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Fabio Kinas

Alegoria da Imagem
Hamlet Maquinaíma - um herói descaracterizado
A Morta ou O Espetáculo
Totum Dominatum Est
Amor para não dizer
não vai dar certo!


Espetáculo Fabio Kinas: outros
- "Hamlet-Máquina", 1999. Direção conjunta com Fábio Salvatti e preparação corporal de Lucianna Raitani. Espaço Sala 07 – Faculdade de Artes do Paraná. Curitiba/PR.
- "KA – a reunião de algumas pessoas que mudam", 2001. Memorial de Curitiba, Curitiba/PR.
- Leitura Dramática, "Um Equilíbrio Delicado", 2001. Texto: Edward Albee. Teatro Londrina – Fundação Cultural de Curitiba, Curitiba/PR.

Entrevista veiculada pelo jornal "Gazeta do Povo", junho de 2001. (Obs.: versão sem edição)
Fabio Kinas – Diretor de Teatro

1 - A primeira pergunta não é exatamente uma pergunta. Bem, gostaria que você falasse um pouco sobre sua trajetória, do início de seu interesse por teatro até agora.

Em 1986 comecei fazendo oficinas de teatro na Casa da Cultura em Joinville/SC, fiz quatro anos seguidos de teatro, a partir daí comecei uma paixão por artes em geral, principalmente pelas artes plásticas e literatura. Após alguns anos abri caminho em direção à fotografia, cursei um ano de Educação Artística na Faculdade, fui bancário (como todo artista) e depois aprofundei meus estudos em relação à imagem, com estúdio de fotografia e trabalhos em vídeo. No teatro, participei do Grupo Universitário - já não me interessava a interpretação - então a dramaturgia, a iluminação e a direção começavam a ser um desafio naquele momento. Trabalhei no Colégio Bom Jesus de Joinville e daquele contato com a educação brotou minha paixão pelo ensino: dei aulas de fotografia e teatro em uma escola de modelos e no SESC, onde trabalhei na biblioteca e setor de artes. Fui para Londres estudar inglês e acabei na França aperfeiçoando meu francês. Lá descobri o quanto amava o Brasil e voltei disposto a cursar faculdade de teatro. Entre Porto Alegre, São Paulo e Curitiba, fiquei com a proximidade e o apoio do Fernando (meu irmão). Em Curitiba comecei cursar a FAP (Faculdade de Artes do Paraná) em 1998 e neste meio acadêmico é que pude desenvolver minhas idéias estéticas. Cheguei na Faculdade trazendo os escritos de Artaud em baixo do braço e muita vontade de fazer teatro. Toda aquela ansiedade aos poucos foi amadurecendo e outros pensadores e dramaturgos foram surgindo para mim, como Brecht e Heiner Müller. A FAP permitiu o surgimento da Cia EmCômodo Teatral, formada por mim, Fábio Salvatti e Lucianna Raitani. Na Companhia, além de trabalhar com direção, todos têm uma habilidade específica, eu trabalho com iluminação, o Salvatti com sonoplastia e a Lucianna Raitani com preparação corporal. Nossa primeira direção em conjunto foi na performance Hamlet-máquina composta quase que exclusivamente pelos exercícios corporais propostos pela Lucianna.

2 - Como surgiu a idéia de Ka - A Reunião de Algumas Pessoas que Mudam?

Já em 1999, com a Companhia estruturada, algumas montagens e com o compromisso de dar seqüência ao estudo e experimentação de teatro contemporâneo, a Lucianna, que também é atriz, prôpos uma montagem sobre o trabalho de Robert Wilson. Seria uma homenagem ao trabalho do encenador norte-americano, buscando a nossa tradução de sua teoria. Com a idéia ‘na mão’, nós três chegamos à conclusão de que este seria um ótimo trabalho para o lançamento da Companhia em Curitiba, algo além dos portões da FAP. No entanto, percebemos que um trabalho como este, com 30 atores e em 30 horas, ainda era um desafio muito grande para nós e resolvemos adiá-lo para um momento oportuno.

3 - Como estão os preparativos para Ka? Está tudo certo, desde patrocínio até a realização propriamente dita?

Os ensaios já começaram; estamos com 30 atores entre alunos da FAP e profissionais; recebemos um apoio da Fundação Cultural de Curitiba, que além de ter apostado na nossa idéia, também contribuirá com equipamentos de som e luz. Convidamos alguns profissionais para execução de figurino, iluminação, etc, e contaremos com cerca de 15 técnicos durante o evento. Estamos buscando outras parcerias, sejam elas em patrocínio ou apoio. A produção do evento KA está em negociação com algumas delas. (Eventuais interessados podem enviar e-mail para [email protected]) As 30 horas ininterruptas do evento cênico ocorrerão a partir do dia 03/08 até o dia 05/08, no Memorial da Cidade de Curitiba, dentro de outro evento gratificante para todos os alunos-artistas da FAP, a Mostra da Faculdade de Artes do Paraná, que este ano irá englobar todos os cursos e todo tipo de manifestação artística em um mesmo espaço cedido pela Fundação Cultural, o Memorial da Cidade.

4 - Você, Fabio Salvatti Lucianna Raitani afirmam querer homenagear o diretor Robert Wilson. Como surgiu o interesse pelo trabalho dele e o que mais os atrai em sua estética?

Wilson nos atrai pelo seu trato minimalista com a arte; pelo seu trabalho de ralentação, repetição e aceleração de movimentos; por sua arte total, que mistura vídeo, artes plásticas, instalação, arquitetura, música, dança, terapia, além de teatro e performance. O título do projeto é uma homenagem a um espetáculo que Robert Wilson realizou no Irã, em 1972, intitulado A MONTANHA KA E O TERRAÇO GUARDenia. Nele, aproximadamente 500 pessoas fizeram uma performance numa montanha ao longo de sete dias ininterruptos. No KA do ÊmCômodo, os atores/performers estarão divididos em três grupos, cada um dos quais coordenado pelos diretores da Cia EmCômodo Teatral. O elenco atuará durante 30 horas ininterruptas, dentro das quais, além de interpretar, poderá dormir, assistir TV, comer, tomar banho, etc, segundo as direções indicadas. Queremos também, a partir deste trabalho, desenvolver novas tentativas de linguagens na encenação contemporânea, buscando sempre um possível diálogo com uma estética brasileira. Quanto à pesquisa, recebemos um apoio do pesquisador Renato Cohen, professor da PUC/SP, autor do livro "Work in Progress na Cena Contemporânea". Outra referência indispensável para nosso trabalho é o livro "Os Processos Criativos de Robert Wilson" de Luiz Roberto Galizia, que analisou a fase do trabalho de Bob que mais nos interessa (1969-1980).

5 - Continuando com Bob Wilson, é sabido que o trabalho dele é fonte de inspiração - e muitas vezes de cópia descarada - para alguns diretores brasileiros. Fugir da cópia e, principalmente, fugir de comentários - muitas vezes maldosos - que possam apontar o projeto como cópia é uma questão para vocês?

A questão que nos interessa são as conexões que a linguagem de Bob Wilson pode ter com a realidade sócio-política brasileira. A maneira pela qual o espectador brasileiro, curitibano, irá se relacionar com o evento. Não buscamos reproduzir nenhum dos trabalhos de Robert Wilson, mas sim, utilizar o seu processo criativo como fomentador do nosso. Nos interessa a transformação poética de nosso trabalho com o suporte contemporâneo do teatro do encenador norte-americano.

6 - Por telefone, você chegou a mencionar a história da "família que faz teatro". Este ambiente foi muito importante em sua formação?

Fui ator, dirigido em teatro pela minha mãe (hoje ela pinta ótimos quadros), quando eu tinha 7 anos de idade. Já fui maçã, fotógrafo e narrador. Porém, confesso que nunca me agradaram as peças infantis que passavam por Joinville. O Fernando realmente foi um grande incentivador, principalmente em relação as posições críticas e políticas.

7 - Continuando na questão familiar, chega a ser um peso, ou gerar alguma pressão, ser irmão do Fernando Kinas? Há algum tipo de competição intelectual?

Eu considero que minha formação artística se deu ainda em Joinville. Lá eu estudava e lia muito sobre arte. Quando vim para Curitiba há 03 anos, aprofundei meus estudos e construí um caminho artístico autônomo. Existe alguns princípios em comum deste caminho com o do Fernando, porém, nota-se grandes diferenças no trato estético de nossas peças. Eu o considero um ótimo diretor, sem dúvida alguma. No entanto, meu trabalho está direcionado para uma certa radicalidade além do teatro. Estou preparando eventos cênicos com ambientações e possibilidades de interatividade. Ainda me considero um aprendiz no que desejo fazer. O Fernando Kinas já é um mestre naquilo que faz.

8 - Última pergunta: o ambiente da faculdade ainda é fértil para a produção de bom teatro?

Sim, principalmente aqui em Curitiba. Eu prezo muito a FAP, apesar de todas as dificuldades materiais e a morosidade de alguns professores em se reciclarem. Só num ambiente acadêmico ideal, ágil e ligado ao seu tempo, poderemos dar uma oxigenada no teatro e nas artes em geral. Sem dúvida a Faculdade não forma artistas, porém possibilita o desenvolvimento intelectual daqueles que estão preocupados com o diálogo entre arte e sociedade. A academia tem um compromisso de pesquisa, que o mercado não tem. Esta pesquisa é refletida pelas montagens da Cia EmCômodo Teatral. Já foram 12 trabalhos apresentados desde 1998. Com o desenvolvimento do projeto KA, recebemos o convite de professores e alunos de Teatro da USP para falar sobre nosso trabalho num seminário sobre Robert Wilson, dia 18/06 em São Paulo. Tenho muito orgulho das turmas de 3º. e 4º. ano de Artes Cênicas da FAP, que, penso, operarão mudanças na cena teatral curitibana daqui há alguns anos.

Jornalista, Humberto Slowik / Caderno G – Gazeta do Povo – 17/06/2001.


Espetáculo


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