Festival de São Bento
Agora
que acabou a 'silly season' começou um novo ano político a que, por motivos óbvios,
passaremos a chamar 'silly political year'. «This
has been a cruel summer...» dizem os Ace of Base numa das suas canções e nós
citamos o famoso verso por se adequar, na perfeição, ao nosso 'ardente' e por
vezes cruel Verão político... Neste
Verão, a temperatura subiu várias vezes nos 'politómetros' e, segundo as
previsões, o Outono não será nada ameno! Revisitando
o Verão 2000, muitos foram os factos políticos que agitaram o nosso país...
Tivemos o dramático caso das Provas Globais de Guimarães; a 'comédia romântica'
que juntou Alberto João Jardim e Pedro Duarte (bem como outros laranjinhas)
tendo como pano de fundo os belos cenários da Madeira e apimentada pelos
tenebrosos 'lobbies' continentais; o terrífico comício da rentrée socialista
que bem se poderia chamar 'Pesadelo em Esposente'; o épico meio bíblico meio
'hollywoodesco' criado por Paulo Portas na Póvoa do Varzim; o sangrento caso
dos touros de Barrancos e, por último, o enorme suspense (quase Hitchcokiano)
que rodeou a escolha do candidato presidencial do PCP. Todos
eles foram autênticos êxitos. Podemos garantir! No entanto, nenhum deles
conseguiu bater um novo filme recentemente estreado que conta a trágica história
de um governo em desespero que se debate tanto com a oposição de esquerda (a
espada) como com a oposição de direita (a parede), e que, por fim, se entrega
heroicamente ao seu destino cruel preferindo, num momento de um dramatismo digno
de Shakespear, a fatal espada... Podemos assegurar que todos os que assitirem a
esta 'fita' protagonizada por António Guterres não conseguirão evitar as lágrimas
(nem mesmo os sempre insensíveis líderes da oposição). Durante
todo o tempo que dura o filme as massacradas personagens terão que passar por
inúmeros perigos e viver arriscadas aventuras... Mas, quando aparece o célebre
'The End', percebemos que, afinal, ficou tudo na mesma...
Mas
vamos desvendar um pouquinho mais sobre esta fita que foi envolta num tal
secretismo que quase parecia estar a ser dirigida por James Cameron (o tal do
Titanic, que também se afundou!...). Mas não, foi mesmo o nosso Primeiro
Ministro que assumiu a produção, a realização, a montagem, e os sempre
necessários efeitos especiais... para além de, como todos sabem, ser o
protagonista da história. O
argumento assenta, sobretudo, em clichés recorrentes nestas situações e não
tem originalidade alguma, uma vez que repete filmes anteriores de forma
descarada... Começa
com a emotiva despedida de alguns dos membos do governo que terão que abandonar
os seus lugares... basicamente é o que se chama uma remodelação
governamental. Mas como o argumento é fraco, a remodelação deixa muito a
desejar e podemos dizer que o autor misturou os últimos filmes que viu e no seu
acabou misturando o desconcertante American Beauty (queda do 'anjo louro' da
igualdade) com o romântico mas algo dramático The End of the Affair (saída do
senhor da (in)segurança); tendo ainda momentos que lembram o trágico The
Perfect Storm (permanência de Pina Moura nas Finanças) ou o entusiasmante The
World is not Enough (subida de Jaime Gama a
Ministro de Estado)... É também possível encontrar semelhanças ao
perigoso Dangerous Liaisons (a intrigante situação do sempre imprescindível
Coelho) e ao frenético Mission Impossible II (a promoção do professoral
Oliveira Martins aos Assuntos Parlamentares, tarefa que não parece ter sido
talhada para as suas habilidades)... A
quem assiste fica a ideia de que houve ou um erro de 'casting', ou baralhação
na montagem... ou ainda, mais grave, que quem escreveu o argumento baralhou e
distribuiu ao acaso as várias ideias que foi tendo... Mas como o responsável
é sempre o mesmo, talvez seja um pouco de tudo isto! O resto do filme... bem, é melhor nem contar... Ficamos a aguardar The Next Big Thing!
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