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Estudo sobre Crítica de Mário de Andrade I
texto do trabalho Modernismo

Estudo Crítico sobre Mario de Andrade e seu ponto de vista do Modernismo. Muitas das características serão expostas novamente mostrando a optica de MA (usaremos essa sigla para identificar o autor)

 

1) Nacionalismo

A preocupação nacionalista, auscultada quando da leitura dos artigos críticos de Alceu amoroso Lima, que panoramizam o cenário bibliográfico da década de 20, predominava sobre as especulações estéticas e/ou poéticas do início do século. Principalmente com a aproximação do Centenário da Independência em que se realizaria um balanço da nacionalidade, cresce a publicação de obras sobre História do Brasil, educação, saneamento, sociologia e língua nacional. Há no ambiente a fermentação de idéias nacionalistas e uma busca mais séria, completa e científica da realidade brasileira. Por outro lado, a preocupação das vanguardas européias, influenciadoras diretas do Modernismo em seu início, a preocupação com o presente e realidade, contribuirão na área artística, para acentuar a mirada nacionalista dos artistas envolvidos na Semana de Arte Moderna. A crítica em periódicos também está impregnada dum critério nacionalista, como o demonstra a atividade a atividade de Menotti del Picchia (Helios), no Correio Paulistano, Oswald de Andrade no Jornal do Commercio e a linha de Papel e tinta. No Rio de Janeiro, Tristão de Athayde, principalmente no período de 1919-1925, apresentará um tônus nacionalista, apoiado essencialmente no sertanismo-regionalismo, evolunido de uma posição periférica-pitoresca para a exigência de um regionalismo intrínseco e funcional que marcará inconfundivelmente sua atividade crítica.

Há, portanto, na área de intelectualidade paulista e carioca, um ambiente propício às idéias nacionalistas, fulcro do ideário do Modernismo brasileiro. Sabe-se que, com o desenvolvimento do movimento, esse ideal nacionalista passará por etapas diversas e tomará diferentes, e por vezes opostos, caminhos: do Pau-Brasil à Antropofagia, o Verde-amarelismo levando o integralismo, o absenteísmo de Festa opondo-se ao caminho comunista, e, ainda, a partir de 1926, o regionalismo do Nordeste, numa visão mais real da terra brasileira. Tal diversificação não foi apenas ocasionada pela natural evolução do Modernismo brasileiro, mas principalmente pelos abalos ideológicos causados pelo advento do Comunismo e do início do Nazifascimo na Europa. No Brasil, o nacionalismo sofrerá dois grandes abalos com a Revolução de 30 e a Revolução separatista de 32.

 

2) "Consciência criadora nacional"

O que MA quer significar com isso? Uma parcela de resposta pode ser encontrada no artigo sobre Oswald de Andrade em que, entre outras coisas, afirma: "É muito sabido já que um grupo de moços brasileiros pretendeu tirar o Brasil da pasmaceira artística em que vivia, colocando a consciência nacional no presente do universo." Logo adiante: "Mas onde estava essa consciência nacional? Havia a fonte dos escritores. Mas essa tradição [!] não dizia nada. As poucas tentativas de um Basílio da Gama, dum Gonçalves Dias, dum Alencar eram falhas porque intelectuais em vez de sentidas, por que dogmáticas em vez de experimentais, idealistas em vez de críticas e práticas, divorciadas do seio popular, descaminhadas da tradição, ignorantes dos fatos e da obra dum Gregório de Matos, dum Casimiro de Abreu, dum Álvares de Azevedo. Outros pouquíssimos. O resto eram pátrias-latejo-em-ti, gritalhões, idealistas, inócuos A seguir, esboça momentos históricos em que uma consciência regionalista, sempre parcial em termos de nacionalismo, existira: durante as bandeiras, na Bahia do século XVII, não existindo a consciência nacional nem mesmo durante a guerra do Paraguai ou durante a Independência. Para concluir: "É caso de me perguntarem se essa consciência nacional existe agora. Não existe ( . . . ) Era preciso pois auscultar, descobrir, antes: ajudar o aparecimento da consciência nacional. As pesquisas se multiplicam nesse sentido entre os modernistas brasileiros."

A citação se fez longa pela importância de não se perderem as implicações que, em 1924, já demonstravam a ambição do projeto modernista: procurar, por um caminho diferente daquele dos Românticos, a mesma "consciência nacional" E essa consciência manifestava-se em fatos literários e políticos, realizando MA, na sua argumentação, tal como o fizera Alceu Amoroso Lima, a fusão "política e letras". Portanto, para MA, a consciência nacional estaria:

a) no povo, enquanto coletividade;
b) no experimentalismo, apoiado nos fatos e na realidade;
c) no conhecimento (ou descobrimento?) de uma tradição não intelectualizada;
d) na reavaliação dos escritores nacionais.

É preciso salientar desde já que acentuando a postura dialética instaurada pelo Modernismo, cabia aos intelectuais de então afirmar-se no cenário internacional, principalmente ocidental ( "universo" é sem dúvida um exagero), não por serem brasileiros iguais aos europeus (daí a imitação), mas exatamente por serem diferentes. Se, num primeiro momento, o Modernismo aceitou a linha "moderna" do pensamento artístico e literário europeu, passou a repudiá-lo no período pós-Semana de Arte Moderna. O ponta extremo desse repúdio está no "Manifesto Antropófago", de Oswald de Andrade em 1928. MA, porém, considerou o manifesto um equívoco, uma brincadeira, e procurou numa linha popular autêntica, contrapor a "Consciência nacional" de um primitivismo alógico, popular, não caraíba, ao primitivismo exótico e decadentista europeu.

Da mesma forma, MA recusa-se a aceitar um nacionalismo manifesto em regionalismos, de visão exótica, caboclística e turística da realidade brasileira, como o demonstra na recusa à pintura de Almeida Júnior, e quando analisa a poesia de Ascenso Ferreira. Acima de tudo exigirá uma visão crítica alicerçada em conhecimentos científicos de historiadores, folcloristas e sociólogos, o que o faz discordar da orientação "paubrasil" de Oswald de Andrade.

E neste período de "menos de dez anos", de 1922 a 1930, como foi vista a tradição de uma "consciência criadora nacional "? A este respeito, Carlos Drummond de Andrade, durante o " Mês modernista ", promovido por A noite, do Rio de Janeiro, no artigo "Ta'í ", em 29 de dezembro de 1925, resume a posição "gesticulante" dos modernistas daquele momento ante o problema da tradição: "Me parece que o modernismo brasileiro precisa abandonar de todo o respeito do papão da tradição" e " . . . pegar na palavra tradição, virar, revirar, extrair o suco e repudiar o bagaço." E nesse período revolucionário, o momento literário imediatamente anterior, o da literatura "oficial ", é que recebe o repúdio mais violento: o Parnasianismo se converte em um vocábulo-estigma. E no Parnasianismo o que censuram, acima de tudo, é a ausência de liberdade e individualismo, criticando-Ihe o academismo e o desligamento da realidade brasileira. MA, desde o início mantém sobre a questão uma posição ponderada, de equilíbrio e respeito. Uma de suas primeiras manifestações a respeito ocorre no Jornal do Commercio, em agosto de 1921 , às vésperas da Semana de Arte Moderna. Trata-se da série "Mestres do passado", em que MA veste-se de parnasiano para melhor compreender os poetas enfocados. Conclui pelo desaparecimento dos parnasianos, mais por uma fatalidade histórica de uma "época de transição" a que pertenceriam os "futuros modernistas"

Mas é principalmente na descoberta de uma "consciência criadora nacional" de base popular e folclórica que o Modernismo dará uma grande contribuição para nossa "brasilidade". Nesse particular, a obra de MA é exemplar. A sua pesquisa não se restringe apenas à literatura mas alarga-se a todas as manifestações do folclore, desde a culinária à música e ao mito. Suas duas viagens ao Norte e Nordeste do Brasil, em 1917 e 1928/9, enriquecem e aprofundam seus conhecimentos até então teóricos, em sua maioria. E o material que colhe então e algo de surpreendente.

Ainda a este respeito, é preciso lembrar que uma outra viagem, a de 1924, ao interior de Minas Gerais, dá origem à poesia "Pau-Brasil" de Oswald, e posteriormente à Antropofagia, e ao primitivismo de Tarsila, aprofundando, em MA o desejo de conhecer melhor a realidade brasileira, dando-Ihe também recursos e material para estudar a obra plástica do Aleijadinho.

 

Fonte:
BERNARDI, Rosse Marye; COSTA, Marta Morais da; FARIA, João Roberto Gomes de; GUIMARÃES, Denise Azevedo Duarte; WEINHARDT, Marilene. Estudo sobre o modernismo. Ed. 1. Curitiba. Edições Criar. 1982.

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