximo do Rio das Almas. A preservação do nome de Manuel Rodrigues Tomar na memória do jaraguense pode-se ligar, ainda, ao temperamento de Tomar. Registros históricos tratam-no como um homem valente, irrequieto, não acomodado às condições impostas. Sua personalidade concorreu para a formação de um mito em torno do seu nome". Com esses dois diferentes pontos- de- vista, a polêmica persiste: Quem realmente fundou a cidade de Jaraguá ?


ALGUNS DOS PRIMEIROS HABITANTES DE JARAGUÁ

   Um de seus primeiros habitantes foi Urbano do Couto, que em 1722 acompanhou Bartolomeu Bueno da Silva e escreveu um roteiro da primeira viagem oficial do Anhanguera à Goiás. A "Notícia Geral da Capitania de Goiás em 1783", em alguns de seus trechos, cita uma bandeira formada em Jaraguá, financiada por Francisco Soares de Bulhões e guiada por pessoas que foram indicadas por Urbano do Couto.

   Francisco Soares de Bulhões, que residia em Jaraguá, é considerado um dos mais importantes bandeirantes goianos. Utilizando o roteiro de Urbano do Couto, organizou uma expedição para procurar ouro. No entanto, encontrou o metal em uma zona considerada proibida e retornou de mãos abanando, porém como forma de recompensar a sua lealdade, foi nomeado pelo Rei de Portugal "Capitão da Cavalaria do Córrego do Jaraguá".

Antônio Félix de Souza, tenente-coronel, foi juiz de Jaraguá e sua assinatura pode ser encontrada na abertura dos livros cartoriais, como juiz da Comarca do Rio das Almas. Casado com Josefa Cândida Xavier, tinha entre seus filhos Inácio Soares de Bulhões (nome em homenagem ao tio-avô), o qual foi patriarca do chamado "clã bulhônico", que teve efetiva participação na política do estado nos anos 70 do século XIX até os anos 20 do século XX. Uma filha de Antônio Félix, Maria Bárbara Félix de Souza, casou-se com Diógenes Gomes Pereira da Silva, integrante de família que teve participação política em Jaraguá nos séculos XIX e XX. Ele foi Presidente de Jaraguá quando o povoado foi elevado à cidade, e depois exerceu mandato de Intendente do Município entre 1896 e 1898.


MODO DE VIDA DOS ANTIGOS HABITANTES

   Segundo Maria Helena de Amorim Romacheli, em seu livro "História de Jaraguá", não havia qualquer luxo, eram hospitaleiros, recebendo o visitante com café servido por um criado, e semelhante ao costume oriental, as mulheres se recolhiam a seus aposentos. Estas quando iam às festas religiosas, ao se acomodarem, retiravam seus sapatos, já que não estavam acostumadas a eles. Essa peculiaridade foi observada por Saint Hilaire (autor do relato "Viagem à Província de Goiás", que descreve sua passagem por Goiás nesta época) na Igreja N.Sra.da Penha. As festas religiosas tinham uma grande importância, como as ladainhas, novenas, missas solenes, procissões, foguetórios, levantamento de mastro, Folia do Divino Pai Eterno, as quais eram realizadas nas ruas da cidade ou nas fazendas. Havia ainda lugar para as festas profanas, como a Entrada da Rainha, coroação do imperador, congada, bando, Moçambique, faieira, tapuios, coroação do rei congo, e as cavalhadas.

   As moradias eram simples e baixas, com poucos casarões, onde moravam os mais abastados. O mobiliário do homem comum era simples, alguns utensílios em cerâmica, o pilão que não podia faltar, o pote onde conservava-se a água fria, a cuité ou cuia para dela beber, o banco largamente usado como assento, poucas cadeiras, uma mesa grande onde a família se reunia à noite às voltas da candeia de azeite, para contar seus "causos", poucas vasilhas de metal ou louça, que eram importadas da Europa. Existia ainda o fogão alisado com tabatinga branca que dava um visual agradável contra a fuligem nas paredes e telhas, o desencaroçador de algodão, a carda (pente para desembaraçar os fios de algodão, lã ou linho), o fuso, a roda de fiar e o tear para a confecção de quase todo tecido usado. A vestimenta diária era de tecidos fabricados ali mesmo, reservando os tecidos importados para as festas.

   O chão das casas era normalmente de terra batida, algumas vezes revestido de madeira, as portas e janelas muito altas, alcançando o teto em portais bastante grossos, algumas famílias mais abastadas podiam usar o vidro ou malacachetas nas janelas e mesmo grades de ferro. O açúcar era feito nos engenhos da região, e o sal era um artigo muito caro, o que contribuía para um alto índice da doença conhecida como bócio, causada pela deficiência do iodo presente no sal. As camas eram rústicas, com o estrado feito com couro de animal e sobre ele um colchão feito de capim ou palha de milho, os travesseiros com sementes das paineiras ou penas. Fazia parte da mobília do quarto uma caixa grande de madeira, com pés, às vezes revestida com couro e adornadas com cravos metálicos. O urinol era indispensável debaixo das camas, já que na época não existiam ainda os banheiros.

   Nas fazendas existia o engenho para a fabricação do açúcar e da aguardente, a prensa de massa para a fabricação da farinha de mandioca, o carro de boi para o transporte em geral, o monjolo onde se triturava o cereal, os jacás feitos de fibras de bambu onde se carregava e media a colheita, os arados puxados a boi.

   A forma de se comercializar os escravos era no mínimo curiosa, o interessado ia até a casa de quem os tinha, era feito o negócio, e o comprador já levava o escravo, como se faz hoje com uma mercadoria qualquer.

   O concubinato era muito comum, em geral os desbravadores vinham sem família, e com a falta de mulheres brancas juntavam-se com as nativas e mestiças, gerando famílias que eram bem aceitas pela sociedade.
Um costume curioso enquanto durou o apogeu do ouro (até 1778) era o das moças em salpicar pó de ouro nos cabelos para irem às festas.

   As lojas daquela época vendiam de tudo um pouco: lã, seda, louças, armas e sal importados, aguardente, toucinho, fumo, feijão, carne, café, rapadura, tecido de algodão, açúcar, papel, chapéu, etc.

 
 

 

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