A Grande Arte
Rubem Fonseca
Enquanto
vão sendo desfiadas as ligações de Lima Prado, o leitor
conhece figuras a ele ligadas como: Mateus, Hermes, Rafael, seus capangas,
a ninfeta Mônica e outras amantes, e figuras opostas a ele, como
a do anão negro Zakkai. Da mesma maneira, toma conhecimento de toda
gama de baixos negócios que envolvem além de comércio
ilegal de drogas e de prostituição, o tráfico de influências,
as politicagens, as malandragens partidárias, as extorsões,
para citarmos somente alguns.
A narrativa
ainda tem a apresentar outros personagens e suas fragmentadas histórias:
Lilibeth, jovem da sociedade, casada com o homossexual Valdomiro ou Val,
como prefere ser chamado; Cila Oswalda, que assume o nome de Laura Lins,
será a terceira prostituta a ser assassinada, embora com características
diferentes, sem aquela marca no rosto e amante de uma mulher abastada chamada
Rosa Leitão, esposa de Gonzaga Leitão, e mãe de Bebel,
esta última, jovem adolescente, meio gorda e ociosa, também
terá um caso com Mandrake, Berta Bronstein, ex-amante de Mandrake,
que o presenteia com um berloque de ouro, representando um unicórnio.
Informações
Esclarecedoras
Míriam
Inicialmente
prostituta, depois torna-se dona de casa de prostituição,
que deverá ser demolida para dar espaço a um lugar chamado
Cidade Nova. Procura Mandrake para tentar evitar a ação de
despejo, mas o advogado não obtém sucesso, o que em nada
abala sua fé no profissionalismo dele. Casualmente, encontra Camilo
Fuentes em um supermercado e se torna amante dele. Vivem bem, até
que Camilo Fuentes é assassinado. Algum tempo depois, Míriam
devolve o cordão de ouro de Mandrake, a única coisa que o
amante havia roubado em toda a sua vida.
Roberto
Mitry
Suspeito
de ser o mandante dos assassinatos das prostitutas para reaver sua fita
de videocassete. É um homem muito rico e tenta convencer as pessoas
de que sua riqueza é de origem familiar, mas, na verdade, enriqueceu
de outra maneira. É primo de Thales Lima Prado. Sua vida é
investigada por Wexler, que obtém as seguintes informações:
Dona Laurinda, avó de Mitry, havia se casado com um milionário
paulista chamado Priscilio Prado, mas ele falira e suicidara-se. Deixara
três filhos, Fernando Lima Prado, pai de Thales; Maria Augusta Lima
Prado, que se casara com um nobre ou um falso nobre francês, mãe
de Mitry, e Maria Clara Lima Prado, uma louca que vivia confinada nos porões
da casa. O pai de Mitry fugira para a França, abandonando mulher
e filho pequeno; o pai suicidara-se. Os retratos desta família serão
motivos da especulação do autor na segunda parte do romance.
As informações de Wexler contêm algumas alterações
que só serão decifradas nos Cadernos de Lima Prado. A partir
de um determinado momento, ele passa a ser uma ameaça para a Organização,
embora conscientemente não soubesse da existência da parte
ilegal dos negócios de Lima Prado. Mateus, a princípio é
contra o assassinato de Roberto Mitry, argumentando que ele é primo
e amigo de Lima Prado.
"Mais amiga é
a Organização. Infelizmente Roberto é um risco que
tem de ser eliminado. É uma pena. É lamentável."
"Hermes pode
ser encarregado do assunto."
"Não
é preciso tanto. É um trabalho mais fácil do que andar
na praia. Não vamos gastar o Professor nisso."
"Nossa equipe
está desfalcada", disse Mateus. "Perdemos o Fuentes, como você
sabe. A Polícia Federal estava atrás dele e achamos melhor
eliminá-lo. Essa tem sido nossa maneira de trabalhar. Perdemos o
Lupicínio, que Fuentes não conhecia, para acertar as coisas,
mas o boliviano acabou com os dois. Em São Paulo. Ainda não
tenho detalhes. Assim, dos cinco operadores do quadro fixo sobraram apenas
dois - o Rafael e o Sílvio. Não sei se uso um deles ou um
novo contratado. Hermes está recrutando mais dois especialistas".
"Essa área
é tua."
"Já temos
no backlog o advogado, o boliviano, e agora Zakkai e o Roberto Mitry, e
estou pensando em -"
"Mateus, Mateus,
a área é tua. Você estabelece o método e as
prioridades, apenas peço que Roberto seja o primeiro da lista. De
resto você faz como julgar melhor. Estamos entendidos?"
A morte
de Roberto Mitry teve ampla cobertura dos jornais. Editoriais condenaram
com energia a escalada da violência e a falta de segurança
dos cidadãos. Os outros cento e cinqüenta homicídios
ocorridos naquele mês, no Grande Rio, a maioria das últimas,
negros e mulatos pobres, haviam recebido apenas a atenção
parca e rotineira da imprensa, mas o assassinato de Mitry era uma novidade
atraente - um homem rico da sociedade morto na cama com duas ninfetas.
Os jornais publicaram glamourosas fotos das duas irmãs Titi e Tatá,
de topless em Ipanema; de Mitry a bordo de seu iate em Angra dos Reis,
do edifício na Vieira Souto, onde o milionário residia; do
interior do apartamento, destacando as valiosas obras de arte nele existentes.
Havia entrevistas com o porteiro João, com o mordomo Evilásio,
com a mãe das duas moças, com Raul, o encarregado das investigações.
Expunha-se a orgia de sexo e droga que teria ocorrido naquela noite antes
do triplo homicídio - alguns jornais falavam em massacre, outros
em carnificina. Especulava-se sobre os misteriosos convidados que teriam
participado da festa, sugerindo-se que seriam pessoas importantes. É
agradável ler sobre pessoas ricas e famosas envolvidas em episódios
sórdidos.
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