Pressupostos filosóficos

Luiz Carlos Neitzel

Todo projeto educacional exige uma demarcação da concepção de aprendizagem com a qual pretende-se trabalhar, pois esta questão desencadeará uma série de desdobramentos. Fizemos a opção pela concepção sócio-histórica da aprendizagem (sociointeracionista), escapando da visão do conhecimento como algo abstrato, erudito que precisa ser apreendido para que o homem seja considerado como tal em seu meio.

O projeto apoia-se na idéia vygotskiana de que todo indivíduo possui uma maturação espontânea, tendo em vista que para a aprendizagem ocorrer efetivamente há a necessidade do respeito aos estágios de desenvolvimento intelectual do indivíduo. O desenvolvimento do sujeito ocorre como um processo aspiral gradual e ascendente, necessitando apenas acordar as competências nele adormecidas.

Esse despertar dá-se por rupturas e desequilíbrios provocados por novas situações, "a partir das constantes interações com o meio social em que vive" (REGO, 1995, p. 60-61). Para tal, busca-se a fusão do trabalho sistemático, dos conceitos científicos pré-estabelecidos, com o trabalho construído segundo a observação e manipulação direta dos dados.

O conceito não é aprendido por um processo mecânico, seguindo uma via tortuosa, mas o caminho é construído de acordo com os erros, rupturas e contradições. Busca-se a elisão da transmissão de conceitos de forma direta, a repetição programada, a simulação inócua. O obstáculo, o desafio, serão os mecanismos que estimularão os adolescentes a internalizar o conhecimento, e torná-lo importante fonte de promoção, pesquisa e desenvolvimento.

Essa atividade requer operações intelectuais como capacidade de análise, comparação, diferenciação, atenção, memória, etc., e o travejamento dessas é a investigação, suscitada pelos erros os quais despertam a curiosidade do sujeito e o impulsionam à resolução do problema.

Pensamos por isso, que há a necessidade de criar situações em que o indivíduo seja instigado a construir seu conhecimento, circunstâncias em que ele precise fazer escolhas diante de problemas que surgem espontaneamente e não criados num clima artificial. Prezamos por um espaço em que o professor não assuma a posição de concentrador do saber, mas do sujeito que proporciona um espaço democrático e aberto. Esse espaço distancia-se daquele em que geralmente nos colocamos em sala de aula: ditadores de um conhecimento que somente nós podemos disseminar.

Muitas são as teorias que prevêem esse tipo de relação entre docente e discente, entretanto, na práxis, o HARPER, Babette et alii. Cuidado, escola! desigualdade, domesticação e algumas saídas. 23ª ed. Brasiliense, 1986.professor mantém-se ainda na cátedra, ditando os conteúdos autoritariamente, mudando apenas os meios com os quais disponibiliza ou sociabiliza esses conhecimentos. A utilização das tecnologias, do livro ao computador, dá-se ainda num clima de transmissão de conteúdos preparados pelo educador, como ser onipresente e onipotente, ainda no centro do processo.

Pensamos que a função do professor deva ser a de oportunizar movimentos que encaminhem o educando ao seu desenvolvimento potencial. Seu papel é o de mediador das atividades. Para tal, os conteúdos trabalhados nascem da necessidade que o educando encontra ao tentar realizar sua tarefa.

Esse projeto não visa apenas proporcionar oportunidades de aquisição da tecnologia com o intuito de melhor preparar os estudantes para o campo de trabalho, pois isso as escolas de informática já o fazem com competência. Ele pretende, além de oportunizar caminhos de apropriação da técnica e de maneiras científicas de pensar, suscitar nos estudantes a curiosidade pela leitura, oferecer a vivência de outras experiências que a escola geralmente não disponibiliza aos discentes (como o contato com o autor do texto), proporcionar um espaço onde a criação e a imaginação podem habitar.

A comunicação é o centro do processo. Todos escrevemos, falamos, gesticulamos impulsionados pelo desejo de nos comunicar. Trabalhamos diariamente com signos verbais e não-verbais. Eles colaboram não só para o desenvolvimento e de nossas funções e expressões intelectuais, mas também no desenvolvimento de funções sociais. A construção de homepages insere todos numa esfera interpessoal em que um sempre se vê em relação com o outro, numa enorme teia comunicacional.

O conteúdo do saber escolar tradicional não é relevado ao esquecimento, mas é aproveitado como uma etapa importante na formação integral do homem. Para tal, propomos que seja conjugado com outras práticas e sempre num clima de construção coletiva. Mais do que estabelecer ou instigar querelas entre as modernas e as tradicionais práticas pedagógicas, propomos uma fusão, um aproveitamento de ambas. HARPER, Babette et alii. Cuidado, escola! Desigualdade, domesticação e algumas saídas. 23ª ed. Brasiliense, 1986.Mas isso só será possível se o professor questionar-se sobre sua ação pedagógica, e mostrar-se aberto para novas experiências. Não podemos continuar num ostracismo. A escola precisa acompanhar as mudanças. Estamos inseridos num processo gigante de comunicação.

O respeito à autonomia do trabalho estudantil será um dos eixos desse projeto, pois a ação educativa será uma somatória do que o aluno deseja fazer colocado sempre diante do desafio do como fazer. A aprendizagem nascerá da dúvida e das tentativas de acertos. Os erros serão vistos como etapa do processo de maturação e sedimentação, não como um contra-valor.

Quando falamos em autonomia não esquecemos das dificuldades que o professor encontra de trabalhar com classes heterogêneas, cujos indivíduos estão envolvidos num processo não uniforme de aprendizagem. Pela forma como nos colocamos frente ao ensino-aprendizagem, o tempo de maturação e sedimentação do conhecimento de cada indivíduo não é respeitado, nem suas atividades são julgadas de acordo com suas possibilidades.

Exigimos que todos empreendam o mesmo tempo na aprendizagem e que alcancem os mesmos resultados. Aqueles que fogem desse quadro são considerados como inaptos para tal. Esquecemos que todos são capazes de aprender, mas o tempo de sedimentação desse conhecimento dá-se em discordância.

Propomos então, um projeto que respeite essas diferenças e resguarde o educando do compromisso com o sucesso. Um espaço onde é permitido, sobretudo, errar. Um espaço onde a imaginação e a criatividade poderão brotar sem resistências. Um lugar para intervir, construir, compartilhar.

Bibliografia básica:

REGO, Teresa Cristina. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação. 4ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.

SANTA CATARINA, Secretaria de Estado da Educação e do Desporto. Proposta curricular de Santa Catarina: Educação Infantil, Ensino fundamental e médio: disciplinas curriculares. Florianópolis: COGEN, 1998.

 

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Última atualização: 10/06/01 01:32:50

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