Os avanços da Engenharia
Genética continuam disparados no Brasil e no Mundo.
Em termos
mundiais a agricultura é o ramo onde o desenvolvimento de
Organismos Geneticamente Modificados (OGMs) tem tido maior
crescimento. Esse foco justifica-se por ser o setor responsável
por uma parcela significativa da geração de riqueza em todo o
mundo, utilizando-se a biotecnologia com mecanismo para
minimizar a fome em todo o mundo, aumentando a oferta com
alimentos de melhor qualidade.
Num mundo
globalizado, é evidente que este foco vislumbra bilhões de
consumidores o que é algo interessante em termo de mercado
local e mundial.
Entretanto há
grandes entraves em nível mundial e, especialmente no Brasil,
para que os alimentos produzidos de espécies vegetais e animais
geneticamente modificados cheguem às prateleiras dos
supermercados ou à mesa do consumidor.
É preciso que as
dúvidas e incertezas sejam banidas. O consumidor precisa de
maiores esclarecimentos quanto à segurança dos testes
apresentados a CTNBio para registro destes produtos.
Enquanto a
segurança à saúde e ao meio ambiente não for mais
convincente e transparente, de modo a garantir a inoqüidade dos
OGMs o assunto não sairá da polêmica quer no hoje quer no
amanhã e os avanços alcançados têm pequena fecundidade.
A partir de 1997,
a liberação de pelo menos 48 transgênicos para comercialização
foi autorizada nos EUA, China, Canadá, Austrália e México. O
plantio comercial está liberado, também, na Espanha, França,
Inglaterra e Argentina.
No Brasil, a
CTNBio criada em 1995 pela Lei de biossegurança para implementação
das políticas e regulamentação de organismos geneticamente
modificados (OGMs), até o momento, liberou de 642 produtos
transgênicos para teste e um (01) para produção comercial de
soja transgênica que incorporou um gene que lhe confere resistência
ao herbicida glifosate.
A polêmica no
Brasil começou com a liberação dessa soja transgênica em
1998 que desencadeou uma polêmica no Brasil acerca dos transgênicos,
tendo se transformado num embate judicial. O Idec, Greenpace e o
IBAMA entraram com uma medida cautelar na Justiça Federal,
suspendendo o registro da soja transgênica para plantio
comercial que se encontra sob júdice até o momento.
No Brasil,
enquanto o caso da soja Roundup Ready tramita na nossa lenta
justiça, seis empresas multinacionais solicitaram a CTNBio,
liberação de milho transgênico resistente a lagartas e 25
pedidos de liberação para experimentos, incluindo a EMBRAPA
com pedido de liberação para feijão, batata, soja, algodão,
banana e mamão.
O que podemos
fazer no Brasil frente a resistência aos avanços dessa
tecnologia se em grande parte do mundo a produção comercial já
está liberada para muitas culturas, a exemplo dos Estados
Unidos, Canadá, China, Austrália, México, Argentina?
Diante desta
situação como ficaria o MERCOSUL, se o Brasil continuar
confirmando sua rejeição aos OGMs, considerando-se que na
Argentina estes se encontram liberados? Teria sentido
discutirmos a ALCA antes de resolvermos esta questão
internamente?
Teoricamente
sabe-se que existem alguns riscos como a possibilidade do novo
gene inserido no DNA do alimento ser tóxico ou causar reações
alérgicas, ou que o gene inserido seja transferido para os
microorganismos da flora intestinal ou para o meio ambiente.
Entretanto os cientistas que os produzem afirmam que os testes são
eficazes e seguros.
Há um forte receio por parte da sociedade quanto ao consumo
destes produtos associado aos riscos e incertezas. Questões não
bem esclarecidas como estas precisam ser discutidas, visando
diferenciar as componentes científicas, ideológicos e
comerciais que, certas vezes, ficam fora do entendimento e
percepção do consumidor.
É necessário,
primeiro de tudo, que metodologia usada nos testes seja mais
adequada, prevista em normas, incluindo desde os testes à
rotulagem, de forma a torná-los aceitáveis, pois parece inevitável
que, num futuro próximo, tenhamos que adotar esta nova
tecnologia como progresso científico e tenológico capaz de
proporcionar melhoria significativa da qualidade de vida.
Mesmo que a segunda geração de transgênicos na agricultura,
traga avanços, estes precisam ser mais difundidos e discutidos
com a sociedade, como é o caso do arroz e óleo de canola
enriquecidos com betacaroteno, soja com menor teor de
colesterol, milho e batata com hormônio de crescimento e
metionina, vegetais que produzem vacinas ou que ajudam o
organismo a combater moléstias como hepatite, câncer e infecções
respiratórias, farinhas que engordem menos, macarrões mais
crocrantes, pães mais digeríveis ou que permaneçam macios por
um período mais longo, plantas mais resistentes à seca e que
necessitem de menos fertilizantes, dentre outros.
Considerando que
no Brasil a questão da liberação dos transgênicos
encontra-se num embate judicial, e sabendo-se que a morosidade
judicial para julgar um processo em última instância chega a
ordem dos cinco a oito anos, acho que está na hora de
rediscutirmos a questão com a sociedade, principalmente com
relação aos pedidos de registros de novos produtos, para se
estabelecer os padrões de segurança aceitáveis.
Entendo que a
sociedade não pode ficar à margem do desenvolvimento de novos
produtos considerados como a segunda geração dos transgênicos
no meio desse emaranhado de interesses científicos, ideológicos,
políticos e econômicos que envolveram a questão dos transgênicos
no Brasil.
É preciso
conhecer para se decidir, com competência e seriedade, sobre a
aceitabilidade ou rejeição dos novos pedidos de liberação
para plantio comercial e para novos testes de campo que as
empresas, multinacionais e nacionais estão pleiteando.
Brasília,
29 de março de 2.003.
Eng° Agrônomo José Silvino de Carvalho
Crea N° 11l.964/D
Coordenador da CEAgro-Crea/DF.
Fonte:
EMBRAPA/SENARGEN e informes da CTNBio