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ARTIGOS
E OPINIÕES
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Agricultura
e Internet
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Dos últimos
eventos internacionais aos quais tenho assistido,
parecem emergir dois assuntos que têm muito a ver
com a agricultura e o agronegócio no Brasil. O
primeiro pode ser enunciado de forma muito simplista
com esta frase: os ricos do mundo desenvolvido não
estão preocupados com a agricultura; comer e beber
não é um problema para eles. Em outras palavras, a
agricultura é uma questão pouco relevante do ponto
de vista dos grandes negócios. É um assunto de
pobres, e portanto, não entra nas agendas dos
discursos econômicos privados. É um problema dos
governos, cuja função é gastar dinheiro de
contribuintes para garantir o abastecimento de
todos, venha da onde vier a comida. Claro que por
motivos logísticos ou estratégicos, eles defendem
a proteção aos agricultores dos mesmos países
ricos, até para evitar que estes deixem sua
atividade e venham criar problemas sociais nas
cidades, ao disputar empregos urbanos Mas o
essencial é isto: os ricos gastam tão pequena
parcela do seu orçamento para comer que a
agricultura não entra na pauta de suas discussões.
Daí se entende a vigorosa ação protecionista de
seus governos. Ao proteger os agricultores, mesmo à
custas de subsídios imensos( pagos gostosamente
pelos ricos cidadãos urbanos) , governos asseguram
abundância de comida, renda para os produtores
rurais, defesa da paisagem e tranquilidade social.
As preocupações se transferem então para a
qualidade da comida, sua rastreabilidade, a
transgenicidade, se é orgânica ou não, etc.. No
entanto, toda esta elaborada convicção não nos
serve, aos países em desenvolvimento. Para nós, a
agricultura emprega grande parte da população
economicamente ativa, é parcela prepoderante nas
exportações e fator determinante para a ocupação
e integridade territorial. Assim, a exclusão do
assunto agricultura das agendas privadas dos ricos
representa a exclusão social de milhões de
agricultores em países como o Brasil. Porque nas
negociações internacionais visando a abertura dos
mercados agrícolas, a prepotência da riqueza
esmaga o anseio da pobreza. Em resumo, os ricos
pagam o que for preciso para não ter problemas na
área, porque podem pagar. E fim de papo. O segundo
ponto instigante é o avanço da INTERNET. Já são
recorrentes os discursos sobre a enorme mudança de
paradigma que este extraordinário instrumento de
comunicação representa. Poucas invenções da era
moderna tiveram impacto tão poderoso sobre as
transformações do comportamento humano como a
INTERNET. Nem o rádio, nem o telefone, nem a
televisão se aproximam dos seus efeitos. A informação
está disponível para todos. Qualquer pessoa do
planeta que tenha acesso a um computador ligado na
INTERNET poderá receber informações sobre
qualquer assunto. Inimaginável quantidade de
informações, para todos. A facilidade para se
comunicar, se entender, negociar, barganhar, até
namorar, multiplica-se exponencialmente.
Que
tem isto a ver com agricultura e agribusiness?
Muito, especialmente em duas áreas: a
comercial e a institucional. Quanto à
comercial, é óbvio que qualquer agricultor
poderá comprar adubo ou semente ou trator
através de seu computador. Também poderá
vender sua produção em bolsa sem sair de
casa. O que vai acontecer com as cooperativas
ou as lojas e casas especializadas em insumos?
O tempo das cotações de preços em envelopes
lacrados já passou. Os velhos departamentos
comerciais não são mais importantes. O
cooperativismo do futuro se ocupará da logística
do processo comercial. O produtor de Rio
Vermelho poderá comprar seu adubo no Canadá,
mas o problema é fazer o adubo chegar à sua
fazenda, nas condições e prazo adequados.
Este talvez venha a ser o papel das
cooperativas: organizar o meio-campo entre
fornecedor de insumos/produtor e entre
produtor/consumidor do produto ( indústria,
atacadista, exportador, etc.) . Também aí há
uma mudança de paradigma. Já existem
empresas cuidando disto, a nível mundial.
Quem não cuidar de entrar neste trem ficará
na estação do passado. Que dizer então da
parte institucional? Quem representará quem?
A legitimidade de representação de
organismos - privados e também públicos -
será questionada. Recentemente ouvi europeus
se queixando de não se sentirem representados
pelo parlamento europeu. No entanto, menos de
um quarto dos eleitores europeus foram votar
para seu parlamento. É a história do ovo e
da galinha. Mas, no nosso caso, o
individualismo a que as pessoas são
empurrados pela globalizada INTERNET, o
isolamento do indivíduo com sua máquina
super-informada, pode levá-lo a imaginar que
não precisa de instituições para representá-lo.
Logo, logo, votaremos pelo computador, sem
sair de casa. É preciso rever os mecanismos
de representação, porque, no limite, a própria
democracia está em jogo. Mas isto já é uma
outra história.
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Roberto
Rodrigues
Presidente - ABAG |
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