JUBILEU - ISRAEL 50 ANOS


" Quem jamais ouviu tal coisa? Quem viu coisa semelhante? Pode, acaso, nascer uma terra num só dia? Ou nasce uma NAÇÃO de uma só vez? Pois Sião, antes que lhe viessem as dores, deu à luz seus filhos. " (Isaias 66:3)


Jerusalém, em 30 de abril de 1998 (4 de Iyra de 5758), por
ocasião da abertura das festividades do Iom Haatzmaut
(O Dia da Independência) - Jubileu do 3º Estado Judeu

SELEÇÃO DE NOTÍCIAS PUBLICADAS NA SEMANA DO CINQÜENTENÁRIO DE ISRAEL (Fonte: canal.oglobo.com.br):

Aniversário marcado por divisões

Jerusalém

Israel celebrou seu cinqüentenário com festas nas ruas, cerimônias solenes e exibições de força militar, mas o júbilo do povo judeu pelos 50 anos da realização do sonho de ter novamente uma pátria foi obscurecido por uma nuvem de incerteza que paira sobre o país. Enquanto a maioria dos israelenses festejava, os ultra-ortodoxos protestavam contra a existência do Estado de Israel, os palestinos lamentavam meio século de exílio e os pacifistas iam às ruas contra a expansão de assentamentos judaicos nas áreas árabes.

A festa começou cedo, com centenas de milhares de pessoas em todo o país se dirigindo a parques, praias e áreas de piquenique, depois de uma noite de dança nas ruas. Em Tel Aviv, uma multidão se acotovelou na avenida litorânea para ver manobras da Marinha e o show da Força Aérea com exibições de helicópteros, aviões de combate e pára-quedistas, que se repetiram em outras cidades. Aviões de acrobacia riscaram o céu com fumaça azul e branca, as cores de Israel.

Em Jerusalém, o grupo de dança Bat Sheva retirou-se do principal show de celebração do cinqüentenário em protesto contra a exigência de legisladores ultra-ortodoxos de que seus membros usassem roupa mais recatada.

O vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, uma das poucas personalidades internacionais presentes aos festejos, rendeu um tributo ao país: "Estamos com vocês. Apoiamos o seu sonho. Em Israel, vemos o reflexo da nossa própria herança, da nossa própria luta pela liberdade e o direito de viver em paz e em segurança." - disse.

Paz e segurança, no entanto, parecem cada vez mais distante da realidade israelense. Há meses as negociações de paz com os palestinos estão emperradas, com os dois lados responsabilizando-se mutuamente pela situação. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que se nega a retirar as tropas israelenses de mais 9% do território da Cisjordânia (Arafat já aceitou a proposta americana de 13%), reiterou ontem que Israel nunca aceitará a criação de um Estado palestino. E explicou: "É por causa das associações com a palavra Estado, que implicam que tal Estado poderia desenvolver um poder militar forte, um exército com mísseis, metralhadoras e foguetes nas colinas sobre Tel Aviv." - justificou.

O ex-primeiro-ministro Shimon Peres, derrotado nas eleições de 1996 e um dos promotores dos acordos de paz de Oslo em 1993, entrou em rota de colisão com Netanyahu: "Acho que para o futuro de Israel e para que Israel continue sendo um Estado judeu necessitamos de um Estado palestino - disse em entrevista à rede de TV britânica BBC."

O presidente de Israel, Ezer Weizman, um dos arquitetos da paz com o Egito em 1979, afirmou que árabes e judeus devem encontrar uma fórmula de coexistir: "A paz não deve se edificar de acordo com quantos tanques temos e quantas pistolas eles têm, e sim pelo entendimento porque estamos destinados a viver juntos." - enfatizou.

Em Jerusalém, cerca de dez mil judeus ortodoxos e membros de grupos direitistas participaram de uma marcha até a colina de Har Homa (ou Jabal Abu Ghneim, em árabe), na parte árabe da cidade, onde puseram uma pedra fundamental com o objetivo de pressionar o Governo a retomar a construção de um assentamento judeu na área. Em protesto, 500 israelenses do movimentos pacifista Paz Agora e do partido Meretz, de esquerda, fizeram uma manifestação na colina, pendurando cartazes alusivos à paz num muro que delimita o assentamento. O início da construção de Har Homa em março do ano passado foi uma das causas do emperramento do processo de paz.

O presidente dos Estados Unidos, Bill Clnton, disse ontem que palestinos e israelenses estão mais perto do entendimento. Ele manifestou esperança de que nos encontros da secretária de Estado Madeleine Albright com Netanyahu e o líder palestino Yasser Arafat em Londres, na próxima semana, as duas partes cheguem a um acordo.


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Israelenses comemoram data com fogos e festas nas ruas.

JERUSALÉM. Os israelenses saíram às ruas ontem causando um gigantesco engarrafamento para celebrar os 50 anos de realização de um sonho de dois milênios: a criação de um Estado judeu. Além dos fogos de artifício, o som de 50 chofares, as tradicionais trombetas de chifre de carneiro, marcou o fim do período de 24 horas de homenagem aos 19 mil soldados caídos nas cinco guerras que o país lutou e deu início às festividades, que têm seu ponto máximo hoje, data oficial do aniversário. Israel foi fundado em 14 de maio de 1948, mas como é uma data móvel pelo calendário judeu, este ano a celebração caiu quase duas semanas mais cedo.

Uma cerimônia foi realizada ontem no Monte Herzl, onde estão sepultados os soldados mortos, os líderes do país e o pai do sionismo, Theodor Herzl, que iniciou no fim do século passado a luta por uma nova pátria para os judeus. Sirenes tocaram e o país guardou dois minutos de silêncio por seus mortos.

- Viva o Estado de Israel! - gritou o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, depois de ler trechos da Declaração de Independência de 1948, lida na ocasião pelo primeiro primeiro-ministro do país, David Ben-Gurion.

O presidente da Autoridade Palestina, Yasser Arafat, pediu ontem a Netanyahu que aceite a proposta dos Estados Unidos para retomar as negociações de paz, paralisadas há meses. Arafat disse aceitar a retirada de Israel de 13% do território da Cisjordânia, como foi proposto não oficialmente pelos EUA. Os acordos de paz de Oslo previam inicialmente uma retirada de 40%, reduzida depois para 30% e finalmente para 13%. Israel, no entanto, só quer devolver 9% da Cisjordânia. Na segunda-feira, Arafat e Netanyahu terão encontros em Londres com a secretária de Estado americana, Madeleine Albright.


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Israel debate sua história.

Deborah Berlinck
Enviada especial

JERUSALÉM. Aos 50 anos, Israel está passando a limpo seu passado e seus heróis. No acalorado debate que tomou conta do país sobre o papel que cada um teve na construção do Estado - alimentado por um documentário da televisão crítico à versão heróica dos sionistas - israelenses de várias tendências só parecem concordar com uma coisa: não existe verdade absoluta e o país é uma obra inacabada.

- Ainda estamos construindo a nação, a nossa História. Falam de ocupação dos territórios de Cisjordânia e Gaza. Mas que ocupação? Não somos anjos, mas estão esquecendo que fomos atacados pelos árabes por todos os lados? Que eles não aceitavam a nossa existência? É preciso reconhecer que há uma necessidade de defesa do país - diz o estudante Eyal, da Universidade de Jerusalém, que está se especializando em estudos sobre o Oriente Médio.

Já Tikva Honig-Parnass é uma mulher na contramão da História oficial. Membro da chamada "geração de 48" (os judeus sionistas que pegaram em armas pela criação de Israel), ela é vista hoje como uma espécie de bastarda do sionismo. Ativista de uma organização que prega o fim da ocupação israelense nos territórios árabes, essa doutora em sociologia de 69 anos, formada nos Estados Unidos, denuncia o que chama de "grandes mentiras" do ideal sionista e da História de Israel. Tikva nasceu na Austrália e chegou a Israel quase 20 anos antes da criação do Estado. Como todos os heróis da História recente do país, ela foi membro da Haganah, o primeiro grupo clandestino armado de defesa de Israel, criado em 1936. Depois entrou para o Palmach, braço militar do movimento sionista trabalhista. Mas hoje Tikva está convencida de que o modelo socialista dos sionistas não passou de um trampolim para um "nacionalismo orgânico, alimentado pela imagem de superioridade étnica e cujo principal objetivo era varrer os árabes das terras que Israel considera como suas historicamente". Há anos ela não freqüenta as festas de independência.

- O militarismo já estava profundamente arraigado em nós, e alimentou o mito de autodefesa de que um exército estava sendo formado para defender inocentes judeus do ataque inimigo. Na realidade, um exército estava sendo formado para cumprir o plano sionista de conquista de terras e expulsão dos palestinos - ataca.

Tikva diz hoje que, olhando para trás, fica impressionada com a total indiferença que tinha em relação aos palestinos que povoavam a região.

- Não me lembro de ter conversado uma só vez com palestinos - recorda.

Mas nada é preto no branco em Israel. O professor de economia David Leihavi, da Universidade de Jerusalém, de 63 anos, que percorreu o mesmo trajeto de luta de Tikva, tem uma leitura diferente da História. A guerra entre palestinos e judeus é real, diz ele, e já havia enfrentamentos antes mesmo da criação do Estado. Em 1948 ele morava num vilarejo perto de Tel Aviv. O pai produzia cítricos na fazenda da família. Lá, árabes e judeus se entendiam bem, mas fora dali estavam se matando:

- Entre 1936 e 1939, judeus e árabes estavam guerreando na maior parte da região. Na minha família, já em 1941 nos preparávamos para a guerra.

Ze’ev Begin, filho do ex-primeiro ministro Menahem Begin e hoje membro do Parlamento pelo Likud (o partido de direita do premier Benjamin Netanyahu), acha que a guerra não acabou.

"A ameaça que os judeus tiveram que enfrentar desde o nascimento do Estado ainda não desapareceu. Foi graças à força militar e política de Israel que convencemos o Egito e a Jordânia a assinarem tratados de paz. Mas a Síria continua a ser uma ameaça militar. Israel precisa investir mais em defesa", escreveu Begin num artigo. Para ele, Israel é hoje um exemplo de "democracia vibrante" no meio de uma região conhecida pelo autoritarismo. "Israel é o mais impressionante sucesso de História nacional do século XX", definiu.

Essa, no entanto, não é a opinião do imigrante argentino Sérgio Yahni , de 31 anos, em Israel desde 1979. Ele faz parte de um grupo de judeus anti-sionistas de esquerda chamado Matzpen. Israel, segundo ele, está longe de ser um Estado democrático "porque parte de um princípio excludente: discrimina quem não é judeu". Sérgio, como quase todo israelense, serviu o Exército. Ele foi enviado para o Sul do Líbano, que Israel ocupa até hoje, e não gostou do que viu:

- Havia tortura, favorecimentos, maus tratos. Não agüentei. Fui preso várias vezes porque me recusei a servir nos territórios ocupados - disse.

Toda essa querela histórica e ideológica passa quase despercebida por alguns jovens que circulam nas ruas de Jerusalém. Como diz Eva, de 16 anos.

- Israel é um país lindo. Temos muitas diferenças, mas quem não tem ? Somos um país normal. O que precisamos é nos comunicar mais.


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Árabes nascidos em Israel vivem em crise de identidade e se sentem excluídos.

Deborah Berlinck
Enviada especial

JERUSALÉM. Responda: "Quem é israelense? Quem nasceu em Israel, ou quem é judeu?" Mahmud Muhared fez a pergunta sem esperar resposta. Esse árabe nascido em Israel e com cidadania israelense tem a sensação hoje de que nasceu no lugar errado. Ele é um dos um milhão de palestinos-isralenses que estão de luto, hoje, aos 50 anos de criação do país.

- Sou israelense, mas de segunda classe. Celebrarei 50 anos de nekba (desastre, em árabe). Não temos os mesmos direitos. Os sionistas destruíram vilarejos e expulsaram árabes. Agora estão tentando contar nossa própria história sob sua ótica - afirma.

As raízes desse professor de ciência política da Universidade de Belém estão em Tel Aviv, onde foi anunciada a criação de Israel. Proclamada a independência, a família de Muhared foi forçada a sair dali, e ele nasceu em Jerusalém, quatro anos depois. Cresceu na cidade santa com passaporte de Israel sem saber exatamente o que é: um israelense de fato ou um palestino qualquer no país. As leis israelenses alimentam essa crise de identidade. Ao fundarem o país, os sionistas prometeram criar um estado democrático com direitos iguais para todos - judeus e não judeus. Mas as guerras e a histórica desconfiança em relação aos árabes fizeram com que Israel empurrasse os palestinos-isralenses para uma categoria à parte. A maioria de suas terras foi confiscada. Hoje, todos têm direito a voto, mas são dispensados da instituição mais sagrada do país: o Exército.

A discriminação não está escrita na lei, diz Morared, mas é visível: num país com as riquezas de uma capital européia, muitos bairros árabes de Israel não têm sequer água encanada, e as ruas são esburacadas. Em Jerusalém, é fácil saber exatamente quando se cruza a fronteira com os bairros árabes: tudo é sujo e pobre. Eles são apenas um quinto da população de Israel, mas constituem metade dos que vivem abaixo da linha de pobreza.

Mas Muhared, como muitos árabes-isralenses, diz que o seu destino não é numa Palestina independente: é dentro de Israel, "lutando por um estado verdadeiramente democrático, não guiado só por uma religião". Não é o caso de Ali, filho de imigrantes do Chade, na África, que nasceu em Jerusalém oriental (o lado árabe). Ele passou 17 anos na prisão depois de colocar cinco bombas no centro Tel Aviv, em 1968. Ali foi solto em 1985 em troca de três soldados israelenses capturados no Líbano. É um ex-terrorista assumido, que sonha com a partilha de Jerusalém. Hoje ele circula na cidade santa apresentando-se como guia turístico "alternativo": mostra o outro lado da História.

- Terrorista? E os palestinos massacrados pelos soldados israelenses? Cresci sendo perseguido e humilhado, até o dia em que senti que estava perdendo minha dignidade. Eu não agüentava mais, tinha que mudar a situação. Eu sonhava em ser doutor, mas minaram meu sonho - afirma.

Khaled Kurdy, um palestino de Jerusalém que teve uma das pernas destroçadas por uma bomba num atentado na cidade nos anos 70, torce o nariz quando ouve alguém mencionar a celebração dos 50 anos da criação de Israel:

- Yasser Arafat é um traidor. O que ele está entregando para os israelenses nenhum colaborador ou corrupto faria. A situação dos palestinos hoje está pior. Na época da Intifada, o mundo entendia porque lutávamos. Hoje o mundo joga o jogo de Israel, como se houvesse um processo de paz. Não há - diz.

Os palestinos da Cisjordândia e de Gaza são os que mais pretendem gritar hoje contra o que chamam de 50 anos de desastre. Na Cisjordânia, ainda existe um campo de refugiados de 1948: o campo de Kalandria, para onde foram alguns palestinos expulsos na época da criação de Israel. Uma verdadeira cidade cresceu dentro do campo. Hoje, como há 50 anos, seis mil pessoas continuam cercadas por enormes muralhas com arames enfarpados, na mesma condição: refugiados. Ironicamente, judeus ultra-ortodoxos também planejam sair em protesto nas ruas do bairro religioso de Mea'She'arim, em Jerusalém, convencidos de que a criação de Israel é uma obra do diabo, já que um estado judeu, para eles, só pode existir quando o Messias voltar à terra santa.


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Armados à espera do Messias.

Deborah Berlinck
Enviada especial BEITEL, Cisjordânia

O lugar parece um bunker. Um batalhão do Exército israelense, com soldados armados até os dentes, vigia dia e noite dois portões que mais parecem barricadas de guerra. Bem-vindo à Cisjordânia. Cruzando-se o portão, nessa terra incustrada na periferia de Ramalá, a terceira maior cidade palestina do território ocupado por Israel, vivem 600 famílias de judeus ortodoxos, cercados de árabes por todos os lados (dois milhões em toda a Cisjordânia).

Eles estão dispostos a pôr suas vidas - e a paz - em risco em nome da Torá (livro sagrado), convencidos de que estão cumprindo uma promessa divina de construir Eretz Israel - a Grande Israel, que incluiu toda a Cisjordância, isto é, toda a terra reivindicada pelos palestinos. O colono Yoel Tzur, como todos ali, está armado à espera do Messias, e diz que quando ele chegar, a Grande Israel vai emergir para dar o exemplo moral aos árabes e ao mundo. Existem mais de 120 mil colonos judeus morando nos territórios palestinos ocupados por Israel. Dois terços deles estão ali por motivos econômicos. Comprar um apartamento nos territórios é bem mais barato do que em Tel Aviv e durante décadas, os sucessivos governos de Israel gastaram milhões para incentivar as pessoas a ocuparem essas terras.

Mas há uma minoria religiosa de colonos, como Yoel, que diz estar ali por ordem divina. No início do processo de paz, quando os trabalhistas governavam o país, os incentivos para ocupação das terras palestinas foram congelados. Agora que os partidos religiosos estão no poder - são parceiros na coalizão de Benjamin Netanyahu - os colonos religiosos puseram os tratores nas ruas da Cisjordânia e estão se expandindo. Eles recebem ajuda de várias organizações, inclusive do exterior, e de milionários como o americano Irving Moskowitz.

- Olhe para aqui, agora para ali. Eles estão crescendo por todos os lados. Como podemos ter paz assim? Jerusalém Oriental (onde estão os palestinos) já está praticamente cercada pelas construções dos colonos -- protesta o palestino Khaled.

Em Beit El, os religiosos construíram uma cidade à parte: as mulheres andam com turbantes e cobertas da cabeça aos pés.

- Isso aqui é um paraíso. As crianças brincam tranqüilas. As portas das casas ficam abertas. Não há roubos - diz Esther, uma judia argentina há 20 anos em Israel, indiferente ao fato de que a tranqüilidade de sua família só é possível às custas de um batalhão do Exército na porta.

Yoel é, indiscutivelmente, o líder de Beit El. Dono de um posto de gasolina, ele é general do Exército israelense. Há uma linha de ortodoxos que não reconhece o Estado de Israel, porque acredita que a nação judaica só será criada no dia em que o Messias voltar à Terra Santa. Yoel representa a outra linha: a que diz que os judeus devem lutar, ocupar e preparar a terra primeiro, para que o Messias volte. O que guia a vida dele é a Torá e o rabino Abraham Itzak Kuk, guru espiritual de vários extremistas religiosos. Filho de imigrantes austríacos, Yoel foi um dos pioneiros na construção de Beit El, em 1978. Aos 48 anos, ele nada tem do estereótipo de um ultra-ortodoxo: veste jeans e não usa solidéu. Yoel convidou um palestino que trabalha com ele a se sentar na sala para contar o quanto é bem tratado pelo chefe. Yoel disse nada ter contra árabes "como pessoas". Diante do empregado palestino, entretanto, descrevia os árabes como pessoas que "só sabem viver sob ditadura".

- É preciso aceitar um fato: nós, judeus, somos o povo eleito. Está escrito por Deus. Temos que dar exemplo de moralidade ao mundo, sobre como se comportar com as mulheres, o próximo, e como fazer justiça - diz. Sua mulher e um filho de 12 anos morreram há um ano, a caminho de casa, fuzilados por terroristas palestinos. Yoel hoje cuida dos outros seis filhos. A tragédia familiar confirmou sua tese de que os palestinos não podem ser sócios dos judeus num acordo de paz.


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Sacrifícios na viagem para a Terra Prometida.

Flávio Henrique Lino

Terminada a Segunda Guerra, cerca de cem mil judeus vagavam pela Europa à procura de remanescentes de suas famílias destroçadas pelo conflito. Na volta para casa, muitos descobriram que já não tinham mais um lar, que era impossível retomar a vida onde ela havia parado quando começara o pesadelo nazista. Tanto eles quanto muitos dos judeus poupados dos horrores dos campos de concentração chegaram à conclusão de que a Terra Prometida, de onde seus antepassados foram expulsos dois mil anos antes, era o único lugar onde poderiam estar seguros de futuras perseguições. Vendendo o que ainda tinham, carregando o que podiam, os sobreviventes do Holocausto partiram para reconstruir a vida na terra que só conheciam em suas orações.

A viagem para o novo lar, porém, não foi sem obstáculos. Já antes da guerra, os esforços da Agência Judaica em aumentar a imigração de judeus para a Palestina esbarravam na oposição da Grã-Bretanha, que exercia um mandato sobre a região. Para não desagradar aos países árabes produtores de petróleo - temerosos de que os judeus se tornassem numericamente superiores - o Governo britânico estabelecera cotas de imigração, obrigando a Agência Judaica a organizar viagens clandestinas. Durante a guerra, a maioria dos imigrantes ilegais entrou por rotas terrestres pelo Oriente Médio.

Depois de 1945, a Agência Judaica começou a fretar e comprar navios para levar os refugiados em operações de grande escala à Palestina, desafiando a Grã-Bretanha, que mantinha a Marinha Real vigiando o Mediterrâneo Oriental. De 1945 a 1948, 65 navios se dirigiram à Palestina com imigrantes ilegais, entre eles o "Êxodus", cuja saga virou tema de livro e filme mais tarde. De fevereiro de 1946 a fevereiro de 1948, os ingleses interceptaram 47 barcos, internando 65 mil judeus em campos de concentração em Chipre.

- As condições nos campos eram muito ruins. A gente passava fome e vivia cercado de arame farpado - relembra Azaria Paz, de 67 anos, que passou vários meses internado em Chipre.

Nascido em Iasi, na Romênia, ele sobreviveu à guerra por sorte. Metade dos cem mil judeus de sua cidade foi enviada para os campos de concentração ou massacrada pelos nazistas.

- Um dia, chamaram todos os judeus à Prefeitura para que tirassem novos documentos. Quando eles chegaram lá, foram mortos ou presos. Minha família e muitas outras desconfiaram da convocação e ficaram em casa. Graças a isso nos salvamos - conta.

Depois da guerra, aos 16 anos, ele decidiu emigrar com o irmão mais novo, de 11 anos, e os dois incorporaram-se a uma leva de dez mil judeus que seriam levados à Palestina em dois navios fretados pela Agência Judaica. Na última hora, porém, os ingleses souberam da expedição e pressionaram o Governo americano, que tinha influência sobre a Agência Judaica, a tentar impedir a sua realização.

A viagem foi cancelada, mas os líderes judeus locais, já com tudo pronto para partir, decidiram seguir adiante com os planos.

Logo que passaram pelo Estreito de Dardanelos, na Turquia, os dois barcos que conduziam os refugiados foram interceptados por três navios de guerra britânicos e levados a Chipre.

- Em fevereiro de 1948, eles nos deixaram partir. Chegamos a Haifa de barco e fomos imediatamente transportados para o Sul, em carros blindados porque já havia luta. Em maio, me levaram para um kibutz subterrâneo no Deserto de Neguev, cercado por tropas egípcias. Cruzamos as linhas egípcias num comboio à noite sem sermos descobertos. Duarante a guerra, eles nos bombardeavam e nós bombardeávamos de volta, mas os egípcios não chegaram a tentar tomar o kibutz - conta Paz, hoje professor de ciência da computação no Instituto Israelense de Tecnologia, em Haifa.

Ao todo, de 1934 a 1948, cerca de 115 mil imigrantes judeus entraram em Israel clandestinamente.


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Um Estado em pé de guerra.

Deborah Berlinck
Enviada especial


Judeus e árabes já lutavam palmo a palmo pela terra quando, em 14 de maio de 1948, foi proclamado o Estado de Israel na área destinada aos judeus pelo plano de partilha da Palestina, da ONU. No dia seguinte, Israel foi invadido por Egito, Síria, Transjordânia (atual Jordânia), Líbano e Iraque. Uma trégua obtida pelo mediador da ONU, conde Folke Bernadotte, favoreceu Israel. Golda Meir, uma das fundadoras do Estado, levantou US$ 50 milhões na comunidade judaica americana e, em segredo, os judeus compraram armas da URSS.

Em setembro de 1948, Bernadotte foi assassinado por um grupo judeu de extrema-direita; em outubro, a guerra recomeçou. Mas Israel estava fortalecido. Suas forças expulsaram as tropas árabes do Norte, forçando o Líbano a abandonar a luta. Derrotado, o Egito assinou um cessar-fogo em 24 de fevereiro de 1949. Quando a guerra terminou, Israel tinha conquistado três quartos da Palestina. O Egito ocupou a Faixa de Gaza (onde viviam árabes palestinos) e a Transjordânia, a Cisjordânia. Jerusalém foi dividida entre Israel e Transjordânia.

Os grandes perdedores, porém, foram os árabes palestinos. Com a guerra, 650 mil perderam suas casas, diz Ken Hills em "As guerras árabe-israelenses".

A maioria foi morar em acampamentos em países árabes vizinhos. Em ambiente de pobreza e revolta, nasceram organizações com objetivo de reconquistar o lar palestino.

Em 1956, eclodiu a crise de Suez. Israel conquistou do Egito a Península do Sinai, com a ajuda de tropas da Grã-Bretanha e da França. Foi uma retaliação à decisão do presidente do Egito, Gamal Abdel Nasser, de nacionalizar a Companhia do Canal de Suez. Mas EUA e URSS reagiram com firmeza, e o Egito conservou o canal.

Em 5 de junho de 1967, Israel bombardeou bases aéreas em Egito, Síria e Jordânia aniquilando as Forças Aéreas dos três países ainda no chão. Lutando em três frentes, tirou dos sírios as Colinas de Golã, dos jordanianos, a Cisjordânia e Jerusalém Oriental, e dos egípcios, a Faixa de Gaza e a Península do Sinai - 1,2 milhão de palestinos ficaram sob ocupação israelense.

Outra guerra começou em 6 de outubro de 1973. Anwar Sadat, novo presidente do Egito, modernizou seu Exército e se aliou à Síria para atacar Israel de surpresa, no Yom Kippur (Dia do Perdão). Mas Israel derrotou egípcios e sírios. Os árabes usaram então uma poderosa arma de pressão: o petróleo. Elevaram o preço do produto, provocando uma crise internacional. Em dezembro de 1974, a OLP foi admitida na ONU como observadora e representante dos palestinos.

Israel invadiu o Líbano em 6 de junho de 1982 e obrigou Yasser Arafat e a OLP a deixarem o país. Só a intervenção dos EUA impediu uma guerra com a Síria, que tinha invadido a Líbia para pôr fim a uma guerra civil. Israel tirou o grosso de suas tropas do Líbano em 1985, mas criou uma zona de segurança - que ainda existe - no Sul do território libanês.


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Uma potência nascida das dunas.

Serge Schmemann
Do New York Times JERUSALÉM

A placa na estrada indicando o kibutz Givat Brenner, a maior das fazendas coletivas de Israel, tem a inscrição de um sugestivo nome: Casa dos Sonhos. Casa dos Sonhos, na realidade, é um parque de diversões que o kibutz - fundado há 70 anos - abriu para aumentar seu faturamento em declínio. Pomares, chácaras para venda de plantas e fábricas velhas já não conseguiam manter o nível de renda anterior. O nome, no entanto, ecoa os sonhos dos pioneiros sionistas russos, que chegaram à Terra Prometida com visões de uma nação judaica forjada no altruísmo do trabalho coletivo.

Alguns quilômetros ao norte, em Tel Aviv, num bloco de escritórios que eram dunas de areia quando o Estado de Israel foi fundado, dezenas de homens e mulheres, todos com menos de 30 anos e vestindo jeans e camisas de malha, trabalham com afinco em seus computadores. Num cartaz na parede, essas salas são identificadas como os escritórios da Mirabilis, palavra em latim para milagre.

Há 17 meses, a Mirabilis não existia. Hoje, o inovador software para grupos de conversas inventado por seus quatro fundadores, o ICQ (pronuncia-se I seek you), é um dos mais usados instrumentos da Internet, com dez milhões de internautas registrados e 57 mil novos usuários diariamente. Embora apenas uns poucos quilômetros separem os sonhos do milagre, eles marcam o extraordinário caminho que Israel percorreu do experimento socialista à revolução high-tech que transformou o país no Vale do Silício do Oriente Médio, atrás apenas dos EUA em novidades. A alta tecnologia responde agora por um terço das exportações de Israel, e com três mil projetos em andamento, o quinhão da área deve continuar crescendo.

Israel é hoje um país próspero, mais do que já foi em toda a sua História. As exportações foram catapultadas para US$ 32 bilhões no ano passado - a maior parte dos setores industrial e científico - de parcos US$ 30 milhões em 1948, sobretudo de produtos agrícolas. A renda per capita atingiu US$ 17 mil, mais que Portugal ou a Espanha e muitas vezes maior que a de seus vizinhos árabes. As ações de cerca de 120 companhias israelenses são negociadas na Bolsa de Valores de Nova York, que põe o país em segundo lugar entre os estrangeiros, atrás apenas do Canadá.

A riqueza é visível entre os israelenses. Há um telefone celular para cada três pessoas no país. O número de carros pulou de 882 mil em 1988 para 1,6 milhão atualmente. Pessoas para quem viajar ao estrangeiro era um sonho distante agora passam as férias na Europa. Cafés, restaurantes de luxo, shopping centers e filiais das cadeias de lojas americanas são abertos em Tel Aviv e Jerusalém.

Um recente relatório do Grupo de Desenvolvimento Econômico Conjunto Estados Unidos-Israel, um painel de especialistas dos dois países, elogiou o Governo israelense por dar "passos enormes" para reformar a economia e declarou que o país está perto de receber status de desenvolvido.

É certo, também, que Israel não fez tudo sozinho. Há décadas, os alemães pagam reparações de guerra pelo Holocausto e desde os acordos de paz de Camp David, em 1979, os Estados Unidos desembolsam US$ 3 bilhões em ajuda anual, fazendo de Israel o maior beneficiário de ajuda externa americana.

Mas o sucesso não vem sem problemas. Indicadores apontam para uma incipiente recessão. O desemprego atingiu a marca de 8,2%. Em dezembro, houve distúrbios na cidade de Ofakim, no Neguev, depois que o desemprego chegou a 14,3%. As tensões com os palestinos afetaram o turismo e alguns economistas temem que possam afugentar os investidores também.


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O porto seguro da diáspora.

Daniel Hessel Teich

SÃO PAULO

Seculares ou religiosos, sionistas ou universalistas, os judeus que, na diáspora, acabaram atingindo os portos brasileiros têm pelo menos um ponto de vista em comum, com relação à criação do Estado de Israel há 50 anos: o pequeno país encravado entre inimigos árabes viscerais e o Mar Mediterrâneo, minado internamente pelo crescimento do fanatismo religioso entre os próprios judeus, dá uma segurança sem precedentes a um povo que há quase dois mil anos vaga pelos quatro cantos do mundo. Tendo por trás Israel, com seu poder de fogo político, econômico e bélico, os judeus acreditam que os tempos de preconceito, discriminação e massacres como os cometidos pelos nazistas na Segunda Guerra fazem parte do passado.

- Deixamos de nos reunir em torno de um túmulo para nos juntar em torno de uma bandeira. A criação de um estado formal tirou o eterno lamento da vida judaica e permitiu que nos preocupássemos com uma sobrevivência qualitativa, nas sociedades onde estamos. Mesmo longe de ser um mar de rosas, Israel nos tornou menos paroquiais e mais universais - afirma o rabino Henry Sobel, presidente do rabinato da Congregação Israelita Paulista (CIP) e um dos mais influentes líderes religiosos da comunidade no país.

Mesmo distante, o Estado judeu exerce impressionante poder de atração sobre os membros da comunidade de São Paulo, a maior do país, com cem mil membros. São raríssimos os que jamais foram a Jerusalém ou a Tel Aviv. O empresário aposentado Fizsel Czeresnia, polonês de nascimento, 64 anos vividos em São Paulo e um curto intervalo de quatro anos morando em Israel, diz que o judeu na diáspora tem uma relação com o país completamente diferente da que têm os oriundi (imigrantes) com a Itália e os libaneses com o Líbano.

- Diferentemente dos outros povos, os judeus têm uma história comum de perseguição e isso muda tudo - avalia Czeresnia.

O empresário de 75 anos tem uma relação especial com Israel. Ele estava entre a multidão que viu Ben-Gurion sair do Museu de Tel Aviv e anunciar a formação do novo país na tarde de sexta-feira, 14 de maio de 1948. Na época era representante do Movimento Jovem Sionista do Brasil e estava na cidade para participar de um curso.

- Não sou religioso mas sinto-me orgulhoso por pertencer à nação judaica. Isso não tem nada a ver com ser brasileiro ou não. São categorias de fidelidade diferentes, que fazem parte de um pluralismo onde cabe também uma enorme paixão pelo Corinthians - afirma Czeresnia.

Segundo a também editora Rosa Chut, que dirige uma das principais revistas da comunidade, a relação dos judeus com o país sempre foi excelente e uma amostra disso foi o percentual de imigrantes que se mantiveram no país mesmo após a criação do Estado de Israel. Enquanto na Argentina metade da colônia de 500 mil pessoas abandonou o país, no Brasil pouquíssimas famílias decidiram partir.

Um desses imigrantes que viu frustrada a possibilidade de embarcar para Israel foi o empresário Samuel Klein, dono das Casas Bahia. Em 1952 ele desembarcou no país para construir seu império a partir de uma carroça onde vendia cobertores pelo ABC paulista. Antes, ele e os irmão Cesia e Salomão haviam enviado o pai Suger para Israel com maquinário para que a família montasse uma oficina de marcenaria no novo país. Sobreviventes do massacre nazista, os quatro assistiram a mãe e outros sete irmão serem enviados para o campo de extermínio de Treblinka, no Norte da Polônia. Samuel chorou quando recebeu a primeira carta do pai. Ele escreveu: "Se você quer se salvar não venha."

- Israel sempre foi nosso sonho mas a possibilidade de enfrentar mais guerra nos era absolutamente insuportável. Não dava mais. Resolvi vir para a América do Sul enquanto meus irmão foram para Nova York. Só fui a Israel uma vez, há 25 anos, hoje contribuo com a comunidade cobrindo os déficits de escolas de ensino judaico em são Paulo - conta o empresário.


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