Bancada
pelo Ministério da Cultura, a passagem para entrar neste mundo custa R$
4 milhões. E, de acordo com Ana Lígia Medeiros, presidente da comissão
que cuida do assunto, o bilhete é de primeira classe. A inspiração
veio de um mix da British Library, da Inglaterra, e da Library of
the Congress, dos Estados Unidos. ''Muitas pessoas têm vergonha de não
saber mexer nos catálogos de consulta. Acham que a Biblioteca é uma
torre de marfim cheia de gente com óculos de fundo de garrafa. Não têm
noção do que a instituição guarda. Agora isso vai mudar'', diz Ana.
Grandiosidade
-
O acervo da Biblioteca guarda, de fato, muita coisa. São 9 milhões de
documentos - algo em torno de 900 milhões de páginas. ''Não dá para
digitalizar tudo. Mas estamos fazendo um rastreamento e, até dezembro,
1 milhão de cromos e microfilmes estarão disponíveis'', afirma Ana Lígia.
Verba de R$ 4 milhões, 9 milhões de documentos, 900 milhões de páginas,
1 milhão de cromos e microfilmes. Na Biblioteca Nacional, tudo é
grande. E transportar esse tudo para a internet é uma
operação quase de guerra que só deve terminar em fevereiro.
O
alvo? Garantir a preservação, democratizar o acesso às obras e
personalizar o atendimento. Cada internauta terá, por exemplo, um cartão,
como aqueles de banco, para usar os serviços e acompanhar seu histórico
de pesquisa na Biblioteca, agilizando o processo. Hoje, para se obter
uma cópia especial de qualquer documento, a demora é de 15 dias a 1 mês.
Hoje,
obra rara, tesouro mesmo, como a Bíblia da Mogúncia, só via
microfilme. É assim também com o Manuscrito 512, que também fica
trancafiado em cofre. O local é mais que apropriado. O documento de
1753 traz um relato anônimo de um viajante que descobriu uma cidade
romana - rica em ouro, prata e moedas - em pleno sertão baiano. Não há
indicações de como se chega ao local, só a descrição das suas
características.
Trilha
-
Muita gente já tentou encontrar o tesouro. Em 1920, o inglês Percy
Fawcett se abalou de seu país até aqui com esta missão. Antes, deu
uma passadinha na Biblioteca Nacional para colher informações.
Seguindo a trilha do Manuscrito 512, se embrenhou pelo interior. Nunca
mais ninguém ouvir dele ou de qualquer outro de sua expedição. Mesmo
assim, o mapa da mina é o documento mais pesquisado da
Biblioteca.
Em
1711, o livro Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas,
de João André Antonil, também foi considerado uma espécie de mapa do
tesouro - só que por parte coroa portuguesa. Enaltecendo as riquezas do
país, a publicação irritou o rei de Portugal, que não queria a
exuberância de sua colônia divulgada por aí. Resultado: o volume foi
retirado de circulação. Restaram pouquíssimos originais. Um deles,
claro, está no acervo da Biblioteca.
No
quesito originalidade, outra publicação badalada é Viagem ao
Brasil, de Hans Staden, que já virou filme e livro de cabeceira de
muita gente com a reedição feita pela editora Dantes, em 1998. Uma das
curiosidades sobre esse relato do navegador alemão, que naufragou na
costa do país em 1550 e teve que inventar mil historinhas para
escapar de tupinambás canibais, dá conta de que existem duas edições
originais - uma verdadeira e outra falsa. A autêntica, segundo
pesquisadores, está no acervo da Biblioteca.
Desenhos
-
É lá também que fica guardado o primeiro mapa, de 1552, em que o
Brasil aparece como Brasil. Ou melhor, como America Brasiliis. Na
xilogravura estão representados ainda os principais temores que a fértil
imaginação dos navegantes - na época, de primeira viagem - poderia
supor. Desenhos mostram ventos soprados por figuras gorduchas e oceanos
povoados por monstros marinhos.
Na
Gramática de João de Barros, a primeira da Língua Portuguesa,
impressa no século 16, cada letra do alfabeto tem sua ilustração.
Curiosidade: segundo informações da Divisão de Obras Raras da
Biblioteca Nacional, é o único exemplar do livro conhecido no mundo.
Curiosidade por curiosidade, a foto Os 30 Valérios ganha pelo
inusitado. Na fotomontagem de 1890, o fotógrafo paulista Valério
Vieira reproduz um recital em que os 30 personagens têm a sua cara, do
garçom ao busto sobre o piano.
Da
arte, mais light, ao noticiário, mais hard, o site
da Biblioteca oferecerá os primeiros jornais publicados no Brasil - Gazeta
do Rio de Janeiro (de 1808 a 1922); A idade douro do Brasil
(de 1811 a 1823); e O patriota (1813 a 1814). Entre os registros
de fatos históricos está a Carta de Abertura dos Portos (1808) e até
um contrato de concessão de terras portuguesas (1477), do Rei Afonso V,
o Africano, para a Condessa de Guiomar. O salto tecnológico da
Biblioteca é grande. A velha senhora ainda está em forma.