Projeto Páginas Literárias

 

Nossa terra é produtora de talentos diversos. Brotam de nosso solo artistas capazes de desenvolver magníficos trabalhos e enaltecer, através de sua obra, o nome de Miracema.

Nossa gente é nosso maior e mais valioso patrimônio. E patrimônios devem ser preservados, divulgados, admirados.

Com o objetivo de divulgar a obra dos poetas miracemenses, foi lançado o Projeto Páginas Literárias, cabendo a cada cidadão o prazer e a tarefa de conhecê-lo e transmitir às novas gerações, o legado cultural de nossos escritores.

 

O Exotismo e a obra de Gicelda Coelho de Oliveira

Com gosto muito diferenciado, estilo aciganado, cabelos longos e sempre pretos, além dos famosos brincos do tipo “argola”, incorporou a moda da década de 50 (saias rodadas) até sua morte.

Era um padrão de mulher diferente e moderna para sua época, sendo uma das primeiras miracemenses a dirigir automóveis.

Sensível, romântica, vaidosa, era comparada pela comunidade, devido a sua beleza e semelhanças com as divas de Hollywood dos anos 40 e 50 - Maria Felix e Doroty L’amour.

Decepcionada com a vida passou os últimos anos em reclusão, dedicando-se exclusivamente a seus pais.

  MIRACEMA

 Eu nasci numa terra pequenina,
Soberba no mais belo sentimento,
Ali eu fui criança, fui menina,
Fui mulher. Tive amor e sofrimento...

Eu recordo a casinha onde morava
O açougue, a padaria, o botequim,
E até o luar que se filtrava
Jorrando luz e saudade dentro de mim...

Toda noite num grupinho efetivo
Ficava conversando lá na esquina
Ouvindo, da sanfona, algum motivo...

Como me dói essa recordação!
Minha terra! Meu lar! Minha sina!
MIRACEMA - também meu coração!...
                  Gicelda Coelho de Oliveira

 

VOLUME II
Bruno de Martino e José Amadeu Rodrigues

Reunindo as poesias de Francisco Antonio BRUNO DE MARTINO Filho e do Dr. José AMADEU RODRIGUES, personagens que ajudaram a construir a nossa história com sensibilidade, eternizando suas emoções e sentimentos através de suas obras.

MIRACEMA

Terra ditosa, virginal princesa,
Berço de aromas e áureas esperanças,
Trago na mente as fulgidas lembranças
Da tua cândida e imortal beleza!

Sinto-me triste ao contemplar-te presa,
E ainda assim, ao soprar das brisas mansas,
Sorrires, meneiando as loiras tranças,
Sob o risonho véo da tua realeza.

Em mim tu vives sorridente ainda,
E viverás eternamente, ó linda,
Nas tardes feias, nas manhãs nascentes!

 Distante eu te trarei no coração,
Trarei a tua imagem, ó torrão
Bendito, dos meus sonhos refulgentes.
                                 José Amadeu Rodrigues

 

 

MIRACEMA

Na clareira da mata enluarada,
que argento riacho mais prateia,
surge festiva a tribo coroada,
estaca, busca lenha e o lume ateia.

A inverapeme joga abandonada,
arcos, tacapes,flexas, tudo arria,
troca os troféus da guerra dominado
pelo boré que as danças encadeia.

Em copos de bambu arde o cauim
fervem, sensuais, os ritos do festim
depressa tudo muda, alguém sacena.

No banho inaugural do igarapé.
foi batizado o chão, diz o pagé,
que vai chamar, por sorte: - MIRACEMA
 
                                           Bruno de Martino

 

VOLUME III
Ferreira da Luz e José Naegele

Neste volume, publicamos parte da obra do Dr. Francisco Antunes Ferreira da Luz – médico e escritor gaúcho que residiu em Miracema na segunda metade do século XIX e de José Naegele – jornalista, natural de Cantagalo, que adotou Miracema como sua terra, participando, bravamente, do processo de emancipação político-administrativa de nossa cidade.

SONETO


Salve, ilustre varão! Se a humanidade
Não se abisma do nada no ataúde,
Se o bem e o mal a morte não ilude,
Se existe um Deus, se existe a eternidade!
 

Das terrenas ações a heroicidade,
Das glórias mundanais a menos rude,
É aquela que brota da virtude,
Da prática do bem, da sã verdade.

  Mas se a virtude é sábia e se é ditoso
Quem na ciência ousado a fronte cresta,
E só nela acha luz, sombra e repouso;
 

Exulta herói! que nada mais te resta;
Pois ser sábio no mundo e virtuoso,
“Das almas grandes a nobreza é esta.”
                             Ferreira da Luz  

 

O INVICTO

 É dia do jogo.
O sol, com o fogo
Dos seus raios incandescentes
E refulgantes,
Vai a tudo esquentando
E requeimando:
Vai jogar o campeão.
O povo vibra de emoção
E acorre, pressuroso,
A ver o “glorioso”
Riscar, a letras d´ouro,
Nas páginas da sua história
A conquista de mais um louro
Em uma brilhante vitória!
Está verde o gramado
E de cal todo marcado.
O campo é um jardim florido,
Muito comprido,
Cheio de humanas flores,
Flores lindas, as mais seletas.
Entram nele os atletas
De camisas bicolores.
Zico, Admar, Capetinha,
Ary, Jorge – o Sedinha,
Pergentino – o half bala,
O Colosso do Nistralla,
E o Gentil – de chute raro
E os três admiráveis,
Incomparáveis:
Bibino, Agrícola e Amaro.
                      
José Naegele

 

VOLUME IV
Edilberto Silva e Lauro Cândido de Carvalho

Neste volume, reunimos partes das obras de dois nomes memoráveis da nossa cultura: O primeiro, Edilberto Silva, até então desconhecido, nos foi apresentado por Francisco Sales de Souza (o Chico da Gráfica) em forma de um livro entitulado “Sonhos d’Alma”, adquirido pelo Tenente João Ivonete Padilha Ennes, na Livraria Francisco Alves, no Rio de Janeiro. Infelizmente, nada conseguimos descobrir sobre este miracemense ausente de nosso convívio há muitos anos. O segundo nome homenageado é o de Lauro Cândido de Carvalho, natural de Angra dos Reis, mas que, desde 1947, adotou Miracema como sua terra, participando ativamente de todo e qualquer movimento, nos mais diversos setores da vida social, sempre visando o progresso e o desenvolvimento de nossa cidade.

 

Sonho póstumo...

Quando em breve meu cérebro cansado
For repousar na terra eternamente,
Não desejo um só pranto derramado
Dos olhos dos olhos de um amigo ou de um parente!

Hoje vejo que o mundo é tão malvado
E eu outrora o sonhei tão diferente,
Que o coração de dor alucinado
Anseia pela morte ardentemente...

Quero um túmulo à sombra de um cipreste,
No remanso feliz de um sítio agreste
Onde possa abafar meus tristes ais!

E que alguém com a mão supina e leve,
Escreva nele esta legenda breve:
“Morreu tão cedo por amar demais,”
Desde que vi teus olhos sedutores!

                           Edilberto Silva

 

 

Tuas cartas

 Tuas cartas, meu bem, quando as leio
Suavizam o triste dia da tua ausência
Pois elas são do nosso amor o esteio
A tua vida e a minha própria existência.

  Sem elas, não sei como resistiria
O exílio do amor a que sou forçado;
Mas com elas eu passo todo o dia
Com a ilusão de estares ao meu lado.

  E, enquanto outra não vem para amenizar
A dor profunda que a saudade traz
Nos dias que sem elas terei que ficar...

  Eu irei relendo a que já chegou
E esperando que venha sempre mais
Em outra carta, mais do teu amor
                        Lauro Cândido de Carvalho

 

 

VOLUME V
Hermes Simões Ferreira e Júlio José Ferreira

O quinto volume reúne uma pequena parcela das obras dos poetas: Hermes Simões Ferreira, com seu estilo romântico, com um lirismo que reflete a sua vida amorosa e sentimental, cujo centenário de nascimento estamos comemorando neste ano e de Júlio José de Oliveira, que segundo José Batista, em matéria publicada no Jornal do Comércio de 25/11/1965,... “faz poesia que não é do seu tempo, que seria uma leve e inicial conseqüência de seu tempo psicológico, mas que depois (para o leitor) é apenas uma constatação de uma paixão pela paixão, de um amor pelo amor, de um ritmo pelo ritmo: portanto as palavras, a construção, o enjambement, as rimas internas, todo os recursos unidos ao verso metafórico e nada mineral do poeta, vão construir os alicerces fundamentais de sua poesia”.

Duas
(Entre les deux mon coeur balance)

 Uma é simples, tristonha, meiga e deliciosa,
Aprecia o silêncio, a paz e a nostalgia,
E ante a fresca expressão da fala silenciosa
Anda sempre a raiar saudosa melodia.

A outra é prazenteira, alegre, donairosa,
Tudo nela é gozar, adora luz do dia,
E ao murmúrio avernal de dança vaporosa
Ao meu corpo se enlaça em trêmula alegria.

  Ambas refletem bem a minha aspiração
Pois descrente do amor, creio só na atração,
No louco frenesi de lúbricos desejos;

E obrigado a escolher qual delas mais querida,
Vacilo entre a esperança de serena vida
E a volúpia infernal de abraços e de beijos.

                                    Hermes Simões Ferreira

 

 

A Besta de Vidro

epígrafe

 jubilosa, e só minha,
una fera e não tarda
longamente na sua
intranqüila, sonhada,
omissão de ser minha
jubilosa, cerrada,
omissão por ser minha
sezão incontrolada
enquanto a vida passa
dentro do labirinto
em sua verde chama
omissão desse instinto
lobrigar-se de flor
irreal irreal
vero chão, vero ar/dor
enquanto o mundo roda
irreverente tédio
remanso manso fruto
armando cemitérios

2
mística afinal
isso é dela o estar só
reinventada em pena
anda agora arde agora
clave solta serena
mística desigual
anda agora arde chora

3
em ser fera ela é fera
sentidos dos sentidos
tumultuado nela
ardentia dos idos
doloroso sentido
onde a vida começa
dentro e fora o que é ela:
o ciclo desse exílio
ressuscitando a Queda
in/contente gemido
onde a vida é o regresso
destoando a verdade
em torno e dentro dela:
jubilosa e só Pó
ali/mentando a es/fera
sonho roxo – antes rosa
incontida – a falácia
in/contida, cerrada,
reinventado a fera
OMISSÃO DESFRUTADA.

                          Júlio José de Oliveira

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