Figura
de nossa História que marcou grandes acontecimentos no Rio Grande do Sul no
Século XIX
Introdução
Este trabalho tem por finalidade
apresentar alguns dados sobre a figura do insigne maçom e jornalista que
foi Carlos Von Koseritz patrono
vitalício da cadeira número dez do AMLERS.
A figura de Carlos Von Koseritz
deixou profundas marcas na sociedade riograndense do século principalmente
pela sua atuação como defensor e paladino dos emigrantes alemães que aqui
aportaram e que tanto colaboraram para o engrandecimento do solo
riograndense com seu trabalho
árduo tanto na agricultura, como no comércio e na industria.
Dados Biográficos
CARLOS
VON KOSERITS,nasceu em Dessau, na Prússia Oriental em 3 de fevereiro de
1834, filho de João Carlos Frederico Von Koseritz e de Wilhelmina Carolina
Stedkigk Von Koseritz, seu nome real
era Karl Julius Christian Adelbert Heinrich Ferdinand Von Koseritz, era o
primogênito da família.
Carlos foi sempre um menino inteligente e sonhador,
admirador desde os seus quinze anos da figura de Luiz Felipe de Orléans da
França o famoso Rei Cidadão. Que acabou deposto em 1848. Leitor voraz das
obras de Schiller. Foi educado
para ser pajem da corte e certamente sua família o destinava ao serviço público
conforme as tradições vigentes.
Ainda menino sentia grande atração pela política e tudo que ocorria
naquela época numa Alemanha em busca de unificação e recheada de idéias
liberais e antiabsolutistas devem ter lhe influenciado. Foi envolvido pelo
redemoinho revolucionário que o ejetou da trajetória antes estabelecida
para novas prioridades por ele criadas. Participava ativamente dos
movimentos revolucionários de então e seu pai o
colocou num internato em Wittemberg de severa disciplina para desviá-lo
de suas inclinações e afastá-lo da política..Não completando três anos
nessa instituição, deixou o estabelecimento sem aviso, embarcando como moço
de bordo em agosto de 1850,
para uma viagem marítima. Pensava que
ia realizar seus sonhos de aventuras, na verdade aspirava
secretamente servir num navio estrangeiro para conhecer o mundo inteiro.
Sua primeira viagem foi no Barco Diana que o levou até a Bahia o que
o desencantou. Na Segunda Viagem embarcou
no “Royal Seal” junto com alemães que haviam combatido contra a
Dinamarca e pela Alemanha, chegando ao Rio de Janeiro ingressou na Legião
de estrangeiros que o governo brasileiro organizara contra Rosas. Alistou-se
assim no chamado Segundo Regimento de Reserva da Cavalaria Montada a pé
(sic). Seus efetivos eram conhecidos como os “Brummers”, ou seja os Chorões’.”.
Seguindo para o Rio Grande com 18 anos de idade. Nunca chegou a
combater, ficou trabalhando nas areias de Rio Grande junto com seus
camaradas e, certa noite, desertou junto com eles pois não Haviam feito
nenhum juramento ou receberam seus soldos.
.Assim, estes “Brummers tornaram-se colonos e se ligaram ao Brasil para
o povoar. Desconhecendo a língua do país Koseritz foi para Pelotas
onde um patrício conseguiu-lhe o
emprego de cozinheiro na casa de uma família de franceses. Logo após
foi trabalhar no Cais do Porto e devido às dificuldades que passou
ficou seriamente doente tendo sido recolhido ao Hospital Municipal entre a
vida e a morte, lá, depois de
salvar-se foi ajudado por um irlandês moribundo que lhe legou suas roupas
civis e seu passaporte. Partiu então para a campanha a fim de escapar
da miséria, da policia e da prisão. No interior trabalhou para um
estancieiro como professor particular e de piano de seus filhos . Mais tarde
virou tropeiro andando por todo o Rio Grande e conhecendo toda a Província.
Nesta etapa veio a conhecer aquela que seria sua esposa e companheira por
toda a vida, Zeferina Maria de Vasconcelos filha de um estancieiro que
residia nas proximidades de Pelotas. Em 1855, já então casado, aprendera o
português como se fosse seu
segundo idioma materno. Amadurecera e preenchera muitas lacunas na sua formação
intelectual. Em 1855 era guarda livros em Rio Grande
e repórter do Deutsche
Einwanderer”, que fora fundado em Porto Alegre no ano de 1853 e colaborava
no Riograndense jornal local em língua portuguesa. No inicio de 1856 vai
assumir o cargo de Professor do Colégio União em Pelotas entrando para o
jornal Notificador. Em 1857 funda sua própria escola, um colégio para
meninos e meninas. Em 1856 publica um Resumo de História Universal.
Escreveu peças teatrais em português como os dramas Ïnes”e “Nini
(1859), sendo que as peças foram
encenadas sómente duas vezes. Colaborava nos cadernos mensais literários
“Ramalhete do Rio Grande com uma série de contos. Adquiriu uma tipografia
publicando em 1858 o primeiro jornal diário de Pelotas o Brado do Sul e
aos poucos conquistou um nome na imprensa tendo adquirido alguma
importância política como órgão de oposição ao governo. Em 1865
Koseritz naturalizou-se brasileiro e seu jornal foi fechado por ordem do
Chefe de Policia, tendo que interromper sua publicação e também foi vítima
de um atentado sendo assaltado
por sicários na frente de sua própria residência e tendo sido salvo por
sua esposa que prontamente o atendeu e hospitalizou. Domingos José de
Almeida, então famoso por sua vida revolucionária no período farroupilha
(1835/1845) ofereceu-se para ser seu Editor do jornal em 1860, mas em 1865
O Brado do Sul” foi à falência. Depois de tentar novamente se
estabelecer em Rio Grande tendo também lá
graves problemas resolveu tentar Porto Alegre
onde lhe foi oferecido a direção do Deutsche Zeitung””. Aceitou
o convite e em 02/07/1864 assumiu o cargo em Porto Alegre . Aproximadamente
em 1870 tornou-se maçon ou pedreiro livre como se dizia na época. Defendia
postulados avançados para o seu tempo e também começou uma luta contra os
jesuítas e o clero mais retrógrado que não aceitava a população teuto
brasileira por ser evangélica em sua maioria. Segundo ele, os jesuítas, não
passavam de inimigos do progresso e da ilustração. Von Koseritz
desenvolveu estudos de pesquisa e publicações em vários setores
sendo considerado por muitos um precursor de estudos de paleontologia
e etnologia. Em 1872 publicou uma novela naturalista “Laura “. Durante
dezesseis anos Von
Koseritz atuou no Deutsche
Zeitung e mais tarde no Koseritz’”‘Deutsche Zeitung
que foi dirigido por ele até sua morte no dia 30 de maio de 1890.
Suas atividades de
jornalista
Carlos
Von Koseritz foi, sem dúvida, o maior jornalista de origem alemã no século
XIX em todo o Brasil, com Arno Phillips, outro grande jornalista também
nascido na Alemanha.Ambos escreviam
corretamente nas duas línguas.
Era um autodidata de espírito combativo e extraordinário talento.
Jornalista por vocação e integrado perfeitamente
no ambiente gaúcho, era óbvio
que teria que participar da
política tornando-se um defensor de seus patrícios principalmente os
colonos. Era, porém anticlerical especialmente contra os padres jesuítas
e, influenciado pela Kulturkampf,que grassava na Alemanha e que era um
movimento inspirado por Bismarck que não via com bons olhos a interferência
da Igreja em assuntos de estado e na educação da Alemanha unificada em
1870 .Seguia a orientação daqueles que o clero chamava de “livre
pensadores” então em moda na segunda metade do século XIX. Sempre lutou
em favor de tudo que pudesse fazer o país progredir e contra aquelas forças
como o clero conservador que queria, segundo ele , o país estagnado.
Era
a favor de aumentar a imigração européia para combater o clientelismo dos
fazendeiros e o obscurantismo religioso de um clero retrógrado e
ultrapassado. Queria que os cristãos não católicos não fossem
perseguidos pelos jesuítas e clero católico luso brasileiro e poristo
Apoiou Gaspar Silveira Martins , conselheiro na época e um liberal dentro
também dos parâmetros daquele momento histórico. Combatia ainda a
influencia estrangeira por temor a exploração e
seus alvos eram fundamentalmente a Inglaterra e a França que na fase
de expansão do Imperialismo Europëu anterior a primeira guerra mundial
estavam em franco crescimento e dominio por todo o mundo principalmente na
América Latina em busca de novos mercados. Era contra a interferência germânica
nos assuntos brasileiros mas queria conservar a cultura de seus antepassados
para não deixar os colonos sem identidade, pois achava, que um teuto brasileiro serviria
melhor a sua nova pátria se não perdesse as suas raízes,coisa que os
portugueses haviam realizado com os povos afros aqui escravizados e que
foram coagidos a abandonar as suas tradições e cultura para serem
totalmente subjugados, na verdade, o luso brasileiro não via muita diferença
entre os antigos escravos e os novos colonos,que, vindos de uma região da
Europa onde os camponeses eram ainda servos não tinham nenhuma consciência
de seus direitos e eram submissos e conformistas. Koseritz
exigia da Província escolas e
incitava a população para se organizar e defender a sua cultura para evitar o analfabetismo e obscurantismo que
o clero católico, segundo achava, queria impor aos novos servos que aqui
tinham chegado. Na verdade não havia assunto que Von Koseritz não
interferisse apoiando todas as causas que no seu entender
visassem o progresso de seu querido Rio Grande, terra adotiva e sua pátria
por escolha e adoção. Era um vanguardista na época, que previa um grande
futuro para os gaúchos e para o Brasil em geral.
Carlos
Von Koseritz, além de jornalista
foi escritor folclorista, historiador, advogado, professor e deputado
provincial. Intelectual dinâmico dotado de espirito combativo Koseritz não
se limitava a transcrever simplesmente as noticias da imprensa nacional ou
estrangeira. Comentava cada uma, elogiava, criticava sendo muitas vezes
radical , mas sempre emitindo
sua opinião sincera e honesta de velho guerreiro tanto na vida militar como
no jornalismo. Diziam alguns que Koseritz queria ganhar influência política
junto aos descendentes de alemães, era verdade, mas queria orientá-los
para evitar que caíssem nas armadilhas dos astutos caudilhos que já
naquela época se formavam no Rio Grande dentro de uma visão ainda medieval
e ultrapassada. Koseritz tinha méritos e grandes. Na verdade não conseguiu
despertar o interesse de seus compatriotas bovinos e insensíveis à política
dada a cegueira política daquilo que alguns chamavam de idiotia rural.
Preocupação só com a vida exclusivamente material e corriqueira: os
problemas do cotidiano e sem se dar conta da importância da atividade política
no dia a dia.Como sabemos isto foi um erro dos teuto brasileiros que mais
tarde, já no século XX, na
Segunda Guerra Mundial, pagaram por isto um alto preço, quando foram
perseguidos e extorquidos sob o
pretexto da guerra que se
travava e que na verdade apenas simpatizavam com o povo alemão por dele
descender sendo que a grande
maioria da população teuto brasileira nem sabia
quem era quem no conflito. Todos
foram taxados de nazistas e
discriminados, proibidos de manterem sua língua e cultura. Nesta etapa da
História o Brasil se situou, apesar de ser uma ditadura também, ao lado
das Democracias Ocidentais que estavam realmente combatendo de uma forma
justa, o nazi fascismo. É importante registrar que quando da formação
da FEB dela participaram inúmeros teuto brasileiros que foram para a Itália
lutar contra o nazi fascismo.
Koseritz esclarecido,queria influenciar os colonos com suas idéias
liberais e sociais democratas enquanto os religiosos lhes transmitiam a
submissão e o conformismo e conseguiam êxito, pois os colonos eram semi
letrados de precária educação, esquecendo rapidamente os conhecimentos
mais avançados que alguns haviam adquirido
daqueles que vinham das camadas urbanas mais politizadas como artífices ou
artesãos. Os agricultores eram
servos submissos de seus novos senhores e amedrontados em uma terra que
desconheciam, também não conheciam os usos e costumes dos luso brasileiros
que ainda se debatiam num sistema escravocrata com propriedades imensas e
características tipicamente medievais. Enfim, Koseritz era mal visto pelos
proprietários rurais como um elemento perigoso e desagregador. Os proprietários
rurais por sua vez não viam com bons olhos o desenvolvimento do comércio e
da industria pelos emigrantes alemães o que acabaria por se contrapor a uma
economia feudalista e primitiva. Os chefetes latino americanos sempre foram
contra o progresso urbano e a consciência dos direitos de cidadania. Na
verdade, queriam conservar o sistema colonial luso espanhol em proveito próprio,
oprimindo e esmagando o povo como anteriormente era feito pelos europeus,
senhores dos quais esses chefetes ainda
se consideravam vassalos. Para a Europa estes caudilhos eram submissos e
bajuladores mas na política interna eram tiranos
e opressores para descontar sua submissão externa: esmagar nas republiquetas e
bajular os senhores europeus para conseguir empréstimos e financiamentos
que eles fariam e o povo submisso de suas nações pagaria, esta era a
politica adotada até então e que ainda hoje é continuada em grande parte
na maioria dos paises sul americanos. Koseritz era um paladino, um defensor
dos oprimidos um amante da cidadania que queria que
todos os brasileiros unidos e não somente os teuto brasileiros
ficassem livres da opressão. Queria que o Brasil se tornasse industrial
como eram a Alemanha,
Inglaterra e Estados Unidos ou seja os paises não subjugados.Era uma
utopia, sem dúvida, mas bem intencionada. Combatia o
catolicismo obscurantista da época daí a pecha de anticlerical.
Injusta pois Koseritz como maçom não
era ateu e nem contra o sacerdócio, quando este é desprendido e
humanista. Era sim contra a religião como instrumento de dominação
e exploração de miseráveis e simplórios, prática esta
que até hoje está em uso pelos oportunistas e que uma parte da
igreja também é contra. Koseritz era um inovador, muito além de sua época,
mal compreendido pelos néscios e aceito por uma minoria mais esclarecida,
mas sem forças para impor seus critérios numa
América Latina dominada e principalmente no Brasil e no Rio Grande
particularmente por grupos atrasados e oportunistas. Não era a vaidade
pessoal que o movia se o fosse seria muito cômodo para ele, bastava
aliar-se com os grupos dominantes que teria um futuro garantido.
Com
meio ano a testa da redação do Deutsche Zeitung ainda antes de atacar as
igrejas retrógradas provou sua sinceridade: autor de brilhante idéia
Koseritz foi um propagandista da participação dos colonos alemães na
defesa do sul do Brasil contra as hordas dos tiranetes cisplatinos
contumazes invasores da terra gaúcha. Para isto convocou uma reunião de
colonos alemães da capital que se realizou em primeiro de janeiro de 1865
no Hotel Drügg com a participação de 30 pessoas sob a presidência
do ex Brümmer Heinrich Born na reunião Koseritz
e outros defenderam com
veemência a formação de um
Corpo Militar
para lutar com seus irmãos
luso brasileiros contra o invasor platino. Havia adversários como Heinrich
Schlüter que ainda não haviam
assimilado a idéia de eram teuto brasileiros mas se consideravam somente teutos,
queriam a neutralidade o que não era covardia
eram apenas as lembranças das experiências amargas dos colonos na
época da Revolução Farroupilha quando
uma parte dos colonos defendera a causa do governo imperial e a outra a dos
revolucionários de Piratini. Por esta razão a maioria dos teutos
brasileiros mal informada e mal
orientada defendeu e apoiou a
idéia da neutralidade pois lhe
faltou percepção de que agora
a situação era outra, tratava-se da defesa do território nacional somente
se remontavam às suas antigas
experiências de São Leopoldo onde teriam sido testemunhas de tropelias e
excessos dos farrapos. Num artigo de fundo
publicado no Deutsche Zeitung em 7 de janeiro de 1865, Koseritz
combateu esta decisão provando que não era
lícito comparar a situação farroupilha
com a atual, a Revolução Farroupilha foi uma guerra civil de política
interna já agora se tratava de uma guerra com outro país: política
externa, onde era importante defender o território nacional, dizia
Kosweritz: ..”Não se enganem, os defensores da
chamada atitude de neutralidade pois esse inimigo não respeitará
qualquer nacionalidade estrangeira”.Na Segunda reunião Koseritz conseguiu
150 voluntários teuto brasileiros que se prontificaram a lutar ao lado dos
luso brasileiros.
Encerro
o meu trabalho aqui. Mas tenho a intenção de
continuá-lo com mais elementos, oportunamente.
Sylvio
Jantzen
31/03/2001
Bibliografia
Carlos Von Koseritz
- Carlos H. Oberacker Jr
EDITORA Anhambi/ 1961
Enciclopédia
Rio Grandense/
Diversos
Autores
Editora
La Salle - Canoas
Karl
Von Koseritz, jornalista e político
Volume
1(Páginas 243/244).
Alemães
na Guerra dos Farrapos
Hilda
Agnes Hübner Flores
Edipucrs