35- MUDANÇA DE PARADIGMAS

REPRODUÇÃO PERMITIDA DESDE QUE MENCIONADA A FONTE

Nelly Beatriz M. P. Penteado (*)

Certa vez um executivo resolveu pescar no final de semana. Como bom executivo, ele fez um planejamento detalhado, comprou a melhor vara, o melhor anzol, a melhor isca, o melhor carro para transportar o equipamento e escolheu no mapa o melhor rio, onde havia o melhor peixe.

Chegando no local, ele se instalou no melhor lugar, às margens do rio, lançou sua isca no rio e esperou. Uma hora, duas horas, três horas e nada! Ele não conseguiu pescar nenhum peixe.

Eis que chega um pescador descalço, chapéu na cabeça, cigarro de palha na boca e uma varinha de bambu sobre o ombro. Ele se senta, lança sua isca no rio e logo pesca um peixe enorme. Retira o peixe da água, olha para ele, e o devolve ao rio. O executivo fica intrigado com aquilo.

Pouco depois, ele pesca outro peixe enorme. Mais uma vez, ele o devolve ao rio. O executivo começa a ficar irritado.

Finalmente, pesca o terceiro peixe, novamente um peixe enorme, e o devolve ao rio. O executivo não agüentou e achou que aquilo era provocação. Levantou-se e foi até ele tomar satisfações.

 

- Não senhor! Não me leve a mal, por favor. É que lá em casa eu só tenho fôrmas pequenas para assar peixe. De que me adianta levar para casa aqueles peixes enormes se eles não vão caber nas minhas fôrmas?

Esta metáfora nos fala sobre mudança de paradigmas. Paradigmas são as "fôrmas" nas quais vamos encaixando o mundo, a realidade, nossas experiências, nossas percepções.

Assim como na história, às vezes será necessário ampliar ou modificar nossas fôrmas a fim de que elas possam conter novos elementos, os "peixes grandes" (ou diferentes) que a vida nos manda.

É o que acontece, por exemplo, com esta época em que estamos vivendo, de intensa evolução tecnológica. Tal evolução traz consigo muitos "peixes grandes" que certamente não caberão em nossas fôrmas. Exemplo: softwares novos (programas de computador) que não funcionarão em computadores mais antigos, filmes em DVD (cujas imagens são digitalizadas), que não poderão ser vistos nos vídeo-cassetes tradicionais, etc. É claro que o que estamos enfatizando aqui é a necessidade de nos adequarmos a esta tecnologia a fim de podermos adquirir as informações que ela disponibiliza (e não a fim de sermos considerados "modernos", "na moda", etc. – não é o status, ou o poder que confere a quem a possui, que estamos ressaltando aqui).

Mas podemos pensar também nas fôrmas que usamos em nossas vidas, para solucionarmos problemas, para atingirmos objetivos. Também nossas crenças, nossos valores, aquelas coisas que norteiam nossas vidas, que motivam nossas ações (Exemplo: trabalhar doze horas por dia para comprar um carro novo; malhar três horas todos os dias numa academia para ficar com os músculos definidos).

É como a história da Cinderela, em que ela perde o sapatinho de cristal ao sair correndo do baile à meia-noite, quando o encanto da fada se quebraria. No dia seguinte, o príncipe manda um mensageiro experimentar o sapatinho em todas as moças do reino, a fim de descobrir a quem eles pertenciam. Segundo uma versão desta história, muitas moças, na ânsia de calçar o sapatinho perfeitamente, e assim se tornarem a futura esposa do príncipe, cortaram um pedaço do próprio calcanhar... Não é exatamente a mesma coisa que acontece hoje em dia, em que a maioria das pessoas tenta desesperadamente "caber" nas fôrmas que nossa sociedade valoriza (manequim 38/40 para as mulheres, roupas de griffe, aparelhos importados e tantos outros símbolos de poder para homens e mulheres...)? Aquelas pessoas que se submetem a sacrifícios terríveis para poderem caber em tais fôrmas (exemplo: cirurgias estéticas, dietas drásticas para redução do peso, sacrifícios para ter os objetos que a mídia divulga, etc.)? Não estaria, pelo menos a grande maioria destas pessoas, tentando "caber" dentro do sapatinho de cristal, aquele que promete que seremos "felizes para sempre"? Como se não pudéssemos ser felizes com os pés que temos? (E àquelas pessoas a quem falta o "recheio" para caber no sapatinho, prótese de silicone nelas... Felizmente há exceções - poucas, é verdade. Aquelas pessoas que se submetem a este tipo de cirurgia não para "caber" no sapatinho de cristal, mas sim para calçar melhor o próprio sapato...).

Esta é a própria semente do capitalismo, a "fôrma" que ele sugere: diminuir, desvalorizar, oprimir, excluir as pessoas que não se encaixam (em suas fôrmas, nos padrões vigentes). E vemos então muitas pessoas jogando o jogo do "eu tenho, você não tem", ou "O meu é melhor (maior, mais caro, mais ‘hi tech’, etc.) que o seu"... Até mesmo o conhecimento, que via de regra deveria servir para nos abrir os olhos para tudo isso, é usado como instrumento de poder e dominação: "Eu tenho mais conhecimentos (ou melhor pontuação no vestibular, ou melhor Curriculum Vitae, etc.) que você!"

Também as palavras constituem fôrmas em que vamos encaixando a realidade. Aquelas palavras que todos usamos, que acabam criando consensos em torno de alguns temas. Exemplo: hoje em dia se discute muito a palavra cidadania, e isso está ajudando o país, como um todo, a ultrapassar aquela fase anterior, da Lei de Gérson: "O negócio é levar vantagem em tudo, certo?" As palavras vão condicionando em nós uma determinada visão de mundo.

Imagine que as palavras são como pastas dentro de um imenso arquivo. Tudo aquilo que nos acontece, vamos classificando, vamos arquivando dentro destas pastas. Assim, existe um certo consenso em nossa sociedade sobre as coisas que são belas, justas, injustas, agradáveis, elegantes, etc., de forma que quando algo lhe acontece, você já sabe em que pasta deverá arquivar aquela experiência: "Isso que me aconteceu é uma injustiça" – e você vai arquivar a experiência na pasta da injustiça. "Isso é bonito" – e você colocará o rótulo ou etiqueta de "bonito" naquilo que estiver observando, etc. Você aprendeu a fazê-lo com as pessoas com quem convive, ou na TV, nos jornais, na escola, na igreja, etc.

A maioria das pessoas tenta ansiosamente arquivar o maior número possível de experiências nas pastas do "belo", "moderno", "bem-sucedido", "elegante", "lucrativo" - como se estas fossem as únicas coisas que realmente importassem na vida. Às vezes tentam converter toda e qualquer experiência em algo que possa ser arquivado nas tais pastas (exemplo: a morte de um parente, uma doença, ou outro evento doloroso ou fatalidade, acaba se transformando em estratégia para aparecer na mídia - tal como tem acontecido com artistas famosos...)

A Programação Neurolingüística surge neste contexto como uma maneira de ampliarmos e atualizarmos nossas fôrmas, de revermos o conteúdo de nossas pastas, de verificarmos se determinadas experiências não seriam melhor arquivadas em outras pastas – ou talvez até fosse necessário criar novas pastas, ou ainda, rever os critérios de importância segundo os quais as organizamos, as hierarquizamos. Isso se faz através de algumas intervenções que ela possibilita quer nas palavras usadas (daí o nome: Programação Neurolingüística), que expressam o modelo de mundo que uma pessoa possui, quer em alguns esquemas ou estratégias (programas) que esta pessoa usa rotineiramente em sua vida, seqüências de comportamentos usados para atingir determinados objetivos e que , com a prática, tornam-se inconscientes (exemplo: você não precisa pensar de seqüência de fatos que se sucedem no ato de escovar os dentes: você faz isso automaticamente, inconscientemente. Da mesma forma, você usa seqüências inconscientes, programas, para ficar alegre, deprimido, motivado, etc.). É como se a PNL nos fornecesse novos óculos através dos quais passaríamos a olhar o mundo, só que de uma maneira ampliada – óculos com super poderes, que nos permitem ver as coisas em terceira dimensão.

Já dizia Paulo Freire, um dos maiores educadores que nosso país já teve (e que, creio eu, não conheceu a Programação Neurolingüística, apesar de usá-la, de certa forma, em seu método) que "quem dá a palavra, dá o tema". As palavras contêm uma determinada "leitura do mundo". Por este motivo, ele propunha que alfabetização jamais acontecesse dissociada da experiência de cada aluno. Ele abominava aquelas cartilhas com frases como "Ivo viu a uva", justamente porque são frases vazias de significado, que não fazem pensar, que não nos tocam o sentimento ou a razão. Ao contrário, ele propunha frases tiradas do vocabulário dos próprios alunos, pois assim seria possível alfabetizar e conscientizar (ampliar a consciência, a visão de mundo) ao mesmo tempo (ele propunha que a alfabetização utilizasse os nomes das pastas daquele nosso arquivo, a fim de fazer pensar sobre o conteúdo delas). Provavelmente hoje uma frase que Paulo Freire gostaria para iniciar um grupo de alfabetização de adultos seria "José está desempregado", antecedida de um amplo debate a respeito de emprego, dinheiro, economia, desigualdade social, etc.

A PNL nos possibilita ainda desafiarmos nossas próprias barreiras e limites internos, o que será tema do artigo da próxima semana, quando falaremos sobre como os elefantinhos são treinados no circo e sobre o que isto tem a ver conosco.

 

(*) Nelly Beatriz M. P. Penteado é Psicóloga e Master Practitioner em Programação Neurolingüística (PNL).

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