Terra
nostra
Dicionário
registra a influência italiana
no Brasil e a origem de seus sobrenomes
Celina
Côrtes
O fim do século
XIX foi marcado no Brasil pela chegada em massa de estrangeiros,
especialmente italianos, que ajudaram a revolucionar os costumes das
grandes cidades. As consequências dessa miscigenação podem ser
conferidas nos dois novos tomos do Dicionário das famílias brasileiras,
que o genealogista Eduardo Barata e o deputado monarquista Cunha Bueno lançam
em janeiro. Os calhamaços reúnem 20 mil verbetes sobre os séculos XIX e
XX, chegam às livrarias por R$ 190 e vêm acompanhados de CD-Rom.
André
Durão |
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Os
parentes do ator Reynaldo Gianecchini chegaram em 1883 |
Não fossem
os italianos, as Organizações Globo não existiriam. O jornalista
Roberto Marinho é neto da italiana Cristina Pizzani. A filha dela,
Francisca Pizzani (1886-1976), casou-se com Irineu Marinho Coelho de
Barros, fundador do jornal O Globo. Nos almoços de família, consta que
um empregado lia o jornal para dona Chica, sob o pretexto de que ela não
enxergava bem. Só os que privavam de sua intimidade sabiam que a mãe de
Roberto Marinho, apesar de nascida no Brasil, não sabia ler em português.
Marco
A. Rezende |
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Dona
Chica, mãe do empresário Roberto Marinho, não lia em português |
Outro
exemplo de imigração que deu certo é o do conde Francisco Antônio Maria
Matarazzo. (1854-1937). Um dos nove filhos de Costábile
Matarazzo com Mariangela Iovane, Francisco fixou-se em Sorocaba, em 1881.
Nesse ano fundou sua primeira fábrica, de banha. Matarazzo tornou-se o pioneiro da industrialização brasileira e criou o maior
complexo fabril da América do Sul. Em 1917, foi nomeado conde pelo rei
italiano Vittorio Emmanuele. Todos os seus seis filhos também ascenderam
a condes, por decreto do governo italiano. Para deixar suas cidades de
origem, os italianos inscreviam-se em uma listagem que definia cotas de mão-de-obra
para cada profissão. “Quem queria viajar a qualquer preço falsificava
a profissão. Muitos eram camponeses que ajudaram a salvar São Paulo da
falência quando os escravos foram libertados”, lembra o genealogista e
mestre em educação Gilson Nazareth, 64 anos.
Abril
Press |
AE |
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O
Conde Francisco Matarazzo
montou a primeira fábrica, de banha, em 1881 |
A
linhagem do banqueiro Salvatore Cacciola veio no vapor Mendoza |
Mais do que
inserir a macarronada e a pizza no cardápio nacional, a onda de italianos
arejou as idéias no País. Entre eles havia anarquistas, que deram origem
ao movimento de mesmo nome no Brasil. “Meu avô Gattai veio de Florença
para o Brasil em 1889 no navio Cittá Di Roma e ajudou a fundar a colônia
anarquista Cecília, no Paraná. Eles queriam transformar o mundo, mas era
uma utopia irrealizável”, lembra a escritora Zélia Gattai. Entre os
sobrenomes italianos mais e menos ilustres figuram também o do ator
Reynaldo Gianecchini e o do banqueiro fugido Salvatore Cacciola. Os
Gianecchinis chegaram ao Brasil em 1883 a bordo do vapor France, vindos de
Gênova. Já o primeiro Cacciola de que se tem notícia, Francisco, 56
anos, desembarcou no Brasil pelo vapor Mendoza e veio acompanhado da
esposa, Elizabetta, e de três filhos, Maria, Nazarena e Bartholomeo.
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