O clima era de show de
rock e 'ola', mas os cerca de 40 mil jovens de tribos católicas pararam e fizeram silêncio para ouvir Bento XVI sugerir a eles que voltem a namorar, noivar e casar como antigamente. Aplaudido, o Papa pediu que não se deixem levar pela violência e ambição desmedida, sob o risco de perder a vida ou corromper o caráter. (veja fotos do encontro com os jovens)
- Deus vos chama a respeitar o namoro e o noivado, pois a vida conjugal, que está destinada aos casados, é somente fonte de felicidade e de paz na medida em que souberdes fazer da castidade, dentro e fora do matrimônio, baluarte das esperanças futuras - disse o Papa, depois que a CNBB criticou esta semana a mania dos adolescentes de 'ficar', ao afirmar que as adolescentes se igualam a garotas de programa.
Bento XVI disse aos jovens que, se querem entrar na vida, devem observar os mandamentos e guiar por eles sua conduta. E fez um apelo pela fidelidade:
- Não poderá haver verdadeira felicidade nos lares se não houver fidelidade entre os esposos - explicou.
Em seu próprio nome, pediu aos jovens católicos que cuidem dos idosos, lembrando o tanto que foram ensinados por eles.
Adolescentes, leigos, freiras e padres se emocionaram ao ouvir de Bento XVI referências aquilo que o povo brasileiro mais se orgulha, que é o carinho e a descontração. E o Papa não errou no discurso. Disse a eles que, ainda no avião, pensava no encontro e em dar um abraço "bem brasileiro" em todos, arrancando aplausos.
Noutro trecho, o Papa alemão - que até mesmo o clero dizia até anteontem ser mais sério e menos carismático que João Paulo II - citou o hino nacional brasileiro, ao lembrar que "nossos bosques têm mais vida" e pedir aos jovens que não "deixem que se apague essa chama de esperança que o vosso hino nacional põe em vossos lábios".
-- Ontem pela tarde, ao sobrevoar o território brasileiro, pensava já neste nosso encontro no estádio do Pacaembu, como o desejo de dar um grande abraço, bem brasileiro, a todos vós - afirmou, para acrescentar adiante:
-- 'Nossos bosques têm mais vida', não deixem que se apague esta chama de esperança que vosso hino nacional põe em vossos lábios.
Se faltava algo para comover os jovens no Pacaembu, referências simples ao sentimento de nacionalismo um tanto difuso serviram para completar a lacuna. Nem mesmo tom sóbrio e monocórdico do discurso impediu que, em vários momentos, o Papa fosse interrompido por aplausos.
Não desperdicem sua juventude - aconselhou o Papa, acrescentando que trepida o coração dos homens da Igreja ouvir falar das inseguranças dos jovens.
-- Ao falar dos medos, revelam déficit de esperança, medo de morrer no momento em que a vida está desabrochando, medo de sobrar, por não descobrir o sentido, medo de ficar desconectado diante da estonteante rapidez dos acontecimentos e das comunicações - falou o povo aos jovens, a maioria com um quarto de sua idade (o Papa tem 80).
Bento XVI afirmou que esta juventude, que dizem 'perdida', deve buscar Jesus como sentido da vida.
Lembrou a eles o alto índice de morte entre os jovens, a ameaça de violência, a deplorável proliferação das drogas que 'sacode até a raiz' as convicções mais profundas da juventude.
O caminho correto, que Bento XVI ofereceu que seja percorrido através da Igreja, é que os jovens busquem sair desta situação tornando-se protagonistas da mudança. O Papa disse a eles que se tornem protagonistas de uma 'sociedade mais justa e mais fraterna, cumprindo as obrigações frente ao Estado, respeitando as suas leis e não se deixando levar pelo ódio, pela violência'.
Bento XVI disse ter desejado 'ardentemente' esse encontro com a juventude católica da América Latina, e que enquanto sobrevoava o território brasileiro já imaginava como seria o encontro no estádio do Pacaembu.
Depois de dizer que os jovens não são apenas o futuro da Igreja, mas seu 'rosto jovem', recomendou a eles que não tentem fugir da própria juventude:
-- Não tenteis fugir dela. Vivei-a intensamente, consagrai-a aos elevados ideais da fé e da solidariedade humana - disse.
-- Sem o rosto jovem, a igreja se apresentaria desfigurada - completou o Santo Padre, acrescentando que, 'muitas vezes, os pastores sentem seus corações trepidar ao constatar a situação de nosso tempo'.
Ao falar sobre namoro e casamento, o Papa repetiu parte do que já escreveu na última encíclica.
Eros quer nos conduzir para além de nós próprios, mas Deus nos encaminha para a ascese, renúncia, purificações e saneamento - afirmou.
-- Amor verdadeiro procurará sempre mais a felicidade do outro, preocupar-se-á cada vez mais dele, doar-se-á e desejará existir para o outro.
Bento XVI encerrou a celebração citando o encontro de Jesus com um jovem, sendo que o jovem saiu triste por não ter coragem de optar pelo caminho correto. Então apelou a todos que não fujam desta escolha.
-- Cristo os chama a serem santos. Ele os convoca e quer andar convosco para animar, com seu espírito, os passos do Brasil nesse início do terceiro milênio da era cristã - afirma.
Logo no início da cerimônia, após fazer seu discurso de boas-vindas, Rodrigo Mendes Rosa, o universitário que falou em nome da comunidade católica jovem, rompeu os costumes e abraçou carinhosamente o Papa. O bispo Eduardo Pinheiro, do setor de juventude da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, sugeriu ao Santo Padre que o Brasil abrigue o próximo encontro mundial da juventude católica.
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