A Grande Arte
Rubem Fonseca
 

Texto produzido pelos professores Júlio César e Maria Lúcia, da disciplina de Literatura do Curso Semi-Extensivo do Colégio Pollivest, em Goiânia-GO.
 

Um corte frio na face do crime

Mineiro de Juiz de Fora, Rubem Fonseca nasceu em 1925 e só estreou na Literatura em 1963, com quase quarenta anos, escrevendo os contos de Os Prisioneiros. Em seguida, publicou A Coleira do Cão e Lúcia McCartney, volumes que o consagraram definitivamente junto ao público e à crítica, obtendo inclusive, vários prêmios. Depois de se dedicar durante alguns anos à narrativa curta, cedendo nos modismos dos anos 60, Rubem Fonseca partiu para o romance, escrevendo em 1973 O Caso Morel e, dez anos depois, brindou os leitores com o romance policial A Grande Arte.

O cenário principal de A Grande Arte é a cidade do Rio de Janeiro, cidade de esplendores e barbáries com que o autor se familiarizou por ter nela vivido desde os sete anos. O curso de Direito contribuiu para que conhecesse e infiltrasse nos meandros do crime e da devassidão. Através das leituras do gênero, obteve sucesso na condução da narrativa do registro da vida policial da cidade, ao focalizar o submundo sempre em vias de explosão, onde se agrupam os responsáveis por todas as espécies de crimes, praticados por elementos das mais diferentes camadas sociais, documentos da insanidade e da corrosão humana tão comuns na cidade grande. Acrescenta-se o conhecimento adquirido da teoria e da prática na utilização da navalha, arma branca cujos mistérios servem de título e de desenvolvimento da trama, combinados em uma técnica, o "percor", sintetizada a partir dos termos perfurar e cortar. Nestes extremos, os mais controversos sentimentos humanos vêm à tona: o amor, o ódio, a vingança, a simpatia, a traição, a honra, para citarmos somente os mais imperiosos.

A linguagem de Rubem Fonseca é renovadora, concisa e sincopada com cortes bruscos da frase. Torna-se solta pela utilização de um vocabulário que alterna o mais chão e popular dos vocábulos, com citações de clássicos e demonstração de conhecimento do vernáculo. As construções, muitas vezes elípticas, favorecem a suspensão da seqüência e contribuem para a administração de um clima de intenso suspense principalmente pela rapidez das cenas. A narrativa transcorre veloz, com personagens e ações que se vão acumulando, transmitindo informações úteis ao desenvolvimento da trama, não de uma única vez, mas aos poucos, como condiz a um bom romance policial.

Ainda é possível encontrar neste volume um detetive brasileiro, advogado, matreiro, mulherengo e apreciador de um bom vinho e de charutos, que sob a capa de um escritório, mexe e remexe os mais intrincados casos. O nome - Mandrake - deixa antever a magia com que transforma cada caso em uma descoberta reveladora, cada personagem acaba sendo uma peça chave para a dedução da emaranhada rede de crimes em que se envolve, semelhante ao célebre personagem dos quadrinhos, Lee Falk que, num passe de mágica, consegue resolver problemas extremamente complicados.

Em admirável malabarismo, Rubem Fonseca passa da primeira pessoa, narrativa feita pelo advogado Mandrake, observador atento dos fatos, para uma terceira pessoa onisciente, que domina a outra parte da narrativa. A obra tem duas partes subdivididas em capítulos breves. A primeira, Percor, tem uma rápida apresentação e dezessete capítulos. A segunda, Retrato de Família, apresenta dezoito capítulos.

A primeira parte do volume tem início com a apresentação de um crime. O narrador, em primeira pessoa, após descrever uma cena em que uma prostituta é assassinada e aparece um "P" grafado a navalha em seu rosto, confessa que não tomou conhecimento dos fatos de maneira ordenada, mas cita o encontro de certos Cadernos de anotações de propriedade de Lima Prado, as conversas com Míriam que o ajudam a entender as relações de Zakkai (Nariz de Ferro) com Camilo Fuentes. Diz que algo aconteceu no apartamento de um certo Roberto Mitry e para reconstituir os fatos, tem o auxílio de Monteiro, vendedor de armamento bélico. O narrador despeja uma série de informações que vão sendo discutidas e solucionadas ao longo do romance.

Ainda na primeira parte, são apresentados Wexler e Mandrake, advogados e sócios de um escritório de advocacia, e alguns clientes são revelados aos leitores: Míriam, uma cafetina, que recorre aos advogados para tentar deter uma ação de despejo movida pela prefeitura; Gisela (Elisa de Almeida), uma prostituta, que procura dizer que está sendo ameaçada de morte por estar com uma fita de vídeo, cujo conteúdo desconhece porque não possui aparelho para vê-la. Em seguida, entra Roberto Mitry, estilo esportista, camisa entreaberta deixando vislumbrar uma grossa corrente de ouro, homem de sociedade, que procura os advogados para contratá-los, alegando ser o dono da tal fita, e revelando que também se sente ameaçado.

Mandrake descobre em seguida que Gisela fora assassinada e no rosto do cadáver, marcada a navalha a letra "P". Resolve conversar, em busca de pista, com Danusa-Carlota, outra prostituta, amiga de Gisela e companheira na rodada de orgia na casa de Roberto Mitry e que resultou no esquecimento da fita de vídeo por parte do "cliente da massagista". E, no dia seguinte, constata que também Danusa havia sido assassinada, e o cadáver tinha a mesma marca. Desta vez há um possível suspeito: o marido, Gilberto, garçom de um restaurante no centro da cidade. Mandrake obtém preciosas informações através do amigo e ex-colega de faculdade, Raul, investigador de polícia.

Gradativamente, a trama vai sendo amarrada. Mandrake e Ada, sua namorada, quase são assassinados. Os bandidos buscam a fita que julgam estar com o advogado. Nessa batida, além de agredi-lo fisicamente, roubam-lhe um cordão de ouro, e também seviciam Ada.

Um dos bandidos é capturado e Raul percebe o cordão de ouro que lhe é familiar. Chama Mandrake para reconhecer o criminoso, mas liberta-o logo em seguida, porque a Polícia Federal pretende segui-lo, pois suspeitam tratar-se de uma conexão internacional. Na tentativa de vingar-se, o advogado inicia uma longa viagem; partindo do Rio, passa por São Paulo, Bauru, Corumbá e cidades fronteiriças da Bolívia, rota do Trem da Morte, ocasionando uma pequena confusão com a Polícia Federal, que pretendia desmantelar uma quadrilha de traficantes a partir de Camilo Fuentes, marginal perseguido por Mandrake.

Ao interferir na operação, Mandrake alerta os bandidos e impede a polícia de executar a apreensão da droga. Nessa missão, perde a vida Mercedes, uma das melhores agentes federais.

Mandrake, ao retornar ao Rio, reencontra Ada, que está voltando de um período na casa de seus pais em Pouso Alto. Nesse intervalo, Camilo Fuentes muda-se de São Paulo para o Rio com a finalidade de despistar seus antigos chefes, que tencionavam liquidá-lo porque a missão havia fracassado. São desvendados os labirintos de uma organização que tem a capa da legalidade, mas que executa transações ilegais ligadas ao tráfico de drogas e à prostituição. Essa organização, conhecida como Escritório Central, é comandada por um figurão da sociedade chamado Thales Lima Prado.
 
 

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