AMLERS / PATRONOS  
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Carlos von Koseritz

PATRONO DA CADEIRA Nº 10

                                                       Sylvio Jantzen
                         CIM 194222

Figura de nossa História que marcou grandes acontecimentos no Rio Grande do Sul no Século XIX

  

Introdução

Este trabalho tem por finalidade apresentar alguns dados sobre a figura do insigne maçom e jornalista que foi Carlos Von Koseritz  patrono vitalício da cadeira número dez do AMLERS.

A figura de Carlos Von Koseritz deixou profundas marcas na sociedade riograndense do século principalmente pela sua atuação como defensor e paladino dos emigrantes alemães que aqui aportaram e que tanto colaboraram para o engrandecimento do solo riograndense  com seu trabalho árduo tanto na agricultura, como no comércio e na industria.

Dados Biográficos

 

CARLOS VON KOSERITS,nasceu em Dessau, na Prússia Oriental em 3 de fevereiro de 1834, filho de João Carlos Frederico Von Koseritz e de Wilhelmina Carolina Stedkigk Von Koseritz, seu nome  real era Karl Julius Christian Adelbert Heinrich Ferdinand Von Koseritz, era o primogênito da família.

Carlos foi sempre um menino inteligente e sonhador, admirador desde os seus quinze anos da figura de Luiz Felipe de Orléans da França o famoso Rei Cidadão. Que acabou deposto em 1848. Leitor voraz das obras de  Schiller. Foi educado para ser pajem da corte e certamente sua família o destinava ao serviço público conforme as tradições  vigentes. Ainda menino sentia grande atração pela política e tudo que ocorria naquela época numa Alemanha em busca de unificação e recheada de idéias liberais e antiabsolutistas devem ter lhe influenciado. Foi envolvido pelo redemoinho revolucionário que o ejetou da trajetória antes estabelecida para novas prioridades por ele criadas. Participava ativamente dos movimentos revolucionários de então e seu pai o  colocou num internato em Wittemberg de severa disciplina para desviá-lo de suas inclinações e afastá-lo da política..Não completando três anos nessa instituição, deixou o estabelecimento sem aviso, embarcando como moço de bordo  em agosto de 1850, para uma viagem marítima. Pensava que  ia realizar seus sonhos de aventuras, na verdade aspirava secretamente servir num navio estrangeiro para conhecer o mundo inteiro.  Sua primeira viagem foi no Barco Diana que o levou até a Bahia o que o desencantou. Na Segunda Viagem  embarcou no “Royal Seal” junto com alemães que haviam combatido contra a Dinamarca e pela Alemanha, chegando ao Rio de Janeiro ingressou na Legião de estrangeiros que o governo brasileiro organizara contra Rosas. Alistou-se assim no chamado Segundo Regimento de Reserva da Cavalaria Montada a pé (sic). Seus efetivos eram conhecidos como os “Brummers”, ou seja os Chorões’.”.  Seguindo para o Rio Grande com 18 anos de idade. Nunca chegou a combater, ficou trabalhando nas areias de Rio Grande junto com seus camaradas e, certa noite, desertou junto com eles pois não Haviam feito nenhum juramento ou receberam seus  soldos. .Assim, estes “Brummers tornaram-se colonos e se ligaram ao Brasil para  o povoar. Desconhecendo a língua do país Koseritz foi para Pelotas onde um patrício conseguiu-lhe  o emprego de cozinheiro na casa de uma família de franceses. Logo após  foi trabalhar no Cais do Porto e devido às dificuldades que passou ficou seriamente doente tendo sido recolhido ao Hospital Municipal entre a vida e a morte, lá,  depois de salvar-se foi ajudado por um irlandês moribundo que lhe legou suas roupas civis e seu passaporte. Partiu então para a campanha a fim de escapar  da miséria, da policia e da prisão. No interior trabalhou para um estancieiro como professor particular e de piano de seus filhos . Mais tarde virou tropeiro andando por todo o Rio Grande e conhecendo toda a Província. Nesta etapa veio a conhecer aquela que seria sua esposa e companheira por toda a vida, Zeferina Maria de Vasconcelos filha de um estancieiro que residia nas proximidades de Pelotas. Em 1855, já então casado, aprendera o português  como se fosse seu segundo idioma materno. Amadurecera e preenchera muitas lacunas na sua formação intelectual. Em 1855 era guarda livros em Rio Grande  e repórter  do Deutsche Einwanderer”, que fora fundado em Porto Alegre no ano de 1853 e colaborava no Riograndense jornal local em língua portuguesa. No inicio de 1856 vai assumir o cargo de Professor do Colégio União em Pelotas entrando para o jornal Notificador. Em 1857 funda sua própria escola, um colégio para meninos e meninas. Em 1856 publica um Resumo de História Universal. Escreveu peças teatrais  em português como os dramas Ïnes”e “Nini  (1859), sendo que as peças  foram encenadas sómente duas vezes. Colaborava nos cadernos mensais literários “Ramalhete do Rio Grande com uma série de contos. Adquiriu uma tipografia publicando em 1858 o primeiro jornal diário de Pelotas o Brado do Sul e  aos poucos conquistou um nome na imprensa tendo adquirido alguma importância política como órgão de oposição ao governo. Em 1865 Koseritz naturalizou-se brasileiro e seu jornal foi fechado por ordem do Chefe de Policia, tendo que interromper sua publicação e também foi vítima de um atentado  sendo assaltado por sicários na frente de sua própria residência e tendo sido salvo por sua esposa que prontamente o atendeu e hospitalizou. Domingos José de Almeida, então famoso por sua vida revolucionária no período farroupilha (1835/1845) ofereceu-se para ser seu Editor do jornal em 1860, mas em 1865  O Brado do Sul” foi à falência. Depois de tentar novamente se estabelecer em Rio Grande tendo também lá  graves problemas resolveu tentar Porto Alegre  onde lhe foi oferecido a direção do Deutsche Zeitung””. Aceitou o convite e em 02/07/1864 assumiu o cargo em Porto Alegre . Aproximadamente em 1870 tornou-se maçon ou pedreiro livre como se dizia na época. Defendia postulados avançados para o seu tempo e também começou uma luta contra os jesuítas e o clero mais retrógrado que não aceitava a população teuto brasileira por ser evangélica em sua maioria. Segundo ele, os jesuítas, não passavam de inimigos do progresso e da ilustração. Von Koseritz desenvolveu estudos de pesquisa e publicações em vários setores  sendo considerado por muitos um precursor de estudos de paleontologia e etnologia. Em 1872 publicou uma novela naturalista “Laura “. Durante dezesseis  anos  Von Koseritz atuou  no Deutsche Zeitung e mais tarde no Koseritz’”‘Deutsche Zeitung    que foi dirigido por ele até sua morte no dia 30 de maio de 1890.

Suas atividades de jornalista

Carlos Von Koseritz foi, sem dúvida, o maior jornalista de origem alemã no século XIX em todo o Brasil, com Arno Phillips, outro grande jornalista também nascido na Alemanha.Ambos  escreviam corretamente  nas duas línguas. Era um autodidata de espírito combativo e extraordinário talento. Jornalista por vocação e integrado perfeitamente  no ambiente gaúcho, era óbvio  que teria que participar  da política tornando-se um defensor de seus patrícios principalmente os colonos. Era, porém anticlerical especialmente contra os padres jesuítas e, influenciado pela Kulturkampf,que grassava na Alemanha e que era um movimento inspirado por Bismarck que não via com bons olhos a interferência da Igreja em assuntos de estado e na educação da Alemanha unificada em 1870 .Seguia a orientação daqueles que o clero chamava de “livre pensadores” então em moda na segunda metade do século XIX. Sempre lutou em favor de tudo que pudesse fazer o país progredir e contra aquelas forças como o clero conservador que queria, segundo ele , o país estagnado.

Era a favor de aumentar a imigração européia para combater o clientelismo dos fazendeiros e o obscurantismo religioso de um clero retrógrado e ultrapassado. Queria que os cristãos não católicos não fossem perseguidos pelos jesuítas e clero católico luso brasileiro e poristo Apoiou Gaspar Silveira Martins , conselheiro na época e um liberal dentro também dos parâmetros daquele momento histórico. Combatia ainda a influencia estrangeira por temor a exploração e  seus alvos eram fundamentalmente a Inglaterra e a França que na fase de expansão do Imperialismo Europëu anterior a primeira guerra mundial estavam em franco crescimento e dominio por todo o mundo principalmente na América Latina em busca de novos mercados. Era contra a interferência germânica nos assuntos brasileiros mas queria conservar a cultura de seus antepassados para não deixar os colonos  sem identidade, pois achava, que um teuto brasileiro serviria melhor a sua nova pátria se não perdesse as suas raízes,coisa que os portugueses haviam realizado com os povos afros aqui escravizados e que foram coagidos a abandonar as suas tradições e cultura para serem totalmente subjugados, na verdade, o luso brasileiro não via muita diferença entre os antigos escravos e os novos colonos,que, vindos de uma região da Europa onde os camponeses eram ainda servos não tinham nenhuma consciência de seus direitos e eram submissos e conformistas. Koseritz  exigia da Província escolas  e incitava a população para se organizar e defender  a sua cultura para evitar o analfabetismo e obscurantismo que o clero católico, segundo achava, queria impor aos novos servos que aqui tinham chegado. Na verdade não havia assunto que Von Koseritz não interferisse apoiando todas as causas que no seu entender  visassem o progresso de seu querido Rio Grande, terra adotiva e sua pátria por escolha e adoção. Era um vanguardista na época, que previa um grande futuro para os gaúchos e para o Brasil em geral.

Carlos Von Koseritz, além de  jornalista foi escritor folclorista, historiador, advogado, professor e deputado provincial. Intelectual dinâmico dotado de espirito combativo Koseritz não se limitava a transcrever simplesmente as noticias da imprensa nacional ou estrangeira. Comentava cada uma, elogiava, criticava sendo muitas vezes radical , mas sempre  emitindo sua opinião sincera e honesta de velho guerreiro tanto na vida militar como no jornalismo. Diziam alguns que Koseritz queria ganhar influência política junto aos descendentes de alemães, era verdade, mas queria orientá-los para evitar que caíssem nas armadilhas dos astutos caudilhos que já naquela época  se formavam no Rio Grande dentro de uma visão ainda medieval e ultrapassada. Koseritz tinha méritos e grandes. Na verdade não conseguiu despertar o interesse de seus compatriotas bovinos e insensíveis à política dada a cegueira política daquilo que alguns chamavam de idiotia rural. Preocupação só com a vida exclusivamente material e corriqueira: os problemas do cotidiano e sem se dar conta da importância da atividade política no dia a dia.Como sabemos isto foi um erro dos teuto brasileiros que mais tarde, já no século XX,  na Segunda Guerra Mundial, pagaram por isto um alto preço, quando foram perseguidos  e extorquidos sob o pretexto da  guerra que se travava e que na verdade apenas simpatizavam com o povo alemão por dele descender sendo que  a grande maioria da população teuto brasileira nem sabia  quem era quem no conflito.  Todos foram  taxados de nazistas e discriminados, proibidos de manterem sua língua e cultura. Nesta etapa da História o Brasil se situou, apesar de ser uma ditadura também, ao lado das Democracias Ocidentais que estavam realmente combatendo de uma forma justa,  o nazi fascismo. É importante registrar que quando da formação da FEB dela participaram inúmeros teuto brasileiros que foram para a Itália lutar contra o nazi fascismo.

  Koseritz esclarecido,queria influenciar os colonos com suas idéias liberais e sociais democratas enquanto os religiosos lhes transmitiam a submissão e o conformismo e conseguiam êxito, pois os colonos eram semi letrados de precária educação, esquecendo rapidamente os conhecimentos mais avançados que alguns haviam  adquirido daqueles que vinham das camadas urbanas mais politizadas como artífices ou artesãos.  Os agricultores eram servos submissos de seus novos senhores e amedrontados em uma terra que desconheciam, também não conheciam os usos e costumes dos luso brasileiros que ainda se debatiam num sistema escravocrata com propriedades imensas e características tipicamente medievais. Enfim, Koseritz era mal visto pelos proprietários rurais como um elemento perigoso e desagregador. Os proprietários rurais por sua vez não viam com bons olhos o desenvolvimento do comércio e da industria pelos emigrantes alemães o que acabaria por se contrapor a uma economia feudalista e primitiva. Os chefetes latino americanos sempre foram contra o progresso urbano e a consciência dos direitos de cidadania. Na verdade, queriam conservar o sistema colonial luso espanhol em proveito próprio, oprimindo e esmagando o povo como anteriormente era feito pelos europeus, senhores dos quais esses chefetes  ainda se consideravam vassalos. Para a Europa estes caudilhos eram submissos e bajuladores mas na política interna eram tiranos  e opressores para  descontar sua submissão externa: esmagar nas republiquetas e bajular os senhores europeus para conseguir empréstimos e financiamentos que eles fariam e o povo submisso de suas nações pagaria, esta era a politica adotada até então e que ainda hoje é continuada em grande parte na maioria dos paises sul americanos. Koseritz era um paladino, um defensor dos oprimidos um amante da cidadania que queria que  todos os brasileiros unidos e não somente os teuto brasileiros ficassem livres da opressão. Queria que o Brasil se tornasse industrial como eram a   Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos ou seja os paises não subjugados.Era uma utopia, sem dúvida, mas bem intencionada. Combatia o  catolicismo obscurantista da época daí a pecha de anticlerical. Injusta pois Koseritz como maçom  não era ateu e nem contra o sacerdócio, quando este é desprendido e  humanista. Era sim contra a religião como instrumento de dominação e exploração de miseráveis e simplórios, prática esta  que até hoje está em uso pelos oportunistas e que uma parte da igreja também é contra. Koseritz era um inovador, muito além de sua época, mal compreendido pelos néscios e aceito por uma minoria mais esclarecida, mas sem forças para impor seus critérios numa  América Latina dominada e principalmente no Brasil e no Rio Grande particularmente por grupos atrasados e oportunistas. Não era a vaidade pessoal que o movia se o fosse seria muito cômodo para ele, bastava aliar-se com os grupos dominantes que teria um futuro garantido.

Com meio ano a testa da redação do Deutsche Zeitung ainda antes de atacar as igrejas retrógradas provou sua sinceridade: autor de brilhante idéia Koseritz foi um propagandista da participação dos colonos alemães na defesa do sul do Brasil contra as hordas dos tiranetes cisplatinos contumazes invasores da terra gaúcha. Para isto convocou uma reunião de colonos alemães da capital que se realizou em primeiro de janeiro de 1865 no Hotel Drügg com a participação de 30 pessoas sob a presidência  do ex Brümmer Heinrich Born na reunião Koseritz  e outros  defenderam com veemência  a formação de um Corpo  Militar  para lutar  com seus irmãos luso brasileiros contra o invasor platino. Havia adversários como Heinrich Schlüter  que ainda não haviam  assimilado a idéia  de eram teuto brasileiros mas se consideravam somente teutos, queriam a neutralidade o que não era covardia  eram apenas as lembranças das experiências amargas dos colonos na época da Revolução Farroupilha  quando uma parte dos colonos defendera a causa do governo imperial e a outra a dos revolucionários de Piratini. Por esta razão a maioria dos teutos brasileiros  mal informada e mal orientada defendeu  e apoiou a idéia da neutralidade  pois lhe faltou percepção  de que agora a situação era outra, tratava-se da defesa do território nacional somente se  remontavam às suas antigas experiências de São Leopoldo onde teriam sido testemunhas de tropelias e excessos dos farrapos. Num artigo de fundo  publicado no Deutsche Zeitung em 7 de janeiro de 1865, Koseritz combateu esta decisão provando que não era  lícito comparar a situação farroupilha  com a atual, a Revolução Farroupilha foi uma guerra civil de política interna já agora se tratava de uma guerra com outro país: política externa, onde era importante defender o território nacional, dizia Kosweritz: ..”Não se enganem, os defensores da  chamada atitude de neutralidade pois esse inimigo não respeitará qualquer nacionalidade estrangeira”.Na Segunda reunião Koseritz conseguiu 150 voluntários teuto brasileiros que se prontificaram a lutar ao lado dos luso brasileiros.

 Encerro o meu trabalho aqui. Mas tenho a intenção de  continuá-lo com mais elementos, oportunamente.

 

Sylvio Jantzen

31/03/2001

 

 

Bibliografia

Carlos Von Koseritz  - Carlos H. Oberacker Jr

EDITORA Anhambi/ 1961

 

Enciclopédia Rio Grandense/

 Diversos Autores

 Editora La Salle - Canoas

Karl Von Koseritz, jornalista e político

Volume 1(Páginas 243/244).

Alemães na Guerra dos Farrapos

Hilda Agnes Hübner Flores

Edipucrs

 

 

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