Volta
ao mundo em 180 dias
Mas, afinal, pensará você, leitor atento e culto, não eram só
80 dias? Será que a autora se confundiu ou terá sido erro de impressão???
Não, não foi... De facto a célebre viagem descrita por Júlio
Verne só demorou 80 dias! Porém, a volta da qual vos falo é outra... a das
Jornadas Internacionais do Primeiro Ministro António Guterres! E essa, meus
amigos, como assegurou o impagável ministro Coelho, sempre pronto a sair da
cartola do engenheiro ilusionista em
horas de crise, durará 'apenas' 180 diazinhos, de Janeiro a Junho...
Não é muito, sejamos francos! Atendendo a que um ano tem 365
dias, um século 100 anos e um milénio mil anos, o que são 180 dias na vida de
10 milhões de Portugueses??? Será que durante estes 180 dias o Sol deixará de
se levantar a cada dia... a lua desistirá de brilhar nos céus ... a terra
negar-se-á a dar fruto... as crianças perderão o gosto por brincar... a oposição
perderá a vontade de protestar? Não me parece...
O Engenheiro... ou antes, o Primeiro Ministro... será melhor dizer
o Senhor Presidente da União Europeia... ou preferirá ele ser tratado como
Presidente da Internacional Socialista?... (nem Carlos V conseguiria bater António
Guterres em títulos!) anda numa azáfama internacional! Já nem o Concorde o
consegue acompanhar na sua odisseia mundial! Mas, como podemos criticá-lo...
tudo o que tem feito é para bem de Portugal, para o seu reconhecimento no
estrangeiro para que este pequeno país possa, de uma vez por todas, assumir o
lugar de comando (não fossemos nós os primeiros da Europa - geograficamente
falando, claro) que desde sempre nos foi destinado. Esqueçam D. Afonso
Henriques, D. João II, O Infante descobridor! Para quê a História? Nós temos
António Guterres a velar por nós qual pai zeloso, sempre atento a cada passo
do seu pequeno e frágil filho?
E ainda há quem seja capaz de criticar a abnegada acção do
Primeiro Ministro... 'Sempre os há neste mundo...' (Embora não seja esse o
caso, que seria um pouquinho de ambição pessoal perto da entrega total e
desinteressada aos interesses da nação?)
São apenas 180 dias de ausência, meus senhores, para bem do país.
Que terão eles de diferente dos 1420 de 'semi-presença', quase sempre, em
directo para o jornal das 8, com uma frasesinha insípida em que se apela,
constante, à 'serenidade' dos portugueses para as in(acções) do executivo, à
'compreensão' da oposição perante o (des)governo do país, ao diálogo aberto
e sereno com todas as partes (mesmo que inconciliáveis)
sobre os 'fait-divers' que vão animando a vida política nacional e dos quais,
milagrosamente, o rol de ministros se vai 'safando' em grande estilo!
Porquê só agora todos notamos a falta do Primeiro Ministro que não
temos desde as eleições de 95? Será que todos nós perdemos os nossos óculos
virtuais e percebemos que há 4 anos e 6 meses vivemos um total desgoverno???
Porque será que todos sentimos 'saudades' de alguém que nunca existiu fora do
palco da ilusão???
PS (pelo menos a este preste atenção!): Engenheiro António
Guterres, porque não acrescentar aos seus múltiplos títulos o de Santo? Pense
nisso, pois ao abandonar Portugal, boas acções é que não lhe faltarão!!!
PS(S): São
180 dias de viagem porque, o Senhor Presidente da UE se dignou a estar presente
em território nacional durante 2 dias: o da abertura e do encerramento da
Presidência Portuguesa!
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A. Guerreira
25
de Abril de 2000