Capítulo
de "Entrelaçados"
O
roubo dos quase setecentos e cinqüenta mil reais, tinha
sido efetuado pelo próprio carro forte amarelo com
a sigla T.R.A.C. Inesperadamente naquela manhã, ele
retornara, surpreendendo a todos. Dele saíram cinco
homens fortemente armados, sendo que um deles tinha exatamente
o mesmo tipo físico e cor de pele de Raul. O rapaz
também possuía olhos azuis tais como os dele.
Características as quais foram percebidas por vários
dos colegas, que tiveram a oportunidade de chegar bem próximo
dos ladrões. O pior é que alguém tentara
reagir e o sujeito abriu um rombo no peito do tal, com sua
escopeta. Raul se defendera sim, dizendo que estivera todo
o tempo na farmácia, a qual situava-se a apenas três
quadras dali, o que seria fácil confirmarem. A multidão
de homens enfurecidos, entretanto, não quis ouvir a
voz da razão. Só conseguiam pensar no próprio
bolso. tinham sido lesados e queriam um culpado a quem pudessem
acusar. Além disso, e´ claro, buscavam vingança
a qualquer preço. Não fosse pelo senhor Freitas,
com um tiro para o alto, conseguindo atenção
imediata e já teriam iniciado o espancamento. Queriam
conseguir informações sobre o dinheiro e julgavam
que ele as teria para dar. Quando Freitas falou que deveriam
levar o rapaz à polícia, em vez de fazer justiça
com suas próprias mãos, houve quem protestasse.
Nessas horas sempre há os que só desejam ver
sangue, sem se importar com mais nada. A maioria, entretanto,
entendeu que seria a única maneira de conseguirem reaver
o que lhes pertencia. Assim não demorou mais do que
alguns minutos e Raul estava lá, junto com outros homens
estranhos e hostis, que eram conhecidos como velhos ladrões
na cidade.
Não tendo ninguém
para ajudá-lo e não tendo Luciana dado-lhe um
telefone para que pudesse entrar em contato, teria que esperar
todo o fim de semana. Na farmácia informaram que ela
já tinha saído. Ela era a única pessoa
que poderia salvá-lo daquela situação.
Assim sendo, deitou-se no estreito espaço que lhe coube,
sobre um jornal e pôs-se a pensar na moça.
Quando a noite chegou,
Raul sentiu-se muito ameaçado pela presença
daqueles marginais ali tão próximos. Chegou
a tentar não dormir para não ser pego de surpresa.
Já tinha escutado coisas sobre o que acontecia nas
prisões, principalmente com garotos na sua idade. Contudo,
ele não resistiu ao sono e por volta das duas horas
da manhã, simplesmente apagou. Eram sete e meia da
manhã quando acordou sentindo-se molhado nas costas.
Ao virar-se percebeu que havia um homem magro muito próximo
de seu corpo. O rapaz pulou assustado, achando que o sujeito
tinha urinado nele. Estava de pé, quando percebeu que
o líquido em suas costas era sangue e que a garganta
do homem estava cortada, de uma orelha à outra. Nesse
momento os outros foram levantando e questionando o acontecido.
No canto da cela um homem ruivo disse que assistira quando
Raul fora molestado e para defender-se usou a faca.
Não havia qualquer
faca na cela, é claro, mas encontraram, próximo
do corpo inerte, uma lâmina de aproximadamente dez centímetros
de comprimento. Isso e os respingos de sangue que cobriam
o corpo de Raul, foi o suficiente para incriminá-lo.
Aquela não era
uma semana de sorte para Raul. Separado de sua família
aos dezesseis anos de idade, encontrara a mulher dos seus
sonhos, mas já fora envolvido injustamente em dois
crimes brutais e ele não possuía qualquer meio
de defender-se deste último.
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