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A Origem da Família KLAFKE no Brasil
(por Júlio César Klafke)



Deixando Para Trás a Velha Terra

Os KLAFKE no Brasil são originários da Prússia Oriental (Ostpreußen), aqui chegando em meados de 1852. Como quase todos os imigrantes nesta época, vieram por causa da falta de terras para trabalharem e por causa das constantes ameaças de guerras na região. Trouxeram, além de suas respectivas famílias, muita esperança e o desejo de construir uma nova vida em um novo país.

De acordo com os registros da época, os primeiros a embarcarem para o Brasil foram:

  1. Johann Klawke, católico, 51 anos, sua esposa, Anna Wohlgemuth, e seus oito filhos, com idades variando entre três meses e 19 anos,
  2. Ludwig Klawke, católico, sua esposa, Apolonie Schulz, e seis filhos de 3 meses a 12 anos,
  3. Peter Klawke, católico, 27 anos e
  4. Carl Klawke, católico, 17 anos.
Eram todos lavradores e pertenciam a uma mesma família. Vieram de Peterswalde, uma pequena cidade da província de Braunsberg, na Prússia Oriental, bem no coração da região conhecida como Ermland ou Warmia.
 

Prússia Oriental era um país onde  o culto luterano era predominante. No entanto, os habitantes da região conhecida como Ermland eram de religião católica. A região, originalmente polonesa, foi anexada à Prussia em 1772 e não havia sofrido influência da Reforma Protestante, iniciada no século XVI. A Prússia deixou de existir como país após a Segunda Guerra Mundial. A partir de 1945, os habitantes de origem germânica forma expulsos pelos Russos e tiveram que abandonar seus lares. A grande maioria fugiu para a Alemanha. A parte onde se localizava a Ermland é hoje o norte da Polônia e Peterswalde é a cidade polonesa de Piotrowiec.

 
Distribuicao dos Klafke antes de 1852
Distribuição das famílias de KLAFKE na 
região de Mehlsack (Ermland) antes 
de 1852 (Vilas em vermelho)
 
Embarcaram no porto de Hamburg em 24 de junho de 1852 na escuna FORTUNA, de propriedade de David Pieper, sob o comando do Cap. Friedrich Pieper. Vieram através do Atlântico diretamente para o Rio Grande do Sul, mas não se sabe, ao certo, a data de chegada ao Brasil, o que deve ter ocorrido antes de Novembro de 1852.

O FORTUNA foi construído por Wriede em Finkenwerder, Alemanha, em 1839 e seu primeiro proprietário foi Johann Christian Pflugk. Era uma modesta embarcação de cerca de 18 metros de comprimento e quase 7 metros de largura com capacidade para 48 passageiros. Afundou em 1862 próximo das Ilhas Turcas, nas Bahamas, sob o comando do mesmo Cap. F. Pieper.
 
 

Registro de Emigrantes no Porto de Hamburgo
LDS - 0470834

Ao Chegarem no Novo Mundo...

Segundo a legislação que regulamentava a imigração na época do Império, cada família de colonos recebia um lote de terra, ajuda de custo, sementes e ferramentas para o cultivo. Mas na época em que nossos ancestrais chegaram, os lotes destinados aos imigrantes alemães na Colônia de Santa Cruz já estavam todos comprometidos, não havendo mais terras para serem distribuídas.

No livro de "Reg. de C/C pela accommodação dos Colonos de Santa Cruz do Sul" [AHRGS C-078 Fl.12] encontra-se anotada uma dívida de 16$933 em nome de João Klauki, contraída em 10/11/1852, referente ao transporte de Rio Pardo à Colônia. Neste mesmo livro, à folha 14, encontra-se registro semelhante no valor de 1$881, em nome de Pedro Klauki. Através desses registros, sabemos que Peter foi alojado na colônia de nr. 33 em Linha Santa Cruz, ou Picada Velha, e o Johann na colônia de nr. 23, próximo à localidade hoje conhecida como Boa Vista. Conforme uma relação divulgada por João Martinho Buff em 1851, então diretor da Colônia de Santa Cruz, o lote de número 33 pertencia a Nicolau Jost e o de número 23 a Nicolau Schmidt, ambos prussianos e evangélicos. Nenhuma referência explícita foi encontrada a cerca do estabelecimento de Ludwig e sua família ou do Carl.

O fato de não serem donos de glebas pode ter facilitado a saída de nossos avoengos, conforme consta no relato do Prof. Hardy Elmiro Martins, para o Rincão Del Rey, localidade mais ao sul, na direção de Rio Pardo, onde havia uma colônia particular. Ao contrário de Boa Vista, um lugar de relevo acidentado e mata cerrada, a colônia de Rincão Del Rey estava situada numa região mais plana e que já era habitada por imigrantes alemães e colonos desde 1850.

O nome de Rincão Del Rey deriva dos tempos em que Província de São Pedro do Rio Grande do Sul buscava estender seus limites em direção do  extremo oeste, às Missões Jesuíticas, em batalhas sangrentas envolvendo portugueses, castelhanos e índios guaranis (Séc. XVIII). O glorioso município de Rio Pardo, a "Tranquera Invicta",  ocupava, então, a maior parte do território da província e as tropas imperiais usavam o Rincão como invernada para seus cavalos e o gado. O lugar era estratégico, ao mesmo tempo perto da cidade-sede e protegido pelos contrafortes da serra. Conta que certa vez o chefe dos índios revoltosos, Sepé Tiaraju, conseguiu arrebatar dos campos do Rincão cerca de mil cavalos de uma só vez...
 

Começa o Entrosamento e a Família Cresce

No fim de 1854 registra-se, no Rincão Del Rey, o nascimento de José Bernardo, filho de Johann e Anna Wohlgemuth e em janeiro de 1855 o nascimento de João, filho de Ludwig e Apolonie. Em maio de 1856 Johann Klawke e Carl Klawke aparecem como testemunhas no casamento de Adam Goettems e Catharina Allgayer e em julho do mesmo ano temos os casamentos de João, filho de Johann e Anna com a irmã de Catharina, Elisabeth/Isabel Allgayer e Carl Klawke com Guilhermina Schuck. No primeiro casamento foram padrinhos August, filho mais velho de Johann, e Adam Goettems. Neste registro de casamento, encontramos uma preciosidade: as assinaturas de August e Adam e na assinatura de August a forma primitiva do nosso sobrenome:KLAWKI. No termo de casamento de Carl e Guilhermina encontramos os nomes dos pais de Carl, Antonio e Agnes, e muito mais tarde, por ocasião do nascimento de Anna, filha de Ludwig e Aplonie, em 1859, temos registrados os nomes dos pais de Ludwig, Anton e Anna, tidos como ignorados em registros anteriores.

De Peter Klawki, no entanto, não se sabe o paradeiro... É possível que tenha permanecido em Linha Santa Cruz e se casado. No livro de batizados nr. 16 da Igreja Nossa Senhora do Rosário, à pagina 286, encontramos o registro do batizado de Pedro, filho de Pedro Chefeco (?) e Elisabete Prout. O sobrenome "Chefeco" parece ser mais uma forma bizarra com que o nome KLAFKE tem sido escrito. Entretanto, informações mais recentes dão conta de que talvez tenha ido morar na Aldeia São Nicolau, em Rio Pardo, e morreu afogado sem deixar descendentes.

Em 26 de agosto de 1893, falece no Rincão Del Rey o patriarca Johann Klawki , com 92 anos de idade.
 

E Vieram Mais Dois...

Em fins de 1857 chega ao Brasil o casal Anton Klaffke e Wilhelmine Arendt. No Códice 077, do Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul, à folha 178, encontra-se registrada a chegada de Anton e sua mulher Wilhelmine, sem filhos, em Porto Alegre, a 25.10.1857. Eles vieram do Rio de Janeiro no vapor Petrópolis. Um registro semelhante é encontrado no Códice 080, à folha 86, em nome de Antonio Klanki e esposa.

Conforme consta no passaporte de Anton, cujo sobrenome está grafado como KLAFFKE, o casal é procedente de Plauten, um pequeno vilarejo às margens do rio Walsch, ao leste de Mehlsack. A vila de Plauten, hoje denominada Pluty e situada em território Polonês, também pertencia a província de Braunsberg e fica a poucas dezenas de quilômetros de Peterswalde.

Placa indicativa da cidade de Pluty, antiga Plauten.
Casa dos Klafki/Hinz em Plauten
Chegada à Cidade de Pluty/Plauten (1996)
Antiga Casa dos Klafki/Hinz em Plauten (~1940)

Os registros eclesiásticos de Plauten, preservados em Tolkemit, confirmam a existência de várias famílias de Klafke na região. Dois desses registros se referem aos nossos Anton e Carl como Antonius e Carolus Klafki, filhos de Anton(ius) Klafki e Agnes Reckward.

Nesses registros ainda constam os nomes de Ferdinandus e Veronika Klafki como sendo irmãos de Anton e Carl. Veronika Klafki casou-se com Andreas Hinz, cuja mãe também era uma Klafke, permanecendo em Plauten. Seus descendentes hoje vivem na Alemanha e Georg Weiss, trisneto de Veronika, foi quem nos passou essas informações.

Por fim, chega a Porto Alegre Johann Klaffke, em 28/10/1869. No Códice 084 do Arquivo Histórico do RGS encontramos referências à chegada de Johann: prussiano, 28 anos de idade e solteiro, proveniente de Hamburg com destino à Santa Cruz do Sul e escala no Rio de Janeiro. Registros eclesiásticos brasileiros e a história familiar colocam-no como sendo um irmão mais novo de Anton e Carl. Johann Klaffke, assim como Anton, não se estabeleceu no Rincão Del Rey. Alguns descendentes de Johann ainda vivem na região colonial conhecida como Linha Nova Santa Cruz, no município de Santa Cruz do Sul, RS.
 

A Relação de Parentesco entre os Primeiros Klafke

O relato do Prof. Martins, que se baseou em registros da movimentação dos colonos em Santa Cruz, cuja migração não podia ser feita sem a devida justificativa, juntamente com os primeiros registros da família no Brasil não deixa dúvidas quanto ao fato de Carl ser o sobrinho do Johann. Por outro lado, reza a tradição oral que "dois irmãos e um sobrinho" foram morar no Rincão Del Rey, neste caso Johann e Ludwig seriam os irmãos. Resta-nos especular sobre o parentesco de Peter.

No registro de passageiros embarcados em Hamburg encontramos Peter, 27 anos, e Carl, 17, na mesma categoria que "Johann e família" ou "Ludwig e famíla". Seria Peter um irmão mais velho de Carl?  É possível. Apesar do levantamento feito por Georg Weiss indicar que o pai de Carl, Anton, teria nascido em 1811 (assento de batismo em 17.03.1811), informações mais recentes a respeito dos irmão de Johann e Ludwig atestam a existência de um Anton(ius) nascido em 22.03.1800. Além disso, aos 27 anos, Peter tinha idade para ser um filho mais velho de Johann ou ainda um irmão mais novo. Por possuir a maioridade na época em que foram agenciados por Pedro Kleudgen, gozava de relativa independência familiar, podendo, inclusive, ocupar um lote próprio na Colônia. Por essas e outras razões, a relação de parentesco entre Peter e os demais Klafke ainda é controvertida, mas de certo deve existir.

Santa Cruz do Sul no Inicio do século XXFato é que, no início da década de 1870, encontramos a seguinte situação no Brasil: os irmãos Johann e Ludwig vivendo no Rincão Del Rey ao lado do sobrinho, Carl, cujos irmãos, Anton e Johann, residem em Santa Cruz do Sul, que a esse tempo já é um próspero vilarejo.
 
 
 
 
 
 

Como Que Saído das Páginas de um Romance

A relação de parentesco entre os primeiros Klafke sugere, ainda, uma razão alternativa para sua vinda ao Brasil: UM ÊXODO FAMILIAR. Essa hipótese, no entanto, constitui mera especulação, já que não há meios, ao menos por enquanto, de corroborá-la com fatos.

Por um lado temos ao menos três irmãos constituindo três famílias, já numerosas, sofrendo as agrúrias do destino - Johann, Ludwig e Anton(ius) -. De outro, a oportunidade de recomeçar uma nova vida, com melhores chances de crescerem. Os três ainda tinham mais 5 irmãos: Joseph, Andreas, Karl, August e Anna.

Anton(ius) Klafki falece em 1841, com apenas 30-40 anos de idade, logo após o nascimento de seu último filho, Johann. Na década de 1850, a filha Veronika se casa com Andreas Hinz e vai morar nas terras do marido. Seu irmão Carl decide emigrar para o Brasil junto com os tios Johann e Ludwig, que viviam em Peterswalde. Anton permanece em Plauten, cuidando da mãe, Agnes, e do irmão mais moço. Após seu casamento com Wilhelmine Arendt, em 1857, Anton também decide tentar uma nova vida no Brasil. Em 1869 é a vez de Johann abandonar o lar, possivelmente após o falecimento de sua mãe...

Nossa estória, agora, se desenvolve parte na Europa, parte na América. Os que ficaram na Velha Prússia, entre eles os descendentes de Veronika, irão abandorar a região até final da Segunda Guerra Mundial, indo para a Alemanha e, possivelmente, para os Estados Unidos. Os que vieram para o Brasil verão a saga familiar se desenrolar em duas regiões principais: no Rincão Del Rey e em Santa Cruz do Sul.

Naturalmente, o quadro acima é uma ficção. Simplista e romanceado, ele sugere o quanto ainda temos que resgatar de nossa história familiar. Neste contexto, o estudo da Genealogia é tão somente uma ferramenta, uma Frágil Escuna que nos permite navegar nesse imenso oceano de vidas. Estamos todos no mesmo barco: FORTUNA, em latim, quer dizer SORTE.
 

Os Remanescentes na Alemanha

Além da família de George Weiss, descendente direto de Veronika Klafki, existem ainda, na Alemanha, inúmeros remanescentes da grande família Klafke.

Buscando contactar eventuais parentes que emigraram para a América o Sr. Wilfried Klawki, então residente em Hamburg, enviou cartas para a Embaixada de seu país no Brasil. Finalmente, após quase 17 anos de tentativas frustradas, as cartas chegaram às mãos do Sr. Waldemar Klafke por intermédio do Bispo de Santa Cruz do Sul. O Sr Waldemar reconheceu no nome de Sr. Wilfried a forma original e já extinta, no Brasil, de nosso sobrenome.

A partir de então, teve inicio uma década de intercâmbios, onde alguns dos nossos puderam visitar os "primos" na Alemanha. Em 1993, o Sr. Winfried faleceu e interrompeu-se contato com seus familiares.

Esse ramo da família, relativamente abastado, ex-proprietário de um grande restaurante em Wormditt (perto de Peterswalde e Plauten), emigrou da Prússia Oriental para a Alemanha após ter sido praticamente dizimado em função das duas grandes guerras mundiais nas quais a Alemanha se envolveu.

Durante uma viagem que fez a Hamburg, em outubro de 1998, Georg Weiss entrou em contato telefônico com o Sr. Leo Klawki. Este esteve diretamente envolvido na busca que o Wilfried empreendeu por parentes que houvessem sobrevivido à Segunda Guerra Mundial, busca essa que o trouxe aos Klafke brasileiros.

No final de 1999, um sobrinho do Sr. Leo, Rainer Klawki, Biólogo e Jornalista em Frankfurt, Alemanha, encontrou nossa página na Internet e fez contato. Segundo nos comunicou, seu ramo corresponde a uma parte dos descendentes de Karl Klawki (1818-????), um dos irmãos de nossos Johann e Ludwig Klawki. Karl se casou com  Rosa Woiwod e tiveram 10 filhos entre os quais Leo Klawki (1848-1914), avô do Sr. Winfried Klawki.
 
 
 
 
 
 

Outras Famílias de Klafke e suas Origens

A pesquisa de familiares remanescentes do tronco que emigrou para o Brasil tem se mostrado lenta e difícil. O intercâmbio esporádico de informações entre os diversos ramos de Klafke espalhados pela Alemanha e Estados Unidos têm evidenciado uma acentuada perda de memória familiar. Possivelmente, isso se deve à dura realidade sofrida por seus respectivos patriarcas, forçados a emigrar por razões adversas. Normalmente destinada às famílias da nobresa, a genealogia da família comum é um estudo recente. É compreensível esse desinteresse aparente, por parte das gerações que emigraram, na preservação da história familiar. Para a nossa geração resta uma corrida contra o tempo.

Nos Estados Unidos, por exemplo, existem cerca de 30 famílias de Klafke, a maioria delas concentrada na região de Milwaukee, Wisconsin, com ancestrais em Danzig (atual Gdansk). Este ramo desembarcou nos Estados Unidos por volta dos anos 1880, e a ele se refere o brasão da família criado pelo Historical Research Center (C).

Outros ramos são provenientes da Pomerânia e de Königsberg (Klaningrado), tendo este último chegado em 1951.

Não há como afirmar que os Klafke modernos derivem de um único tronco familiar e muito provavelmente existem inúmeras famílias de Klafke não conectáveis. O simples fato do nosso sobrenome derivar da forma eslava de um patronímio - filho de Nicolau -, conspira contra a idéia de um ramo único. Nicolau é um nome muito comum em regiões de dominação eslava e assim o sobrenome Klafke pode convergir de inúmeras variantes.

Os registros eclesiásticos, a partir de 1550, atestam um número razoável de indivíduos com sobrenomes foneticamente semelhantes e que possivelmente convergiram para as formas gráficas atuais: Klafke, Klaffke, Klafki ... Uma das formas mais antiga encontrada até o momento vem de um registro de casamento, de 1584, da filha de um certo Gaspar Klawick(e), de Tolksdorf, Kr. Braunsberg, Ostpreussen. Mas o sobrenome ocorre na região desde 1480, segundo o pesquisador Heirich Bernhard.

A forma KLAWICK lembra, pelo som, os sobrenomes da ex-Iugoslávia ( -VIC). Conforme sustenta Kathi Klafke, que pesquisa a origem de sua família na Alemanha, os Klafke seriam oriundos da Iugoslávia ou da atual Romênia. Aliás, a própria Kathi pesquisa a possibilidade de uma ancestral sua ter emigrado para a América na mesma época em que nossos ancestrais vieram para o Brasil.

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Sumário da Pesquisa e Agradecimentos

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