Em 1875, o inventor americano
Thomas Edison estava dedicado à telegrafia quando verificou que se produziam faísca
entre objetos metálicos próximos de um relé eletromagnético do telégrafo,
quando este estava em funcionamento, não havendo qualquer ligação elétrica
entre os objetos e o relé. Edison pensou que o fenómeno não tinha natureza
elétrica e chamou-lhe “força etérica”. Mais tarde, Edison lamentou não ter
aprofundado este assunto. O mesmo fenómeno havia
observado o professor Elihu Thomson quando experimentava a sua bobina de Ruhmkorff. Contrariamente a Edison, Thomson era de opinião que o
fenómeno tinha natureza elétrica, mas também ele não desenvolveu o seu
estudo. Em 1882, o professor americano
de física Amos Emerson Dolbear patenteou um sistema telefónico em que o
emissor estava ligado à terra por um fio e tinha outro fio no ar (Dolbear
chegou a utilizar um papagaio), o mesmo acontecendo ao recetor. Dolbear
considerou que a comunicação de sinais telegráficos com este sistema era
estabelecida pela terra. Apesar de fazer demonstrações do seu sistema, este
foi considerado sem futuro. Vejamos o que se passou com o
alemão Heinrich Hertz (1857-1894). Quando ensinava Física em
Karlsruhe, Hertz demonstrava o fenómeno da indução eletromagnética,
descoberto por Faraday e Henry, com uma experiência. Hertz dispunha de dois
circuitos com espiras planas de fio condutor (espirais de Riess), colocadas
uma próximo da outra (ver figura seguinte). No primeiro circuito, a espiral
era ligada a uma bateria por meio dum interrutor. No segundo circuito, a espiral
estava aberta, terminando por duas pequenas esferas metálicas próximas uma da
outra. Quando fechava o interrutor,
verificava-se o aparecimento de uma faísca entre as duas esferas da segunda
espiral, devido à indução (uma variação do fluxo magnético que atravessa um
circuito elétrico produz neste uma força eletromotriz). |
Hertz resolveu alterar as condições
da experiência, alterando os componentes e, nomeadamente, as formas dos
circuitos. Substituiu a bateria por uma garrafa de Leyden e depois por uma bobina de indução. Com este novo circuito (ver
figura seguinte) verificou que o aparecimento de uma faísca entre as esferas
do circuito superior fazia aparecer uma faísca entre as esferas do circuito
inferior. |
Em seguida desenrolou a espiral
superior, depois de a cortar ao meio, ficando com dois fios retilíneos, nas
extremidades dos quais colocou esferas (ver figura seguinte). Após uma série de novas
alterações, agora no circuito inferior, chegou a uma forma retangular,
verificando sempre que o aparecimento de uma faísca no primeiro circuito
induzia uma faísca no segundo. |
A imagem seguinte baseia-se
numa fotografia de um conjunto montado sobre duas mesas e tirada pelo próprio
Hertz. O primário da bobina de Ruhmkorff
e a alimentação não estão representados. O circuito primário (emissor) é
constituído por dois condutores de 0,5 centímetro de diâmetro e 1,5 metro de
comprimento cada um. Estes condutores estão assentes em suportes isolantes e
terminam, nas extremidades exteriores, em duas esferas metálicas de cobre
ocas com 30 centímetros de diâmetro e, nas extremidades interiores, em duas
bolas de latão maciço de 3 centímetros de diâmetro. A distância entre estas
bolas é inferior a 1 centímetro. O secundário da bobina de
Ruhmkorff está ligado a estes condutores, próximo das bolas de
latão. Neste conjunto Hertz montou
dois circuitos secundários. Os circuitos secundários são retangulares
e terminam em duas esferas dotadas de parafuso micrométrico para regular o
espaço entre elas. Estávamos no Outono de 1887. |
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Hertz continuou com as suas
experiências, substituindo as esferas das extremidades por placas condutoras planas
retangulares (ver figura seguinte). Numa das experiências,
realizada em Novembro e Dezembro de 1887, Hertz montou o circuito oscilador e
outro circuito separado, com um fio ligando a placas condutoras nas
extremidades. Uma destas placas ficava sobre uma placa do oscilador. |
Hertz utilizou também um ressoador,
aparelho que construiu para detetar as emissões do oscilador. |
O aparelho era constituído por uma
armação de madeira com 1 metro de largura. Na área circular de 75 centímetros
de diâmetro montou um anel de fio condutor aberto, com um parafuso
micrométrico para poder ajustar a distância entre as extremidades do fio onde
se produziam as faíscas. Com o ressoador, Hertz
percorreu a distância ao longo do fio e, por tentativas, acabou por verificar
que, para um comprimento do fio adequado, havia pontos do fio em que não se
produziam faíscas no ressoador, enquanto se produziam nos restantes pontos.
Hertz interpretou o fato como estando em presença de ondas eletrodinâmicas
estacionárias ao longo do fio e que os pontos onde não se produziam faíscas
correspondiam aos nós das ondas. Estas ondas seriam o resultado de uma onda
incidente e de uma onda refletida pela placa na extremidade do fio. Vejamos a interpretação do
fenómeno. As placas do oscilador
carregam-se alternadamente com carga positiva e negativa. Suponhamos que em
determinado instante a placa esquerda tinha carga positiva e a direita carga
negativa. A placa que se encontra sobre a placa esquerda vai adquirir carga
negativa (por indução eletrostática) e a placa na outra extremidade o fio fica carregada
positivamente. Como as placas do oscilador variam a sua carga com uma
frequência muito elevada, a variação das cargas nas placas ligadas ao fio
também varia com a mesma frequência, havendo correntes num e noutro sentido
do fio. Se o comprimento do fio for múltiplo do comprimento de onda há
formação de nós onde as correntes incidente e refletida se anulam e há
reforço nas outras regiões (ventres no centro entre dois nós). |
Hertz orientou em seguida as
suas experiências no sentido do estudo das ações indutivas diretas através
do ar provenientes do oscilador e detetadas pelo ressoador e que
acompanham as ondas de corrente que se propagam diretamente através do fio.
Hertz concluiu que estas ações se manifestam sob a forma de ondas e em 1887
inventou os termos “ondas indutivas” ou “ondas aéreas”, hoje chamadas “ondas
hertzianas”. Hertz conduziu em Março de 1888
experiências, que ficaram célebres, sobre estas ondas, concluindo que as
“ondas eletrodinâmicas” (ondas hertzianas) no ar se refletem nas superfícies
condutoras, podendo interferir com as ondas incidentes e originar desta forma
ondas estacionárias no ar. Hertz fez um estudo
experimental da distribuição destas ondas estacionárias numa sala, utilizando
um oscilador com o eixo na vertical para obter a máxima intensidade num plano
horizontal perpendicular àquele eixo e passando por entre as esferas onde se
produziam as faíscas. Colocou uma placa de zinco (de
4 x 2 m) na parede em frente do oscilador, para refletir as ondas. Para detetar as ondas usou um
ressoador que lhe permitia observar as faíscas produzidas pela onda recebida. Hertz deslocou o ressoador pelo espaço da sala ao longo daquele plano horizontal. Com base nas observações efetuadas, desenhou um gráfico onde representou as ondas eletrodinâmicas estacionárias, com os seus nós e ventres, desde o oscilador até à extremidade da sala, assim como a variação do campo magnético, nos mesmos pontos. |
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Hertz acabou por concluir que estava
em presença de ondas eletromagnéticas análogas às da luz, que se propagam no
espaço devido às variações dos campos elétrico e magnético, previsões feitas
teoricamente pelo escocês James Maxwell no seu “Tratado de eletricidade e magnetismo” de 1865. Hertz prosseguiu o estudo das
propriedades destas ondas, nomeadamente a sua propagação retilínea, a reflexão
por um espelho metálico, a polarização e a refração. Para isso, adatou os
aparelhos já utilizados e criou outros. Bibliografia
Hertz (Cahiers de Science et Vie) |