Quinta, 7 de Julho de 2005...
Existia um Homem...
Existia um homem. Um homem que não se chamava. Um homem
a quem não chamavam. Ele não possuía um
nome, ou deste não se lembrava. Ele já não
tinha mais face, apenas um espelho de bolso com marcas do tempo.
E para ele essa era sua imagem, ou deveria ser, assim acreditava.
Em sua mente haviam cenas, pedaços de eras conhecidas.
Vozes, cores, pessoas talvez algum dia em sua vida acontecidas.
E ele se mesclava aos edifícios, andando de época
em época, cantando uma canção repugnante,
como um bucaneiro errante, arranhando os ouvidos de quem não
o enxergava.
Um paletó acinzentado, tantas e tantas vezes remendando
era o que carregava em sua mão, e com ele empunhado como
espada, vez ou outra ele encontrava um amigo nas esquinas da
vida. E ele cumprimentava a imagem com reverências Vitorianas,
abaixava-se com dificuldade encarava a miragem e repetia a mesma
velha ladainha. A voz ressoava imponente, junto com a gritaria
de toda gente e o lixo que a cidade produzia.
Mas, ninguém o notava e ele prosseguia. Passava por
becos antigos, cidades destruídas, portos, bares e rugia
nomes de mulheres que nem sequer conseguia pronunciar. Lutava
destemido contra dragões, ditava contos enormes para
multidões, e se sentia completo negociando o destino
de seu próprio país. Amava mulheres a muito adormecidas,
conhecia terras e culturas esquecidas e sentia-se pleno sendo
tantos.
Algumas vezes, quando chovia, ele abaixava-se para secar as
botas cheias de lama e seu rosto acabava refletido em uma poça
d’água. Então ele chorava. Chorava como
criança, deitando sua cabeça sobre qualquer cão
e abraçando as próprias pernas. Mas assim que
a chuva passava, que as poças secavam e o sol se fazia,
ele mais uma vez esquecia seus olhos, e os criava em sua mente
como bem queria. Cada dia de uma cor, cada hora com uma idade.
Este homem não existe mais. Foi morto por um de seus
dragões há tempos atrás, queimado por chamas
como um glorioso herói; ao atravessar uma das tantas
ruas da cidade, em fúria contra o magnífico dragão
prateado, placa CP 4104.
Danielle "Nessa" Ribeiro
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Inté...
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